Capítulo 45
Nesse capítulo enfim vocês e a Sarah saberão a história por trás da morte do Washington. Juliette vai contar como e de quê o irmão morreu.
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Enquanto estávamos as três acomodadas à mesa jantando um delicioso risoto que pedimos por delivery, Juliette contou à minha mãe sobre como foi a festa de ontem. E como não podia deixar de ser, nossa hóspede fez questão de contar sobre eu ter dançado bastante na festa. Minha mãe mostrou-se surpresa com isso, pois ela sabia bem que eu morria de vergonha e dançar não era algo que eu fazia, mas entendeu que aquilo só aconteceu por eu estar bêbada. Depois de Juliette ter dado o "relatório" completo à minha mãe de ontem, eu contei sobre o convite que Gilberto fez a mim e Juliette. Mamãe disse que eu não merecia ir por conta de ter contrariada seu pedido de não beber na festa, mas como tinha Juliette e ela queria muito ir ao espetáculo, então eu iria para acompanhá-la, mas também era só por isso que eu ia.
Terminamos de jantar e ajeitamos a cozinha. Minha mãe disse que estava cansada e subiu para dormir, mas antes nos desejou boa noite e só então seguiu em direção às escadas. Logo ficamos apenas Juliette e eu na sala.
- Ela ficou bem bolada com a história de eu ter bebido. Foi a primeira vez que aconteceu isso comigo. Acho que é mais por isso que ela está assim.
- Isso vai passar. Amanhã, ela já nem vai mais lembrar disso.
- Só se ela sofrer de amnésia durante a madrugada, algo que não vai acontecer.
- Ai, relaxa! Se quer saber? Minha mãe também ficou assim mesmo quando meu irmão tomou o primeiro porre dele, chegando bêbaço em casa. E olha que o Washington já era maior de idade.
Resolvi aproveitar que ela própria tocou no nome do irmão dela, para tentar saber mais da história por trás da morte dele.
- Juliette, eu sei que você disse que não gosta de tocar nesse assunto, mas... como o seu irmão morreu?
Eu a vi ficar tensa e seu olhar perdeu o brilho como em um passe de mágica. Me arrependi imediatamente de ter feito aquela pergunta. Não imaginei que ela fosse mudar tão drasticamente desse modo diante do meu questionamento. Quando já ia pedir desculpas por isso e dizer que ela não precisava mais responder nada, Juliette se pronunciou já de cabeça baixa.
- Ele morreu em decorrência de uma overdose de drogas. Eu o vi morrer disso na minha frente, nos meus braços, na verdade.
Por essa eu não esperava!
Se eu já me arrependi só de ver como Juliette ficou com a minha pergunta, agora que ela disse isso, eu fiquei mais arrependida ainda de ter lhe feito tal questionamento.
Eu queria dizer algo à ela pelo que acabei de saber, mas da minha boca não saía qualquer palavra que formasse uma frase sequer.
Juliette me olhou e eu pude ver nos seus olhos a dor e o pavor estampados neles. Como eu não conseguia falar, fiz a única coisa que me ocorreu fazer naquele momento. Eu a puxei para os meus braços e a abracei. Ficamos assim por não sei quanto tempo. Só sei que quando me afastei dela e desfiz nosso abraço, Juliette começou a me contar toda a história. Ela disse que um dia, há pouco mais de um ano, ela chegou da escola e seus pais não estavam em casa, pois tinham ido ao centro abastecer a dispensa da pousada. Então após deixar sua mochila em seu quarto, Juliette foi ao quarto do irmão para lhe contar que tinha conseguido tirar uma boa nota no trabalho de matemática que ele tinha lhe ajudado a fazer. Segundo ela, seu irmão era muito bom em matemática. E por conta disso, ele sempre lhe ajudava nessa matéria. E quando, ela chegou a porta do quarto... encontrou Washington caído no chão, se debatendo em convulsão.
- Por mais que eu tente, nunca esqueço o que vi naquele dia, Sarah. Às vezes ainda tenho pesadelos com isso.
