Capítulo 57
- Mas que namorada bonita, você arranjou, Sarah! - a irmã de Gil comentou tão logo havíamos nos acomodado no sofá após chegarmos ali.
- É, ela é bonita mesmo.
Olhei para Juliette ao meu lado e pude ver certo rubor tomar conta de sua face. Estava ficando mais comum vê-la ficar assim. Eu adorava ver isso. Sem contar, que ela ficava mais linda assim.
- A Sarah aqui tem bom gosto. - opinou Lucas em tom brincalhão, fazendo quase todos rirem, apenas eu não fiz isso.
- É. Pena que o meu bom gosto vai embora em quatro dias.
Foi inevitável conter o tom melancólico e triste ao pronunciar isso. A cada dia que se aproximava mais de sua partida, eu sentia-me mais triste. Ia ser difícil de me separar daquela insuportável.
- Mas por que você vai embora? - foi tia Jacira quem indagou sem entender.
- É que eu moro na Califórnia. Vim à Vegas só passar as férias com minha tia e minhas primas.
- Ai, mãe, eu falei pra senhora isso outro dia. - meu amigo resmungou.
- Sim, Gilberto, eu esqueci disso.
- A senhora anda esquecida demais pro meu gosto, mãe.
- E você está pedindo não é de hoje pra ficar com a boca torta, né querido?
- Ave Maria, mãe! Precisa essa violência toda? Estava só brincando.
Eu e Juliette rimos com discrição.
- Brinque bem, viu?!
- Ai, vocês dois são um caso perdido. - a irmã do Gil resmungou rindo.
- Mas que pena que você vai embora, querida.
"Eu que o diga, tia Jacira!", Pensei comigo mesma.
- E pelo visto a Sarah já tá triste por antecipação com a sua partida. Olha só pra carinha dela.
Tia Jacira não fazia idéia de quão certeiras eram suas palavras. E assim que Juliette me olhou, ficou difícil disfarçar aquilo para ela e os demais ali.
Mas ainda bem que eu tenho um amigo que percebendo que aquele papo parecia pesar para mim e me deixar desconfortável, ele interviu e tentou descontrair o clima.
- Sabia que a Sarah e a namorada dela não se deram nada bem logo que se conheceram, Janielly?
- Verdade? - a irmã de Gil nos encarou surpresa.
- Sim! É que a Juliette vivia implicando comigo. Ainda continua implicando um pouco.
- É que implicar com ela é meu passatempo preferido.
A resposta de Juliette fez a todos nós sorrir e o clima ficou mais descontraído.
A irmã de Gil saiu um instante para ver se a filha Nora continuava dormindo. E momentos depois retornou com a garotinha no colo e desperta. Gil foi quem nos apresentou a pequena após pegá-la do colo da irmã. De imediato, Nora gostou de mim e esticou os braços para mim pedindo-me colo. Meio sem jeito, eu peguei a garotinha e ela se agarrou ao meu pescoço.
- Mas olha, mana... A Nora se agarrou na Sarah. Acho que minha sobrinha gostou de você, amiga.
Gilberto se divertia com a sobrinha agarrada à mim.
- É coisa rara ela gostar de estranhos logo de primeira. - comentou a irmã de Gil.
- Comigo ela não quis conversa.
Ri de Lucas assim que ele contou isso com uma fingida insatisfação.
***
- E aí... acha que esse seu lance com ela têm futuro?
Lucas me indagou apontando discretamente com a cabeça em direção à Juliette que conversava mais adiante com Gil, que carregava sua sobrinha. Minha namorada e meu amigo tinham virado amiguinhos mesmo.
Desviei meus olhos dos dois lá e encarei de novo Lucas com um sorriso. Depois beberiquei um pouco do meu refrigerante e só então respondi a pergunta dele.
- Eu não sei se teremos um futuro com ela morando longe, Lucas, mas... torço muito pra que isso seja possível sim, porque gosto demais dela.
De verdade, eu ia torcer bastante para ter um futuro com a Juliette! Sabia que não ia ser fácil manter um relacionamento à distância, mas eu estava disposta a tentar desde que ela quisesse também.
- Eu já te disse isso antes, mas torno a repetir... essa garota te pegou de jeito, hein Sarah?!
Lucas bateu de leve seu ombro no meu enquanto sorria.
- Ela me pegou, assim como o Gil te pegou, cara.
Nós caímos na risada atraindo a atenção dos outros dois e de tia Jacira e Janielly que vinham da cozinha com os pratos para ajeitar a mesa da sala de estar para o nosso jantar.
