Capítulo 8
Meu coração já estava disparado quando vi que o Cebola se encaminhava para a nossa mesa. Minha respiração ficou acelerada.
— Fica calma. – Shay falou baixo, segurando a minha mão e soltando-a logo depois.
— Ora, ora, se não é a grande Nikki e sua namorada. – Cebola falou, com sua voz grave.
— Oi Cebola. – Falei.
— Eu quero bater um lero com você Nikki. – Ele falou.
— É... É... Claro. – Respirei fundo, tentando me manter calma.
Cebola colocou a mão enorme em meu ombro e apertou de leve.
— Vamos. – Deu a ordem.
— Depois a gente se fala. – Falei para Shay e me levantei.
Ela também se levantou e parou na minha frente, me olhou nos olhos e me beijou na frente do Cebola e seu pessoal.
— Volta logo amor. – Ela falou me causando estranhamento.
— Já chega. – Cebola me arrastou de lá de dentro do restaurante.
Dois caras andavam na frente dele, protegendo-o. Eu ia mais atrás com uns cinco caras ao meu redor. Fui levada até um casebre afastado que eu nem sabia que existia.
Entramos e os segui até um porão meio escuro. No meio do porão tinha uma única cadeira e no canto havia uma mesa velha com várias ferramentas, ferramentas essas que percebi serem de tortura. Eu já tremia de medo, mas tentei não demonstrar.
— Senta. – Cebola ordenou.
Sentei-me na cadeira e olhei ao redor, todos eles estavam ao redor da cadeira só que mais afastados, somente o Cebola examinava as ferramentas na mesa.
— Sabe Nikki, eu venho percebendo um aumento da criminalidade aqui... – Cebola apareceu na minha frente segurando um facão enorme. — Mas não sei quem está por trás disso. – Ele me encarou.
— Mas nada escapa dos seus olhos... – Falei, me mantendo calma. — E dos seus homens. – Completei.
— É, nada escapa aos meus olhos. – Ele passou a andar na minha frente. — O mais engraçado Nikki, é que é uma mulher que está fazendo isso. – Cebola levantou o facão passando lentamente pelo meu rosto, sem me machucar.
— Uma mulher? – Perguntei, engolindo em seco.
— Sim. E você se encaixa com as descrições. – Ele voltou a andar. — Sabe o que acontece nesta sala, Nikki?
— Nã... Não. – Falei.
— Essas histórias que você escuta, de que eu torturo pessoas, é a mais pura verdade. – Ele voltou a passar o facão no meu rosto. — Então quando eu descobrir quem é essa vagabunda que matou meu companheiro e que anda assaltando por aí, vou acabar com a raça dela.
— E você acha que eu seria doida de fazer essas coisas sabendo que é você que manda? – Perguntei.
— Tem doido pra tudo. – Ele falou. — Você é inteligente, Nikki. Sei que não vai querer me ter como inimigo.
— Eu agradeço muito por ter me deixado ficar lá no galpão, mas não sou eu essa mulher que você está procurando. – Falei, controlando a respiração.
— Assim espero. – Ele desceu o facão do meu rosto para o meu colo, pousando na minha barriga.
Me analisou durante um tempo e voltou o facão ao meu rosto. Cebola pressionou um pouco a lâmina contra a minha bochecha fazendo um pequeno talho, senti o corte arder e o sangue escorrer por minha bochecha.
— Isso é só um aviso, Nikki. – Ele olhou para um dos comparsas e acenou. – Sabe o que é isso? – Ele perguntou, quando um dos caras chegou com uma caixa de tamanho médio. Neguei com a cabeça. — Esse foi o último cara que virou meu inimigo. – Cebola abriu a caixa.
Tive uma ânsia de vômito ao ver a cabeça de um homem dentro da caixa. Seja quem for, morreu com as feições de horror e dor. Virei o rosto e fechei os olhos.
— Você já está avisada. – Cebola falou, fechando a caixa. — Pode ir. Vou estar de olho em você. – Ele alertou.
Dois caras me tiraram a força da cadeira e me levaram para fora.
— Vaza daqui. – Ele falou, fechando a porta e ficando de guarda do lado de fora.
Andei o mais depressa possível sem nem olhar para trás. Consegui achar o caminho que dava para as casas e fui em direção à casa do Hugo.
— Nikki. – Escutei a Shay me chamando e olhei ao redor procurando-a.
Ela vinha da minha esquerda.
— Como sabia que eu estava aqui? – Perguntei, tentando limpar o sangue da bochecha.
— Eu segui vocês e fiquei escondida, esperando você sair. – Shay respondeu. — O que ele fez com você? Você está bem? – Ela perguntou, preocupada, vendo o sangue.
— Eu estou bem. Isso foi só um cortezinho. – Shay fazia carinho no meu rosto.
— Ele torturou você?
— Não, só me deu um aviso. – Falei.
— Que aviso? – Ela perguntou.
