PEGOS NO FLAGRA
— ISSO É UM CICLO VICIOSO — Katarina diz, com uma certeza inabalável.
Seu rosto pálido exibe um sorriso descontraído, o mesmo que julgo ser impossível de se ver com frequência em meu semblante. O céu está opaco, ameaçando escurecer. As nuvens vão se acinzentando, à medida que a hora passa. Uma brisa corta o ar parado e movimenta nossos cabelos.
— Tudo é um ciclo vicioso — replico, esticando meu corpo sobre a grama. — Nascer, morrer, existir, essas nossas conversas, quando eu finjo que você realmente tá aqui. O mundo é a droga de um ciclo vicioso.
Suspiro, embargada, fazendo aquele clima descontraído se tornar pesado e começar a se fechar, como o céu sobre nossas cabeças.
— Alguém não está de bom humor — diz ela, deitando-se também. — Quer falar alguma coisa?
Seus olhos param em mim, esperando alguma reação, mas eu não quero reagir. Quero continuar aqui, na minha linda zona de conforto, onde continuo em negação e o mundo continua cor-de-rosa — para as outras pessoas, é claro. Não quero ser quem mudará as coisas, porque nem sempre as mudanças são boas.
— Sininho, se eu começasse a falar as coisas, você teria que ter a eternidade pra ouvir — desabafo, sentando e abraçando os joelhos.
— Então hoje é seu dia de sorte, porque tenho a eternidade, afinal eu tô morta. É tudo o que tenho — sua voz animada fala, como se tal comentário fosse a coisa mais natural do mundo.
Dou-lhe um breve olhar, de soslaio, custando muito a mexer um músculo sequer do meu corpo. Conhecendo-a, ela iria deduzir tudo só pelo meu balançar de cabelos, e eu não estou disposta a dar esse gostinho a ela.
— Você sabe que eu não vou a lugar nenhum, né? Um dos privilégios da morte; você pode ir a qualquer lugar, e ficar em qualque...
— Se eu falar, você para com esse assunto mórbido de alma penada? Tá me dando calafrios. — Estremeço, tentando apagar da lembrança suas palavras funestas.
— O.K, Peter Pan, sem papos do além. — Seu dedo indicador contorna um x em seu peito.
Penso um pouco; esse não é o tipo de assunto que eu gostaria de abordar, pelo menos não com ela.
— Já sentiu uma coisa que você sabia que era errado, mas não conseguiu evitar? — pergunto, sendo o mais evasiva possível.
— Tipo, o quê? Vontade de ir no banheiro no meio de uma apresentação? — sua pergunta me faz soltar um pequeno riso.
— Katarina... — advirto-a com os olhos e ela dá de ombros, rindo também.
— Está falando do seu amor platônico pelo Carlos? — Ela solta tais palavras com a sutileza de uma granada sendo lançada aos inimigos.
Uma tosse involuntária sai da minha garganta e eu sinto minhas bochechas queimarem.
— Co-com você sa-sabe? — Tusso mais uma vez.
Ela dá um olhar que me faz deduzir o quão óbvia sou.
— Ah, por favor, Peter. — Katarina joga os cabelos para o lado. — Não é isso que deveria estar perguntando agora.
— E qual deveria ser o meu questionamento, querida mestra? — questiono, irritada; o assunto é delicado demais para se lidar, sem que uma das partes exploda.
— O porque você ainda não disse pra ele.
Levanto as mãos, a morte tinha deixado ela mais lenta do que eu me lembrava, ou talvez o meu raciocínio devagar demais para acompanhar sua grande mente.
— O quê? — Franzo o cenho. — Dã! Ele é seu namorado, acho que é por isso. E quer saber de uma coisa, por que você parece tão confortável com isso?
— Ex-namorado, já parou pra pensar nisso? E eu não disse que estava confortável, mas eu tô morta... Aceitar meu lugar no universo é o primeiro passo para a felicidade.
Reviro os olhos, me recusando a acreditar que estamos mesmo tendo essa conversa bidimensional.
— Você disse tudo agora, aceitar meu lugar no universo é saber que algumas coisas nunca serão minhas. — Dou de ombros, tentando ignorar o grande nó que se forma em minha garganta. — O primeiro passo pra felicidade.
