A escola

Aquela foi, sem dúvida, a pior escola que frequentei. Sofria muito bullying e discriminação por parte das crianças que tinham mais acesso do que eu às coisas materiais. Mas voltando para o ano de 2008, eu estudava o segundo ano. Naquele ano, algo aconteceu que se tornou uma lição valiosa para mim até hoje. Naquela manhã, o sol brilhava forte, mas dentro de mim tudo parecia escuro e sem esperança. Na sala de aula, a professora falava com paixão sobre a importância de denunciar a violência doméstica. "Vocês têm que contar a um adulto de confiança se souberem de alguém que está sendo machucado em casa", ela dizia, suas palavras ecoando na minha mente como um chamado à ação. Com o coração acelerado e as mãos trêmulas, decidi que aquele era o momento de falar." Professora, eu preciso contar algo. Em casa, minha mãe sofre violência física." A professora me olhou por um instante, seus olhos se estreitaram de forma quase imperceptível. Esperei, com o coração na boca, por palavras de apoio, por um gesto de compreensão. Mas o que veio foi um choque que me deixou paralisado. "Isto não é meu problema, eu não tenho nada a ver com sua mãe e seu padrasto," ela disse friamente, virando-se sem olhar para trás.

Naquele momento, o chão pareceu desaparecer sob meus pés. A sala de aula, que antes era um lugar de aprendizado e segurança, transformou-se num vazio gelado e hostil. Senti uma onda de vergonha, culpa e tristeza, como se todas as minhas esperanças de encontrar ajuda tivessem sido esmagadas por aquelas palavras insensíveis. Foi neste período conturbado que aprendi a importância da resiliência e da autenticidade. Descobri que o mundo dos adultos nem sempre protege verdadeiramente as crianças, muitos levantam bandeiras contra a violência, mas quando chega a hora de ajudar, preferem fechar os olhos e os ouvidos, iludidos pela mentira. Enquanto enfrentava o desprezo e as zombarias dos meus colegas, desenvolvi a força para resistir à pressão de ser aceita apenas pelo que eu possuía ou não. Os problemas da minha mãe poderiam não ser da professora, porque ela não era a vítima, mas aquelas palavras insensíveis perfuravam qualquer criança de 8 anos. A sociedade está cheia de hipocrisia.

E porque é que a professora iria denunciar a violência, se ela própria também era uma pessoa que praticava violência? Quando digo que foi a pior escola que já frequentei, digo por várias razões. As punições das professoras para com as crianças eram diárias, parecia que estávamos no ano de 1950, onde havia métodos arcaicos e abusivos como forma de punir os alunos. Os abusos físicos e emocionais aconteciam devido a dificuldades acadêmicas. Aposto que se fosse um adulto sentado na carteira, aprendendo e enfrentando dificuldades, ele não seria punido, mas uma criança era tratada como se fosse um animal sem emoções.

As agressões físicas que sofríamos incluíam reguadas aplicadas com força nos nossos braços e pernas até ficarem roxos, vermelhos e esverdeados. Eu tinha a pele muito clara, por isso era muito visível. Também podíamos levar puxões de orelhas, que eram dolorosos e deixavam as minhas orelhas magoadas e com cortes. Os abusos emocionais eram os piores; éramos chamados de burros, patetas, idiotas, entre outros insultos, se não soubéssemos responder a uma questão. A professora dizia: "Vocês não prestam para nada."

O rapaz que tinha muitas dificuldades de aprendizagem, uma vez a sua madrasta proibiu-o de ir às aulas de reforço porque a criança se queixava que a professora o batia todos os dias com uma colher de pau que era da cozinha. Pela primeira vez, eu vi um adulto intervir para proteger uma criança da violência, mas não era suficiente para acabar com tudo.

O ano era 2009, comecei a estudar o 3 ano, naquele ano peguei uma professora pior. A mulher agredia pior, ela dava socos na cabeça das crianças, dava puxões de orelhas, batia com régua. Uma vez, ela pegou meu colega que tinha muita dificuldade de aprendizagem e o bateu com a cabeça contra a lousa do quadro, eu tinha pena daquele menino, ele tinha mais problemas que todos da sala, ele parecia que era disléxico. Suas letras eram feias, ele quase não conseguia memorizar as coisas, hoje consigo ver a tamanha ignorancia da escola e a falta de paciencia que as professoras tinham para ensinar uma criança com dificuldades, elas não sabiam ou fingiam que não sabiam das dificuldades das crianças em casa e depois ir para escola pra passar sufoco, para mim era uma rotina infernal. Chegou uma vez que eu já não aguentava mais, era um peso enorme que eu carregava no espirito, era medo e tristeza que me pus a mentir para minha mãe, eu comecei a fingir que estava doente para não ir á escola por conta da violencia. Minha mãe chegou a desconfiar que eu estava mentindo e me mandou para escola a força, meu coração batia forte, minhas mãos tremiam de medo e eu estava ansiosa, não queria ir para escola, mas eu fui entre o medo e a coragem. Aquela professora era uma cobra, começou a me enviar para o quadro todos os dias, eu apanhava todos os dias, chorava todos os dias e tinha medo de errar nem que seja um numero ou uma letra. Ela fazia de proposito, mandava os mais fracos para para o quadro.

Eu era uma criança isolada e quieta na escola, mas falava muito. Gostava de conviver com outras crianças, mas muitas vezes era excluída por elas. Achava que era por causa da minha aparência, mas depois percebi que a minha situação económica e os meus problemas familiares criavam uma barreira entre mim e o mundo. Quanto mais problemas surgiam na família, mais as pessoas sabiam e mais eu e os meus irmãos ficávamos expostos na escola. Havia um grupo de crianças que estava sempre a insultar os meus irmãos à porta de nossa casa. Eram como gatos e cães, sempre em guerra com aquele grupo.

Houve um episódio em que a mãe das crianças foi ter comigo na escola para me confrontar. Mas porquê comigo e não com algum dos meus irmãos? Ela disse um monte de palavras estúpidas que hoje não consigo lembrar. Eu era a mais quieta, e isso deve tê-la convencido de que eu era a mais fraca. Os alunos da escola formaram uma roda à volta de nós e todos estavam a rir de mim. As professoras estavam todas nas salas e não se atreveram a intervir no ocorrido. No mesmo dia, a mulher foi ter com a minha mãe para fazer queixa, alegando que nós estávamos a meter-nos com os filhos dela. Ela sabia muito bem que foram os seus filhos que começaram a guerra por causa de um simples pneu com o qual os meus irmãos estavam a brincar, que supostamente pertencia ao pai deles. O pneu estava na rua e os meus irmãos pegaram-no para brincar. Foi então que o grupo de crianças começou a trocar farpas com os meus irmãos

Minha mãe não deu ouvidos às queixas da mulher; simplesmente lhe disse para parar de implicar com as crianças. Ela sabia que a situação era ridícula e que a mulher estava a criar problemas por nada.

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