Capítulo 22

Eu encarei sua mão e depois, olhei-o de cima a baixo. À primeira vista, ele me passou a impressão de que me parecia um bom sujeito. Tinha uma boa pinta, cabelos já com alguns poucos fios brancos nas têmporas, olhos escuros, usava barba e estava muito bem vestido em seu terno e gravata na cor bege claro, e camisa branca. Mas ele que não vá pensando que vai ser meu 'amiguinho' assim tão facilmente, porque não vai ser!

- Oi!

Eu lhe disse simplesmente enquanto aceitava seu cumprimento e apertava sua mão.

Deu para eu perceber que ele estava muito nervoso, pois sua mão estava gelada quando a segurei.

- É um prazer te conhecer, Sarah. Sua mãe já me falou um bocado de você.

- Posso imaginar!

Olhei para minha mãe postada ao lado de Phil e a minha frente. Ela me sorriu com doçura. Dona Abadia sempre costumava mesmo falar muito de mim aos outros.

Como eu não disse mais nada depois disso, Phillip nos convidou a irmos para o restaurante. Seguimos os quatro, minha mãe e Phillip obviamente iam a frente e de braços dados para o meu desgosto. E seguindo atrás deles vínhamos Juliette e eu caminhando lado a lado. Ela como sempre me importunando.

- Eles formam um casal bonito, não acha?

Juliette murmurou em determinado momento em um tom que os outros dois a nossa frente não lhe ouvissem.

- Não, não acho! - retruquei, lançando um olhar sério para ela que apertou os lábios para não rir de mim.

- Pois eu acho.

- Mas eu não. Então, como sempre, a gente divergindo numa opinião.

- Divergindo?? Meu Deus! Você não sabe usar expressões de uma adolescente normal?

- Me erra, Juliette!

- Às vezes, você parece uma velha no corpo de uma adolescente.

Ela riu e não disse mais nada depois de tal comentário.

Se eu pareço uma velha, ela parece uma criança birrenta e implicante.

Seguimos o resto do caminho até o restaurante em silêncio. Graças a Deus, Juliette não ousou fazer qualquer outra brincadeira ou comentário implicante.

O restaurante era muito bonito e sofisticado. Estava com um bom movimento, várias pessoas por ali.

Um sujeito engravatado veio falar todo sorridente com Phillip. Os dois trocaram um abraço regado a várias tapinhas nas costas um do outro. Phil fez questão de nos apresentar ao sujeito que se chamava Giuseppe. Ele era um dos donos e também enólogo do restaurante, além de um velho amigo de Phillip.

- É um prazer recebê-las em meu restaurante. Reservei a melhor mesa pra você e suas convidadas, Phil.

O tal do Giuseppe nos levou até uma mesa localizada na varanda do restaurante de onde se tinha uma visão incrível da cidade iluminada.

Depois, ele avisou que mandaria um garçom vir nos atender rapidamente e após isso, saiu dizendo que qualquer coisa era só Phil mandar chamá-lo.

- Pode ficar tranquilo, 'amico'.

Phil lhe disse em tom que soava bem italiano, fazendo seu amigo sorrir.

- E então, o que acharam do lugar?

Phillip nos questionou assim que seu amigo se foi.

Minha mãe disse que achou lindo e muito agradável. Juliette comentou que aquele era o lugar mais refinado que ela já tinha ido até hoje. E eu me limitei a dizer apenas que era bonito.

O garçom apareceu para tomar nota dos nossos pedidos.

- Eu não tenho a menor ideia do quê pedir. É a primeira vez que venho à um restaurante Italiano. Phil me salva. O que você me sugere? Mas não vem com nada que tenha carne, porque já sabe que sou vegetariana.

Tanto o homem, quanto minha mãe e o garçom riram de Juliette e suas 'palhaçadas'.

Da minha cadeira, eu fiquei embasbacada com aquela interação toda entre Juliette e o pretende da minha mãe. Eles pareciam bem "amiguinhos" demais. Ele já até sabia que ela era vegetariana.

- Ok, Ju!

Ju? Quanta intimidade!

