Capítulo 27

KATE WHINTER

- Por favor seu Gabriel, vai ser só por algumas horas. Cinco no máximo. - Suplico piscando meus olhos várias vezes.

O Doutor Gabriel que era responsável pelo caso do Matt me fitou por longos segundos. Talvez ele estivesse planejando um cronograma na sua cabeça pra ver se seu paciente sobreviveria longe do hospital.

- Quatro horas e ponto final. - Declarou enfim. Meu entusiasmo foi tanto que eu literalmente pulei em cima dele pra lhe dar uma abraço.

Dona Teresa me deu a ideia de levar o moreno para um passeio. Em um lugar inesquecível. Fiquei o dia todo nervosa e ansiosa pra vir no hospital falar com o senhor sem graça.

Devagar voltei a ativa. Ir a escola depois de um mês sem foi muito estranho principalmente porque 60% dos alunos me olhou como se eu fosse de outro mundo. Graças a Deus as meninas fizeram eu se sentir confortável em minutos.
Tive que passar meu tempo fazendo provas atrás de provas. Eram conteúdos que eu já tinha estudado. Fiquei feliz que tirei as quatro provas entre o 7,5 e 10.

A saudade que eu senti da minha família que consiste em Osvaldo, Teresa e Júnior, foi enorme. Depois que fui morar com os Romanov não conversei mais com eles. E assim que Dante me deixou na padaria depois do hospital não pude evitar me emocionar. Eles me explicaram que era difícil pra eles se locomoverem todos os dias pra pegar o ônibus. Não fiquei triste por não me visitarem, eu compreendi. Valdo e Teresa não tinham mais idade pra estar caminhando pra lá e pra cá. No dia que foram no hospital me ver Júnior saiu mais cedo e por coincidência foi ver os pais.

Juninho. Gy me contou que após aquele dia na padaria ela não parou de pensar nele. Nos próximos dias que foi lá Júnior não perdeu tempo e pediu o número dela. Os dois conversam desde então. Tiveram um encontro que segundo minha amiga foi perfeito. Eu apoio muito os dois e torço pra que sejam felizes.

Saí da sala do Doutor Gabe memorizando tudo que iria precisar pro nosso piquenique.
Meus patrões me indicaram um lugar que seria perfeito para nós, ficava dentro da fazenda deles mesmo. Era só andar pelo caminho que tinha na floresta e logo encontraríamos o jardim.

Hoje era sábado e eu trabalhava só até ao meio dia. Almocei lá e esperei dar uma e meia pra arrumar os lanches na cesta. Dona Teresa me ajudou a organizar. Ela colocou tantos doces, salgadinhos, frutas e sucos que eu achei que ela, seu marido e filho me acompanhariam.

No momento em que abri a porta do quarto a atenção do moreno que estava na TV se voltou depressa em minha direção.

Dei um sorrisinho divertido me aproximando da sua cama.

Matthew não era mais o mesmo. Seu rosto que sempre tinha um sorriso zombeteiro e provocador agora não passava de uma linha fina e leve expressão de alegria. Hematomas abaixo dos olhos que parecia que ele havia apanhado de alguém. E esse garoto estava sem as bochechas rosadas e cheinhas como antes. A expressão apesar dele se esforçar pra ser diferente era de cansaço.
O corpo não era mais musculoso e atlético. Os braços se tornaram levemente magros e finos.

- Pare de me olhar assim princesa, eu tô bem. - Ele murmura me fazendo perceber que o encarava por tempo demais.

- Se fosse verdade não estaria no hospital. - Rebati levemente irritada.

- Entendeu o que quis dizer. - Revira os olhos suspirando.

- Uhum. - Disse encerrando o assunto. Eu não superei ainda o fato dele me deixar ser a última a saber sobre seu estado. Entendi o lado dele mas ele não tinha esse direito. Todas as vezes que precisei dele ele ficou do meu lado e na minha vez Matt decidiu passar sozinho.