— Eu não disse nesses termos aí. Ei! — Ela puxa meus ombros. A frieza de sua pele toca a nudez deles, me fazendo tremer. — Eu te amo, tá legal? E o que você está fazendo não é saudável.
— E você acha que eu não sei? — indago, mordendo os lábios, nervosa. — Se eu pudesse escolher por quem sentir, eu...
— Não, eu tô dizendo que jogar obstáculos no seu caminho, e justificá-los em meu nome, não é saudável. É triste e miserável, ninguém tem que viver assim.
— Ninguém tem que passar fome, morrer, sentir saudades e muitas outras coisas. Mas deixa eu te contar uma novidade, Sininho, essas coisas acontecem, e não tem nada que vá mudar isso, porque a vida é assim.
Empurro suas mãos para longe e me coloco de pé. Dou um passo em direção à árvore e toco o tronco. Estou ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. Ouço os passos dela atrás de mim e me recuso a encará-la; pela primeira vez em toda minha vida, eu só quero que ela suma.
— Peter, por favor... — Ela restabelece contato com meu ombro.
— Por que você não tá me xingando? Por que tem que ser tão perfeita e tratar esse amor doentio como uma normalidade? — Viro-me para ela.
O rosto dela exprime uma eterna insatisfação, como se visse cara a cara a decepção em forma humana, e, bom, é exatamente isso que eu sou.
— Val, o que você vê? — ela pergunta, mudando de assunto.
— Eu vejo você, bem aqui na minha frente, usando esse vestido frufru branco e...
— Você vê um fruto da sua mente, é tudo o que sou; eu e essa perfeição exagerada que você criou. Nós duas somos só uma brecha no seu inconsciente, nada mais.
Faz sentido, tudo não passa de um mero fruto da minha mente e eu percebo que tudo não passa de um sonho. Essa conversa nunca aconteceria, ela nunca saberia o que eu sinto por ele, e eu nunca saberia sua reação sobre isso. Porque nada mudaria o que aconteceu, nem mesmo meu inconsciente.
— Eu quero acordar — digo baixinho, fechando os olhos com força.
Abro os olhos assustada, no momento em que uma gota gelada cai sobre meu rosto. Levanto a cabeça, ainda em transe. Está escuro e a única coisa que consigo ver é a brasa da fogueira se apagando. Esfrego os olhos com o dorso das mãos, Athila está dormindo junto ao corpo de Carlos, que tem os braços esticados para fora do saco de dormir. Outro pingo atinge o topo da minha cabeça. Ergo os olhos para o céu e vejo as grandes nuvens negras cobrirem o nascer do sol.
Outro pingo, mais outro, e logo uma chuva grosseira começa a cair, sem clemência. Vou apressada até Carlos e me debruço sobre seu corpo. Athila, ao perceber os pingos, se levanta depressa e corre para debaixo do carro.
— Cadu — chamo-o, balançando seu corpo.
Ele sequer reage.
— Ei! Cadu, acorda. — A chuva fica mais forte e o desespero me aperta. — CARLOS! — grito, batendo no peito dele.
Rapidamente o seu corpo salta, e, assustado, ele olha para os dois lados.
— Ahn, o quê? — Ele parece disperso e então fita meu rosto.
— Tá chovendo, vem, precisamos arrumar as coisas e sair daqui.
— Ah, certo.
Carlos levanta cambaleando e pega seu saco de dormir, pego o meu e junto as sacolas que nos rodeiam. Ele arruma a vasilha que tinha nossa comida da noite anterior, pega o cooler e a vasilha de Athila. Apressado, aperta o botão do alarme, fazendo o carro destravar. Jogamos tudo no banco de trás, sem nos importarmos com a bagunça; proteger o corpo da tempestade é mais importante. Athila se amontoa lá também e começa a latir.
— Calma, amigãoo! — diz Cadu, entre bocejos. — A gente tá indo embora.
Ele gira a chave na ignição e dá partida.
A estrada de terra, pela qual subimos, agora está lamacenta. O resultado disso é o carro afundando toda vez que Carlos acelera um pouco demais. Do lado de fora, a chuva cai feroz, não se importando nenhum pouco com o sacrifício que estamos fazendo para não morrermos na ladeira íngreme. Cadu, que antes parecia sonolento, agora encara o vidro embaçado com certa raiva.
Em um dado momento, a roda parece atolar em uma pequena poça de lama que se formou no caminho. Cadu bate as mãos no volante, despertando um olhar assustado meu.