Quem não teria? Deve ter sido apavorante, terrível!
- Na hora eu fiquei desesperada. Corri até ele que se debatia e comecei a gritar na esperança que algum hóspede ouvisse e viesse ao meu auxílio. Mas eu sabia que ninguém viria, porque aquele horário geralmente, o povo está na praia. De repente, o Washington parou de se mexer e eu me desesperei mais ainda. Temi pelo pior, sabe? - assenti lentamente. - Foi então que o Arthur, que trabalha como atendente apareceu após ter ouvido meu grito de socorro e eu pedi que ele ligasse para a emergência. Ele assim o fez tão desesperado quanto eu por ver o estado do Washington. A moça que atendeu a chamada disse que uma ambulância viria o mais rápido possível atender ao meu irmão. Realmente, eles vieram. Só que já era tarde. Washington já tinha morrido no instante em que havia parado de se mexer em meus braços.
No segundo seguinte em que terminou de contar essa horrível tragédia, Juliette começou a chorar e eu fiquei em choque com toda aquela história. Jamais ia imaginar que o irmão dela tivesse morrido dessa forma horrenda.
Mais uma vez eu a abracei. Ela parecia tão frágil naquele momento. Não era nem sombra daquela garota que eu estava acostumada a ver. Alegre. De humor ácido. Provocativa. Era outra Juliette. Uma quebrada, que carregava um trauma pesado demais para uma pessoa carregar.
Nos separamos um instante depois, porque ela tomou a iniciativa disso.
- Eu sinto muito pelo seu irmão, Juliette. - disse enquanto enxugava as lágrimas do rosto dela.
Era a primeira vez que eu lhe via chorando e não gostei dessa experiência nem um pouco. Lágrimas não combinavam com ela. Para mim, Juliette ficava muito melhor com um sorriso nos lábios. Mesmo que este seja na maior parte do tempo, um sorriso irônico, debochado, ou em outras poucas vezes um sorriso sincero e espontâneo. Esse último por sinal, passou a ser o meu preferido nela.
- Por causa do que houve, eu tive que fazer acompanhamento médico, sabe? Fiquei traumatizada. Por meses, eu cheguei a tomar remédios. Não conseguia dormir sem ter pesadelos com aquele dia. Hoje ainda tenho, mas são raras vezes. Antes era quase toda noite. Mas com o tratamento médico com um psicólogo, psiquiatra, os remédios e o apoio dos meus pais, eu fui conseguindo superar o trauma. E de alguns meses pra cá, eu melhorei muito. Tanto que meu médico suspendeu a medicação e minhas consultas com o psicólogo passaram a ser mensais, não mais semanais.
- Você ainda vai aos dois médicos?
- Sim, apesar de não gostar tanto do psiquiatra. Eu prefiro mais o psicológico, doutor Maurice. E segundo ele logo não terei mais que ir "conversar" com ele.
- Conversar?
- Sim. É assim que eu chamo as minhas consultas com ele. Torna a coisa menos macabra do que ela é.
- Hum...
- E quando eu senti vontade de vir passar um tempo aqui com minhas primas e a tia, tanto meus pais quanto Maurice e o psiquiatra acharam uma boa, já que eu precisava respirar novos ares. Ver gente nova. Então deixaram na hora eu vir. Até porque eu não saía de casa há tempos. E devo confessar que vir pra cá tá sendo muito melhor do que eu pensava que seria. Te conhecer foi muito bom, quatro olhos. E, agora, a gente juntas, tá sendo melhor ainda.
Eu sorri compartilhando dessa mesma opinião dela.
- Que bom! Eu também acho a mesma coisa. - pisquei para ela e segurei em sua mão novamente. Juliette sorriu. Assim ela ficava mais bonita. - Posso te fazer uma pergunta?
- Faz!
- Você e seus pais sabiam que o seu irmão usava...