Ele não me disse porém tenho uma leve impressão de que o motivo pra não falar a ninguém é porque Matthew odeia precisar de ajuda. Se sentiu um fraco por depender dos outros. Talvez se sinta um peso nessas circunstâncias.

- Kate. - Segura minhas mãos assim que sento na cama. Encaro elas juntas gostando de como se encaixam tão bem.

- Desculpa.

- Está tudo bem linda. - Meu coração erra uma batida ao ouvir esse elogio saindo de sua boca. Ele larga uma de minhas mãos pra acariciar minha bochecha. Fecho os olhos sorrindo apreciando cada segundo. Sem parar com a carícia ele volta a falar. - O que devo a honra da sua presença novamente milady?

- Vamos sair para um piquenique.

- Sair pra onde? Porque pelo que eu saiba não posso pois estou doente e com tubo respiratório no meu nariz.

- Gabe, seu médico permitiu. Pode ficar fora por quatro horas. - Sorrio entusiasmada.

- Quando ficou tão íntima do meu médico morena? - Questiona em tom nada amigável arqueando uma das sobrancelhas.

Dou de ombros ignorando sua cara feia.

Desde que soube do câncer venho vê-lo todos os dias na parte da noite. Já dormi com ele umas duas vezes pra não o deixar sozinho.

Estamos muito mais próximo um do outro que antes. Construímos uma ligação impressionante que fluiu naturalmente. Apesar disso não deixo de corar e me envergonhar quando Matt me elogia e ultimamente está acontecendo com frequência o que me faz querer beijá-lo todas as vezes. Ainda mais quando ele age como um lorde do século passado e usa dos apelidos que criou pra mim.

- Então, eu estava conversando com ele a uns minutos atrás e o convenci a ceder umas horinhas a sós com você. Segunda você sabe... Vai começar... - Perco a fala tendo dificuldades pra terminar.

- Minha quimioterapia. - Complementa bufando.

- É. - O silêncio reina por alguns segundos. Os dois sem saber o que falar. Incrível que uma palavrinha tenha um peso grande. Fico contente por Matthew pensar em algo pra dizer pois eu não obtive sucesso em achar assunto.

- Vai ser um encontro? Eu adoraria se fosse. - Rio e reviro os olhos. As cantadas dele estão mais frequentes também. Uma provocação atrás da outras mas que não deixa de balançar meu pobre coração.

- Eu posso fingir que sim se isso vai te fazer se sentir melhor.

- Ah, mas vai mesmo. Vou te provar que é um encontro.

[...]

Abro a boca surpresa com o que vejo. O lugar mais perfeito do mundo.

Um rio azul transparente é uma das belezas que complementa o lugar, a cachoeira jorra parecendo cena de filme. Borboletas e beija-flores rodeiam os girassóis, rosas e jasmim. Faz me sentir uma paz e tranquilidade. Como se eu já tivesse vindo aqui milhares de vezes.

- Senhorita Kate, vai querer que eu estenda a toalha onde? - Saio do transe olhando para Dante segurando a cesta e a toalha xadrez.

Como Dante é motorista do moreno irritante ele vai ficar encarregado de cuidar e vigiá-lo. Se um de nós ver algo de errado com o Matt o levaremos o mais rápido de volta. Eu não iria querer ficar sozinha aqui com ele também pois se Matt passasse mal demoraria demais pra virem socorre-lo. Melhor prevenir.

- No meio pode ser porém perto do lago.

Observo Matthew sentado no banco distraído com as borboletas. Sorrio. É um ótimo passatempo.

Me dói pensar assim mas se Matt não sobreviver não quero que a lembrança que ele tenha de mim seja o importunando no hospital. Que quando ele me olhar vai lembrar desse dia. Tanto eu como ele.

Ando até ele pra ajudá-lo a caminhar. Temos um pouco de dificuldade pois eu estou de muleta mas nada que seja impossível.

Matthew recebeu um daqueles cilindro de oxigênio pra conseguir respirar. Sem ele o moreno desmaiaria em segundos.

