Capítulo 4

Hugo estava me encurralando e eu não sabia o que fazer. Não sei qual seria a sua reação.

— Fala a verdade, Nikki. Eu sei que é você. – Hugo falou.

— Porque acha que sou eu? Só porque a mulher escala parede? – Perguntei.

— Você sabe que é. A maioria das meninas daqui são patricinhas demais para isso e a outra metade, já são senhoras que mal conseguem andar rápido, quanto mais correr. – Hugo brincou.

— E se fosse eu? O que você faria? – Perguntei, temendo a resposta.

— Não faria nada. Eu já fiz coisas que não me orgulho então eu não faria nada. – Ele falou.

— Está bem. Eu sou essa mulher misteriosa. – Confessei. — Não vai me entregar para a polícia?

— Não. Mas acho que você deveria parar enquanto é tempo, você está se encrencando cada vez mais. – Hugo levantou e foi até a geladeira para pegar uma cerveja.

— Não dá, eu não consigo. É como uma droga, toda a adrenalina e tal. – Falei, dando um suspiro.

— Deve ser mesmo, mas eu não entendi porque você matou o Dindim? – Hugo perguntou.

— Eu o vi abusando daquela garota do jornal, eles estavam em um beco, foi no dia do temporal. Eu tinha que fazer alguma coisa, não podia deixar que aquele lixo ficasse impune. – Falei. Hugo me observava. — Eu não imaginei que ele fosse morrer, eu o fiz desmaiar e acho que nesse tempo ele perdeu muito sangue.

— Entendo. Mas você sabe que corre perigo se o Cebola descobrir, não sabe? – Hugo fez a pergunta que eu mais temia.

— Sei. Acho que eu estaria mais segura atrás das grades.

Corriam boatos de que o Cebola e sua gangue torturavam alguém da pior forma possível, cortavam partes do corpo da pessoa, começando pelas pequenas e indo para partes maiores como membros até ela não aguentar mais e morrer. Só de pensar nisso eu já tremia na base. Eu não merecia uma morte tão horrível só por ter tirado aquele monstro das ruas.

— E o que você pretende fazer? – Hugo me perguntou.

— Eu não sei. Venho assaltando aqui a mais de um ano, se não fosse por causa desse Dindim eu nem teria sido descoberta. – Falei, com raiva.

— Descoberta em parte porque ninguém sabe que é você, eles sabem que é uma mulher. – Hugo falou, divertido. — Mas se você quiser que permaneça assim, é melhor acabar com isso logo.

— Vou ver o que faço. – Falei me levantando. — Obrigada por não me entregar e por não me julgar. – Abracei o Hugo.

— Gosto de você como uma irmã, me preocupo com você. – Ele falou. — Sai disso. Não quero ter que te visitar na cadeia, ou pior ainda, no cemitério.

Aquela frase me impactou. Realmente se eu não parasse, eu acabaria a sete palmos embaixo da terra.

Fui para o meu esconderijo e pensei sobre tudo isso, sobre o que eu realmente queria da vida e como eu deveria conquistar cada sonho meu. Começaria mudando os assaltos, faria um último assalto na noite seguinte e depois pararia de vez, nada poderia dar errado não é?

Passei o dia inteiro no meu esconderijo e saí às sete e meia, pronta para pegar Diana no restaurante. Fui andando devagar até dar o horário certo.

— Oi Nikki. – Diana se aproximou de mim me dando um abraço.

— Oi Diana. – Falei, sem graça. — E então, para onde vamos? – Perguntei.

— Que tal irmos ao cinema? Eu pago. — Ela falou, toda empolgada.

— Está bem, mas eu também posso ajudar a pagar. – Falei.

— Nem pensar, eu convidei eu pago. – Diana finalizou, me puxando.

Assistimos um filme de romance muito sem graça, mas é claro que eu não falaria isso para ela.

— O que achou do filme? – Diana perguntou.

— Achei incrível. – Falei, dando um sorriso.

— Você odiou não é? – Ela me olhou.

— Não, porque diz isso?

— Pode falar a verdade, eu odiei. Achei muito sem graça. – Diana disse, rindo.

— Tá bem. Eu também achei sem graça. – Falei, passando a mão na nuca.

Levei Diana até a casa dela.

— Onde você mora? – Diana me perguntou quando ela abriu o portão.

— Por aí. – Tentei ser vaga.

— Hum, certo. Eu adorei a noite. – Diana se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto.

— Eu também adorei. – Falei.

— Tchau Nikki. – Diana entrou e fechou o portão, trancando-o.

— Tchau. – Falei.

No dia seguinte, acordei e fui até a casa da Adelaide, levar as minhas roupas para lavar.

— Oi Nikki? – Juliana, a sobrinha da Adelaide falou, enquanto eu lavava as roupas.

