Encosto a taça de champanhe nos lábios, porém não engulo o líquido adocicado e borbulhante. Sinto a excitação crescendo, começando em meu ventre e subindo até o topo de minha cabeça.

Hoje é noite de agir. Finalmente!

Percorro os olhos pela festa, observando os convidados interagirem. Ninguém me nota. Sou apenas mais uma na multidão, uma sombra. 

Simplesmente perfeito.

Apesar de nunca chamar atenção - o que era surpreendente, considerando a cor incomum de meus cabelos -, eu me preparei para a noite. Estou vestida de maneira apropriada, usando um longo vestido branco e muito caro que combina com meu tom de pele. Me sinto elegante, não que alguém tenha reparado. Isso não importa, de qualquer forma, não quando tenho que completar minha missão. 

Um garçom passa perto de mim e eu coloco a taça intocada em sua bandeja. Respiro fundo, sentindo um sorriso brotar em meu rosto. Estou pronta para agir. Planejei isso por muito tempo, repassei todos os detalhes, pensei em todos os problemas que poderão surgir. 

Dou um passo para frente, de olho na porta de madeira maciça que me separa de meu objetivo.
E sou parada por mãos fortes e um tanto calejadas. 

— Perdoe minha indiscrição, mas não consegui parar de te olhar a noite toda. E como você parece estar indo embora, não podia perder a oportunidade de me apresentar.

Sinto suas mãos em meu punho, ouço sua voz próxima ao meu ouvido. Ainda assim, espero que ele esteja falando com outra pessoa, por isso tento seguir meu caminho. 

— Ora, não mereço nem um pouco de reconhecimento pela minha audácia? — Ele aperta a mão um pouco mais, não o suficiente para me machucar, mas mesmo assim paro novamente. — Deixe-me ao menos me desculpar por ter te incomodado, olhando-te cara a cara. 

Não sei como reagir. Meu plano era perfeito, contava com todas as improbabilidades. Mas o impossível aconteceu. 

Alguém me notou.