- Ei, do quê estão rindo aí?
- Nada demais, Gil. - Lucas respondeu ainda rindo ao meu amigo e indo até ele.
Eu o segui logo atrás, indo em direção à Juliette e me acomodando ao lado dela no sofá.
- Aposto que deve ser alguma piada cabeluda que contaram e não querem compartilhar conosco.
- Duvido muito que seja isso, Juliette, porque o Lucas é péssimo em contar piada e a Sarah, que eu me lembre, nunca foi de contar piadas.
- Qual é, Gil? Eu sei sim contar piadas.
- Pessimamente, Lucas.
- Tão pessimamente que o único que ri delas é só você, amigo.
- Pô, Sarah, valeu, viu?!
A risada foi geral.
Eis que, a campainha toca e só podia ser o Antônio, já que ele era o único que faltava chegar.
Tia Jacira se adiantou em dizer que ela atenderia. Olhei para o Gil e meu amigo revirou os olhos em insatisfação a pressa e empolgação da mãe ao se direcionar a porta.
Segundo meu amigo me confidenciou certa vez, sua mãe ainda era apaixonada por Antônio, que recentemente ficou viúvo.
Como eu já imaginava e Gil também, era Antônio mesmo quem acabava de chegar. Ele cumprimentou a todos e recebeu de Gil um seco e lacônico "oi".
Tia Jacira era a pura alegria com ele ali. Gilberto já era o oposto. E isso não passou despercebido por ninguém.
- Sarah o Gil tem algum problema com esse amigo da mãe dele?
Juliette me murmurou em determinado momento ali.
- Tem. Só que em casa eu te conto.
O jantar foi maravilhoso. Tia Jacira tinha feito uma comida deliciosa. E para a sorte da Juliette, a irmã de Gil era vegetariana também, então minha namorada não teve que ficar só na sala, já que o jantar tinha carne como prato principal.
- Eu não sei como vocês conseguem ficar sem comer carne. Eu nunca conseguiria.
Concordei mentalmente com Gil.
- Eu também achava isso, irmãozinho. Mas depois que você se acostuma fica fácil. Pelo menos foi assim comigo. E com você, Juliette?
- Foi igual. Meus pais à princípio não levaram muito à sério essa minha decisão, mas depois foram percebendo que eu não estava de brincadeira.
Enquanto ouvia Juliette falar disso à mesa, eu lembrei de quando minha mãe me contou sobre nossa hóspede ser vegetariana. O meu pensamento em zoação a isso naquela ocasião, em nada fazia jus com a realidade. Juliete não era nenhuma "Olívia palito" como eu disse em deboche à minha mãe. Sorri dessa lembrança e quando percebi todos a mesa me olhavam. Fiquei vermelha de vergonha e todos caíram na risada de mim. Ainda bem que ninguém quis saber a razão pela qual eu sorria.
***
- Nem conto pra vocês, ontem Lucas e eu encontramos com a Pocah no shopping.
- Sério?
Juliette indagou e olhou para mim.
- Sim!
- E ela ainda está me odiando?
Quis saber dos meus amigos, enquanto nós quatro conversávamos na varanda da casa do Gil.
- Não vou mentir pra você, amiga. Ela ainda tá bem puta da vida com você, não é Lucas?
- Está mesmo. Mas a gente conversou bastante com ela.
- Bota bastante nisso.
- E ela?
- Ficou de pensar em tudo que eu disse.
- Sarah, você precisava ver o Gil falando com ela e defendendo vocês. Parecia um advogado defendendo os clientes.
Nós caímos na risada disso.
- Ora não é à toa que ele pretende fazer direito, não é Gil?
- Sim!
- E algo me diz que você será um excelente advogado, Gil.
- Pois eu não duvido nada disso, Ju. - concordei com minha namorada, pois sabia que Gil tinha tudo para se dar bem.
A conversa ali entre nós quatro ainda girou mais um pouco a respeito de Pocah e instantes depois, a gente entrava na casa.
***
- A neta da Jacira gostou mesmo de você, né filha?
Minha mãe comentou enquanto seguíamos em seu carro para casa.
A sobrinha de Gil abriu o berreiro quando eu disse que já ia. Realmente, ela tinha gostado de mim. Passou vários momentos da noite grudada em mim, me chamando de "tia" e querendo que eu brincasse com ela.
"Devo admitir que estou enciumado disso. Minha sobrinha não foi com a minha cara, mas foi com a cara da minha amiga."
