IV - III
"Deixe doer, mas não deixe de viver"
- Júlia Faria, Para as solteiras, com amor.
Eu fiz pouco mais de trinta minutos de casa até o bar onde Cláudio estava. Era um lugar chique, com fila pra entrar e um segurança troncudo na entrada. Todos estavam muito bem vestidos, com exceção de mim. Assim que me aproximei do homem de preto, ele me olhou dos pés a cabeça e logo fechou a cara.
Mostrei a mensagem de texto e expliquei que meu amigo já estava lá dentro, porém, foi inútil. Alguns risinhos vindos do pessoal atrás de mim comprovaram o quão patética a minha existência era.
Antes que eu me aporrinhasse e fosse embora, Cláudio colocou a cabeça para fora da porta, chamando a atenção do segurança.
- Qual é, Rogério? Deixa a menina entrar!
Meio a contragosto, o homem abriu a corrente que barrava a entrada, dando-me passagem, para o desgosto geral da nação. Enquanto entrávamos, deu tempo apenas de ouvir o brutamonte ameaçando.
- Deixa o chefe saber que você fica trazendo amiguinhos.
"Chefe", pensei. A palavra ficou girando em torno do meu cérebro por mais tempo do que deveria. Cláudio notou o incômodo e logo passou o braço pelo meu ombro enquanto atravessávamos a multidão.
Estava escuro, mas, logo as luzes explodiram no meu rosto, trazendo jogos de iluminação colorida fumaça e tudo que tinha direito. As poltronas eram de camurça vermelho feito sangue e todo o resto, desde o balcão ao teto, parecia ter sido tirado de uma revista de decoração para ricaços.
- Eu te disse que ia descolar um trabalho legal. Estou aprendendo a fazer drinks e me deixaram estagiar aqui. - Tentei ao máximo contribuir com a sua animação, porém, o fato de estar totalmente despreparada para algo assim, me fazia entrar em estado absoluto de alerta.
- Não se preocupe... - Disse Cláudio, como se lesse a minha mente. - Você está linda, como sempre. E, tudo o que quiser comer ou beber, pode pedir que eu penduro na minha conta. Agora eu tenho que trabalhar, gatinha, volto aqui quando der. Divirta-se! - Com um beijo na minha testa, meu amigo se afastou, deixando-me perdida no meio daquele monte de gente bonita demais para ser real.
Perdi alguns segundos observando as meninas em vestidos caros, equilibrando corpos perfeitos em saltos mais altos que arranha-céus. Os rostos de opala brilhavam em contraste às luzes, tão esplêndidos que me tomaram o ar.
Nem sequer um batom eu tinha passado, que vergonha!
Levei os olhos até o bar, observando, inquieta, o movimento dos bartenders. Logo, avistei Cláudio dobrando as mangas da camisa social preta. A tatuagem de serpente no braço reluziu como se estivesse viva.
Nossos olhos se encontraram por um segundo e ele sorriu. Seus cachos estavam presos para trás no famoso coque samurai, um charme de penteado. No peito, meu coração disparou. Nós nos conhecíamos desde sempre. Ele era meu único amigo e a pessoa em quem mais confiava.
Meu primeiro amor...
Levantei, segura de que já havia passado do tempo de dizer a Cláudio o que sentia. Esse era o momento perfeito, sem arrependimentos!
Em passos largos, avancei na direção do balcão, abrindo caminho entre os dançarinos frenéticos e bêbados de plantão. Estava tão lotado que, quanto mais adiante seguia, menos conseguia ver. Então, espremida, empurrei um casal, ignorando seus xingamentos, para, somente aí, dar de cara com uma loira bunduda e cheia de aplique. Ela deslizava as unhas postiças pela abertura nos botões do peito de meu amigo, tão pegajosa que me fez querer vomitar.
Virei antes que os dois pudessem me ver, segurando os soluços do choro, sentindo lágrimas molharem o rosto. Pra que ele me chamou ali?Pra esfregar mais uma gostosa na minha cara? O que é isso?
Com pressa, tentei buscar a saída, todavia, atordoada como estava, acabei esbarrando em mais alguém. Desta vez a coisa foi mais violenta. Nossos corpos trombaram com tamanha força que foi preciso um par de braços robustos me segurar firme para evitar o tombo.
Meu rosto, apesar de moreno, virou um pimentão vermelho. Humilhação atrás de humilhação, esse era o novo status do app de mensagens instantâneas que eu ia providenciar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top