Capítulo 60

E é tão mais fácil quando
Tem você pra dormir junto
Tem pra acordar junto e viver junto
Tem você pra me contar dos seus dias seguros

(Dói sem tanto - Anavitória)

***

- Você gostaria que eu dormisse essa noite com você no seu quarto? - questionei Juliette após a gente ficar sozinhas na cozinha depois de minha mãe sair dali para ir dormir em seu quarto.

- Com a sua mãe em casa? Ficou louca?

Sorri do espanto dela.

- Minha mãe deixou isso. - contei à Juliette.

Foi uma surpresa enorme para mim quando momentos atrás antes da Juliette aparecer de volta à cozinha, enquanto minha mãe e eu estávamos sozinhas ali terminando de guardar as louças da festa de despedida da minha namorada, e minha adorável mãezinha veio com essa "sugestão" de que se eu quisesse passar essa última noite com a Juliette em seu quarto, por ela estava tudo bem. Desde que se a gente fizesse algo não fôssemos silenciosas, porque ela não queria ouvir "barulhos" do quarto dela.

Passar essa noite com a Ju era algo que eu queria muito, mas achava que era impossível de acontecer por causa, justamente da minha mãe. Mas vejam só... Dona Abadia mesmo deu a "idéia" e seu "aval" para isso.

- Você pediu pra ela? Eu não acredito nisso, Sarah.

Ri mais ainda agora da sua incredulidade.

- Claro que não pedi nada. - neguei ainda sorrindo. - Na verdade foi ela mesma quem disse que eu podia dormir com você, no seu quarto, caso eu quisesse. Mas com a condição de sermos silenciosas caso façamos algo.

- É sério que ela deixou isso?

Por mais inacreditável que fosse era verdade.

- Sim - confirmei me aproximando de Juliette que tinha se encostado à mesa diante de mim. - E aí, você aceita a minha companhia pra dormir ou não?

- Hum... Não sei... Deixa, eu pensar um pouco!

Só para variar, ela estava me zoando, pois ela ia aceitar aquilo, eu sabia!

Sorri da sua expressão engraçada de pensativa com direito a dedo no queixo e olhos semicerrado, além de lábios esticados em um tentador biquinho.

Não demorou quase nada para ela aceitar a proposta para a minha alegria.

Disse à ela para me esperar no quarto dela que eu ia ao meu apenas trocar de roupa. Eu ainda estava com a roupa da festa.

Já em meu quarto tratei de rapidamente substituir a roupa que usava pelo meu pijama. Fui ao banheiro escovar os dentes e segundos depois já está de volta ao quarto. Da cama apanhei a camisa que usei aquela noite na festa, joguei-a sobre o ombro e segui para sair do quarto.

***

Com à porta do quarto devidamente trancada, Juliette e eu estávamos sentadas uma de frente para a outra, no meio da cama dela, com minha namorada acomodada em meu colo e com suas pernas em torno da minha cintura.

- Ainda não acredito que você vai dormir aqui comigo e que foi sua mãe quem disse que podia isso.

Juliette deslizava os dedos por entre os meus cabelos em uma carícia relaxante e também excitante.

- Nem eu! - sorri de olhos fechados.

Jamais ia imaginar que minha mãe teria a iniciativa de uma idéia dessas.

- Ela me pegou de surpresa com essa atitude.

- Pegou a nós duas, essa é a verdade. Mas agora mudando completamente de assunto.

- Hum...

- Tem certeza de que quer quê eu fique com a camisa que o seu amigo te deu.

Tinha decidido dar de presente à ela a camisa que Gilberto havia me dado e que a Juliette sem a minha permissão usou no segundo dia dela ali em casa.

- Certeza absoluta. - confirmei, abrindo os olhos e apertando levemente com minhas mãos sua cintura. - A camisa é pra você lembrar de mim.

- Eu não preciso de uma camisa pra lembrar de você, quatro olhos.

- Ok! Vou reformular a frase. A camisa é pra você lembrar do dia em que foi folgada o suficiente e usou uma roupa minha sem pedir.

Ela me socou de leve no braço, mas depois riu do que eu disse.

- Eu ia te pedir, tá?!

- Ia pedir com ela no seu corpo já, né?

- Exatamente! Assim, eu não correria o risco de você me toma-la.

Sorri balançando a cabeça de leve e depois escondi o rosto em seu pescoço enquanto minhas mãos foram para as suas costas e passaram a subir pela mesma sobre o tecido da camiseta escura que Juliette usava para dormir naquela noite. Camiseta esta que era do Guns N' Roses que trazia um pequeno verso da canção "November Rain" na parte de trás da peça.

- Vou sentir tanto... tanto... e tanto a sua falta! - murmuro com a boca colada ao seu pescoço.

- Eu também vou sentir a sua, quatro olhos.

- Mesmo?? Mesmo??