- Aqui tem um dos cardápios vegetarianos muito apreciados. Vamos ver aqui...

Ele então a ajudou no seu pedido. Depois sugeriu um prato a mamãe quando esta lhe pediu. E fez o seu pedido. E quanto ao meu, eu mesma fiz questão de pedir sozinha. Agradeci ao fato de ter aprendido da internet um pouco de informação à respeito da gastronomia Italiana, pois não foi preciso pedir ajuda ao 'Phil'.

Enquanto ficamos no aguardo do garçom retornar com as bebidas - suco para mim e Juliette, e vinho para o Phillip e minha mãe - e posteriormente, as entradas, eu tomei a iniciativa e a liberdade de questionar esse tal de 'Phil' a fim de saber bem mais desse "pretendente" da minha mãe, do que eu sabia. Já que eu estava ali então tinha que ter mais informações a seu respeito. Pedi a ele para me falar um pouco a seu respeito. E ele muito gentilmente, atendeu ao meu pedido e começou a me contar sobre ele.

Phil falou que era Advogado e atuava no ramo empresarial, inclusive prestava assessoria a uma multinacional muito conhecida na cidade e alguns donos de cassinos. Morava com a filha Ingrid, o genro James e a neta Lilly, uma adolescente de 15 anos. Era viúvo há sete anos e revelou que minha mãe estava sendo a primeira mulher a qual ele se interessava após a morte da esposa, que faleceu em decorrência de um câncer.

- Sinto muito pela sua falecida esposa.

- Na época eu também senti muito, sabe, Sarah? Não foi fácil aceitar a perda dela. Mas depois, eu entendi que foi o melhor pra ela. Lilian já vinha sofrendo muito por conta da doença. As sessões de quimioterapia e radioterapia eram horríveis pra ela. Doeu muito perdê-la assim, mas foi um fim na agonia dela.

O garçom apareceu trazendo as bebidas e as entradas e foi bom, pois quebrou o clima meio tenso que pairou após essa conversa.

Enquanto apreciávamos as deliciosas Brusquettas, a conversa deu-se novamente, mas o assunto foi outro mais leve, mais descontraído e a responsável disso atendeu pelo nome de Juliette.

Eu tinha que admitir que aquela insuportável era carismática da maneira torta dela, mas era. Com aquele seu jeito falante e meio doido, era impossível ficar sério ao lado dela, ainda mais, quando ela resolvia soltar suas "pérolas". Talvez se Juliette não estivesse ali, as coisas naquele jantar não fossem tão 'animadas' como estavam sendo.

O resto do jantar transcorreu tranquilo e animado, graças a quem? Juliette!

Como era da minha natureza própria, eu pouco falei, reservei-me o direito de ficar quieta apenas prestando atenção nas conversas que rolava a mesa. Eu podia ver o quanto realmente a companhia daquele Phil fazia bem a minha mãe. Ela estava tão sorridente como há tempos eu não me lembrava de tê-la visto. E eu tinha que reconhecer que o sujeito era agradável e parecia ser gente boa. Mas, eu ainda vou manter um pé atrás por garantia.

***

- Phil é verdade que aqui tem um dos melhores cassinos?

- Sim!

- Juliette não começa. - a adverti já antevendo o desfecho daquela conversa. Ela havia me cochichado em determinado momento, que ia pedir a Phillip e minha mãe para nós irmos ao cassino. Duvido muito que ela consiga isso

- Não começa o quê?

Minha mãe e Phillip nos encaravam sem entender nada enquanto saíamos do restaurante.

- É que...

- Eu gostaria de conhecer um cassino por dentro e ia pedir a vocês pra gente entrar rapidinho no que tem aqui só pra eu ver como é lá dentro. Mas a Sarah não queria que eu pedisse isso.

- Ju, eu não acho uma boa ideia isso, querida.

Por dentro, eu ri da insuportável. Se deu mal! Minha mãe nunca que ia deixar aquilo. Ela não gosta desses lugares. Mas o que eu não contava era que Phillip fosse tomar partido da Juliette. O sujeito argumentou com minha mãe que não teria nada de mal em satisfazer essa vontade de Juliette. Ela só queria ver como era lá dentro. Eles entrariam rápido e depois sairiam.

