CAPÍTULO TRÊS
Dois anos atrás, logo depois do fatídico roubo do automóvel, minha mãe sentou comigo e teve uma conversa muito séria sobre responsabilidade. Eu tinha acabado de fazer 16 anos, mas ainda me comportava como uma garota de 12. Eu tinha que crescer e aprender que a vida não era tão fácil quanto fazia parecer, ela disse.
Ah, tá. Como se fosse muito fácil ser uma Kaneís, uma Zé Ninguém. As pessoas não me notavam nem para fazerem brincadeiras de mal gosto, como eu via acontecer com alguns garotos na minha escola. Inclusive, quando eu tentava impedir que o bullying acontecesse, as crianças maldosas simplesmente franziam a sobrancelha para mim, enquanto as vítimas aproveitavam o momento de distração do bullynador e se afastavam rapidamente. Não importa quantas vezes tentei ajudá-los, nunca recebi um mísero obrigado pela minha atitude.
Houve uma vez em que vi uma garota reclamando com a conselheira da escola, dizendo que ela não tinha amigos e que ninguém conversava com ela. Era uma menina nova, havia começado fazia menos de um mês. Então eu, com toda a minha simpatia, fui até ela na hora do almoço e perguntei se podia me sentar em sua mesa. Ela simplesmente me ignorou.
Logo depois disso roubei seu diário. Ela ficou desesperada, chorou durante dias na sala de aula, mas eu nunca li o conteúdo. Tampouco o devolvi para a dona. Simplesmente ficou guardado em uma caixa empoeirada, cheia de coisas inúteis e que minha mãe decidiu jogar fora quando fez a típica limpeza de primavera alguns meses depois.
Com o passar do tempo, aprendi a ficar sozinha e a gostar de minha companhia. No entanto, acho que por culpa dos diversos programas de TV que eu assistia, acabei atribuindo minha solidão com a falta de um pai, da figura paterna. Em minha cabeça, achava que só estava sozinha assim porque meu pai havia nos abandonado quando eu ainda era um bebê.
Então, quando minha mãe surtou ao me ver com um carro novinho roubado diretamente da concessionária, fizemos um acordo: eu iria parar de roubar, mas ela teria que me contar um pouco sobre meu pai. No fim, ela não me falou muita coisa, nada mais do que eu já sabia sobre o súbito abandono, mas finalmente me deu um nome: Oliver Kathram. Parecia uma informação boba, mas só com isso conseguir descobrir quem ele era.
Não foi muito difícil, já que Oliver é um dos ministros do parlamento do Reino Unido e possui muita grana e uma boa imagem, que ele continua a manter na mídia ao comparecer em eventos beneficentes e a fazer bailes para a alta sociedade como o que eu fui na semana passada.
Mas eu não queria saber quem era Oliver, a figura pública. Eu queria saber quem era ele de verdade, quem era o homem que nos abandonou.
Foi então que comecei a investigar.
Eu já tinha como vantagem o fato de ninguém me perceber, por isso não foi nada difícil segui-lo. De qualquer forma, eu era cuidadosa, pois ele é um daqueles caras obcecados com a segurança e tem tipo um trilhão de homens armados que estão na sua cola constantemente, vigiando qualquer um que se aproxime demais.
O importante era que, mesmo ao longe, fui descobrindo um pouco mais sobre o conhecido ministro Kathram.
Há muito ir a escola havia se tornado um fardo, pois eu não aguentava mais sentar horas naquela carteira dura sem ter com quem conversar. Portanto, assim que tracei meu objetivo, comecei a faltar nas aulas frequentemente. E, é claro, ninguém percebeu.
De qualquer forma, eu não tirava esse tempo para ficar em casa relaxando. Na verdade, eu gostava de pensar que saía para caçar. Em minha mente, me via como a própria Viúva Negra, uma espiã altamente treinada e com uma missão definida.
Eu já era invisível aos olhos do mundo. Some-se à isso muito tempo livre e uma conexão com a internet muito rápida e étoimo¹! Consegui informações o suficiente sobre a arte da espionagem e comprei utensílios de última geração na deep web. Tive que roubar outros em lojas de artigos para a caça esportiva, mas tudo bem. Sempre fui do tipo que acredita que os fins justificam os meios.
Como eu passava minhas tardes andando pelas ruas de Londres atrás de meu pai, não tive muito tempo ou disposição para roubar. Então acho que, no fim, acabei cumprindo minha promessa à minha mãe, mesmo sem querer. Só sei que foram tempos difíceis em casa, pois estávamos vivendo apenas com seu mísero salário.
