CAPÍTULO 27
Libero a passagem sorrindo feito boba e o deixo entrar na minha casa.
— Vem, pode entrar.
— Valeu. — ele entra e eu fecho a porta. Despe sua jaqueta do time da escola, colocando no gancho de madeira preso a parede de entrada da minha casa. — Aquário maneiro.
— Valeu. Pode se sentar no sofá. Sinta-se a vontade. — eu o sigo enquanto ele se direciona ao sofá branco da minha sala. Ele leva a mochila até seu colo enquanto se senta. Milagre. Ele não a jogou pelo chão. Ainda. — Vai querer beber alguma coisa?
— Beleza. — ele pergunta com a face sem expressão, parece tranquilo, enquanto eu, sem condições.
É o primeiro garoto que eu trago na minha casa.
— Bom... — eu vou até a cozinha que é logo ao lado, atravesso a entrada, lavo as mãos na pia e vou até a geladeira e a abro — Tem limonada, Coca-Cola, suco de laranja. Não tem álcool, caso queira beber, ah, e... Torta de maçã. O que vai querer?
— Sério? Tem torta de maçã?! — ele exclama, parecendo interessado.
— Tem... Você gosta? — ótimo. Meu plano deu certo.
— Claro. É minha torta preferida. — ele confessa.
— Nossa. Eu achava que eu era a única por aqui. — legal.
Eu pego os pratos e parto um pedaço para ele e outro para mim.
— Quem odiaria torta de maçã? — ele diz — Essa torta é uma das melhores que existe, em minha opinião.
— Concordo. — eu chego até ele trazendo as tortas e entrego seu pedaço grande. — Aqui.
Ele agradece e experimenta a torta. Eu o acompanho, pegando um pedaço e mordo.
— Hmmm. — ele leva o punho até os lábios enquanto mastiga e engole o pedaço — Isso tá muito bom. Melhor que a lá de casa. Quem fez? Sua mãe?
— Ela me ensinou. Fiz hoje de manhã antes de ir à escola. Acordei mais cedo. — confesso enrubescida, não querendo dizer que eu tinha esperanças de ter sua visita hoje.
— Só podia ser mesmo. Nossa... — ele me fita, impressionado. Vejo seus olhos brilharem enquanto me olha. Ele realmente amou minha torta de maçã. — Isso aqui está bom demais. Você nunca pensou em fazer gastronomia?
— Obrigada. E, não, nunca. — eu solto um riso.
— Pois devia. Ah, eu já ia me esquecendo... — ele coloca o pratinho de torta a minha mesa do centro, limpa as mãos cheia de anéis e vai até sua mochila para pegar seu material. — Você tem que me ensinar às equações.
— Ah, claro. — eu sorrio, colocando a minha torta na mesinha também.
— Eu vim aqui para isso né. — ele solta risos — Para o estudo.
Ele me olha nos olhos, enquanto me entrega seu caderno.
Acabo soltando risos também.
Eu caderno e livro já está à mesa do centro. Eu desço do sofá e me sento ao tapete da sala para ficar mais fácil usar a mesinha. Nathan faz o mesmo e se senta ao meu lado. Perto. Posso até sentir a quentura de seu corpo e o desodorante cheiroso que exala próximo ao meu.
Eu abro os livros e os cadernos nas páginas certas.
— Ok. Nós vamos aprender essas equações que estão aqui, em seguida, eu vou lhe mostrar uma maneira mais fácil de fazer. — eu começo a explicá-lo, ou melhor, ensiná-lo e ele começa a prestar a atenção e isso é o que eu quero — Primeiro você...
O tempo está passando e eu explicando as equações a ele. Nathan parece me entender, eu acho. Eu gosto quando ele olha assim para mim, com essa cara de inteligente, que está sacando tudo, entretido no estudo. É excitante.
Ele segue minha mão direita, todos os pontos que eu indico com a ponta do seu lápis. Ele olha fixo, atento, parece mesmo me entender.
Isso me deixa feliz porque eu sei que ele pode ser muito inteligente é só estudar com força de vontade. Ele está aprendendo de verdade.
Agora ele está tentando fazer uma questão, sozinho, e pelo visto ele está conseguindo. Nossa. Ele aprende rápido.
Nathan me pergunta se é assim e eu corrijo o aprovando, pois ele arrasou. Realmente acertou toda a conta sem errar e sem demora. Ele apenas fez.
Certo. Agora acho que os meus olhos estão brilhando.
Eu pego o seu caderno de novo e vou para a próxima questão. Eu não tinha reparado o quanto sua letra é bonita.
— Você tem letra bonita. — eu elogio.
— Digo o mesmo do seu sorriso. — sinto um arrepio intenso ao ouvi-lo elogiar. Sinto ser tocada na coxa. Eu olho para ele e ele afasta a mão rapidamente. Eu volto a ensiná-lo e sinto o toque novamente. Eu olho e ele que tira a mão como se nada fizesse. — Que foi?
