Capítulo 55

- Como você tá se sentindo?

Eu tomei a iniciativa de romper o longo silêncio que se estabeleceu entre a gente após a fala de Juliette.

- Sinceramente?

Assentí para ela que me fitava com uma ternura nos olhos, que me fez suspirar encantada e apaixonada.

- Muito bem. - ela me afirmou com um sorriso e depois, me abraçou, encostando seu rosto em meu peito. Estávamos deitadas uma de frente para a outra e de lado na cama. - Tão bem como nunca tinha me sentido antes, quatro olhos. E você?

Eu me sentia como se ainda estivesse flutuando no ar de tanta felicidade pelo momento que compartilhamos e pelo sentimento que me dei conta que já nutria por ela.

- Melhor impossível. - admití beijando seus cabelos cheirosos.

- Seu coração ainda tá batendo bem rápido.

- Tá, é?

- Uhum. Dá pra eu ouvir as batidas ainda aceleradas.

Se eu fosse corajosa o suficiente lhe diria que naquelas batidas, o meu coração estava gritando que a amava. Mas eu não sei porquê, naquele momento não tinha coragem de admitir àquele sentimento que estava em mim e que só agora, eu havia me dado conta. Não era mais um gostar ou uma paixão o que eu sentia por ela, era amor. Grande, puro e verdadeiro.

- Sarará...

- Oi...

- Foi como você, sei lá... Pensou alguma vez, que seria a sua primeira vez?

Eu me virei na cama ficando com as costas no colchão e trazendo Juliette para se acomodar melhor com a cabeça apoiada em meu ombro. Depois, só então, eu respondi sua pergunta.

- Foi mil vezes melhor do quê eu pensei. Foi perfeito, Ju!

Ela levantou a cabeça e eu lhe sorri, recebendo um sorriso seu em retribuição, além de ganhar um beijo rápido.

- Posso te fazer uma pergunta? - ajeitei uma mecha de seu cabelo que cobria uma parte de seu rosto.

- Já sei. Você quer saber se foi como eu pensei também?

- Não, mas... foi como você pensou?

- Foi melhor.

Aquilo me deixou satisfeita.

- Bom saber.

- Então, se não era essa sua pergunta, qual era então?

- Quero saber por que acha que não merece uma garota como eu?

Eu tinha ficado intrigada com aquelas suas palavras e aproveitei àquela primeira oportunidade que tive, para abordá-la à esse respeito.

- Ah, é isso?! - ela revirou os olhos e torceu a boca em uma careta.

- Sim. Pode me explicar? - pedi, deslizando o dedo indicador pela extensão toda de sua clavícula.

Vi minha namorada baixar os olhos e deixar escapar um suspiro. Em seguida, com a ponta dos dedos, ela começou a traçar círculos pela região acima dos meus seios. E só então, que por fim, ela me respondeu:

- Porque você é assim... certinha, gentil, carinhosa e muitas outras coisas boas à mais. Enquanto que eu não sou nada disso. Eu não sei ser gentil, carinhosa, amável... melosa! Essa é a palavra: melosa. Eu tenho esse jeito... hum...

- Difícil, genioso, debochado, implicante, irritante...

- Já chega de tantos elogios. - ela me calou, tapando minha boca com a mão que outrora estava brincando em meu colo. - Tô ficando até lisonjeada já com as suas palavras.

Eu ri sob a mão que ela mantinha à minha boca. A ironia dela ao falar-me aquilo foi engraçada. E eu também só tinha dito aquelas coisas somente para provocá-la, mesmo sabendo que havia um pingo de meia verdade contida naquelas palavras mesmo.

- Somos pólos opostos e por isso acho que, sei lá, você mereça uma garota mais... "Mulherzinha", que eu. Se é que você me entende.

Com delicadeza eu tirei sua mão da minha boca e beijei o dorso dela com carinho. Eu não precisava de uma garota mais "mulherzinha" como ela acabou de dizer, eu precisava de alguém como ela. Exatamente como ela! Sem tirar, nem pôr. Sem mais, nem menos. E com todos os defeitos que ela tinha e que não eram poucos. Mas que me fizeram render-me à ela sem que eu sequer imaginasse logo que ela chegou em minha casa.