Eu olhei para o Phillip e os pontos que ele havia ganho comigo, foram perdidos com aquela sua atitude de querer satisfazer aquele capricho louco da Juliette.

E se não bastasse isso, o pior veio depois quando minha mãe resolveu ceder aquela loucura!

Ah, não! Esses dois só podem ter enlouquecido!

Seguimos para o cassino. Enquanto Juliette ia feliz da vida e toda empolgada por poder realizar sua vontade, eu ia nada satisfeita com aquilo. No fim das contas aquela garota conseguiu dobrar facilmente minha mãe.

Chegamos a entrada do cassino e o Phillip conversou com o cara parado na porta. Explicou a situação e após uns minutos o sujeito autorizou nossa entrada, mas avisou que apesar de entrarmos com dois adultos, nós não podíamos permanecer muito tempo lá dentro. Phil garantiu que seria rápido somente para que a nossa 'amiga' que estava de férias na cidade, pudesse conhecer um cassino por dentro. O segurança assentiu e nós então entramos.

O Cassino era enorme, cheio de máquinas e estava lotado de gente sem ter o quê fazer de bom da vida, senão gastar dinheiro naquelas máquinas. Olhei de relance para Juliette e ela até parecia uma criança que estava pela primeira vez em um parque de diversões. Ela olhava para aquele lugar com um fascínio enorme, que foi impossível não rir disfarçadamente dela.

Ficamos apenas alguns minutos, pois minha mãe achou que já estava de bom tamanho aquele curto tempo ali. Ela realmente não gostava daquele tipo de lugar. Desconfio que ela só cedeu aquilo, porque Phillip pediu e Juliette insistiu, pois do contrário, jamais ela nos deixaria entrar ali.

- Nossa o cassino é incrível por dentro. Você já chegou a frequentar algum Phil?

- Quando era jovem, eu fui com uns amigos algumas vezes. Mas depois, não mais.

- Quando eu for maior de idade venho a Las Vegas de novo só pra jogar naquelas máquinas e ganhar alguns 'trocados'.

Phillip, minha mãe e até mesmo eu, rimos daquilo que Juliette disse. Pelo visto, alguém realmente ficou com fixação por cassino.

- Bom... agora que já conhecemos o cassino o que acham de darmos uma volta pelo The Venetian? Ainda é cedo pra irem para casa.

- O que acham, meninas?

Minha mãe nos indagou.

- Eu...

- Isso me parece ótimo. - Juliette me cortou quando eu ia começar a falar. E se não bastasse isso, ela ainda propôs de minha mãe e Phil darem uma volta sozinhos enquanto eu e ela passearíamos juntas.

- Mas vocês duas andando sozinhas por aí?

- Não se preocupe que a gente não vai sair do Venetian, tia. E qualquer coisa, a Sarará aqui tá com o celular dela. É só a senhora ligar pra ela. Vem, Sarará. Bom passeio para os "pombinhos".

Juliette saiu me arrastando pela mão sem dar tempo da minha mãe impedir aquilo e nem a mim de recusar.

- Por que fez isso?

Questionei assim que estávamos longe dos outros dois.

- Porque eles merecem um momento a sós. Vai dizer que você queria ficar pagando de 'vela' e ver os dois se beijando na sua frente?

Fiz uma careta só de imaginar a cena da minha mãe se beijando com Phil diante de mim. Eca!

- Eles não fariam isso.

- Eles estão loucos pra fazer isso. Qual é?! Você não é mais uma criança de seis anos. Deixa a sua mãe 'curtir' o namorado dela.

- Ele não é namorado dela!

- Ok! Como a senhorita "ciumentinha da mamãe" quiser. Agora, vem. Vamos passear por esse lugar. E ajeitada essa cara, porque você não está num velório. Anda!

Ela agarrou meu braço e saiu me levando sem que eu tivesse a menor chance de me recusar a ir.

