Capítulo 38
- Alô!
- Alô, Sarah! Sou eu, Phillip.
Fiz uma careta.
- Ah, oi, Phil!
Eu devia imaginar que ele ligaria a qualquer momento.
- Liguei para o celular da sua mãe, mas só deu na caixa postal por isso resolvi ligar para o telefone da casa. Gostaria de saber como está a Abadia.
- Ela está bem!
- Hum... e eu poderia falar com ela?
Fiz outra careta.
- Um momento que eu vou chamá-la. - resmunguei com insatisfação.
Deixei o telefone sobre a mesinha ao lado do sofá e fui até a cozinha avisar a minha mãe da ligação.
- Quem era ao telefone, filha?
- Phil. Ele quer falar com a senhora.
Ela levantou de sua cadeira e saiu da cozinha quase as carreiras para ir falar com ele.
- Nossa! Quanta pressa pra ir atender a ligação desse homem. - comentei, voltando a me acomodar em minha cadeira para terminar o meu jantar.
- E você já está com ciúmes da sua mãe.
- Que ciúmes o quê. Não viaja, Juliette.
- É o quê então, quatro olhos?
- Não é nada, ora.
- Por que não admite que é uma filha ciumenta?
- Porque eu não sou!
- Você mente pessimamente
- Não estou mentindo.
- Pois eu tenho quase certeza de que está.
- Dá pra parar?! - pedi já perdendo a paciência com ela.
- O que o Phil queria? - ela indagou.
- Saber como a minha mãe estava e depois pediu pra falar com ela. - contei antes de beber meu suco.
- Você bem que podia chamar o Phil pra almoçar com a gente amanhã aqui na sua casa.
Eu imediatamente parei de beber meu suco e encarei Juliette.
- Chamá-lo aqui? Pra quê? - fechei a cara.
- Pra ele além de almoçar com a gente, fazer uma visita pra sua mãe, ora. Aposto que ele está louco pra visitar a tia, mas não faz por sua causa.
- Minha causa?
- Ele não quer se indispor com você. Phil sabe que não quer que ele venha aqui.
- Como ele sabe disso? Quem te disse uma coisa dessas?
- Quem você acha? Sua mãe, né?!
- Ela falou pra ele que não o quero aqui?
- Nem foi preciso. Ela disse que ele mesmo percebeu isso.
- Hum...
- Bem que você podia fazer esse agrado a sua mãe e convidar o Phil pra almoçar aqui. Ela ia gostar tanto disso e ele também.
- É mesmo, é?! Mas infelizmente isso não vai rolar.
Eu não ia ligar para o Phil chamando-o para vir aqui em casa. Tudo bem que eu estava em dívida com ele e que havia resolvido ser menos intransigente com o mesmo, mas era complicado para mim isso.
- Por que não? Além do mais, seria uma ótima forma de você agradecer à ele pelos ingressos que ele nos deu.
Ela não precisava me lembrar daquilo, pois eu sabia bem que tinha uma dívida com o Phil.
- Juliette, eu não vou fazer isso.
- Por favor!
Ela fez uma cara pidona que quase me convenceu, mas não!
- Na boa, não insiste nisso. Eu não quero. Tenta me entender, ok?
Ela bufou de raiva, mas não disse nada. Melhor assim!
Minha mãe voltou da sala e se acomodou à mesa com a gente. Ela contou que Phillip lhe disse que o outro bandido que faltava ser pego, havia sido morto em um confronto com a polícia. Agradeci mentalmente ao fato dela estar tão distraída contando aquilo, que sequer tinha percebido o clima diferente entre Juliette e eu.
- Só é uma pena que as peças roubadas não foram recuperadas até agora. - lamentou a minha mãe.
Terminamos de jantar e eu disse a minha mãe que ela podia ir para a sala assistir TV que Juliette e eu arrumaríamos a cozinha. Eu precisava ficar sozinha com a Juliette para saber dela se havia se chateado comigo pela conversa a respeito do Phil. Algo me dizia que ela havia, sim, se chateado, pois desde então ela pouco falou comigo.
Para minha sorte a minha mãe aceitou sem objeção aquilo e seguiu sem demora para a sala, desse modo, só ficamos Juliette e eu na cozinha.
- Está chateada comigo pelo lance do Phil?
- Eu não vou mentir dizendo que não, quando a resposta é sim. Eu acho que está sendo muito criança com esse ciúme todo da sua mãe.
- Céus! Eu já disse que não é ciúmes. - teimei em negar. Mas na verdade, eu sabia que era exatamente isso. Ela estava certa naquilo.
- E eu já disse que você mente pessimamente.
- Juliette me escuta... é difícil pra mim isso. Por mais que eu tente me esforçar pra aceitar, ainda assim, tem certas coisas que não dá. Eu tenho que ir no meu tempo.
- Ou seja, um tempo de tartaruga, é isso? - alfinetou.
Parei ao seu lado na pia onde ela lavava a louça do jantar.
