Capítulo 6
Uma das grandes vantagens em manipular o elemento arcano é a criação de portais, facilitando as viagens entre os continentes. Tanaris faz parte de Kalimdor e Karazhan se encontra do outro lado, nos Reinos do Leste. Um oceano separa os dois territórios e é preciso uma viagem exaustiva de barco, ou zepelim, para atravessar a vastidão azul. Trinahh não queria ficar dias confinada em um navio, muito menos correr riscos desnecessários com possíveis monstros marinhos atacando a embarcação ou mesmo caindo no grande vórtice da Voragem. Ela estava com pressa e seria burrice escolher essa opção tendo uma muito mais rápida e simples à disposição. Dominava a arte com perfeição e conseguia viajar para lugares muito distantes. Como arquimaga seu conhecimento e poder eram enormes, portanto abrir uma passagem até Pedregal era o mesmo que tirar o doce de uma criança.
Quando Crona mencionou Karazhan, calculou mentalmente onde seria o melhor lugar para teletransportar-se com Eridormu e decidiu que o Pântano das Mágoas seria perfeito. Pedregal fica praticamente ao lado da Trilha do Vento Morto, lugar onde se encontra o castelo de Medivh, cheio de perigos e emboscadas. Melhor surgir num lugar seguro do que correr o risco de ser atacada por bruxos ensandecidos ou os fantasmas que vagam pela trilha. Em Pedregal, além de ser uma cidade da Horda - portanto segura - existe um ponto de concentração arcana que facilita o ancoramento dos portais dirigidos para lá. Trinahh também poderia rever sua amiga do Kirin Tor que vive reclusa no pântano, treinando orcs e goblins na arte do arcano. O maior perigo que eles encontrariam por lá seriam crocodilos e Eridormu não precisaria percorrer uma distância muito longa até o castelo. Seria uma viagem de pouco mais de uma hora até chegar lá. Decidiu que esse era o trajeto perfeito e fechando os olhos, deixou que a magia arcana fluísse por seu corpo e se concentrasse em suas mãos. Mexendo levemente os dedos, raios violeta que as envolviam, foram lançados, abrindo um enorme portal à sua frente. Nele, uma imagem de um lugar completamente verde e alagado, rodeado de charcos, pântano e uma vegetação característica surgiu. Um clima completamente diferente do deserto de Tanaris. Trinahh agradeceu mentalmente por se alimentar bem, pois essas mudanças climáticas não fazem bem à saúde de ninguém.
Eridormu adentrou o portal, desaparecendo no mesmo instante em que seu corpo atravessou o círculo e com um aceno de cabeça para Crona e os outros dragões, a maga fez o mesmo. Ao aparecer em Pedregal e sentir aquele leve enjoo no estômago que nunca deixou de surgir em suas viagens, subitamente, ela foi acometida por uma saudade dolorosa, ao recordar de Magis, quando a fez atravessar seu primeiro portal, em uma de suas aulas. A dor invadiu seu coração e uma lágrima rolou por suas bochechas sem que percebesse. Estava finalmente chegando o dia em que poderia reencontrar seus amigos e família. O dragão, notando que a amiga chorava calada, a envolveu num abraço. Ele entendia o quanto tudo isso era difícil para Trinahh e os dois ficaram nos braços um do outro por alguns segundos. A maga aconchegou-se em seus braços e ele sentiu como se estivesse em casa.
- Obrigada, meu querido dragão. Não sei o que seria de mim sem você. - o som saiu abafado pois escondia o rosto no peito de Eridormu. O aroma de terra e flores silvestres que aquele corpo quente exalava a tranquilizava, aquecendo seu coração machucado.
- Estamos juntos nessa, pequena. - ele afagava seus cabelos com uma das mãos e com a outra, puxava-a para si, em um abraço apertado unindo ainda mais os seus corpos. - Não chore. Hoje é dia de alegria! Depois de anos procurando, finalmente estamos com os três fragmentos e tenho certeza que Kalecgos tem as respostas que buscamos. Vamos, ainda temos uma hora de viagem até Karazhan. - ele segurou os ombros de Trinahh e a afastou um pouco para depositar um beijo em sua testa.
Sorrindo, segurou a mão da maga e caminharam até a saída da estalagem. O portal aberto por Trinahh despontava dentro de uma salinha, na estalagem de Pedregal, local onde o ponto de ancoragem de portais ficava. Na saída, encontraram com Cersei, a maga do Kirin Tor e depois de uma breve conversa, alçaram voo rumo à Trilha do Vento Morto.