— Ele falou que eu me encaixo nas descrições dessa misteriosa mascarada e que está de olho em mim. – Falei e estremeci lembrando-me do que tinha na caixa. — Ele tinha uma cabeça guardada em uma caixa.
— Uma cabeça? – Shay perguntou, me puxando para andar novamente. — Vamos andando que o seu guarda costa já está de olho em você.
— É, uma cabeça. – Falei, abaixando a minha voz. — Era a cabeça de alguém que ele matou. Só de lembrar eu me arrepio inteira. – Passei as mãos em meus braços para abaixar os pelinhos arrepiados.
— Vem, eu vou cuidar de você. – Shay me puxou em direção a uma farmácia e comprou alguns itens para curativos.
Fomos para a mesma pracinha em que nós nos beijamos e sentamos debaixo da mesma árvore. Shay começou os preparativos para limpar o corte.
— Ai, esse negócio arde. – Falei, fazendo uma careta.
— Para de drama. – Shay falou, sorrindo. — O que mais aconteceu lá dentro?
— Ele me levou para um porão, tinha uma mesa com ferramentas que provavelmente ele as usa para tortura. Na cadeira que eu fiquei sentada, tem amarras nos braços e nos pés, mas ele não chegou a me amarrar, só ficou passando um facão no meu rosto e me cortou como aviso. – Falei.
— A polícia iria adorar prendê-lo. – Shay falou.
— A polícia nem aparece aqui, a gangue cuida melhor da população do que a própria polícia. – Comentei. — Mas mudando de assunto, você me chamou de amor lá no restaurante. – Falei com um sorriso enorme.
— Não se empolga não, bonitinha. – Shay também estava com um sorriso. — Fiz isso justamente para o tal Cebola ver que eu saberia do seu paradeiro, se algo acontecesse com você eu iria à polícia e o denunciaria, ainda diria onde é a tal casa.
Ficamos mais um pouco na praça, conversando. Shay se despediu, mas antes roubei um beijo maravilhoso dela.
Passei na casa do Hugo e mais uma vez relatei como consegui o corte na bochecha. Infelizmente nenhum morador tinha coragem suficiente para enfrentar o Cebola. Fui para o galpão umas dez da noite.
Entrei no galpão escuro e vi que tinha algo errado, dessa vez não era nenhuma pessoa que estava aqui, mas alguém que esteve aqui e revirou tudo. Acendi a lamparina e pude ver a bagunça que estava, caixas por todos os lados, minhas roupas rasgadas e jogadas no chão, meu colchão velho agora não passava de um monte de pedaços picotados.
Fui até o esconderijo que eu guardo o meu dinheiro e fiquei aliviada quando contei os onze mil reais. Pelo menos não tinham achado o dinheiro.
Tinha um bilhete preso na minha mochila, que estava toda aberta e sem nada dentro. O bilhete feito à mão dizia assim:
Eu sei quem você é.
Se você não tem medo do Cebola, vai ter medo de mim.
Perdi um homem por sua causa, mulher mascarada.
Vou fazer jus à morte dele quando eu colocar as mãos em você.
ZECA
PS: Obrigado pelas provas.
Droga, droga, droga e droga. Como eu pude ser tão descuidada assim? Eles acharam a minha touca e ainda acharam a carteira e as bolsas que eu fiquei de queimar. O que eu iria fazer agora? Estava em um beco sem saída, sendo vigiada pelo Cebola e agora pelo Zeca. Qual do dois seria melhor? Confesso que eu não queria descobrir qual dos dois seria melhor, muito menos o pior.
Eu estava com as pernas bambas. Peguei os onze mil reais e coloquei na mochila. Tudo o que tinha ali já não tinha mais salvação, tirando a calcinha da Shay que eu coloquei dentro da mochila. Saí pela saída traseira que eu fiz e vi que não tinha ninguém lá, os patetas estavam na parte da frente.
Fui andando entre as sombras até a casa do Hugo. Já devia ser umas onze e meia mais ou menos. Antes passei na casa da Shay, estava tudo escuro. Toquei a campainha cinco vezes e nada. Ela nunca tinha me dito com o quê trabalhava, mas era muito estranho isso.
Fui para a casa do Hugo e peguei a chave que ele deixa escondida na terra de um vaso de planta, perto da porta. Ele tinha me dito que deixaria a chave ali para alguma emergência. Não acendi as luzes, fiquei sentada no sofá pensando onde a Shay estava.
— Nikki? – Hugo perguntou, assim que voltou do trabalho. — O que houve? – Ele perguntou, trancando a porta.
— O Zeca sabe que eu sou a misteriosa mascarada. – Falei.
— Como?
— Alguém invadiu o galpão. Tinha um bilhete dele lá. – Entreguei o bilhete que estava no meu bolso. Hugo passou a mão pelo cabelo.
— Você vai ter que sumir daqui. – Ele falou.
— Eu não sei pra onde ir. Me ajuda? – Falei desesperada.