— Ora, vamos, sua lata velha! — Ele bate mais uma vez.
Ele pisa o pé com força no acelerador e é possível ouvir a roda patinando sobre a lama.
— Essa não — Carlos bufa, escorando a cabeça no volante.
— Se quiser, eu posso sair pra dar uma olhada — sugiro, indecisa se essa é a melhor opção.
— Não, deixa que eu vou — diz ele.
Carlos abre a porta rapidamente e algumas gotas grosseiras invadem o carro. Vejo-o pela janela, dando a volta no carro e vindo até o meu lado. Ele se abaixa e a chuva molha suas costas com força. Observo-o encarar a roda e depois se levantar, com uma expressão nada convidativa; pelo visto a situação é pior do que podemos imaginar.
Seus dedos batem na minha janela, o encaro e ele diz coisas que não consigo ouvir.
— O que? — pergunto, indicando com o dedo que não o ouço.
Impaciente, Cadu revira os olhos e caminha de volta ao lado do motorista, abre a porta e senta-se no banco do motorista, sua roupa está completamente encharcada e a lama sobe até suas canelas.
— Muito ruim? — questiono, encarando seu rosto molhado.
— É, pode-se dizer que sim. — Ele dá de ombros, apoiando as mãos no volante. — Vou precisar de ajuda.
— Solta o verbo — peço.
Seus olhos percorrem o carro em busca de algo. Ele se inclina em minha direção e suas mãos abrem o porta-luvas. De lá, ele tira um pedaço de metal que se parece muito com um pé de cabra, porém o meu limitado conhecimento sobre mecânica me impede de ter certeza se realmente se trata de um.
— É o seguinte — ele começa, se recompondo no banco. — Para o carro sair do lugar, um de nós terá que enfiar isso embaixo da roda, enquanto outro acelera.
O encaro com ar de infelicidade, pois as duas funções parecem completamente difíceis de se executar.
— E qual de nós vai fazer o quê? — pergunto, desejando que cachorro seja o escolhido.
— Sabe acelerar? — Seus olhos fitam meu rosto.
— Não, mas posso tentar.
— O.K, olha é bem simples — Carlos começa a explicar: — É só você não mexer em nada, o freio de mão está erguido, ou seja, nenhum perigo de o carro descer ladeira abaixo. O que você precisa fazer é colocar o pé nesse pedal aqui, quando eu fizer uma joia pela janela, entendeu?
Assinto com a cabeça, repassando a conversa na minha cabeça, com medo de falhar e virar um estilhaço de corpo no final da ladeira.
— Então, bora lá. — Ele sorri amarelo, exibindo a veia de tensão no meio da testa.
Seu corpo se esgueira do carro, batendo a porta com força. Vejo sua sombra rondar o veículo. Os vidros à minha frente estão suados e, por conta desse detalhe, pouco enxergo o que acontece do outro lado. Pulo o banco e me acomodo no assento do motorista. Admito, a sensação de segurar o volante é um pouco excitante. Ouço duas batidas e viro meu rosto em direção a janela do carona.
Carlos acena e faz um movimento estranho, indicando que eu devo girar a chave na ignição. Confirmo, miro os olhos na chave, a giro depressa e o painel se acende. Volto os olhos para a janela, esperando a confirmação de Cadu, que lança um leve sorriso e passa a mão pelo vidro, tentando limpar as gotas de escorrem por ele — minha sorte é que tal janela não está tão embaçada quanto a do para-brisa. Carlos faz sinal com a mão livre para que eu espere e se afasta segurando a barra de metal.
Levanto o pescoço, tentando ver a figura de Athila, que se encontra completamente adormecido sobre o banco, evidentemente não se importando com o atraso da viagem. Uma nova batida no vidro. Vejo um sinal positivo na mão de Carlos.
Aperto o volante e respiro fundo, antes de afundar o pé no acelerador. Por cima de um trovão, ouço o ronco do carro. Fecho os olhos, imaginando o esforço de Cadu lá fora, embaixo da tempestade. Novamente um trovão corta minha audição e, logo em seguida, sinto o automóvel dar um tranco para a frente. Tiro o pé do pedal e volto para o banco do carona, tentando encontrar Carlos. O barulho da porta sendo aberta soa atrás de mim. Viro-me e vejo seu corpo lamacento entrar por ela. Ele trinca os dentes e balança os cabelos, como um cão molhado.
