Capítulo 2 - 30 anos atrás...

30 anos atrás...

Arviny acostumou-se com o ar abafadiço e claustrofóbico de Altaforja. A capital dos anões foi construída dentro de uma rocha, o que por si só já é sufocante, e, a forja gigantesca localizada no centro da cidade aumenta ainda mais a sensação asfixiante. Apenas os anões conseguem ficar por alí, trabalhando incessantemente com seus martelos em meio a bigornas de ferro, com um mar de aço líquido fumegante ao redor. A visão é magnífica, mas o calor que emana daquela porção de fogo, junto com todos os vapores que misturam-se ao cheiro acre de suor, são nauseantes e a pequena aprendiz prefere ficar bem distante do grande centro anânico. Desde que descobriu sua afinidade com a magia, a gnomida mudou-se para a cidade de pedra e mantém um treinamento intensivo com suas professoras de magia e alquimia. Sempre que tem uma folguinha, Arviny corre para a taverna em Kharanos. Respirar o ar puro e gélido de Dun Morogh é relaxante, afinal, ela conhece muito bem cada lugar de sua cidade natal.

Filha única - a mais velha de 7 irmãos - de um engenheiro muito habilidoso e de uma sacerdotisa amada por todos de seu povoado, foi difícil para a gnomida deixar tão cedo o seio familiar. Com apenas 25 anos, uma adolescente ainda, Arviny iniciou seus estudos com Juli Tachofundo em Altaforja, deixando uma mãe chorosa e um pai preocupado no Rancho Ambarmanso. Combinaram de manter a comunicação todos os dias através de cartas e sempre que possível a filha os visitava. Três anos se passaram e ela adquiriu o hábito de verificar todos os dias a caixa de correio após suas aulas.

Em meio à folhetos de propaganda, convite para missões e cartas de sua família, Arviny encontrou um pergaminho de Magis Fagulhamanto, que abriu prontamente, deixando de lado todos os outros recebidos.

Me encontre amanhã às 10:00 horas na taverna. É urgente. Preciso falar com você.

Não se atrase!

Magis (O maior mago de Azeroth)

Balançando a cabeça de um lado para o outro, Arviny respira profundamente revirando os olhos. Como sempre o velhote usou poucas palavras, o que foi mais do que suficiente para deixá-la intrigada.

- O que esse velhote quer comigo? Ele adora me deixar curiosa! Vou arrancar cada fio daquela barba branca amanhã... Como ele ousa me deixar curiosa?! - Saiu resmungando em direção ao seu quarto na hospedaria.

Dormir foi uma tarefa quase impossível para ela. Passou a noite inteira revirando o corpinho, de um lado para o outro na cama, pensando o que poderia ser tão urgente. A única coisa que passava por sua cabeça era o Kirin Tor. Será que sua inscrição foi finalmente aceita?

Magis Fagulhamanto, um velho amigo de seu pai, é como um tio para Arviny e o gnomo de cabelos brancos espetados, bigode pontudo e barba grande é um exímio treinador de magos e membro do Kirin Tor. Arviny sonha em fazer parte desse grupo de elite de magos. Eles são responsáveis por catalogar e pesquisar todos os feitiços, artefatos e itens mágicos conhecidos pela humanidade; são os detentores do maior acervo de livros e conhecimento mágico de toda Azeroth. Para uma mocinha ávida por conhecimento, o grupo seleto é um verdadeiro paraíso!

A gnomida chegou 20 minutos antes do horário estipulado por Magis e já espera pelo velhote por mais de meia hora, sentada à mesa, sozinha. Por ser dia de semana, não tem quase nenhum freguês na taverna. Ela já bebeu duas canecas de cerveja e comeu um pedaço de pão com queijo enquanto observava Belm e seus empregados andando para lá e pra cá, realizando os trabalhos do dia. Quem quiser ver Arviny de mau humor a obrigue a ficar parada, esperando por algo ou alguém, por muito tempo. A pequena gnomida sempre foi muito elétrica e nunca conseguiu permanecer por mais que cinco minutos num mesmo lugar. Seus amigos já acostumaram com seu jeito acelerado, mas quem a vê pela primeira vez estranha aquela coisinha pulando de um lado para o outro sem parar. Sua mentora de alquimia a chama de pulguinha saltitante, um apelido carinhoso que já rendeu boas risadas para as duas.

