Capítulo 24

- Mãe, a senhora pode me esclarecer uma dúvida sobre o Phil?

- Claro , querida. Qual seria?

Estávamos somente as duas à mesa tomando café e eu aproveitei a ocasião para tirar aquela dúvida que não tivesse coragem de tirar com o próprio Phil. Ainda mais, que a Juliette não estava ali para perturbar, já que aida não havia levantado. Ocasião mais perfeita que aquela não havia.

- Como que ele tem 45 anos e uma neta de 15 anos? Foi avô com 30 e por acaso, pai com doze, é?

Aquilo não fazia muito sentido.

Minha mãe sorriu. E depois me explicou que Phil foi pai cedo mesmo aos dezessete anos de idade da esposa falecida. Ela foi sua primeira namorada e única. Quanto a neta adolescente, ela na verdade é filha só do marido da filha dele, do primeiro casamento do sujeito. Mas segundo minha mãe, a adolescente e Phil são um grude só, já que se deram muito bem logo de cara. Assim Phil a adotou como sua neta de verdade, posto que ela era a única que ele tinha. E a garota o adotou como avô não postiço, mas de verdade.

- Ah, sim. Agora entendi.

- Eu também fiquei confusa logo quando ele me disse que a neta tinha quinze anos, mas aí me explicou tudo isso que acabei de lhe contar.

Dúvida esclarecida, eu quis partilhar com minha mãe sobre a história do irmão da Juliette que ela me contou ontem.

- Agora mudando, drasticamente de assunto, mãe,... A senhora sabia que a Juliette tem um irmão que já é falecido?

- Já sabia, querida. Adélia havia me contato. Foi por causa disso que lhe disse pra tornar a estadia da Ju aqui em casa a mais divertida possível.

- E a senhora sabe do quê ele morreu?

- Isso Adélia não contou. Só disse sobre o falecimento dele e do quanto foi impactante para a família e, principalmente pra Ju essa perda, pois ela era muito apegada ao irmão e este morreu na sua frente, mais precisamente em seus braços. Por meses, ela ficou mal por isso. Depressiva, ela teve que fazer acompanhamento médico e tomar medicamentos pra superar essa tragédia que houve.

Nossa! O negócio deve ter sido muito feio para ela ficar assim. - pensei comigo.

- E, quando, recentemente, ela expressou o desejo de vir nas férias visitar a tia e as primas, os pais na mesma hora deixaram e mandaram-na, pois acharam uma ótima idéia ela passar esse tempo longe pra se distrair e se divertir um pouco, coisa que ela não fazia desde a morte do irmão. - explicou mamãe. - Mas como você soube dessa história do irmão dela?

- A Juliette me contou muito superficialmente isso ontem enquanto estávamos juntas passeando de gôndola e depois quando chegamos aqui em casa, eu perguntei mais sobre o assunto só que ela não quis entrar em detalhes comigo.

- A gente olha pra ela e esse seu jeito alegre, e nem consegue acreditar que ela passou por algo tão traumático assim, não é?

Apenas assenti em concordância. Nunca que ia me passar pela cabeça que Juliette tivesse passado por algo desse tipo. Ver o irmão morrer na sua frente em seus braços.

Do quê será que ele morreu?

Essa resposta só a própria Juliette poderia me dar, mas ela já deixou bem claro que não gosta de tocar no assunto da morte do irmão. Até a entendo, porque sei como dói e é difícil falar de alguém que perdermos.

Apesar de na época ser apenas uma garotinha quando meu pai morreu, eu soube bem o quanto é doído perder alguém que a gente ama muito. E até hoje sinto essa dor e uma tremenda dificuldade de falar do que houve com ele.

- Não comente com a Ju sobre o que lhe falei. Ela não sabe que sei disso. Adélia disse que a sobrinha não gosta de tocar no assunto e nem que saibam dele pra não ficarem com pena dela. Ela, simplesmente detesta que sintam isso dela.

- Ok!

- Tenho que ir trabalhar. Tchau, querida!

- Tchau!

Sozinha na cozinha, eu fiquei pensando naquela história toda que soube por minha mãe. A curiosidade em saber mais sobre aquilo tudo só aumentou, mas eu não podia questionar Juliette a esse respeito.

- Bom dia!

Olhei para a porta e vi Juliette entrar na cozinha ainda de pijamas - uma camisa enorme que mais parece um vestido nela e que trazia estampada bem na frente a imagem de uma banda bem conhecida por mim e logo abaixo seu nome... Aerosmith - e se acomodar na cadeira a minha frente.

- Bom dia! Gostei da sua camisa.

Não resisti e comentei dando um gole no meu café. Eu não era chegada muito em Rock, mas daquela banda particularmente, eu gostava. As músicas deles são ótimas.