- Não duvidaria se você mês que vem convencesse o Doutor a me levar pra Inglaterra. - Matt comenta pendurado no lado esquerdo do meu ombro.

- Se eu achar que você está bem eu posso tentar. Não seria má ideia. - Pisco o fazendo sorrir sem mostrar os dentes.

- Não seja maluca. Eu tô brincando.

- Cala boca ou eu te jogo no rio. - Tiro seu braço do meu ombro sem delicadeza.

- Ai, essa doeu. - Choraminga ao sentar na toalha forçadamente. - Eu sei que não seria capaz disso Katezinha. Seu amor por mim é grande demais.

- Nada convencido.

Puxo a cesta pra perto tirando as comidas de dentro.
Espalho pela toalha sentindo o olhar do Matt em mim.

- O que foi? - Pergunto enquanto coloco alguns salgadinhos em dois pratos de porcelana.

- Eu já disse que está linda?

- Não hoje. - O olho de relance sorrindo de lado.

- Então eu vou falar. - Sinto seus dedos em meus cabelos e logo uma mecha vai pra trás da minha orelha. - Você está lindíssima, como todos os dias, porém hoje parece que ela se destacou mais. Eu não sei explicar. Me sinto encantado por você ultimamente.

- O que quer dizer com encantado? - Me viro pra encará-lo me arrependendo instantaneamente. Sua órbitas castanhas estão concentradas em mim. Não consigo o olhar sem me envergonhar.

- Eu não sei mas...- Levanta meu queixo com o dedo quando tento abaixar a cabeça. - Eu acho que estou apaixonado por você.

De repente meu ar sumiu fazendo minha respiração e meu coração acelerar. Só pode ser brincadeira ou eu estou paranoica.

É impossível Matthew se apaixonar por mim.

- Kate, não vai dizer nada? - Afasto sua mão virando meu rosto para a cachoeira.

Não esperava ouvir isso dele. Os elogios e sorriso mechem comigo mas cogitar que ele se apaixonou por mim nunca.

Confesso que depois do nosso quase beijo, que só de pensar me dá vergonha, estar com Matt não foi mais a mesma coisa. Minha garganta seca facilmente quando estamos próximos, meu coração fica a mil por horas só com o sorriso daquele idiota. E os elogios, esmurram minha estrutura e meu muro de proteção me causando sensações desconhecidas. Sem falar que Matthew invade meus pensamentos na maior parte do dia. Não há como negar que tudo mudou no entanto não tenho certeza se me apaixonei.

- Quer que eu diga o que?

- É sério? - Soa levemente irritado. - Não notou como o clima entre nós mudou? Eu não te vejo mais como antes Kate.

- Como assim?

- No começo tudo que eu queria era faze-la voltar para os caminhos de Deus. Mudar sua opinião referente a Ele. Mas quanto mais eu te conhecia mais perto de você eu quis ficar. Você me fascinava de uma forma que me deixava confuso e louco. Nem Tiffany me atraiu dessa maneira. Você ocupa meus pensamentos mais tempo do que necessário. Eu não posso beijá-la mas a vontade só aumenta. Nunca senti isso por ninguém. Você mexe com meu psicológico Kate Whinter e não faço ideia de como lidar com isso. Sei lá se pra você foi naquele dia também mas pra mim creio que eu me apaixonei por você quando quase me beijou no seu quarto.

- Não posso dizer que não me atraio
por você Matt, mas eu não sei o que sinto. Em todo tempo quero que esteja comigo, me abraçando, elogiando, sorrindo pra mim, todavia tudo ainda é muito novo. - Expiro profundamente com minha atenção voltada agora para as flores.

- Ei. - Vira meu rosto novamente de frente pro seu. Ele se aproxima encostando a testa na minha. - Não quero te pressionar, só decidi compartilhar com você pra que fique claro que não te quero apenas como amiga.

- E se eu descobrir que também me apaixonei por você? O que vai acontecer?