De qualquer forma, eu o segui dia e noite. Tirei fotos, anotei seus hábitos, decorei sua agenda. E pude descobrir algumas coisas sobre o famigerado Oliver Kathram.
A primeira era que, apesar de ser mais velho do que eu imaginava, ele estava... conservado. Isso porque ia para a academia todos os dias e fazia dezenas de procedimentos estéticos para aparentar ser mais jovem do que realmente era. No entanto, pude entender o que minha mãe viu nele anos atrás. Oliver era carismático, estava sempre sorridente, e posava de bom moço.
Isso durante o dia.
Por conta do emprego de minha mãe, ela passava muito tempo fora de casa. E, em tempos de nova coleção, por várias noites teve que trabalhar. Portanto, não precisei explicar minhas saídas esporádicas quando o sol se punha e a lua aparecia.
Comecei a seguir Oliver durante suas saídas noturnas. Algumas vezes, ele comparecia a jantares chiques e frequentava casas de pessoas muito ricas, sempre acompanhado da nova esposa. Vez ou outra ele ia assistir alguma apresentação na escola de seus filhos mais novos, mas nada disso me interessava realmente. Ao que parecia, Oliver tinha a vida perfeita e fazia, sim, jus ao seu nome de apoiador das causas sociais do Reino Unido.
No entanto, após seis meses observando seu passos, algo mudou. A senhora sua esposa já não passava mais tanto tempo em casa e logo descobri que era porque ela iria estrelar um show de culinária. Sim, bem no estilo Martha Stewart. E a família, então, contratou uma babá para ficar de olho nas crianças.
Oliver Kathram não foi o primeiro homem rico e bem apessoado que traiu a esposa com a babá de 25 anos e com certeza não será o último. Mas ele com certeza foi o único homem a levar a amante para um asilo.
É, isso mesmo que você leu.
Oliver e Gwen, a babá ruiva e bonita que trabalhava para os Kathram, por muitas vezes iam se encontrar no asilo Dr. Emannuel Birghram, que ficava na saída da cidade. O lugar nada mais era que uma enorme construção vitoriana, que servira outrora como hospital psiquiátrico, e que custava milhões de libras mensais. Mas, como o nome diz, era uma casa de repouso para idosos.
Parei minhas investigações sobre Oliver por alguns dias para saber mais sobre o asilo. E, realmente, era tudo verídico. O lugar abrigava centenas de velhos ricos, que passavam suas tardes caminhando nos jardins ou jogando xadrez e tomando chá.
Então o que eles iam fazer lá?
A resposta veio alguns dias depois em forma de uma matéria no jornal. O famigerado historiador e pai de Oliver Kathram, Francis Edimburg Kathram, falecera. E, surpresa, ele havia passado os últimos cinco anos de sua vida naquele mesmo asilo.
Presumi, então, que Oliver levava a amante para visitar o pai. Esquisito, eu sei. Mas quem sou eu para julgar?
— Por que ele era tão famoso? — questionei minha mãe, alguns dias depois, ao lhe mostrar a notícia, tentando fazer uma cara de inocente. É claro que ela não acreditou.
— Ele era muito inteligente — minha mãe respondeu, sem nem tirar os olhos da carne que cortava.
— As pessoas parecem estar realmente tristes com a morte dele.
— Ele foi importante para a história.
Não que eu não tenha acreditado nela, mas quis conferir a informação. Passei mais alguns dias juntando tudo o que podia descobrir sobre meu avô Francis, pesquisando sobre sua vida e seu trabalho na internet e em bibliotecas.
Ele foi realmente importante. Principalmente para os acadêmicos interessados na história e mitologia grega.
Essa informação mudou completamente o meu rumo, me fazendo investigar meu pai por outros motivos. Motivos que me fizeram ir até aquela festa, para roubar a maior preciosidade de todas, um item que valia mais do que o dinheiro podia pagar.
Um livro.
Oi pessoal!
Primeiro, peço desculpas por não ter postado na sexta, mas estou de férias pelas próximas duas semanas e irei postar basicamente quando der rs. Também estou postando pelo celular, então me desculpe se houver algum problema de diagramação.
Espero que tenham gostado dessa parte do passado de Alana 😉
Não esqueça de deixar sua estrelinha, é muito importante para mim!
Beijinhos e até mais!
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