— E aí Ju. Vim essa semana aqui, mas a Adê não me deixou te ver. – A encarei e depois voltei a esfregar as roupas.

— E o que você queria comigo? – Juliana perguntou, com um sorriso cínico.

— Você sabe o que eu queria. – Falei, sorrindo também.

— Ah é, podemos dar um jeito nisso. – Juliana se aproximou de mim e me beijou.

Juliana tinha apenas dezesseis aninhos, mas tinha um fogo que eu não sabia da onde vinha.

— Ju, a Adelaide vai ver. – Falei, parando o beijo.

— Não vai não. – Juliana voltou a me beijar.

As mãos da Juliana ficaram mais atrevidas enquanto me beijava, uma das mãos dela entrou na minha calça e começou a me masturbar por cima da calcinha.

— Juliana... Para. – Falei em meio ao beijo.

Ela já estava me deixando louca de desejo. Juliana ao invés de parar, fez pior, se abaixou e abriu a minha calça e a puxou para baixo juntamente com a calcinha. Passou a me chupar com desejo. Era impossível manter o controle, se a Adê visse, ia me expulsar da casa dela.

— Você... Você... – Não consegui formar uma frase.

Soltei um gemido baixo e mesmo com as mãos molhadas, segurei nos cabelos de Juliana. Ela me enlouquecia com a língua dela, me chupando lentamente.

— Está precisando de alguma coisa, Nikki? – Adelaide apareceu na porta.

— Não. – Falei. Tentei manter minha expressão neutra, o que era difícil.

Juliana continuava me chupando e me lambendo, e a única coisa que eu podia fazer era apertar o tanquinho.

O tanquinho ficava do outro lado da área, quem aparecia na porta só conseguia ver quem estava lavando roupa da cintura para cima. E só por isso é que a Juliana ainda estava ali, agachada e me deixando completamente louca.

— Você viu a Juliana? – Adelaide perguntou, ainda me olhando.

— Não. – Falei, com medo da minha voz falhar.

Adelaide voltou para dentro e a Juliana aproveitou para finalizar essa loucura.

— Goza na minha boca. – Ela falou, com a voz rouca.

Juliana acelerou os movimentos da língua dela em meu clítoris me fazendo gozar em sua boca como ela queria. Minhas pernas estavam bambas.

Juliana levantou e me beijou, segurando minha cintura.

— Você... É louca. – Falei, tentando recuperar o fôlego. — É melhor sair daqui antes que a Adê nos pegue. – Arrumei minhas roupas no lugar.

— Você é deliciosa Nikki. – Juliana falou, passando a língua pelos lábios. — É uma pena que eu sou só mais uma na sua lista.

— Que lista? – Perguntei.

— A sua enooorme lista de mulheres apaixonadas por você. – Ela falou, como se fosse óbvio.

— Não sei de lista nenhuma. – Falei, voltando a lavar a roupa.

— Ah não? Eu posso listar alguns nomes se você quiser, e olha que são muuuitos. – Ela disse, se divertindo.

— Quer parar. – Falei. — Não tem lista nenhuma.

— Tem sim, e eu ainda posso acrescentar que todas elas saem com o coração partido. – Juliana já passava a mão em meu seio direito. — E essa lista começa com a coitada da Cacau.

— Dá pra parar? – Tirei sua mão de mim. — A Cacau foi embora e eu sempre deixei claro para todas com quem eu fico que é só sexo, nada mais. – Falei, aborrecida. — Eu avisei a você também.

— Eu sei. Mas o que nós, meras mortais, podemos fazer? Você é perfeita com esses olhos cinzas e esse ar de bad girl. – Juliana falou, depositando um beijo em meu pescoço. — Ninguém manda no coração, Nikki.

— É melhor você sair daqui Juliana. – Falei, torcendo a roupa para enxaguá-la novamente.

— Eu vou sair, mas antes eu quero deixar bem claro que está para aparecer uma mulher que te deixe de quatro e que parta seu coração, assim como você faz com todas nós. – Juliana sai da área me deixando sozinha.

Eu não faço por mal, sempre avisei que nunca ia ter nenhum sentimento da minha parte, que sempre seria somente sexo. Será se eu deixei muitos corações partidos?

Depois que eu deixei minhas roupas de molho no amaciante, as torci e coloquei dentro de uma sacola para estendê-las no varal do galpão.

— Obrigada Adê. – Falei me despedindo de Adelaide.

— Que isso minha filha, pode vir sempre lavar a sua roupa. – Ela falou, me dando um abraço. — Você é cabeça dura demais, já falei para deixar suas roupas aqui todo sábado que eu lavo e passo, depois é só vir buscar.

— Não precisa Adê, já falei que não quero te incomodar. Eu já fico muito feliz só por me deixar lavar as minhas roupas aqui na sua casa.