Afasto meu rosto e encaro Juliette a espera de sua resposta.

- Mesmo!! Mesmo!! - ela confirma, segurando meu rosto com ambas as mãos e sorrindo-me tão largamente que me encantou.

Ah, essa garota insuportável... Ela roubou meu coração e eu não sei como vou fazer para aguentar ficar longe dela durante meses.

- Me beija daquele jeito que você beijou ontem a noite na sala! - pedi em um sussurro.

Eu queria aquele beijo devagar com gosto de despedida, em uma noite que seria a nossa despedida.

Sem contestar nada, Juliette me beijou. E foi exatamente, como ontem. Devagar. Bem devagar. Com a gente apreciando o gosto da boca da outra lentamente. A língua dela ora explorava sem presa cada canto da minha boca, ora brincava com a minha própria língua da mesma maneira lenta e sem presa.

Quando o ar nos faltou longos segundos depois, e a gente separou nossas bocas para respirarmos, essa foi a deixa para Juliette aproveitar para fazer-me tirar a blusa de alças do meu pijama e eu aproveitei e fiz minha namorada também tirar a camisa dela.

Nuas da cintura para cima, a gente voltou a se beijar, ao mesmo tempo, em que fui fazendo a Juliette ir se deitando na cama, já que a gente ainda se encontrava sentadas na mesma.

Com ela já sob mim, eu interrompi por uma fração de segundo nosso beijo para ficar apenas olhando fixamente para a Juliette em silêncio.

Ela fazia o mesmo em relação a mim.

Eu posso afirmar com todas as letras, que o tempo em que a Juliette passou aqui e ela própria, me marcaram. Me marcaram feito uma tatuagem. Eu jamais ia esquecer aquele mês e nem a minha hóspede insuportável. Assim como não ia esquecer também do sorriso dela. Dos seus olhos. Da sua boca. Do seu beijo. Da sua voz. Do quão bom é estar com Juliette. Fazer amor com ela. E para minha tristeza essa noite seria a última vez que faríamos isso ali na minha casa.

Seria a noite da nossa despedida!

Seria um "até breve" e não um "adeus", porque eu acredito que a gente ainda tem muita coisa para colocar nessa história que começamos a escrever juntas aqui em Las Vegas.

Aquela insuportável ainda ia me aturar muito na vida dela, assim como eu pretendia e queria, aturá-la muito na minha!

Nossos lábios se uniram novamente. E pouco depois, o restante das peças de roupas que usávamos, já não se encontravam mais em nossos corpos e a gente já estava se amando sem pressa e bem devagar na cama dela, com nossas bocas coladas para evitar que escapassem "barulhos" que fossem ouvidos por minha mãe do quarto dela.

Foi uma despedida que sinceramente, eu não queria que estivesse acontecendo por mais bonita que estivesse sendo, por mais especial que fosse, por mais tudo que fosse... Eu não queria está me despedindo dela. Mas aquela era a nossa realidade. Amanhã Juliette iria embora e aquela noite ia ser mais uma boa e linda lembrança que eu pretendia guardar dela, assim como as outras que eu já tinha guardadas de Juliette desse um mês dela ali em minha casa.

E quando a gente alcançou o clímax um tempo depois, senti mais uma vez vontade de dizer à ela que eu a amava, mas novamente faltou coragem para isso. Eu precisava dizer para ela aquelas palavras. Talvez amanhã!

Devidamente vestidas após termos nos restabelecido do momento de amor que tivemos ali, eu acomodei Juliette em meus braços e a gente não disse nada. Palavras me pareceram desnecessárias. Além do mais, eu não tinha o que dizer ali. E acredito que nem Juliette também. Desse modo, em silêncio, eu vi minha namorada acabar adormecendo em meus braços pouco tempo depois. Mas eu, sem sono, não conseguia dormir de jeito nenhum.

***

"Juliette,

É madrugada. 01h20min, mais precisamente. Eu estou sem sono, sentada na ponta da sua cama te escrevendo essa carta que, certamente, você deve estar lendo agora no avião à caminho da Califórnia.

Como geralmente eu não sou boa falando, e tenho certeza que não conseguirei te dizer nem a metade do que gostaria de dizer amanhã antes de você embarcar, então resolvi escrever essa carta para você enquanto te observo dormindo serenamente como se fosse um anjo. O meu anjo irritante e insuportável.

Quero que saiba que vai ser muito difícil para eu ficar sem você aqui! Já me acostumei com sua presença, com suas implicâncias, com o seu jeito de ser, que o pensamento de quê a partir de amanhã, não terei mais nada disso aqui, me deixa triste.

As lembranças de todos os momentos - principalmente o primeiro beijo que trocamos e a nossa primeira vez - que vivemos ao longo desse um mês que você ficou aqui na minha casa, vão ficar guardados na minha mente e no meu coração PARA SEMPRE!