- Meus pais sabiam, sim, que ele usava essas porcarias. Já eu apenas desconfiava disso. Washington começou a ficar estranho com nossos pais. Comigo não. Ele continuava o mesmo irmão carinhoso e atencioso. Mas eu via o quão estranho ele ficou com os nossos pais. Ele passou a agir diferente, ser rebelde, respondão, coisa que ele nunca foi. E esse comportamento dele começou pouco depois que ele entrou pra uma fraternidade logo após entrar na faculdade. Os caras dessa fraternidade eram caras estranhos sabe? E Washington passou a circular direto com esse pessoal. Foi começando a chegar cada noite mais tarde em casa. Passou a frequentar festas barra-pesadas e a beber frequentemente. Andar com essas más companhias foi a perdição do meu irmão, Sarah.
Aquela história que ela contou me fez lembrar de uma amiga minha a Roberta. Só que a da minha amiga teve um final melhor que a do irmão de Juliette.
- Há dois anos, uma colega de classe minha também se meteu com gente assim que a levou à essas coisas. - contei. - Ela inclusive, veio me oferecer drogas dizendo que aquilo deixava a pessoa "legal". Mas eu recusei a "oferta" dela. E ainda disse pra minha amiga cair fora dessa, pois isso era um caminho perigoso, mas pensa que ela me ouviu na época? Que nada! Só que algumas semanas depois a ficha dela caiu, quando ela viu um dos caras que era "amigo" dela morrer por conta dessas coisas. Aí, ela pulou fora dessa logo, enquanto dava. E, segundo ela tá limpa desde então.
- Quem dera o Washington tivesse caído na real como a sua amiga e largado essas coisas. Provavelmente, meu irmão estaria aqui comigo. Eu sinto tanta falta dele, Sarah. Ele era um cara super do bem, legal. Eu e ele éramos muito unidos mesmo. Meu irmão era o melhor irmão do mundo. Eu o amava demais.
Eu devo confessar que senti um pouco de inveja de ouví-la falar assim da relação dela com o irmão. Adoraria ter tido um irmão, alguém com quem brincar, dividir coisas e segredos, implicar. Ser filha única era bom. Mas acho que ter um irmão devia ser melhor. Pena que eu não tive essa experiência.
- O que foi? Você ficou calada depois do que eu disse do meu irmão.
- Ás vezes gostaria de ter tido um irmão, sabia? Parece ser tão bom ter um.
- Bom... você ainda pode ter. Quem sabe, sua mãe e o Phil não providenciam um.
- Juliette, eu tô falando sério.
- Eu também, tá? Sua mãe tem que idade?
- Fez 42 há quatro meses.
- Ainda dá pra ela ter um baby. Tem mulheres que tem filhos com essa idade.
- Não! Ela que não apronte uma dessas pra mim.
- Ué?! Mas não foi você que disse agorinha que gostaria de ter um irmão? Então!
- Ter tido. Ou seja, gostaria disso quando eu era pequena. Não agora!
Deus me livre! Eu com um irmão pequeno a essa altura da minha vida. Não! Nem pensar.
- Eu acho que você seria uma irmã tipo babona, que ia fazer todas as vontades do seu irmão ou irmã.
- E eu acho que você já tá melhor, né? Tá até me zoando já.
Ela sorriu e eu gostei disso.
- Essa sou eu!
- E eu gosto que seja assim. Até prefiro.
- Sério? Tenho pra mim que antes, você detestava.
- Não exatamente. Eu apenas não gostava. Mas aprendi a gostar. - confessei, aproximando meu rosto do dela e em seguida, quando estávamos próximas o suficiente, a beijei.
- Obrigada!
Eu sabia que aquele seu agradecimento era por eu tê-la ouvido e lhe confortado durante ela ter me revelado todas aquelas coisas.
- De nada. - pisquei para ela.
- Eu vou subir e dormir.
- Também vou.
Desliguei a TV e a gente subiu. Como meu quarto ficava antes do dela, então a gente se despediu ali na frente da porta do meu quarto.
- Boa noite. Qualquer coisa, eu tô aqui.
- Valeu, quatro olhos. Boa noite.
Ela me abraçou e beijou. Depois seguiu para o quarto dela.
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