— Calma, vamos pensar. – Hugo se levantou e fechou a cortina da sala. — Primeiramente, você tem dinheiro? – Hugo perguntou.
— Sim, tenho o dinheiro que peguei dos assaltos.
— Quanto?
— Onze mil. – Falei. Hugo me olhou assustado.
— Onze mil? Onze mil, Nikki? Acho que vou virar assaltante também. – Ele falou.
— Para de brincadeira. – Falei irritada.
— Desculpa. Certo, você tem que se livrar dessa grana.
— Eu vou depositar, tenho uma poupança no banco desde quando eu era criança. Depositei um pouco nela a uns tempinhos atrás, mas nunca depositei esse dinheirão todo. – Falei.
— Tudo bem. Depois disso você tem que se mandar.
— Pra onde eu vou? Eu estou sendo vigiada por dois caras e que logo logo vão descobrir que eu não estou mais no galpão. E não é só esses dois que estão me vigiando não, pelo visto. – Eu estava quase entrando em curto circuito.
— A polícia? – Hugo perguntou.
— Não cara, o Zeca. Ele quer me pegar e do jeito que está, não vai demorar muito para acontecer.
— Olha, vamos dormir e amanhã pensamos direitinho. – Hugo levantou. — Você pode dormir aqui na sala. Vou arrumar o sofá para você.
— Obrigada Hugo. – Agradeci.
Acordei às dez da manhã com batidas na porta. Não ousei abrir. Hugo apareceu todo descabelado e com cara de sono.
— Vai lá para a cozinha, Nikki. – Ele avisou, falando baixo. — E não faz barulho.
Não escutei o que ele falava ou com quem, mas rapidamente fechou a porta. Hugo apareceu na cozinha.
— Você tem visita. – Ele falou. Meu coração acelerou.
Shay apareceu na cozinha e correu para me dar um abraço, me dando um beijo em seguida. Nessa hora eu nem lembrei que tinha problemas com dois líderes de gangues, o que me importava era essa morena de olhos verdes que me beijava e se preocupava comigo.
— Você está bem? – Ela perguntou, estava preocupadíssima.
— Estou. – Fiz carinho em seu rosto.
Shay me deu outro beijo, deixando nossas línguas bailarem em um ritmo lento e gostoso.
— Eu vou deixar vocês sozinhas. – Hugo avisou e foi para o quarto dele.
— Porque o seu galpão está todo revirado? – Shay perguntou, depois de nos beijarmos.
— Me dá mais um beijo? – Falei, tentando achar uma desculpa.
— Você está me enrolando, Nikki. – Ela me analisou.
— É complicado, Shay.
— É só descomplicar agora mesmo. Me conta? A verdade, Nikki. – Shay foi bem enfática.
— Eu conto se você me contar porque que você não dorme na sua casa? – Perguntei. — E com o quê você trabalha? – Completei.
— Você está desconfiando de mim? – Shay perguntou.
— Não, mas... – Parei por um instante pensando no que dizer. — Eu tô com problema até o pescoço Shay, não quero mais um. – Falei.
— Eu entendo meu anjo. Fica calma, seja o que for nós vamos dar um jeito. – Ganhei outro beijo.
— Nós? – Falei, com um sorriso.
— É, nós. – Shay também falou com um sorriso.
— Isso quer dizer o quê? – Perguntei.
— Não sei, me diz você? – Ela deixou em aberto.
— Que estamos namorando? – Perguntei esperançosa. Shay sorriu.
— Pode ser. – Ela riu. — Mas antes nós precisamos conversar muito sério, Nikki. – Shay completou, muito séria. — Vem, vamos nos sentar. – Shay me puxou para o sofá.
Fiquei apreensiva com o que viria.
— O que está acontecendo, Nikki? – Shay perguntou, me olhando com aqueles belos olhos verdes. — Porque o galpão estava revirado? Quem fez aquilo? Foi o Cebola?
— Ei, calma. Uma pergunta de cada vez. – Suspirei. — O Zeca entrou no galpão, provavelmente com a gangue dele e bagunçou tudo lá.
— Zeca? – Shay perguntou sem entender.
— É, ele é o líder de uma gangue do quarteirão de cima e chefia uma boca de fumo, só não é mais perigoso do que o Cebola, ou pelo menos eu acho que não. – Fiz uma careta.
— E o que ele queria lá? – Shay me olhava de um jeito confuso. Suspirei e entreguei o bilhete que eu recebi. — Que provas são essas que ele diz aqui?
— Eu não sei. Eu tinha uma touca que eu usava no frio, talvez seja isso que ele esteja falando. – Olhei para baixo, tentando não deixar Shay ver que eu estava mentindo.
Se via claramente que eu estava mentindo, mas por alguma razão, Shay acreditou em mim.
Uma coisa que me deixou intrigada foi o fato dela nem sequer contestar se eu era ou não a misteriosa mascarada, como se ela já soubesse que era eu.
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