- Olha, eu não quero discutir com você e muito menos, ficar nesse clima chato. Por isso, vamos encerrar a conversa, hum? Eu já disse que não vou ligar para o Phil e você tem que aceitar a minha decisão, e principalmente, a minha opinião. Valeu?
Eu propus aquilo na maior paciência e tranquilidade, pois como havia lhe dito, eu não queria discutir com ela.
Achei que ela fosse rebater as minhas palavras, mas para a minha total surpresa ela não o fez. Juliette aceitou o que eu lhe disse sem falar nada mais em resposta. Eu não sabia se aquilo era bom ou péssimo, pois pelo que eu já a conhecia daquela garota, ela não era de aceitar tão passivamente algo e não debater mais um tanto sobre uma determinada questão. Aquela sua passividade me parecia estranha demais para o meu gosto. Entretanto, não quis comentar a esse respeito.
Nós terminamos de arrumar e limpar a cozinha, e fomos para a sala fazer companhia à mamãe por um bom tempo até a mesma resolver subir para dormir, mas não sem antes nos dizer para não ficarmos até tarde ali na sala.
Tão logo minha mãe sumiu, eu tomei a liberdade de ir me acomodar mais próxima de Juliette no sofá.
- Eu acho que já vou dormir também! - ela anunciou de súbito e já ficando de pé.
Como assim ela já ia dormir?
Agora que a gente poderia aproveitar para "ficar", trocar alguns beijos já que estávamos a sós, sem a minha mãe a nos espreitar, Juliette iria dormir?
- Você está brincando, não é?
- Não. De repente bateu um sono. - Juliette bocejou e eu não consegui acreditar muito nesse seu sono repentino. - Boa noite, quatro olhos.
Que boa noite quê nada! Ela não vai assim.
- Espera aí. - segurei em seu braço antes que ela ousasse dar o primeiro passo para se afastar de mim.
- O que foi? - ela me encarou.
- Vai assim só com esse "boa noite" e nada mais?
- E o que mais além do "boa noite", você quer de mim?
Ela só podia está de zoação comigo como sempre.
- Um beijo pelo menos.
- Ah, isso?!... Sabe o que é, quatro olhos... não vai rolar beijo até você deixar de ser criança e chamar o Phil pra almoçar aqui.
- Como é que é?
Não é possível que ela esteja me chantageando assim.
- É isso aí que você ouviu. Quer beijo? Então chama o Phil pra visitar sua mãe. Do contrário, não tem beijo nenhum.
- Você tá de sacanagem comigo, não é?
- Pior que não.
Está aí a aparente passividade dela em ter aceitado minha decisão. Ela fingiu que aceitou e não satisfeita, ela agora estava me chantageando na cara dura para me fazer ceder naquilo.
- Juliette isso não é justo. Pensei que tivesse entendido meu ponto de vista.
- Entender é uma coisa, aceitar é outra bem diferente. Agora, boa noite.
Vi Juliette aproximar seu rosto do meu e por um momento, eu achei que ela fosse me beijar, mas não foi isso que aconteceu.
- Bons sonhos pra você, quatro olhos. - ela me murmurou com um sorriso irônico e se afastou de mim. Só podia está querendo me enlouquecer.
- Você é a garota mais má e irritante que eu já conheci. - resmunguei a ela que se afastava de mim sorrindo e fazendo pouco caso do que eu lhe disse.
Depois que ela sumiu, eu desabei no sofá em descontentamento. Juliette não tinha o direito de me fazer aquela chantagem baixa e me pôr contra a parede daquele jeito.
- Isso não é justo!
***
Não é que ela estava levando aquela história toda a sério?! Eu juro que achei que fosse só algo que Juliette me disse ontem só para me impressionar, ou pior, pressionar mesmo, mas não. Juliette tinha falado muito sério. Já era a tarde do dia seguinte e nada dela me dar um beijo sequer durante o dia todo.
É verdade que eu tentei algumas vezes roubar um beijo dela nas oportunidades em que ficamos sozinhas, mas ela não deixava. Estava fazendo jogo duro comigo. Dizia que só me daria um beijo se eu ligasse para o Phillip vir visitar a minha mãe.
- Juliette isso que está fazendo não é legal, sabia?
Eu já estava perdendo a paciência com aquilo.
- E o que você está fazendo com a sua mãe e o Phil, é legal por acaso?
- Eu não estou fazendo nada pra eles.
- Está sim! Você está boicotando-os. Não deixando que eles se vejam aqui.
- E você está me boicotando ao não me deixar te beijar.
- Então pára de boicotá-los, que eu paro de te boicotar também. Assunto resolvido!
Definitivamente, eu não ia ceder aquele capricho dela. Eu podia estar doida como fosse para beijá-la, mas não ia ceder aquela chantagem barata da Juliette.
NÃO LIGAREI PARA O PHILLIP!
- Quer saber? Se você quer continuar com essa palhaçada de chantagem, então vamos ver até onde consegue ir, porque eu não vou ligar para ele coisa alguma.