- Vamos orar e torcer pra que Deus aprove. - Fala e eu rio.

- Mas e a Tiffany?

- Não tem mais ela. Faz algumas semanas que decidi romper com o que quer que tivéssemos. Bella estava certa. Ela não é uma boa pessoa.

- Você tem que ouvir mais sua irmã seu teimoso. - Dou um beijinho em seu nariz e depois o encaro.

- Eu sei. Mas não diga a ela ou Isa vai agir como a mamãe e duas mães é demais para o meu cérebro processar.

- Minha boca é um túmulo. - Digo gargalhando.

Fechos os olhos ainda com a testa colada na dele, acariciando sua bochecha e ele a minha ouvindo nossas respirações ritmadas.

Matthew se aparta e instintivamente abro os olhos. O fito se deitar, ajeitar o fio no nariz e posicionar uma das mãos atrás da cabeça.

Não consigo não ficar embargada toda vez que reparo no tubo respiratório rodeando sua face. Me causa uma angústia em meu peito só de imaginar como ele deve se sentir desconfortável com aquilo.

Faço o mesmo mas ao invés de deitar-me na toalha deixo minha cabeça tombar no peito do moreno. Rodeio meu braço direito em sua cintura relaxando meu corpo.

Matt começa a mexer nos meu cabelos e eu dou um sorrisinho de contentamento.

Achei que ele iria reclamar quando eu me deitasse porém ele fez bem ao contrário. Me puxou pra mais perto para me fazer cafuné.

Ficamos os dois só curtindo o momento. Seu coração batia parecendo uma melodia aos meus ouvidos.

- Eu estou com medo Esmeralda. - Matthew diz quase num sussurro minutos depois ainda passando a mão em meus cabelos.

Prendo meu queixo em seu peito erguendo meu olhar até encontrar o seu. Desesperado e temeroso.

- Do que? - Ele desvia o olhar para o céu pensativo. Subo minha mão e ao chegar ao seu rosto prendo ela ali movendo apenas meu polegar suavemente.

- Antes eu sabia que iria partir. Eu tinha aceitado isso. Mas agora que eu mudei de ideia cresceu uma esperança de talvez eu me curar. O problema é que pra mim só há 10% de chance se não menos. Tenho medo de essa esperança ser em vão.

- Nada vai ser em vão Matt. Ter esperança é o mesmo que ter fé. E na bíblia diz que nossa fé move montanhas. E é bom ter medo, nos mostra que somos humanos. Nada em nossa vida é em vão. Tudo é baseado em propósitos. - Ele me olha e sorri de lado. O olho com ternura continuando a falar. - O que o Doutor falou é só um número. Pra Deus nada é impossível. Se você confiar nele tenho certeza que tudo vai dar certo. Não desista de viver Matthew. De tudo de si. Lute contra isso. Mesmo que no final você parta sua família e eu saberemos que você foi um guerreiro. Você é forte e determinado. Se esforce não importa o resultado final. 

Ele beija meus cabelos como um sinal de agradecimento. Isso me causa um bolo na garganta ao imaginar minha vida sem ele.

- Mas por favor Matt, tente não me deixar. Eu preciso de você. - Lágrimas inundam minha face rolando sem parar.

- Ei, não chora princesa. - Deito novamente em seu peito. - Não quero te deixar Kate. Vou lutar pela minha família e por você. E quando eu sair de lá curado vou me empenhar em conquistar você. E daí vamos casar e ter muitos filhinhos.

- Vamos ver se você vai se sair bem. Eu sou uma mulher difícil e complicada. Terá que ser paciente. - Rio em meio as lágrimas o abraçando mais forte.

- Paciência é meu nome do meio. Vai cair de amores por mim Katezinha.

- Boa sorte. - Falo ainda rindo e ele ri também.

Talvez ele já tenha meu coração e eu ainda não sei.

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OBRIGADA!💜

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Amei escrever esse capítulo. Espero que também amem ler.

Beijão😘

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