IV


"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa;
o essencial é que saiba amar" — Machado de Assis, Ressurreição.


Conversamos um pouco mais antes que o sinal tocasse e eu tivesse que retornar para as últimas aulas do dia. Cláudio me importunava para descobrir o que tanto eu fazia na biblioteca e, com sucesso, esquivei de todas as suas tentativas.

Logo, meu melhor amigo se cansou de Natasha e ficou entediado com a vida de lobo solitário. Pela primeira vez, eu não estava lá, esperando de braços abertos para recebê-lo, e isso o deixou bem incomodado.

- Você tá saindo com alguém? – No final do último dia da semana, quase um mês depois da visita ao Museu do Amanhã, ele me parou no corredor com a brutalidade de um rinoceronte, segurando-me para que não escapasse.

- Não... – Nossos olhos se encontraram por alguns segundos. Se fosse em outro momento, o choque daquelas orbes verdes me mataria de tensão, porém, agora, elas me lembravam uma montanha de musgo fétida. – E mesmo se estivesse, isso não seria um problema, seria?

- Seria. – A palavra escapou como um sussurro daqueles lábios grandes. Coma luz amarela das lâmpadas, sua pele bronzeada ganhava um tom estranho de dourado, como o de uma estátua.

Meu coração parou.

- Por que seria? – Foi tudo o que consegui dizer.

- Eu não sei... – Respondeu, aumentando a distância entre nós com um passo para trás. As mãos grandes estavam enfiadas nos bolsos, algo que Cláudio só fazia quando estava realmente incomodado. – Só seria.

- Não faz muito sentido, já que até alguns dias atrás, você tinha uma montanha de hormônios ambulante grudada nas calças. Falando nisso, cadê a Natasha?

- Caguei pra Natasha. – Novamente, a brutalidade de suas palavras encheu meu peito de ansiedade. Em todos os anos que estudamos juntos, o garoto nunca tinha agido daquele jeito. – Antes você estava sempre comigo, nós fazíamos tudo juntos e, agora, eu preciso fazer o quê pra te ver? Agendar um horário?

- Eu só tenho estado ocupada...

- Com o quê? – O nervosismo em seu olhar havia dado lugar para um sentimento perigoso: a Impaciência. Senti que se não saísse logo daquela situação, as coisas podiam acabar mal.

- Estamos numa escola, Cláudio! Por Deus! Estou me ocupando de estudar! – Usando de uma ferocidade anteriormente desconhecida por mim, empurrei seu corpo para longe e fugi como uma louca, correndo e ofegante pelos corredores da escola. 

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