Saí da cozinha deixando Juliette sozinha lá. Subi as escadas bufando de raiva e fui direto para o meu quarto. Me joguei na cama e suspirei enquanto encarava o teto. Coisa mais chata essa da Juliette tentar me induzir a fazer o que não quero por meio daquela ridícula chantagem.
Será que ela não entendia que eu não queria a presença do Phil ali?
E que me obrigar era pior?
Darei um tempo para ela rever aquilo, porque ela tinha que se tocar que não era nada bonito o que estava fazendo.
Enquanto isso, resolvi que ficaria ali no quarto ouvindo música no meu celular. E sei que a qualquer momento Juliette irá vir me procurar.
- Droga! Esqueci o celular na cozinha.
Levantei e rumei de volta para onde havia deixado o celular.
- Sua filha é uma cabeça dura, isso sim, tia Abadia!
Ao me aproximar da porta da cozinha, eu ouvi essas palavras bem aborrecidas vindas de Juliette. Parei, escondida ali próxima a porta e só fiquei espreitando o que viria a seguir naquele papo delas.
- Isso ela também herdou do pai.
Torci a boca com aquela confissão da minha mãe.
- Mesmo eu tendo dito que não a beijaria mais enquanto ela não chamasse o Phil aqui pra lhe ver, ainda assim, ela não cedeu.
Olha só, as duas estão mancomunadas nisso?!
- Eu acho melhor desistir disso, Ju. Ela não vai ceder. Conheço minha filha. Quando ela sentencia uma coisa é aquilo. Ela não volta atrás!
- Eu acho que a senhora devia chamar o Phil e se a sua filha ficar de cara amarrada deixa. Sabe por quê? Porque ela vai ter dois trabalhos, ficar assim e desficar.
Que ótima garota eu fui arranjar para mim! Ela é um poço de sensibilidade para não dizer o contrário.
- Não é assim, querida. Sei que eu tenho todo o direito de chamar o Phil aqui sem precisar do "aval" da minha filha pra isso.
- Então se a senhora sabe, por que não faz isso?
- Porque não acho que seria bom criar um mal-estar com a minha filha. Além do mais, impor a presença do Phillip aqui em casa só fará a Sarah rejeitá-lo, não concorda comigo?
- É, a senhora tem razão nisso.
"Claro que ela tem!", Pensei comigo mesmo.
- Eu gostaria tanto que a Sarah desse uma chance ao Phillip de ser amigo dela. Ele quer tanto se aproximar dela. Seria tão bom que eles se dessem bem. Os dois são muito importantes pra mim e nada me deixaria mais contente do que vê-los sendo ao menos amigos.
- Mas pelo Phil isso já poderia estar acontecendo. Quem não quer dar o braço para isso rolar é a sua filha ciumenta e cabeça dura. Ela não quer fazer o menor esforço pra deixar o Phil ser amigo dela.
- Por isso acho que insistir que a Sarah aceite o Phillip a força não é o melhor jeito, Ju. Eu adoraria que o Phil viesse aqui me visitar, mas se isso causa desconforto na minha filha, então, eu prefiro nem pedir ao Phil pra vir.
- Sua filha está sendo uma chata nessa situação, me desculpe. Poxa, foi tão legal aquele dia nós quatro.
- Foi. Mas vamos deixar assim, Ju. Não insista mais com ela. Vamos dar tempo a Sarah.
- Se a senhora for esperar pelo tempo dela, então acho melhor esperar deitada, porque sentada vai ficar com dor nas costas de tanto esperar.
Que visão Juliette faz de mim!
- Fazer o quê, né?!
- Não acho nada justo a senhora ficar se privando de trazer seu namorado aqui. Mas enfim...
- Amanhã como já voltarei a trabalhar, eu vou ligar para o Phillip e assim a gente marca de se ver e almoçar juntos.
- Que situação mais chata! Tudo por culpa da sua filha ciumenta.
Ouvi minha mãe sorrir e resolvi sair dali. Já em meu quarto, eu não deixei de remoer a conversa que ouvi da minha mãe com a Juliette.
"Eu adoraria que o Phil viesse aqui me visitar, mas se isso causa desconforto na minha filha, então, eu prefiro nem pedir ao Phil pra vir."
Seria tão bom eu deixar aquilo por isso mesmo. Não dar bola e fingir que não ouvi nada daquela conversa delas. Mas não dava. A frustração e tristeza no tom de voz da minha mãe com aquela situação, era tudo que eu não queria nela. Sem contar, o descontentamento e o aborrecimento de Juliette também.
- Droga! - praguejei com insatisfação.
Eu tinha decidido ser menos intransigente com o Phil e talvez, essa fosse a oportunidade perfeita para mostrar isso. Mas era tão contra a minha vontade ter a presença dele ali. Todavia, depois de ter ouvido a conversa das duas lá embaixo, eu estava decididamente disposta a passar por cima da minha vontade e fazer esse "agrado" as duas mulheres que eu tanto gosto.
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