- Fala sério! - ela desdenhou, me fazendo revirar os olhos.

- Estou falando, Juliette.

- Hum... Eu também gosto dessa banda.

- Adoro as músicas deles. Tenho no meu computador grande maioria delas.

- Não diga?! Pensei que só gostasse daquelas músicas sem graça que tem no celular.

- São músicas clássicas!

- E sem graças.

E lá vamos nós para esse embate. Porém antes que ele continuasse, resolvi mudar a temática da nossa conversa e provocar Juliette.

- Caiu da cama, foi? Porque você não é de acordar esse horário.

Nem era oito da manhã ainda. Ela só costuma acordar depois desse horário desde que chegou aqui em casa.

- Bancando a engraçadinha logo cedo?!

Eu esbocei um sorriso.

- Sua mãe já saiu?

- Ainda à pouco.

Nós tomamos café e enquanto isso, conversávamos em clima agradável e amigável. A pauta do papo foi sobre a noite de ontem. Tinha sido divertida, eu admito. Principalmente, a parte depois do jantar, quando Juliette e eu estávamos juntas e passeando pelo Venetian sem brigas.

- Depois vou querer que me passe as fotos que tiramos ontem. Espero que não tenha apagado nenhuma.

- Ih, apaguei! - menti.

- É o quê, Sarah? - ela me lançou um olhar mortal.

Eu ri.

- Só assim pra você me chamar pelo nome né?

- Não acredito que você apagou as fotos.

- Claro que não apaguei nada. Estava brincando.

- Agora ficou dada a gracinhas é?

- Pois é. - riu em deboche. - E o seu vídeo dançando? Vai querer também.

- Dispenso. Isso pode apagar sem sombra de dúvida.

- Apagar, não. Estou pensando em jogar na internet. O que acha?

Ela me lançou outra vez um olhar fulminante.

- Nem se atreva!

Eu abri um sorriso por isso.

***

Acomodadas bem próximas uma da outra no sofá, nós estávamos vendo as fotos que tiramos ontem, as quais eu já tinha passado para o celular de Juliette.

- Essa ficou bem divertida, não acha?

Era uma selfie da gente dando língua para a câmera. Estávamos na frente do Museu de Cera, que se encontrava fechado pra visitação ontem.

- Ficou mesmo. - ri.

Aquela doida tinha insistido e me convencido para tirarmos aquela foto daquele jeito. E ainda tinha outras desse tipo e mais algumas da gente fazendo inúmeras caretas. Tudo ideia da maluca da Juliette. E eu me deixei convencer a isso. Mas até que foi divertido!

- Essa ficou... boa! - comentei meio sem jeito.

Era outra foto, uma em que Juliette e eu estávamos de braços dados em frente a Fontana, em uma sugestão da moça que tirou a nossa foto depois que tiramos uma dela com a namorada no mesmo lugar a seu pedido. A estranha achou que Juliette e eu também éramos namoradas, e por isso insistiu em tirarmos a foto daquele jeito. E nem nos deu tempo para desfazer essa confusão dela.

- A gente até que não fica mal juntas.

Juliette me encarou tão logo mencionou tais palavras.

- Não mesmo! - concordei após virar o rosto e olhar para Juliette, e ficar por segundos lhe encarando em silêncio.

Olhando aquelas fotos, eu tinha que admitir... a gente até que ficava mesmo bem juntas, e não era só isso. A gente fazia um belo par!

- Acho que te devo um "obrigada" pelo elogio que me fez ontem.

Ela me disse em um tom baixo e parecia meio sem graça ao falar aquilo.

Sorri levemente. Essa Juliette meio envergonhada era agradável e adorável de se ver.

- De nada!... Eu só disse a verdade.

Essa minha última frase saiu em um sussurro enquanto meu olhar estava preso ao dela e vice-versa.

- Então também aproveito para agradecer o seu elogio. Algo me diz que esse seu ato de me elogiar foi uma raridade de se acontecer.

- Foi sim. - nós sorrimos juntas. - E de nada, Sarará.

Ela praticamente sussurrou a última parte de sua fala, já que estávamos perto o bastante uma da outra. Acho que nunca estivemos assim tão próximos como agora. O rosto de Juliette estava há milímetros do meu. Eu conseguia até sentir sua respiração bater em minha face.

De repente, aquela proximidade toda mexeu comigo, que nem o sorriso que ela me lançou ontem enquanto dançava a Tarantela.

Eu tinha que admitir que minha visão de Juliette já havia mudado consideravelmente, muito em decorrência dos últimos acontecimentos. A gente tinha se aproximado bastante nos últimos dias e isso vinha mexendo de um jeito inexplicável comigo.

- Por que está me olhando assim?

