Capítulo 9

Com nossos times devidamente postados cada um em suas posições na quadra de grama sintética, então deu-se o começo da partida. Devido às provocações mútuas trocas momentos atrás, o início do nosso jogo não podia ser mais nervoso e tenso. Uma falta dura feita na Carlinha logo nos primeiros segundos após o apito inicial, colocou mais nervosismo e tensão na nossa partida, e ainda causou um princípio de discussão e empurra-empurra entre a Pocah que era a capitã do nosso time, juntamente com Thaís que foram para cima da outra capitã do time adversário, mas o juiz tratou logo de apaziguar e pedir calma que aquilo era somente para ser uma partida e não uma guerra.

Bola rolando novamente e o time adversário, logo já roubava a bola da Thata e em uma troca rápida de passes, as filhas da mãe marcaram o primeiro gol em cima de mim, chutando a bola forte e no ângulo, não me dando chance alguma de defesa.

O jogo recomeçou e eu tenho que reconhecer que o time adversário é bom. Não é à toa que foram duas vezes consecutivas campeãs da liga amadora. Só que o nosso time também é bom. Tudo bem que não tão bom como o time que enfrentávamos, mas dava para o gasto.

A verdade é que nós jogávamos vez ou outra e por diversão, e não competíamos como no caso das rivais. Mas ainda assim, tínhamos um bom nível de jogo. E logo isso foi aparecendo, assim como o nosso entrosamento em quadra. Não demorou nada para empatarmos o jogo com um gol de cabeça de Cami que comemorou fazendo uma dança doida que arrancou risada das garotas.

Cinco minutos depois, em um belo chute que vi passar por baixo das pernas da goleira, Pocah virou o jogo para o nosso time e na comemoração do gol, eu vi minha amiga apontar na direção da Juliette na arquibancada e lhe jogar um beijo.

Santa paciência!, Pensei revirando os olhos em desgosto.

Sério que aninha amiga já gamou assim tão rápido naquele troço?

O jogo prosseguiu e por muito pouco o time adversário não empatou o jogo, logo em seguida. Só não fizeram o gol de empate, porque eu fiz uma defesa de puro reflexo e salvei meu time de sofrer um novo gol. Quando a partida já encaminhava para o fim do primeiro tempo, Gizelly ampliou de cabeça a vantagem no placar. E na comemoração imitou Pocah e mandou um beijo para a namorada Marcela, que ficou toda boba com o gesto da namorada.

Meu Deus! Quanta gayzice!

Veio o fim do primeiro tempo do jogo e nós nos aproximamos das garotas, debatendo sobre a partida que se encerrara.

- Pô, Carla marca mais firme a ala, amiga. O tempo todo ela tá passando por você feito um carro sem freio. Chega nela, Díaz. - ouvi Pocah cobrar da Carlinha.

- Eu tô tentando, Pocah. Agora você já deu uma olhada na garota? Ela é uma brutamonte.

Eu ri disfarçadamente. Realmente a outra garota dava duas da Carla. Era até injusto colocá-la para marcar aquela ala.

- Deixa comigo que eu marco essa garota, Pocah. – Camilla se pronunciou. - Carlinha, você vai para o meio marcar aquela garota anã que nem você.

- Ah, obrigada, por me comparar com aquele coisa, viu Camilla.

A gente caiu na risada. Algumas meninas aproveitaram a pausa do jogo para receberam água das outras garotas e as que tinham namoradas, ainda receberam também carinhos de suas garotas.

Acomodada ao lado de Gil e Lucas, eu só observava Pocah que aproveitou o intervalo para papear e jogar sua lábia para cima da Juliette.

- Ela não faz idéia de com quem tá se metendo. Essa garota é uma peste!

Gil e Lucas apenas riram do que eu disse. Meu amigo me relatou que apesar do pequeno atrito inicial que rolou entre ele e Juliette enquanto estava no vestiário com as meninas antes do jogo, ele já havia superado o atrito após terem trocado conversa durante o jogo e agora até gostava de Juliette. Olhei feio para o Gil.

Era só o que me faltava, Gil, virando amiguinho daquela coisa.

Aff!

Gilberto ainda completou, dizendo que Juliette parecia ser uma boa pessoa apesar do gênio difícil que demonstrava ter.

- Bom, elas até que formam um casal bonito.

Olhei espantada para Gil.

- Você já está vendo-as como um casal?

Me parecia muito precoce isso.

- Sim! Tá na cara que algo vai rolar entre elas. - cochichou para mim colocando a mão sobre a boca para que não fizessem leitura labial do que conversávamos. - Pocah não é de dá ponto sem nó, sabemos disso. - isso era uma puta verdade. - Ela vai investir pesado pra cima da sua hóspede. E a julgar pela forma como a Juliette tá dando trela pra Pocah... Vai rolar, amiga!

Olhando por essa ótica o meu amigo tinha razão.

- Se vai rolar ou não, pouco me importa. Só acho que a Pocah vai cair fora assim que descobrir a garota insuportável e chata que a Juliette é.

- Eu já shippo as duas. Sou Poliette. - Lucas se intrometeu na conversa.

- Poliette? Ai, Brasil! Já amei esse shipper, Lucas.

Balancei a cabeça e tomei minha água, resolvendo ficar calada que ganhava mais.

Teve início o segundo tempo e o time adversário veio para cima do nosso. Não tardou para empatarem e virarem o jogo em uma falha minha que repus a bola nos pés da jogadora adversária, que ainda tirou sarro da minha cara pela minha bobeira.