— Deu certo — ele diz, empolgado.
— Ah... — Abro a boca e indico o dedo para o seu corpo. — Você tá...
— Parecendo um boneco de lama? Ossos do ofício, não tem como fugir. — Cadu dá uma leve risada. — O dia começou bem.
Ele levanta os braços e passa a camiseta por cima da cabeça. Desvio os olhos enquanto ele a esfrega no vidro embaçado.
— Se importa? — Ouço-o questionar.
— Hum, hum. — Nego com a cabeça, encarando a tempestade lá fora.
— Que tal uma música? — ele pergunta num tom animado.
Concordo e me viro em sua direção. Nesse momento, percebo ele jogando a calça para a traseira do carro. Fico sem reação. Não sei se devo ou não virar o rosto imediatamente; ele está de samba canção, mas isso não diminui nenhum pouco o meu constrangimento, que aos pouco se torna evidente no rosto.
— Mano, cê tá...
— Você disse que não se importava. — Carlos eleva as mãos para o alto, em justificativa.
— Que seja, deixa eu escolher uma música logo antes que... — Eu tenha um infarto dentro desse carro, que está começando a ficar quente, minha mente finaliza.
O carro para em frente à minha casa. A tempestade anterior não existe mais, sua substituta é a garoa insistente e irritante. A música que toca no rádio é calma e desgraçadamente irritante. Há um clima estranho, eu posso senti-lo pela forma como eu sequer consigo encarar o rosto de Carlos direito. Ganho forças para fazê-lo e me encanto com seus olhos, como se fosse a primeira vez que estivesse vendo-os.
— Obrigada. — Inclino um sorriso nos lábios.
— Mas eu não fiz...
— Fez sim — interrompo-o. — E tem feito mais por mim do que muita gente que me cerca.
Cadu baixa os olhos, parecendo meio sem jeito com os elogios; pela primeira vez ele não exibe tanta confiança.
— Sobre ontem... — faço uma pausa, mordendo o canto do lábio. — Tá enganado, você tem me ajudado a ficar bem, não é a plena felicidade ainda, mas, a felicidade é uma escalada.
— E eu sou um péssimo alpinista, pelo visto. — Seu olhar procura o meu.
Recebo uma mensagem mental instintiva. Tento ignorar. Porém, quando me dou conta, minha boca já se encontra colada em sua bochecha gelada. Sinto uma energia emanar dali e percorrer cada parte do meu corpo. Me afasto depressa e abro a porta.
— Tá se saindo melhor do que imagina — digo, já do lado de fora. — Só continue subindo.
Fecho a porta e caminho em direção ao portão. A buzina soa atrás de mim, mas não me incomodo em virar. Não quero que ele veja o que está bem estampado em minha cara. Pego a chave e abro o portão, me tranco para dentro e fico ali durante alguns minutos. A chuva vai escorrendo pelo meu rosto. Apoio minhas costas no portão e suspiro, desacreditada.
Burra.
Idiota.
Imbecil.
Bato os punhos cerrados no portão. Não tenho o direito de me aproximar assim dele. Eu não posso me distrair com sentimentalismos. Não sou assim, não sou a garota que se apaixona e fica com o cara no final. Sou tipo a bruxa, ou a maçã envenenada. De alguma forma, saio em pedaços ou me dou mal.
Após um tempo tentando digerir as emoções embaixo da garoa, decido que é melhor entrar do que virar uma apaixonada com resfriado. Não preciso de mais doenças.
Abro a porta devagar. Meus pais estão em casa, vi os carros na garagem, e, sabendo disso, não quero fazer alarde e atrair seus olhares. A casa parece silenciosa — até demais, eu diria. Com eles lá, é sempre correria e gritaria. Atento-me à peculiaridade, e então ouço um barulho de panelas vindo da cozinha.
Há, eu sabia!
Caminho na ponta dos pés, em direção à cozinha; quero saber o que estão aprontando. Será que estão fazendo outro bebê? Estremeço com o pensamento sórdido.
Aproximo-me da divisão dos cômodos e presencio uma cena um tanto intimista: meu pai segura a mão em volta do braço de minha mãe. Seus corpos estão próximos, mas os olhares não exprimem afeição, muito pelo contrário, o ambiente parece prestes a entrar em chamas, por conta do fogo que um lança ao outro.