***
A Encruzilhada do Defunto era uma lugar perigoso. Poucos são os aventureiros que tem coragem de andar por aquelas terras inóspitas. É comum encontrar cadáveres abandonados na estrada sendo devorados por feras ou urubus; carroças abandonadas e saqueadas, membros destroçados e ossos velhos espalhados pelo caminho fazem parte do cenário. Ninguém quer andar por aquelas terras fantasmas e os poucos habitantes do local, convivem com o medo constante ou foram acometidos pela loucura. Nem sempre foi assim. Houve uma época em que Karazhan fervilhava de alegria e vida. Óperas e peças de teatro faziam a alegria dos moradores do castelo e da região. Festas, jantares e bailes eram dados nos salões imensos. Tudo regado à boa música e muita comida gostosa, supervisionada pelo melhor cozinheiro de Azeroth. Toda a felicidade um dia desapareceu quando Medivh, o senhor de Karazhan, revelou sua verdadeira identidade. O último Guardião do Tirisfal na verdade era controlado pelo Avatar de Sargeras, um dos titãs caídos que controlam a Legião Ardente. E o poderoso mago matou ou transformou em demônios, seus empregados e habitantes do castelo, condenando-os a vagarem como fantasmas pelos salões da imponente construção. Ao entrar em Karazhan, é possível ouvir os sussurros ecoando pelas enormes paredes de pedra. A Trilha do Vento morto passou a ser habitada por fantasmas, ladrões, worgens ensandecidos e bruxos perversos. Os desavisados que cruzam sozinhos a Encruzilhada do Defunto encontram a morte ou pior, viram cobaias das mentes mais ensandecidas.
Eridormu pousou em um lugar aparentemente seguro, próximo à Karazhan. O local cheio de árvores dava ao mesmo tempo a sensação de proteção e de vulnerabilidade. Eles estavam escondidos, mas o perigo pairava no ar, entre os enormes troncos e construções desabitadas. Ambos andavam com cuidado, tentando produzir o menor ruído possível e prestando atenção aos sons à sua volta. Um descuido poderia significar a morte de um deles e queriam evitar uma luta desnecessária. Procurando abrigo entre as sombras, seguiam em silêncio, pé ante pé, em direção ao castelo. Eridormu na frente e Trinahh acompanhando seus passos. O ar daquele lugar exalava um cheiro pútrido intensificado pela neblina espessa. Apesar das inúmeras árvores, nada ali tinha realmente vida. Galhos desprovidos de folhas pendiam, sem brilho, negros como uma noite sem luar. A neblina dificultava a visão dos dois e corvos sobrevoavam suas cabeças, crocitando sem parar, à espreita de carne fresca para banquetear-se. Um arrepio percorria o corpo da maga todas as vezes que as aves gritavam em voos rasantes.
Uma sensação estranha se apossou de Trinahh. Ela estava sendo observada? Olhou para todos os lados tentando encontrar alguma coisa, ou alguém, mas não conseguia ver nada além de sombras. Aquela sensação ficava cada vez mais forte e de repente, uma risada invadiu sua mente. Uma gargalhada conhecida, macabra, de um louco. Era o Sádico. O ar pareceu muito pesado e não entrava em seus pulmões. Ela tremia, tentando respirar e suando frio, estendeu o braço, segurando com força a camisa do dragão, fazendo-o parar. Assustado ao ver o quanto Trinahh estava pálida, voltou sua atenção para a amiga que agora segurava a cabeça com as duas mãos, com uma expressão de dor. Ela estava desnorteada, enjoada e sem conseguir respirar. A risada grotesca do Sádico retumbando em sua cabeça fazia seus ouvidos latejarem. Ela queria gritar, mas sabia que não podia ou colocaria os dois em perigo. Eridormu a pegou nos braços e entrou na cabana abandonada que avistou. Sentou no chão colocando a elfa em seu colo. Tirou um frasco de elixir da bolsa e fez com que ela bebesse todo o líquido. Após alguns segundos, a respiração da maga foi voltando ao normal, sua cor normalizou e aquela voz nauseabunda foi se distanciando até desaparecer por completo. A sensação de que alguém os observava também desapareceu. Finalmente seus pulmões receberam ar. Apesar daquele fedor de morte, estava feliz por conseguir respirar. Ela permaneceu no colo do dragão, com o rosto encostado no peitoral musculoso, sentindo o perfume que sempre a acalmava.
- O que aconteceu? Você me assustou, pequena.
- O Sádico. Ele estava em minha mente.
- Foi uma lembrança?
- Não, Eri. Ele realmente estava dentro da minha cabeça. Senti que alguém nos observava e quando comecei a procurar, ouvi a risada dele.
- Mas que maldito! - ele a segurava pela cintura e a puxou para mais perto de si.
- Aquela risada nojenta não parava de ecoar em minha mente. Eu não conseguia respirar e fiz muito esforço para não gritar.
- Você ainda sente algo? Ele está nos observando?
- Não, ele se foi. Isso nunca aconteceu, Eri. Por que isso agora?
- Acho que é esse lugar. Estamos bem perto de onde eu te encontrei. Acho que isso deve ser influência da magia dele.
- Você tem razão. Deve ser isso!
- Já está melhor? Consegue continuar?
