Capítulo 25

- Não mesmo, Ker!

Neguei. Mas sem total convicção do que disse. Porém acho que a Ker não notou isso. Ou pelo menos torcia por isso.

Eu tinha consciência de que Juliette e eu éramos diferentes demais, como dois pólos opostos. Portanto, não tínhamos nada a ver. Todavia, o que eu não tinha era tanta CERTEZA se realmente a gente nada tinha a ver. Às vezes até parecia que tínhamos! E em outras não! Eu estava confusa.

- Ontem, enquanto observava vocês duas se falando paradas aqui na porta da sua casa, eu percebi o quanto vocês parecem mais entrosadas e próximas.

- Acho que você está viajando legal, Ker.

Desconversei, pois sabia lá no fundo que isso que Kerline acabava de dizer, tinha um pouco de verdade. Eu mesma sentia essa proximidade toda e esse entrosamento. Inclusive, a gente não brigava mais tanto, apenas divergia, mas agora isso era feito em tom de brincadeira e não de picuinha como antes. E até já conseguíamos nos se entender bem mais.

Entretanto, não quis admitir a Kerline isso para não dá mais margem para a imaginação dela. Estava mais do que claro que ela se encontrava com ciúmes de Juliette, e eu não ia tacar mais álcool em algo que já estava queimando.

- Tomara que sim mesmo. - ela me murmurou antes de tomar meus lábios e me beijar demoradamente. - Me desculpa! - pediu após o beijo.

- Pelo quê?

- Por essa cena toda que acabei de fazer.

- Tudo bem, Ker. Vamos esquecer isso, pode ser?

Ela assentiu e mais uma vez me beijou, mas dessa vez não foi demoradamente.

- Quer sair comigo à tarde? - Propus.

Com certeza, a Juliette deve ter topado sair com a Pocah e eu não ia ficar sozinha em casa. Então por isso, decidi chamar a Ker para sair.

- A gente pode ir a praça ou se você quiser ir à outro lugar, a gente vai.

- Por mim tá ótimo a praça.

- Que horas dá pra você ir?

- Depois das quatro. A minha mãe chega do trabalho esse horário e assim meu irmão fica com ela.

- As quatro e meia então, eu te busco na sua casa.

- Minha casa é tão longe, né?

- Bastante!

Ambas sorrimos.

- E o jantar ontem, como foi? Você nem me mandou mensagem ou ligou contando.

Caramba! Eu tinha esquecido disso. Me peguei vendo as fotos de ontem com Juliette e conversando com ela, que nem lembrei que havia dito que ligaria pela manhã para a Ker.

- Desculpa por isso. Mas o jantar foi bom. O tal Phillip parece ser uma boa pessoa.

- Que bom!

- Deu pra eu perceber o quanto ele faz bem a minha mãe e isso, é o que importa pra mim ainda que... me custe aceitar que minha tenha alguém.

- Você vai superar isso. Vai ver!

***

Estávamos almoçando em silêncio, pois desde a visita da Ker que o clima entre Juliette e eu ficou estranho. Parecíamos até duas desconhecidas compartilhando a mesma mesa. De repente, ouvimos barulho da porta da frente ser aberta e a voz da minha mãe chamar pela gente.

- Na cozinha! - gritei para ela. Segundos depois, ela aparecia ali. - Veio almoçar em casa, mãe?

- Que nada, querida. Vim rápido buscar um documento. O rapaz que faz isso pra mim não estava na galeria então tive que vir eu mesma.

- Aproveita que está aqui e almoça com a gente então, tia Abadia.

- Bem que eu gostaria, Ju. Mas preciso mesmo voltar logo com o documento que vim buscar. Já volto. Vou só no quarto buscar o que esqueci.

Ela foi e retornou poucos minutos depois.

- Meninas, eu já tô indo.

- Tia Abadia antes que vá, eu quero lhe dizer que a Pocah me chamou pra dar uma volta mais tarde no shopping. Tudo bem, eu ir?

- Desde que as oito esteja aqui.

- Muito antes disso já estarei de volta. A gente vai agora a tarde e não pretende demorar.

- Ok, então.

- Eu também vou sair mais tarde com a Ker, mãe. - aproveitei o embalo e a informei logo também.

Mamãe olhou para mim e depois para Juliette de uma maneira estranha que eu não soube bem definir.

- Certo! Divirtam-se em suas saídas e cuidado. Preciso ir agora. Tchau, meninas.

- Tchau!

Juliette e eu dissemos juntamente antes de minha mãe sair da cozinha. Depois que ela se foi, nós nos olhamos por um instante e voltamos a comer novamente.

- Você e a Pocah parecem estar dando super certo, né?!

Comentei despretensiosamente e sem olhar para a Juliette. Mas podia sentir o olhar dela pousar sobre mim assim que falei aquilo.

- Pois é! Que nem você e a sua vizinha.

Tão logo, ela disse isso, eu a encarei com uma das sobrancelhas arqueadas.

- Gosta da Pocah? Porque a minha amiga, eu tenho certeza que gosta de você. Nunca a vi tão ligada em uma garota como a vejo com você.

- Está preocupada que eu vá partir o coração da sua amiga?

- Não! E quer saber? Eu nem devia ter perguntado isso.

Me arrependi amargamente de ter feito aquela pergunta. Que ideia minha querer saber daquilo!

Levantei da mesa e rumei para a pia a fim de lavar meu prato.