Cada instante que passei ao seu lado foi especial, Ju. Assim como foi especial cada beijo que trocamos, cada sorriso, cada confissão que fizemos uma a outra, cada coisa que compartilhamos, cada vez que nos amamos. Tudo, absolutamente tudo foi especial e inesquecível. E até mesmo os momentos em que a gente ainda nem namorava foram especiais e inesquecíveis. E vou guardá-los com todo o carinho do mundo.

Vai parecer meio louco e até clichê o que vou escrever, mas...

Você mudou a minha vida, sabia?

Com esse seu jeito "aborrecente", irritante, mas altamente apaixonante! Tão apaixonante que me conquistou sem eu querer. Você mudou coisas em mim. Trouxe a "loucura" e a alegria que faltavam na minha vida tranquila e em mim. E implicou bastante comigo. Bota bastante nisso!

Sabe que quando você me chamou a primeira vez de "quatro olhos", eu te odiei?

Mas agora quando me chama assim, eu amo! E vou senti falta de ouvir sua voz pela casa me chamando dessa forma.

Também vou sentir falta da sua "falação" sem limite!

Eu admito que antes esse seu falatório todo até me incomodava, sabia? Mas a partir do momento em que você foi passar uns dias na casa da sua tia com suas primas depois daquele meu comportamento tosco com você - eu sei que foi por isso que quis ir pra lá. Você pode negar o quanto for, mas eu sei que foi por eu ter agido daquela forma rude que você pra casa da Adélia - e eu me vi sozinha aqui em casa, sem você e sua constante falação... Me dei conta de que gostava da sua desenfreada falação. Bem como descobri também, que gostava de você.

Precisei ficar longe de você para me dar conta do sentimento que tenho por você. E nem imagina o quanto o sentimento que tenho por você é grande. Gigante!

Eu gosto muito de você, Juliette. Na verdade... Eu te amo!

Não sei se antes de você ler essa carta, eu já terei te dito essas palavras, mas caso ainda não tenha dito. Quero que saiba, garota insuportável, que... Eu te amo! E não consigo mais me ver com outra garota que não seja você, Ju.

Certamente, você deve está achando essa última parte do que escrevi no parágrafo de cima, uma loucura completa. Se duvidar deve até está rindo de mim agora e me chamando mentalmente de "boba" ou coisa bem pior. Pouco me importo, pois isso que escrevi lá em cima não passa da mais sincera verdade.

Nenhuma garota parece mais certa e perfeita para mim do quê você!

É verdade que nós somos diferentes? Sim, somos! E bastante.

Temos jeitos diferentes, gostos diferentes, pensamentos diferentes, mas temos uma coisa em comum. Nós gostamos uma da outra assim como somos. A quatro olhos sem graça e a garota insuportável!

E mesmo com a distância de não sei quantas milhas nos separando uma da outra. Com você lá em San Francisco e eu aqui em Las Vegas, nós vamos seguir juntas.

Como você mesma me disse na praça: "vai ser difícil manter um relacionamento à distância". Mas se o que sentimos uma pela outra for forte o suficiente como acredito que seja, vamos conseguir superar esse 'obstáculo' e não deixar nosso namoro definhar. E ele não vai! Distância nenhuma vai conseguir isso.

E antes de dar essa carta por encerrada... Eu quero te deixar um pequeno trecho do Soneto #47 do Shakespeare, que descreve habilmente meu sentimento por você.

'Ainda que estejas longe, nossa presença está comigo;
Pois não estás, mais distante do que os meus pensamentos consigam chegar,
Eu continuo com eles e eles contigo;
Ou se eles dormem, tua imagem em minha mente
Desperta meu coração para à alegria do coração e de meus olhos.'

Ass: Quatro olhos

PS: Eu disse à você que: "Vou sentir sua falta!", e isso é a mais pura verdade. Vou sentir sua falta à cada batida do meu coração, garota insuportável."

Terminando ali de escrever aquela carta, que momentos atrás tive a idéia de escrevê-la, eu dobrei aquele papel em três partes e em seu verso escrevi: 'De: Sarah.'

Fui na direção da mochila da Juliette e guardei lá dentro a carta, junto dos fones de ouvido da minha namorada.

Não coloquei na mala, porque esta, certamente não iria à mão de Juliette e sim à mochila. E eu queria que quando a minha namorada abrisse a mochila para pegar seus fones de ouvido, ela encontrasse a carta.

Tão logo o papel estava seguramente guardado, eu voltei a me juntar à Juliette na cama. Abraçando à minha namorada por trás e escondendo o rosto em seus cabelos de perfume inebriante, eu acabei pegando no sono em poucos minutos.

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Aqui encerramos.

Na quinta-feira teremos os últimos capítulos e a fic termina 💔

E para quem perguntou nos comentários sobre ter uma segunda parte. Vai ter sim!

Até quinta quando nossas bichinhas vão se despedir.

Um xero.

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