— Para de palhaçada e presta a atenção. — eu peço, como se não estivesse gostando dos seus toques quando na verdade já preciso deles.
— Não consigo com essa garota linda na minha frente. — ele explica e eu coro, dando tapas no braço dele.
— Para. — já devo estar vermelha.
— Tá bom, Violet. — ele brinca e volta a olhar para o caderno, protegendo-se das minhas tapas.
Eu volto a explicar e sinto sua mão apertar o lado sensível da minha barriga, fazendo-me pular de susto. Essa foi forte.
— Se você fizer isso de novo, eu vou te socar. — aviso logo e volto a tentar, mas ele fica dando risinhos. Eu o encaro e ele para. Eu volto a olhar para o seu caderno e tento falar, mas ele faz de novo. Chega! — Agora você vai tomar uma coça seu...
Eu começo a socá-lo pra valer sobre o tapete da minha mãe. Ele cai para trás e eu vou para cima dele, porém, ele segura firme nos meus braços e me impede de socá-lo.
— Tá bom, tá bom. Eu parei. — ele diz e eu saio de cima dele.
— Acho bom mesmo. Agora termine de comer a sua torta logo. — eu o apresso me levantando — Eu vou ao banheiro e quando voltar quero ver esse prato vazio.
— Tá bom, a senhora que manda.
— Se me chamar de senhora de novo eu arremesso essa torta na sua cara. — ameaço.
Eu entro no banheiro, tentando me acalmar. Jogo a água no rosto e acabo tirando o batom. Olho para mim no espelho e noto que o Nathan me deixou descabelada de novo. Eu solto um riso olhando-me, pois Nathan não perde uma oportunidade de me deixar assim.
Eu saio do banheiro e retorno a sala.
— Certo. Vamos voltar à aula... — ué? Cadê ele? Eu olho ao meu redor e não o encontro. Ele não está na sala — Nathan?
Eu vou até a cozinha e não o encontro. Onde esse doido se meteu agora?
Sorrio ao pensar em onde ele pode estar.
Olho para cima onde tem a escada. Será? Eu subo a escada descalça e vou de fininho tentando encontrá-lo.
Ok. Se ele quer me pegar, eu vou pegá-lo de surpresa também.
Eu continuo andando. Noto que a porta do meu quarto está aberta. Eu entro de fininho.
Os raios do sol clareiam a vidraça da minha janela. Ele não parece estar aqui. Eu respiro fundo e me viro dando de cara com ele atrás da minha porta, fazendo-me gritar assustada com seu grito de hulk.
— Seu engraçadinho! — de novo. Assim meu coração para de vez.
— Foi mal. — ele está rindo de mim no meu quarto.
— O que você estava fazendo aqui no meu quarto? Como descobriu que esse era meu quarto? — pergunto querendo explicação.
— Esse nome preso na porta do lado de fora todo decorado com desenho de lavanda responde sua pergunta? — ele ressalta.
Ótimo. Ele me pegou.
— Tá legal, mas, por que subiu aqui? Seu bisbilhoteiro. — eu reclamo.
— Eu fiquei curioso para saber como é o quarto da minha namorada. Tem algum problema nisso? — eu volto a corar.
Tem.
— Ah... — sem resposta. Eu desvio o olhar, eu estou tímida agora.
— Seu quarto é muito bonito. Gosta mesmo de violeta e animais marinhos. — ele anda pelo cômodo — Suponho que aquele aquário cheio de peixinhos Nemo na sala seja seu.
— Sim. — confirmo — São Goldfishs.
— Agora entendo porque se anima tanto quando o professor Harrison fala sobre animais aquáticos. — ele se lembra, mostrando que me repara bem.
— Eu pretendo ser Bióloga Marinha. — confesso.
— Interessante. — ele continua a observar e nota minha pequena estante de livros — Ah, claro. Isso aqui descreve você totalmente.
— Sim.
Ele se vira ficando de costas para mim.
— Você não tem muitas fotos.
— Eu nunca fui com a cara das câmeras. — eu tento explicar o que sei sobre mim.
— Hm... Devia ir. — ele repara a foto de polaroid de mim e da Quinn que tiramos no Aquarium Of The Bay de São Francisco, encaixada no canto do espelho e a foto que Quinn tirou de nós na praia nesse último verão, comigo de maiô, expondo minhas cicatrizes sutis nos braços com a mesma máquina. — Você fica linda de qualquer jeito pra mim.
— Obrigada. — eu vou indo até ele de fininho e o abraço por trás, sentindo esse cheiro bom do perfume — Você também fica, Carter.
— É mesmo é? — ele se vira de frente para mim, ficando cara a cara.
Demoro a respondê-lo por me perder em seu jeito de olhar.
— É... — minha voz sai como um sopro, desejando intensamente os lábios desse garoto.
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