- Tu queres mais um pedaço de pão, guria? - Belm troca a caneca vazia por outra cheia de cerveja anânica e passando um pano encardido para limpar a mesa que tem farelos espalhados para todos os lados, aguarda a resposta de Arviny.

Ela olha para o estalajadeiro ruivo, de barba enorme trançada e solta um suspiro cansado. - Não Belm, mas aceito mais um pedaço de queijo furado de Alterac.

Enquanto o anão vai pegar o queijo, a pequena apoia o cotovelo na mesa e encosta a cabeça, soltando mais um suspiro entediado. Suas perninhas estão penduradas na cadeira (que é muito alta para sua pequenez. Na verdade, todas as cadeiras do mundo são.), balançando freneticamente, para frente e pra trás. Quem a conhece, sabe que sua paciência já se esgotou. Sem suportar mais ficar ali parada esperando, Arviny bebe todo o conteúdo da caneca num gole só e pulando da cadeira fala com Belm, cancelando o pedido.

Ao lado da taverna de Kharanos existe um pequeno acampamento com bonecos de treinamento e é pra lá que ela vai. A maga precisa se movimentar e nada melhor do que treinar um pouco enquanto espera o maldito Magis. Por ser bem próxima à Altaforja e pelos constantes conflitos (não só entre Horda e Aliança, mas por todas as guerras enfrentadas pelo povo de Azeroth), a pequena cidade (que mais parece um acampamento) tem guardas para todos os lados.

Azeroth é um mundo muito estranho. O clima muda radicalmente de um lugar para outro, não importando se os territórios fazem divisa ou não. Numa questão de minutos a paisagem pode mudar radicalmente. De um deserto inóspito para uma floresta tropical; também é possível ser surpreendido por um clima gelado, coberto por neve. É preciso estar bem preparado ao se aventurar por aí.

Dun Morogh é uma dessas terras geladas. Toda extensão de seu território é coberta por neve e isso é bem propício para os anões e sua enorme forja em Altaforja. Kharanos não é diferente e apesar de estar acostumada com o clima, Arviny se mantém bem agasalhada com uma capa belíssima que foi presente de sua mãe. Pisando firme, saiu da taverna e quando se aproximava do acampamento ouviu uma risada bem conhecida. Sua irritação chegou num nível absurdo de alto; bufando, apressou os passos. Seus pensamentos fervilhavam e agora ela tinha certeza de que mataria Magis. O velhote a deixou esperando esse tempo inteiro pra ficar batendo papo? Ele pagaria caro por isso!

Ao avistar Magis, Arviny não pensou duas vezes. Aproveitou que ele estava de costas e balançando os dedos, manipulou o elemento gelo, do jeitinho que o velho a ensinara (uma grande ironia), e, uma luz azulada surgiu em volta de sua mão, criando uma pequena flecha de gelo. Com um sorriso diabólico no rosto, a pequena arremessou a flecha com toda sua fúria em direção ao mago. A seta o atingiu em cheio, bem na bunda, o fazendo dar um salto e gritar bem alto.

- Ai! Ai! Ai!

Magis gritava com as mãos em cima do local machucado, tentando virar o mais rápido possível para ver quem tinha feito isso com ele, sem muito sucesso (já que seus movimentos ficaram lentos por efeito da magia). Arviny não se conteve ao ver a cena e segurando a barriga com as duas mãos, caiu no chão de tanto dar risada. Ela se sentia vingada.

- Sua pestinha!

- Sou uma ótima aluna, não sou? - Tentando controlar as risadas, levanta-se do chão e se aproxima do gnomo. - Isso é para você aprender a não me deixar esperando! - Ela encosta o dedo indicador no peito de Magis, cutucando-o enquanto fala.

- Não. Eu que sou um excelente professor! Por que fez isso, sua diabinha? Sou um velho, lembra-se?