- Por que quis saber se eu gosto da sua amiga?

Ouvi-a questionar-me depois de um breve instante de silêncio.

Ótimo!

O que vou dizer? Se nem mesmo eu sabia a razão pela qual quis saber daquilo.

A pergunta simplesmente surgiu de súbito em minha mente e sem pensar duas vezes, eu a fiz. E, agora, já estava completamente arrependida de tê-la feito.

- Curiosidade apenas.

Foi a única resposta cabível que me ocorreu no momento dizê-la.

Acho que Juliette acreditou nela, pois não me questionou mais. E tampouco respondeu a minha pergunta. Pouco me importei com isso também.

Ela terminou de almoçar em silêncio e nós arrumamos a cozinha juntas. Depois cada uma foi para o seu quarto.

Jogada na cama peguei o celular e liguei para Gilberto. Precisava me distrair e conversar com meu amigo era sempre uma ótima distração.

- Saraaaah!! E aí?

- Nossa quanta empolgação ao atender.

- É que você nem sabe. Minha irmã nos enganou e a safada não chegou hoje de manhã aqui? Era pra ela chegar depois de amanhã, mas ela fez surpresa e chegou hoje, amiga.

Podia sentir a alegria de Gil ao falar. Fazia um tempo que ele não via a irmã e era mais do que justificada essa sua empolgação e alegria.

- Nossa que legal, amigo! E a sua sobrinha?

- É a coisa mais linda, Sarah!

Ele se derreteu todo ao me contar. Gil ainda não conhecia pessoalmente a sobrinha, era somente por fotos que ele e a tia Jacira acompanhavam o crescimento da menina que estava para completar dois anos de idade.

- Que tio mais babão! Cuidado pra não afogar a menina com a sua baba, viu?

- Que engraçado, Sarah!... E a quê devo a honra da sua ligação?

- Você pediu pra eu te ligar ou mandar mensagem contando sobre o jantar ontem. Achei melhor ligar.

- Verdade! Pois então conta tudo em detalhes, amiga. Você não bancou a filha ciumenta e desagradável, não é amiga? Pela misericórdia de Deus!

- Olha vou ser bem sincera... Vontade não faltou pra isso, viu Gil?

- Credo!

- Mas eu resolvi ser da paz.

- Ah, que bom! Boa, menina. Assim que o amigo gosta. Agora conta como foi toda a noite.

Relatei em detalhes tudo como Gil me pediu. Desde a minha primeira impressão ao ver Phillip, passando pela conversa que troquei com ele durante o jantar, à ida ao cassino para satisfazer a vontade de Juliette e por fim, a parte em que minha hóspede e eu passeamos juntas e sozinhas pelo Venetian.

- Quer dizer que andou de gôndola com ela? Isso é um passeio bem romântico, sabia? Lucas e eu fizemos um desses.

- Ela expressou vontade de andar de gôndola e eu propus da gente ir. Não começa a ver coisas onde não tem, Gilberto.

- E que coisas seriam essas? Eu não falei nada de 'coisas'.

- Não falou, mas eu te conheço e sei que sua cabeça já está 'maquinando' essas coisas.

Ele tinha uma mente muito fértil. Bastava uma coisinha de nada para Gil criar logo um coisa gigantesca e ver algo que não existe!

- Vocês não brigaram durante o tempo que estiveram juntas?

- Não! Por incrível que pareça a gente até que se divertiu juntas.

- Nossa que milagre ou seria progresso?

- Um grande progresso!!

- E em casa, como está a sua relação com ela?

- Onde você quer chegar com essa pergunta?

Se eu soubesse que seria sabatinada assim nem teria contado aquilo.

- Quero só saber se vocês ainda brigam muito feito Tom e Jerry, ora?

- Não tanto como no começo. A gente tem se entendido mais ultimamente.

- Você já gosta dela?

- Gilberto!

- O quê??

- Chega de tantas perguntas.

Resolvi pôr fim naquele interrogatório todo.

- Deixa eu fazer só mais uma? Juro que é a última, amiga.

Eu suspirei. Tinha até medo do que viria agora, mas ainda assim, consenti que ele me fizesse essa última pergunta.

- Vai, Gilberto, pergunta.

- Você contou a Ker sobre esse seu passeio de gôndola com a Juliette?

Depois da cena de ciúmes dela, eu não pensei duas vezes em lhe omitir aquilo.

- Não!

- Por quê?

- Você pediu pra fazer uma pergunta apenas, com essa já são duas, então... essa questão fica sem resposta, Gilberto Nogueira.

- Chata!

Ouvi ao fundo a voz da tia Jacira gritar pelo nome do filho.

- Amiga tenho que desligar e ver o quê a mamãe quer.

- Tá bom. Vai lá. Beijo!

- Outro. Bye!

Assim que a ligação foi encerrada, eu coloquei o celular sobre o criado-mudo. Depois me acomodando na cama com as mãos sob a nuca, eu fiquei encarando o teto do quarto.

"Você já gosta dela?"

A pergunta de Gilberto veio em minha mente.

Eu meio que já havia aprendido a gostar de Juliette e seu jeito implicante. Minha hóspede tinha seus defeitos e não eram poucos, mas eu já conseguia enxergar algumas qualidades nela também e até raras coisas em comum comigo. E isso, de certa forma, me fazia deixar a ira por ela de lado e passar a gostar um pouco daquela insuportável.

Ela quando queria sabia ser alguém agradável!

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