- Bola pra frente, Sah! A gente vai virar, amiga. – Pocah como capitã tentou me motivar e passar confiança.

Balançando a cabeça em total desgosto por ter dado essa mancada que resultou no empate do time adversário, eu viu meu time reiniciar o jogo. Demorou alguns minutos, mas o empate veio em uma jogada espetacular da Thata que pegou a bola na defesa e saiu driblando meio time adversário até chegar à cara do gol e tocar para Cami só empurrar a bola para as redes.

Faltando cinco minutos nós viramos o jogo de novo, para a irritação da capitã do time adversário e alegria da nossa torcida na arquibancada.

Os poucos minutos que restavam da partida foram um verdadeiro bombardeio do time adversário para cima de mim. As garotas não queriam sair com a derrota, queriam ao menos o empate, mas dessa vez elas não conseguiram. Eu fechei o gol e com defesas e mais defesas, me redimi da falha que tive. E assim meu time saiu-se vencedor daquele confronto.

- Sarah, você a partir de hoje é oficialmente nossa goleira. – decretou Pocah jogando um dos seus braços sobre meus ombros. - Lumena não teria agarrado tanto assim como você.

- Pára com isso. - pedi sem jeito. - E nem vem com essa de me pôr como goleira oficial. Só vim fazer esse papel hoje, porque somos amigas e você insistiu muito. Não inventa de me chamar mais, não.

Chegamos aonde as demais estavam e eu fui alvo das brincadeiras de todas e todos por conta da minha performance no gol. Só para variar, eu fiquei sem jeito com tantos elogios e o discurso de geral de que eu parecia uma goleira de seleção, pegando tudo.

Obviamente, que dentre elas uma pessoa não me exaltou como as outras, nem mesmo disse algo a respeito de meu desempenho e eu estava até estranhando o ‘’silêncio’’ dela. Mas quando tive a oportunidade de ficar a sós com Juliette, eu soube qual era sua opinião.

- Aí, quatro olhos, salvou o time!... - havia um sorriso irônico em seus lábios. - Também era seu dever isso depois daquela mancada de jogar a bola no pé da adversária, né?

- Estava demorando pra você não sair com uma das suas, não é?

Era irritante ver como ela se divertia me zoando.

- O quê? Estou te enaltecendo.

- Ah, claro! Como é do seu feitio fazer, né?

- Exatamente, quatro olhos!

- Então obrigada, garota insuportável!

Ela me olhou atravessado e só não me respondeu com uma grosseria como senti que faria, porque a turma voltou com os refrigerantes e as pizzas.

Salva pelo gongo!

Foi idéia do pai da Thaís levar a turma toda para uma pizzaria a fim de ‘’comemorar’’ a nossa vitória no jogo. Depois, ele deixaria cada uma em suas casas.

***

Passava das nove quando chegamos em casa. Minha mãe estava na sala e falava ao telefone, mas assim que viu Juliette e eu entrando, ela foi logo encerrando a ligação meio as pressas. Achei isso no mínimo estranho! Com quem ela falava? E por que encerrou a ligação com tanta pressa?

- Pensei que ainda iam demorar mais um pouco pra chegarem.

- Quem era no telefone, mãe?

- Ninguém importante, filha. Era sobre a exposição.

Eu não sei porquê, mas minha mãe pareceu nervosa demais quando respondeu minha pergunta.

Será que aconteceu alguma coisa e ela não estava querendo me contar?

Talvez, ela não estivesse querendo me preocupar ou quem sabe, era por conta da presença de nossa hóspede que ela não queria compartilhar comigo o quê quer que fosse. Quando ficasse a sós com ela, eu a interpelaria a esse respeito.

- E o jogo, como foi?

A minha mãe fez a pergunta para MIM, mas antes que eu pudesse abrir a boca para responder, Juliette se adiantou nisso.

Garota enxerida!

- Foi muito bom!... Tia Abadia, a senhora precisava ver a sua filha, ela se saiu bem. Confesso que eu não levava muita fé nela logo no começo, mas ela me surpreendeu. O time dela venceu e a Sarará foi a salvadora da vitória.

Eu olhei para Juliette com um misto de espanto com desconfiança. Aquela garota falando bem de mim?  Também era só porque estava na frente da minha mãe. Aposto que ela só fez isso para pousar de boazinha.

- Sério? Você se saiu tão bem assim?

- Pois é! – dei de ombro.

- Eu não entendo o porquê de você não ter aceitado o convite do técnico em fazer parte do time da escola, se joga tão bem assim, minha filha.

- Ele foi convidada para fazer parte do time da escola? - Juliette se mostrou surpresa.

- Sim.

- Por que não aceitou? - Juliette me indagou.

- Esporte não é pra mim. – respondi sem muita delonga.

- Mas você até que leva jeito.

- Só que a vida esportiva não me agrada, Juliette. - resmunguei. - Vou subir, tomar um bom banho e cair na cama. Boa noite mãe! – dei um beijo na testa dela e já ia seguir rumo às escadas, quando minha adorável mãezinha me parou e me indagou sobre onde estavam os meus bons modos. Se eu não iria dizer ‘’boa noite’’ para a Juliette. Pedi desculpas pelo meu ‘’lapso’’ e dei boa noite àquela insuportável. Depois segui para o meu quarto, quer dizer, o quarto de hóspedes. Amanhã, eu voltaria para o meu verdadeiro quarto. Graças a Deus! Não aguentava mais ver aquela Juliette usufruindo no meu quartinho.

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