- Já falei! Além de me deixar curiosa com aquele bilhete ridículo, ainda me fez esperar por mais de meia hora na taverna, enquanto estava aqui jogando conversa fora. Vamos, desembucha! O que era tão urgente?

- Eu falei que era urgente?

O gnomo coça a barba com a mão esquerda e com a direita massageia o local atingido. Vai ficar uns dias com uma marca roxa e uma certa dificuldade para sentar. Imaginar isso faz Arviny soltar uma risadinha.

- Você está ficando realmente velho. Magis, o que queria comigo? É sobre o Kirin tor?

- Por Mekkatorque! Eu estava esquecendo!! Sim criança, sua inscrição foi aceita. Precisamos partir imediatamente para Dalaran. Você precisa se apresentar na escola de magia. Vamos! Vamos!

Magis junta as mãos em frente ao rosto e fecha os olhos. Uma luz lilás envolve seu corpo, formando um redemoinho de energia ao seu redor. É possível ver que o mago manipula algum elemento, pois suas roupas de tecido balançam como se um forte vento o atingisse. Lentamente ele separa as mãos, abrindo os olhos junto ao movimento, as deixando na altura de sua cabeça com as palmas viradas para a frente. A luz lilás que rodopiava por todo seu corpo é canalizada através de suas mãos e um raio arcano roxo é lançado de suas palmas, abrindo um enorme portal à sua frente. Arviny olha encantada para a imagem que aparece perfeita dentro do círculo. A imagem mostra um aglomerado de prédios brancos com telhado roxo; é Dalaran, a cidade flutuante, e os olhos da maga brilham em êxtase. Finalmente ela poderá conhecer a escola de magia do Kirin Tor e fará de tudo para fazer parte do grupo seleto de magos.

- Espere Magis!

- O que foi agora, criança?

- Eu não posso ir para Dalaran só com a minha roupa do corpo! Preciso ir até Altaforja pegar minhas coisas.

- Ah! Isso? Não se preocupe, vou pedir para Juli enviar suas coisas pelo correio. Vamos, entre logo que meu portal não vai durar o dia todo!

- Está bem! Weeeeee!

Saltitando, a gnomida se joga no portal. Apesar de já ter acostumado com viagens através de portais, a sensação de "queda" ao atravessá-los sempre a deixa um pouco enjoada. Arviny está tão empolgada que até o enjoo passou despercebido. Do outro lado, a pequena perdeu o fôlego com tudo o que viu. Dalaran é uma cidade cheia de magia. Vassouras mágicas não param de varrer as ruas de tijolos vermelhos que chegam a brilhar de tão limpos. Prédios arredondados, esculpidos em mármore, estão dispostos por toda a cidade, numa arrumação perfeita, fazendo uma explosão de cores preencher cada canto de Dalaran. Rosa, branco, lilás, vermelho, roxo e salmon, são as cores predominantes na cidade. o símbolo do Kirin Tor, um olho com 3 setas apontadas para baixo, espalha-se por todos os lados. Árvores, jardins belíssimos e até uma fonte mágica arrematam o cenário fantástico.

Arviny sente-se em casa. A pequena sorri de orelha a orelha, olhando para todo canto e acompanha Magis dando pulos de alegria. Nas ruas, criaturas de todas as raças de Azeroth perambulam, convivendo pacificamente. Dalaran é um santuário e é terminantemente proibido conflitos entre Horda e Aliança.

- Anda logo velhote! Quanta lerdeza! Hihihihih - Apesar de assustada ao ver tantos trolls e elfos sangrentos na cidade, a pequena segue à frente do amigo sem parar de pular um minuto sequer.

- Crianças... - Magi balança a cabeça de um lado para o outro, rindo baixinho. - Chegamos sua espevitada!

Ambos pararam em frente a uma enorme escadaria. Arviny semicerrou os olhos ao olhar para cima, tentando enxergar a entrada para o prédio. Olhando em volta, a gnomida percebeu que estavam diante da construção mais alta de Dalaran e isso significava que estavam perante a Cidadela Violeta. Um grupo de aprendizes subiam as escadas acompanhados de seus professores, enquanto a gnomida permanecia parada boquiaberta, encantada com a beleza do lugar. Magis segura seu bracinho e a puxa, tirando Arviny do transe, incentivando-a a seguir o mesmo caminho que os outros magos.