A insatisfação de Lucas ao dizer isso em determinado momento da noite rendeu uma sonora risada em todos. Nora não fazia questão alguma de dar atenção ao namorado do tio dela. A pequena queria era saber de mim e brincar comigo.
- Ela passou a noite grudada na Sarah, tia.
- Verdade?
- Sim! Ela já tem uma sobrinha postiça.
- Nora é uma graça de menina, mãe. E olha que eu não levo o menor jeito com criança.
- Não era o que parecia, quatro olhos. Tia Abadia sua filha dará uma excelente babá pra um futuro irmãozinho ou irmãzinha, caso a senhora e o Phil vierem a ter um filho.
- Ei! Tá louca?! Que história de filho nada. Não cai na onda dessa garota, mãe.
Juliette caiu na risada sendo acompanhada pela minha mãe também.
Onde já se viu, ela dizer isso?! Dá idéia para a minha mãe ter um filho com o Phil. Nem pensar!
- Qual é o problema da sua mãe ter outro filho? Tia, a senhora não gostaria disso?
Pelo retrovisor vi minha mãe nos olhar de relance. Ela que não viesse com essa história de me dar irmão. Estava ótimo sendo filha única.
- Acho que é um pouco tarde pra mim isso, querida.
- Que tarde, nada. Hoje em dia, as mulheres têm tido filhos na sua faixa de idade, sabia?
- Eu sei disso, querida. Mas acho que já tá de bom tamanho só a Sarah de filha.
- Tá bom mesmo.
Concordei no ato. Para quê uma criança a essa altura? Não. Nem pensar!
- Você não quer que a sua mãe tenha outro filho pra não perder seu posto de filha única, não é, quatro olhos? Já entendi!
- Deu desse assunto, Juliette.
- Tia Abadia devia arrumar um irmão pra essa sua filha ciumenta.
Parece que quanto mais eu digo para ela parar um assunto, mas a Juliette insiste nele só para me irritar. É impressionante.
- Você não vai parar com esse assunto?
- Já parei, sua chata.
Ela me mostrou a língua feito uma menina birrenta.
- Antônio esteve no jantar, mãe.
Resolvi puxar outro assunto para Juliette não ter mais chance de seguir insistindo no mesmo.
- E o Gil com isso?
- Ele não pareceu nada confortável com a presença dele e o Antônio notou. Tanto que ele nem demorou. Ficou para o jantar e pouco depois foi embora.
- Eu já conversei tanto com a Jacira e a aconselhei a não forçar a aproximação do filho com Antônio. Isso só fará o Gil rejeitar mais ainda a presença desse homem. Mas ela parece não me escutar.
- Por que o Gil rejeita esse Antônio?
De maneira resumida contei à Juliette a história de Gil e Antônio.
- Nossa, acho que no lugar dele estaria tendo o mesmo comportamento ou pior até. Saber que o homem que você cresceu achando que era uma amigo da família, na verdade, é seu pai, e que não te assumiu é complicado de aceitar. Eu levaria muito tempo pra aceitar.
- Mas aceitaria?
- Sim. Apesar dos pesares, ele é meu pai e a gente não tem que ficar brigado com pai ou mãe.
- Você é surpreendente.
Quando acho que ela não pode mais me surpreender, ela me prova o contrário. Eu não esperava que ela fosse me responder isso.
***
- Meninas vou subir. Boa noite.
- Boa noite! - Juliette e eu dissemos juntamente.
Assim que minha mãe sumiu, eu segurei na mão de Juliette e puxei minha namorada em direção ao sofá.
- Você ainda não vai subir, vai?
- Depende!
- Depende de quê? - quis saber sentando no sofá e trazendo Juliette para se acomodar em meu colo.
- De você!
- Bom, eu não quero que suba ainda. Quero que fiquei aqui comigo mais um pouco. - confessei, escondendo o rosto em seu pescoço para sentir seu perfume que eu já adorava sentir.
- Se é assim... Então vou te fazer esse favor e ficar mais um pouco com você, quatro olhos.
- Ah, obrigada pelo favor, viu?!
Eu lhe disse com um sorriso após afastar meu rosto de seu pescoço para encarar minha namorada.
- Aquilo que a mãe do Gil disse sobre você tá triste por antecipação pela minha partida, isso é verdade?
- Claro que é. Você acha que eu tô feliz com o fato de você ir embora daqui? Não, né Ju?! A cada dia que se aproxima de você voltar pra sua cidade, eu fico mais triste. Não queria que você fosse embora.
- Mas eu não posso ficar! Aqui não é o meu lugar.
- Bem que podia ser!
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