— Quem dera se a Juliana tomasse jeito e lavasse as roupas dela. – Adelaide falou, suspirando.

— É, aquela ali é preguiçosa mesmo. – Falei rindo.

— E como.

— Bem, eu já vou indo Adê. – Ganhei outro abraço e um beijo na cabeça.

— Se cuida Nikki. – Adelaide falou, com um ar preocupado.

— Pode deixar. – Sorri. Fui para o galpão estender minhas roupas recém-lavadas e cheirosas.

Fiquei de bobeira a tarde toda, só esperando que a noite chegasse para o meu último assalto. Na hora certa eu me arrumei, peguei as minhas facas e a minha touca. Naquela hora eu tinha lembrado do cartão que eu roubei e me esqueci de voltar no banco para pegar o resto do dinheiro, pensando bem, acho que aquele cartão a essa altura já devia estar bloqueado. No dia seguinte eu iria queimar aquela carteira com tudo dentro.

Saí e fui andando a quatro quarteirões abaixo. Dessa vez eu assaltaria no quarteirão do Cebola.

Me posicionei num belo lugar e esperei minha vítima. Escutei passos e vi que eram duas mulheres que vinham conversando. Esperei passarem e agarrei uma delas, colocando a faca no pescoço.

— Eu quero as bolsas.

A outra mulher percebeu o que acontecia e se desesperou.

— Por favor, não machuca ela. – A mulher que estava solta falou.

— É só me darem as bolsas e nada de gritar. – Falei.

As duas me entregaram as bolsas, eu empurrei a mulher que segurava para cima da outra e corri com as bolsas.

Fiz todo o ritual até perceber que não estava sendo seguida e parei de correr. Dei mais uma volta sem a touca e fui rapidamente ao meu esconderijo. Antes eu descartava as bolsas ou mochilas que eu pegava, mas agora com todo esse lance de polícia, eu queimava tudo, até para não conseguirem pegar minha impressão digital. Iria queimar essas bolsas junto com a carteira.

Para meu último assalto eu até que não lucrei muito, dentro de uma das bolsas só tinha um celular bem ruinzinho, daquele que só recebe ligação e dois reais e cinquenta centavos. Na outra tinha dez reais, mas nenhum celular. Eu estava bem na fita.

Troquei de roupa e fui dormir. Lá pelas três da manhã, fui acordada com barulhos de tiro. Foi muito perto do galpão. Peguei minha faca embaixo do colchão e me levantei com o coração acelerado por causa do susto, e fui dar uma olhada para ver se não tinha ninguém tentando entrar. Estava tudo calmo. Não sei quem disparou e não iria sair para descobrir, estava mais segura aqui dentro.

Fiquei de vigília durante um bom tempo depois dos tiros, até que adormeci. Acordei às dez da manhã e me levantei.

Depois do almoço, fui ver meu chapa, o Hugo. Entrei em sua casa e sentei no sofá.

— E aí? Não veio ontem aqui por quê? – Hugo me perguntou.

— Pela manhã eu fui lavar as minhas roupas na casa da Adelaide e depois fiquei de bobeira lá no galpão.

— Boa pessoa a Adelaide. – Hugo me encarou.

— É.

— Mas me conta aí, você andou agindo de novo né? – Hugo disse, fazendo uma cara feia.

— Porque diz isso? – Perguntei.

Hugo me jogou um jornal, o jornal "Hora Certa".

— Eu não matei ninguém. – Me defendi logo. Aquele jornal era mais sobre mortes.

— Tem certeza? – Hugo perguntou.

— Absoluta.

— Lê aí então. – Hugo levantou e foi na cozinha enquanto eu lia a reportagem.

MISTERIOSA MASCARADA, DE LADRA A ASSASSINA!

Mais dois crimes foram cometidos na noite de ontem, tudo indica que foi a misteriosa mascarada, que vem agindo nas outras noites também. Dessa vez uma das vítimas foi Ângelo Pires, 26 anos, morto com três tiros no peito. Foi encontrado por um morador que estava a caminho do trabalho e chamou a polícia. A delegada informa que está investigando esse e outros casos "Estamos fazendo o possível para descobrir quem foi o autor desse crime e estamos investigando também o assalto da noite passada, outras duas vítimas da possível mulher misteriosa". A delegada ao ser contestada sobre ter alguma pista dessa mulher misteriosa acrescentou "Estamos montando um retrato dessa criminosa, a única coisa que sabemos é que ela possivelmente tem olhos claros e tem uns vinte a vinte cinco anos de idade, de acordo com uma das vítimas do assalto que relatou".

Qualquer pessoa que tiver alguma pista sobre o assassino do jovem Ângelo ou sobre a misteriosa mascarada, ligue para o 190 e denuncie.

—Puta merda. – Foi só o que consegui falar.

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