Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

 Naquele dia solarengo e primaveril Raquel vestiu umas calças à boca de sino, uma camisola de malha lilás e uns sapatos de salto alto ligeiramente quadrados, tinha o estômago às voltas com entusiasmo, sentia-se viva.

 Tinha tudo bem combinado e secretamente organizado com Arminda. Saiu de casa com toda a alegria, apanhou o elétrico em direção à Graça, com vista a ir ao pequeno apartamento de Rosa Paula. Sentia o sol a aquecer-lhe o rosto, caminhava pela rua como se finalmente fosse livre, como era cedo esperava encontrar Francisca por casa.

 Pelas ruas sentia uma maior vida e luz pelos olhares alheios, a luz da revolução, Portugal cinzento passava agora a ter alguma cor.

 Caminhava pelo bairro da Graça, cheio da luz dourada lisboeta, cheio de amor, sentia o ar fresco, o coração a saltar-lhe do peito. Quando chegou à fachada do prédio de Rosa Paula sentiu algum receio mas lembrou-se do quanto amava Francisca e tocou à campainha, tal foi a surpresa que sentiu quando uma voz de uma mulher mais velha lhe respondeu.

"Quem é?" perguntou.

"Sou a Raquel, a Dona Rosa Paula  e a sobrinha estão por casa?" perguntou em desespero.

"Olhe menina, eu moro aqui desde o início de Março, as antigas moradoras foram viver lá para cima para o Norte, ou Porto ou Braga, nem sei bem, mas já não andam por cá."

 Aquela frase fora como uma facada no coração de Raquel, não podia fugir para o norte à procura delas, Vasco iria mandar a polícia atrás de si, iria prejudicá-la, iria mandar violentar Rosa e Francisca, Vasco tinha a segurança, tinha a proteção.

 Aceitou assim o seu destino, nunca mais ver o amor da sua vida.



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