- Sim, podemos continuar. Vamos, quero acabar com isso de uma vez.
- Eu juro a você, Trinahh, nós encontraremos esse desgraçado e vou destroça-lo. Esse maldito não perde por esperar!
- Não esqueça de que eu mesma quero matá-lo, Eri. Você não vai ficar com toda diversão só pra você.
- Sei disso, pequena. Sei disso.
Ao dar os primeiros passos para fora da cabana, Eridormu sentiu uma movimentação entre as árvores, do lado esquerdo de onde estavam. Colocando o indicador nos lábios, olhou para Trinahh pedindo silêncio. Continuaram avançando devagar, observando o lugar, tentando descobrir se era apenas um animal ou mais problemas. A maga invocou um escudo de gelo ao seu redor; se fosse um animal ou inimigo que resolvesse atacá-los, estaria protegida dos ferimentos mais graves. Novamente, outro movimento do lado esquerdo e Eridormu, assumindo sua posição de combate, virou-se bruscamente para o local. Surgindo das sombras, do lado direito, uma enorme pantera negra saltou, surpreendendo os dois e chocando-se contra Trinahh, derrubando-a de costas no chão. Antes mesmo de conseguir fazer qualquer movimento para ajudar a amiga, do meio das árvores, um elfo noturno atacou o dragão, saltando com uma espada enorme apontada para ele.
A pantera prendeu os braços da maga no chão, impedindo-a de soltar magia e com o focinho bem próximo ao rosto de Trinahh, arreganhou uma boca cheia de presas, pronta para destroçar o fino pescoço da elfa.
- Não se mova elfo ou a sua amiguinha ali vai morrer. O que vocês estão fazendo aqui?
- Eu poderia perguntar o mesmo para vocês. O que um guerreiro e uma druida da Aliança fazem por aqui?
- Você não está em condições de fazer perguntas, elfo. Responda! - apontou a espada para o pescoço do dragão e ergueu o escudo, para se proteger de um possível ataque. Eridormu mantinha um sorriso no canto da boca.
- Você é um elfo noturno muito corajoso, guerreiro. Não irei te responder nada. Te aconselho a baixar essa espada e fazer com que seu gatinho de estimação saia imediatamente de cima da minha amiga.
Trinahh permaneceu estranhamente parada, sem reação nenhuma, apenas olhando fixamente para a criatura em cima do seu peito. Apesar do sorriso no rosto, Eridormu estava preocupado. Por que a maga não reagia? Será que estava machucada? Ainda estava enfraquecida pelos acontecimentos anteriores? O dragão virou o rosto para ver o que estava acontecendo com sua amada, deixando de lado as ameaças do elfo e notou pela primeira vez que Trinahh chorava. O que diabos estava acontecendo? Foi nesse momento que ele também viu. Pendurado no pescoço da druida, um pingente balançava de um lado para o outro. Um pingente amarelo. Uma ampulheta, a ampulheta dos Peregrinos do Tempo. Agora ele entendia a falta de reação de Trinahh. Aquela pantera negra, aquela druida era...
- Isaxi... - a maga conseguiu pronunciar o nome da amiga que não via há anos em um sussurro. - Isaxi, é você?
Sem entender como uma elfa sangrenta sabia seu nome, a fera encostou ainda mais a mandíbula no rosto dela e soltou um urro ensurdecedor.
- Isaxi, olhe para mim! Não está me reconhecendo? - Eridormu conseguiu chamar a atenção da pantera segundos antes dela cravar os dentes no pescoço da maga.
Confusa, olhou em direção ao belo elfo e virando a cabeça de lado arregalou os enormes olhos amarelos reconhecendo o dragão. Voltou a olhar para a maga que estava embaixo dela, começou a cheirá-la, querendo reconhecer nela o cheiro dos dragões, mas só sentiu o cheiro nojento dos elfos sangrentos, o que lhe provocou um espirro.
- Isaxi, vejo que me reconheceu. Por favor, solte a Trinahh e vamos conversar. Ela não vai atacar você.
O guerreiro olhou para a druida, esperando qual decisão ela tomaria e ao ver a companheira sair de cima da maga, baixou a espada e a embainhou. A enorme pantera ficou ao lado do corpo caído de Trinahh, que agora sorria e chorava, e mexeu a pata da frente, fazendo um pequeno círculo. Uma fumaça roxa envolveu todo seu corpo e no lugar da besta, uma elfa noturna de 1,95m de altura, corpo esguio e cabelos verdes, estirados até a cintura, surgiu. Era realmente Isaxi, irmã de Lysanthia, companheira de guilda e amiga da pequena gnomida.
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Oi meus amores! Olha só que belezinha, dois capítulos novos na mesma semana! Me contem o que estão achando da história e o que esperam que vai acontecer. Quem é essa druida?
Não esqueçam de votar no capítulo e de deixar seus comentários!
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