- Você já deve ter estudado ou mesmo escutado sobre as lei de Newton, não já?

- Sim!

- Então, certamente, conhece àquela que diz que: "os opostos se atraem"? - dessa vez ela apenas assentiu em resposta. E eu prossegui com meu raciocínio: - Então... Essa lei é que se aplica com perfeição à nós duas. Pelo menos, eu vejo assim. Nós somos realmente, pólos opostos isso é mais que evidente, Juliette.

- Isso não tem nem como negar.

Rimos juntas.

- Pois é. E somos opostos que se atraem como diz na lei de Newton. E eu acredito, que mesmo tão diferentes, nós também nos completamos de uma forma incrível.

Ela abriu um sorriso lindo depois que finalizei com essas palavras.

- Você é muito nerd mesmo! Fazer uma referência da lei de Newton à nós duas é coisa de nerd.

Foi a minha vez de rir.

- Eu acabei de te fazer uma declaração de amor e são essas palavras que me diz em retribuição? - brinquei com ela enquanto invertia nossas posições e ficava sobre Juliette na cama.

- Pra você vê. - ela ria com certeza da minha cara de falso descontentamento e do que eu havia dito, enquanto deslizava as mãos pelos meus cabelos bagunçados, para ainda sorrindo, prosseguir dizendo: - Certamente, se fosse outra garota, se derramaria em te dizer coisas bonitas e românticas. E como eu não sou essa, não sou perfeita assim, então...

- Não quero que seja perfeita. - interrompi seu discurso. - Gosto de você assim como é. Implicante, que não sabe me dizer coisas românticas e sem ser "mulherzinha" demais.

Para mim o fato dela não ser perfeita já era mais que perfeito. Pois acredito que se fosse, talvez, o contrário, a gente não teria se interessado uma pela outra. Provavelmente, seríamos duas amigas e só. Ou se duvidar, nem isso.

- Gosta mesmo?

- Sim... Muito, Juliette. - Respondi antes de descer meus lábios sobre os dela em um beijo que logo nos "acendeu" o desejo de por mais uma vez nos entregarmos uma a outra. Só que dessa vez foi mais carnal, intenso e urgente do que na primeira vez. Porém, igualmente, maravilhoso e especial.

Eu não sei o que será de mim depois que ela partir, melhor também nem pensar nisso agora enquanto fazíamos amor. Não era o momento disso. Mas sem sombra de dúvidas, eu nunca mais serei a mesma depois dela ter passado pela minha vida.

De maneira arrebatadora nós chegamos outra vez ao nosso segundo orgasmo ali.

Completamente, extasiada e anestesiada com aquela segunda vez nossa, eu a abracei apertado em meus braços e lhe dei um longo beijo para selar nosso momento. Ao final disso, Juliette me murmurou que estava "morta" e que precisava cochilar um pouco que fosse. A verdade é que eu também precisava fazer o mesmo. Nossa segunda e intensa "atividade" ali na cama, me deixou cansada. Então resolvemos dar um cochilo as duas, mas antes eu me preocupei em programar meu celular para nos despertar às seis e meia, pois às sete e meia minha mãe chegava. E não seria nada legal se a gente dormisse demais e ela nos pegasse ali.

Pouco depois de ter feito isso, Juliette e eu já tínhamos caído no sono abraçadas na cama e somente com meu lençol jogado sobre nós, cobrindo nossos corpos nus.

***

Acordei assustada com o toque do alarme do celular que deixei programado. Ainda sonolenta estiquei o braço livre e tatiei o móvel ao lado da cama em busca do aparelho. Ao encontrá-lo, eu o apanhei e desliguei o alarme. Depois de devolver aquilo ao criado-mudo, olhei para Juliette que sequer havia se mexido pela zoada do telefone. Ela seguia dormindo serenamente.

Pelo visto, alguém aqui tem o sono BEM pesado.

Senti dó por acordá-la, pois ela estava tão linda dormindo agarrada à mim e com a cabeça repousando em meu braço que passava por baixo do seu pescoço. Só que eu precisava despertá-la. Em uma hora minha mãe chegaria do trabalho e não seria nada legal se ela nos pegasse naquela situação comprometedora.