- Vai mesmo querer se atrasar, Arviny?

- O que? Nunquinha! Vamos! Weeeeeeee!

Ela se solta de Magis e corre escada acima deixando um velhote enlouquecido e sem fôlego tentando alcançá-la. Sem pensar duas vezes, Magis se concentra e apontando as mãos para Arviny, lança sobre ela um raio lilás, assustando todos que estavam ao redor.

- Béééé! Béééééé! - Um cabrito assustado e enfurecido anda de um lado para o outro no degrau.

Os aprendizes olham assustados a princípio, depois caem na risada ao compreender o que estava realmente acontecendo. Magis lançou um feitiço de polimorfia em Arviny a transformando em um pequeno cabrito para desespero da maga e divertimento do gnomo. Finalmente ele conseguiu alcançá-la e agora estava sem fôlego por causa das risadas.

- Isso é para você aprender quem é que manda aqui! Agora ande ao meu lado como uma boa aprendiz.

- Béééé!!!

O feitiço dura pouco tempo e ao chegar no topo da escada o cabrito deu lugar a uma gnomida dos cabelos rosa chiclete enfurecida.

- Seu velho desgraçado, você me paga!

- Ora, ora. Já vi que não é apenas eu que sente vontade de te matar, Magis. - A humana olha para Arviny e solta uma gargalhada.

- Arquimaga Elandra, é sempre um prazer revê-la. - Elandra curva o corpo para segurar a mão do gnomo que a cumprimenta com um aperto de mão caloroso. - Essa é Arviny, minha pupila.

- Olá Arviny! - A arquimaga abre um lindo sorriso para a pequena que retribui com um sorriso ainda maior. - Bem vinda a Dalaran.

- Obrigada arquimaga! É um prazer conhecê-la.

- O prazer é nosso. É sempre um grande prazer para Dalaran receber aprendizes tão promissores quanto você.

O rosto de Arviny queima e suas bochechas ficam vermelhas como uma tintura escarlate. A gnomida olha para o amigo que a encara com um sorriso orgulhoso e lágrimas nos olhos. Quando Milli Trocatintas contou anos atrás que sua filhinha queria aprender a arte da magia, o coração cansado do gnomo quase parou de tanta alegria. Desde o começo, Arviny se mostrou uma aprendiz promissora e muito inteligente. Agora, a vendo ingressar na escola do Kirin Tor, ele se enche de orgulho e tem certeza que a pequena será de grande ajuda nas fileiras do exército futuramente. Magis acredita que muito em breve a aprendiz superará seu mestre.

- Eu não sei o que dizer... Hum... Obrigada?

Os três começam a rir. O jeito espontâneo da gnomida faz com que todos gostem muito dela.

- Gostei de você pequena. Venham, vou te apresentar à sua instrutora e alguns companheiros de turma.

O salão da Cidadela Violeta estava cheio de magos. Os grupos que se formavam não tinha separação de raças, todos precisavam aprender a conviver com as diferenças e a trabalhar em equipe. Naquele momento, ninguém carregava a bandeira da Horda ou da Aliança e sim a bandeira do Kirin Tor, portanto, em todos os grupos haviam representantes de todas as raças. Elandra apresentou Arviny para a arquimaga Lenora e chamou Magis para uma conversa. A pequena despediu-se do amigo com um beijo estalado no rosto e seguiu sua nova mentora em um tour por Dalaran.

Lenora mostrou toda a cidade e acomodou o grupo de seus dez aprendizes nos dormitórios separados para eles. Como de costume, Arviny fez amizade com todos e jamais poderia imaginar que daquele grupo alguém a faria tanto mal um dia. No dia mais feliz da sua vida ela conheceu o Sádico. Se a gnomida pudesse prever o futuro, teria dado um fim em seu algoz, no momento em que colocou os olhos nele. 

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Estão curiosos para saber quem é o Sádico? Eu estou...

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Beijokas

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