— Não vou deixar você fazer isso, Lia — meu pai diz, baixo, mas não o suficiente.
Encolho o corpo, me ajeitando para observar a cena sem ser pega.
— Me solta, Marco. — Talia puxa o braço, com força, livrando-o da mão do homem. — Você não me dá ordens, além do mais, você é a última pessoa que deveria se meter nisso. Já se esqueceu do que fez?
Marcos se afasta, com uma expressão incrédula na face.
— Como você tem coragem? — Ele passa a mão no rosto, dando uma risada nervosa. — Pagar pelo suborno foi ideia sua, Lia. Eu nunca concordei com nada disso.
Suborno? Do que eles estavam falando?
— Eu fiz isso por esta família. Aquela garota ia nos processar pelo roubo do carro. É isso que você quer adicionar à sua carreira de juiz? Ter um processo de furto e menor dirigindo no currículo. — Ela aponta o dedo contra a face dele, erguendo um pouco o tom de voz.
Meu cérebro dá um estalo. Levo a mão na boca. Não pode ser...
— Não finja que isso também não tem a ver com você — meu pai diz, mais alto.
— Pare de gritar, quer acordar a Valentina?
— Talvez ela devesse acordar e ver o que a mãe dela fez com a própria filha, em função das aparências. — Ele bate a mão sobre a mesa, me assustando. — Você é um monstro, Lia. Não sei como consegue conviver consigo mesma, sabendo que a sua filha morreu...
— Cale essa boca, Marco. CALE! CALE ESSA MALDITA BOCA! — minha mãe esbraveja, perdendo completamente a compostura. Nunca a vi assim antes.
Sinto a necessidade de interferir naquilo, não só pela curiosidade, mas também para impedir que vire uma chacina.
— Mãe — chamo-a, entrando na cozinha.
Ambos olham para mim, como se tivessem sido pegos no flagra.
— Por que estão gritando? — lanço a pergunta, dando-lhes a chance de serem sinceros.
Minha mãe passa a mão pelos cabelos, os assentando sobre a cabeça. Ela abre um falso sorriso, fingindo que nada está acontecendo.
— Não é nada, Val, seu pai e eu... — Vejo os olhos dela fuzilarem meu pai. — Estávamos discutindo negócios.
— E o que esses negócios têm a ver com Kat? — indago, sem rodeios, após perceber que não me dariam a resposta com facilidade.
— Valentina, o que você ouviu? — ela pergunta, parecendo assustada.
— O suficiente pra saber que estão escondendo alguma coisa. — Cruzo os braços. — Ainda tô esperando a minha resposta.
Meu pai anda de um lado para o outro, parece nervoso ou, quem sabe, irritado.
— Não seja insolente, menina. Quero que suba para o seu quarto. — Ela gesticula a mão.
— Não enquanto não me responderem.
— Conte logo pra ela, Lia, é melhor ela saber...
— VOCÊ NÃO INTERFIRA AQUI, MARCO! — ela esbraveja mais uma vez. — Valentina, eu não irei mandar de novo.
Reviro os olhos. Eu estou disposta a comprar a briga, se esse for o caso. Talvez a pista mais importante para o meu caça tesouros esteja nesta casa, bem embaixo do meu nariz, eu só tenho que saber onde procurar. Mas, para estar a um passo deles, não posso cair na tentação de confrontá-los; afinal, eu não quero ficar de castigo.
Desarmo-me, anotando mentalmente um contra-ataque.
— O.K., eu vou pro meu quarto, mas vou deixar claro que se não me falarem, darei o meu jeito de descobrir. — Aponto o dedo para ambos.
— Está me ameaçando? — Minha mãe dá um passo em minha direção.
— Não, mamãe, eu tô só avisando. — Abro um sádico sorriso para ela, que não o recebe muito bem.
— AGORA! — ela grita novamente.
— Tô indo, bruxa má — respondo baixinho.
Caminho em direção às escadas, determinada a investigar no meu cômodo menos favorito da casa: o quarto de Kat; ele havia me dado algumas pistas antes, como se quisesse que eu soubesse da verdade. Talvez ele pudesse me ajudar de novo. Preciso descobrir qual é o esqueleto escondido no armário dos meus pais. E alguma coisa me diz que esse esqueleto é o da Katarina.
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