- Ju... - chamei com cuidado e carinho, tocando suavemente seu rosto e ajeitando uma mexa de seu cabelo castanho que escondia uma parte de seu rosto. -... Acorda, Ju.

Ela apenas se remexeu ao mesmo tempo que resmungou um "Hum" e me abraçou mais apertado, jogando uma das pernas sobre mim e fazendo-me sorrir disso.

Tentei um novo chamado seguido de alguns beijos que plantei em sua testa. Isso aos poucos foi fazendo-a despertar.

- Acorda, minha dorminhoca insuportável. - brinquei com ela. Vi então, seus lindos olhos se abrirem devagar para mim no instante seguinte.

- Sarah... Que horas são? - ela me indagou, passando uma das mãos por seus olhos ainda sonolentos.

- Passa alguns minutos das seis e meia. - contei, deslizando a mão por seus cabelos com um perfume inebriante. - Temos que levantar. Em menos de uma hora a minha mãe chega do trabalho.

- Tô com preguiça de levantar.

Eu sorri dela.

- Somos duas então.

Foi a vez dela de também sorrir.

- Queria poder não me levantar agora, quatro olhos.

- Eu também não... - beijei sua testa mais uma vez e senti uma de suas mãos tocar meu rosto. - Mas... A gente não quer que a minha mãe nos encontre assim nessa cama, quer?

- Definitivamente, não!

- Então... Acho melhor levantarmos com preguiça mesmo.

- Ok! Mas acho que preciso de um banho pra despertar completamente.

- Se quiser tomar no meu banheiro, fica à vontade. Eu vou arrumando aqui e quando você sair, eu entro pra tomar o meu banho.

Sugeri à ela achando que se propusesse de nós duas tomarmos banho juntas, como era do meu agrado, ela não aceitaria. No entanto, fui surpreendida com ela sugerindo, exatamente que a gente tomasse banho juntas e quando saíssemos do banheiro arrumaríamos o quarto.

Sem pensar duas vezes, eu aceitei sua proposta. E então a gente seguiu para o banheiro. Foi o melhor banho que eu já tomei na vida. E poderia ter sido ainda melhor do que foi caso a gente tivesse mais tempo. Mas como, infelizmente, não tínhamos, então não passamos de alguns beijos trocados sob os jatos de água morna que caía do chuveiro, enquanto compartilhávamos aquele rápido banho.

Terminamos o banho e tratamos de nos enxugarmos e posteriormente, vestimos as nossas roupas.

- Você vai contar pra sua mãe sobre a gente ter... Feito isso?

Ouvi Juliette me indagar, quando terminávamos de vestir nossas roupas.

- Acha que devo?

- Com certeza. Mas faz isso quando eu já tiver ido embora, porque vou ficar sem graça com ela.

- Eu que sou a tímida e você que vai ficar com vergonha? - brinquei, vestindo minha blusa. - Ai, Juliette! - reclamei do pequeno tapa que ela deu no meu braço.

- Pra deixar de gracinha.

Eu acabei foi rindo dela e sua aparente zanga. Depois lhe abracei e dei um beijo estalado em seu rosto.

- Ok! Vou seguir sua sugestão e só contar pra ela depois que você já tiver ido embora então. Tá bom?

- Tá ótimo. Agora vamos cuidar de arrumar aqui e descer pra comer algo. Tô com fome, quatro olhos. - ela me choramingou, fazendo-me sorrir daquilo.

- Tá! Eu preparo algo pra gente comer. Também estou com fome.

A gente terminou de se vestir. Arrumamos o quarto e depois de tudo organizado, saímos do cômodo.

Descemos as escadas abraçadas e sorrindo de uma besteira qualquer que a Juliette havia dito. Quando nossos olhares foram para frente ao descer o último degrau da escada, os sorrisos que tínhamos nos lábios sumiram imediatamente, e a gente estancou poucos passos depois de se afastar das escadas.

O motivo disso?

Minha mãe sentada no sofá e nos encarando com uma cara nada boa.

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