Ela me questionou em um novo sussurro e ainda me olhando nos olhos, como eu fazia com ela.

- Assim como? - usei o mesmo tom sussurrado que Juliette.

- Não sei explicar, mas parece o mesmo jeito com o qual me olhou ontem à noite antes da gente sair daqui pra encontrar o Phil.

Nem eu fazia ideia do porquê de estar olhando-a tanto e do jeito que ela mencionou. Simplesmente, não conseguia tirar os olhos dela. Mas como ia lhe dizer isso, sem receber em troca zoação?

Para a minha sorte ou azar, o telefone de Juliette tocou, desviando a atenção dela de mim para o aparelho.

- Oi... Pocah!

Ela disse meio hesitante ao atender a chamada na minha frente.

- Tudo bem, sim!... Sair? Hoje à tarde?

Eu resolvi não ficar mais ali ouvindo-a naquela conversa que não me interessava e pior, que me incomodava ouvir. Levantei do sofá e sem sequer olhar para Juliette, fui para a cozinha beber água, deixando a minha hóspede conversando à vontade com a namorada, ficante ou sei lá o quê a Pocah era dela.

Abrindo a porta da geladeira para apanhar a garrafa de água, eu resmunguei a mim mesma que Pocah mais parecia um carrapato. Toda hora ligava ou mandava mensagem. Acho que realmente, ela estava muito a fim da Juliette. E isso, de alguma forma, me incomodava. Não devia, mas incomodava!

O que estava acontecendo comigo?

Por que daquilo me incomodar tanto?

E enquanto bebia água, eu resolvi deixar a Pocah para lá e na minha cabeça veio o olhar de Juliette, o qual há minutos tive oportunidade de ver de perto.

Ela tinha olhos bonitos e eu me vi admitindo isso com um discreto sorriso.

Ouvi a campainha soar e largando o copo dentro da pia, segui de volta para sala a fim de atender a porta, já que Juliette, provavelmente ainda estaria ao celular. Mas ao chegar ao cômodo vi que minha hóspede já não mais estava ao telefone e ela havia atendido a porta.

- Oi! A Sah está?

Sem ver quem era, eu reconheci a voz prontamente. Era Kerline!

- Estou aqui!

Me pronunciei e tanto Juliette quanto Kerline, me encararam.

- Entra, Ker! - Convidei-a.

Juliette deu passagem a Ker. Esta veio em minha direção, e me cumprimentou com um beijo na boca demorado, bem na frente de Juliette. Retribui o beijo, porém fiquei constrangida com a presença da minha hóspede ali. Olhei discretamente para ela durante o beijo trocado com Kerline, e notei o desconforto de Juliette com a cena presenciada. Ela até desviou o olhar da gente para o teto após fechar a porta.

- Oi! - Ker me saudou após o beijo.

- Olá! - respondi sem jeito.

- Eu vou subir e deixar o... casalzinho mais à vontade. Licença!

O tom de Juliette ao falar foi seco e frio, deu para eu sentir. Acho que a Ker também sentiu! Observei minha hóspede subir as escadas com demasiada pressa e sem sequer, me olhar.

Era impressão minha ou ela parecia irritada?

- Sah???

Olhei para Ker tão logo, ela me chamou, tocando meu rosto. Ela me encarava de um jeito bem inquisidor.

- Vem, vamos sentar. - convidei-a, tomando-a pela mão e seguindo para o sofá.

- Posso te confidenciar uma coisa?

- Sim!

- Sua hóspede não vai com a minha cara!

- É impressão sua isso. - tentei tirar aquela ideia da cabeça dela. Mas eu também começava a cogitar a mesma coisa que ela, que Sarah não gostava da Ker.

- Não é, não. Ela não gosta de mim, amor! E, eu tenho que admitir que... também não gosto muito dela.

Franzi a testa, estranhando aquela revelação dela.

- Por quê? Juliette não fez nada à você, pra não gostar dela. Ou fez e eu não tô sabendo?

- Não, ela nunca não me fez nada. Eu é que não gosto dela. Talvez isso seja, um pouco de ciúmes.

- Ciúmes??

Ela estava com ciúmes de mim com a Juliette? Mas isso não faz qualquer sentido!

- Não tem porquê sentir ciúmes, Ker.

- Não tenho? Sarah, vocês vivem sob o mesmo teto. Estão juntas 24 horas por dia. E a maioria desse tempo ficam só as duas sozinhas aqui, depois que a sua mãe saí pra trabalhar. Juliette é uma garota bonita, devo reconhecer. E se por ventura acontecer de você e ela...

- Não pode, não, Ker. - tratei de corta-la. - Juliette e eu, não tem nada a ver, meu Deus!

- Será que não mesmo, Sarah?

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