O The Venetian é enorme, com vários pontos incríveis e que possuí marcos fielmente recriados da Itália. Juliette e eu visitamos e tiramos fotos em alguns como, por exemplo: a Torre Campanile, a Ponte Rialto, o Palácio Ducal (Doge’s Palace) e a Praça de San Marco. Inclusive, na praça estava rolando uma apresentação de um grupo de dança Italiana para os turistas que por ali passavam.

Juliette fez questão de chegar lá mais perto para ver a apresentação, que no caso era da Tarantela, uma dança popular, caracterizada pela troca rápida de casais. Forma-se um círculo dançante, executado no sentido horário até a música se tornar rápida, quando todos trocam de direção. O ciclo ocorre algumas vezes, eventualmente ficando tão rápido que é muito difícil manter o ritmo.

A apresentação era animada e contagiante. Vários turistas tiravam fotos e gravavam para levar de recordação. Juliette era uma dessas pessoas. Ela 'pediu' do jeito educado dela, o meu celular para registrar aquele momento, já que estava sem seu celular.

Em determinado momento os dançarinos começaram a tirar para dançar as pessoas que estavam assistindo-os e eu gelei. Não ia dançar aquilo! Um dos rapazes veio em nossa direção e estendeu a mão a Juliette.

- Eu??

Ele assentiu a ela.

- Me dá esse celular e vai logo!

Eu arranquei o aparelho da mão dela e lhe empurrei para Juliette ir com o cara. A cara incrédula dela e o olhar furioso que ela me lançou enquanto se afastava foi a melhor coisa.

Resolvi registrar a 'apresentação' dela para depois ter algo para importuná-la. Depois de os dançarinos terem conseguido seus pares, a dança recomeçou. A princípio, começou devagar para que os turistas pegassem os passos certos e assim que eles pegaram direito, a dança foi aumentando gradativamente de velocidade.

Eu filmava Juliette e ria de sua tosca performance. Inclusive, a própria ria de si mesma enquanto dançava. Ela parecia se divertir com aquilo tudo e eu também.

Em determinado momento da dança, ela me olhou sorrindo e eu não sei explicar, mas algo dentro de mim ficou mexido com aquele seu sorriso. Era um sorriso diferente de todos os sorrisos que já havia visto estampando seu rosto. Este era espontâneo largo e livre de deboche ou ironia, algo que me agradou e me despertou 'coisas' boas.

Tenho que reconhecer que desde que ela chegou, vem me tirando do sério e me irritando com seu jeito de ser. Mas, algumas vezes também, ela me diverte, justamente, por esse mesmo jeito de ser, e tem vezes que a gente até se entende. Ela é meio sem noção, mas... tenho aprendido a gostar dela assim mesmo, apesar de tudo!

- Ei!

- Ai!

Reclamei ao sentir Juliette me golpear no braço. Aquilo já tinha virado um costume dela fazer.

- O que foi? Não estava dançando?

- A dança já acabou há uns minutos, quatro olhos.

Olhei ao redor e realmente ninguém dançava mais. Eu sequer tinha me tocado que aquilo tinha terminado. Havia me perdido em pensamentos após Juliette me olhar e sorrir para mim, que nem ao menos, me dei conta quando tudo terminou.

- Nem percebi!

- Tá na cara isso. No quê estava pensando? Ah, nem precisa dizer. Aposto que era na namoradinha.

- Não, não era nela!

Se ela soubesse que Kerline sequer havia passado pela minha cabeça nas últimas horas, nem teria a mencionado.

- Então era no quê?

- Em nada demais! Vamos?

- Não! Eu quero me sentar um pouco. Essa dançaria toda com esse salto acabou com meus pés.

Notei um banco vazio no lado oposto ao que nos encontrávamos. Indiquei a Juliette e formos para lá. Assim que nos sentamos, a maluca da Juliette tirou as sandálias e depositou-as em meu colo sem sequer, me perguntar se podia.

- Nossa! Eu não sirvo pra usar esse tipo de sapato. Olha só os meus dedos estão vermelho.

Eu ri. Realmente, estavam vermelhos e meio amassados, principalmente os dois últimos dedos.

- Tá achando engraçado o meu sofrimento, não é quatro olhos?

- Imagina! A propósito, eu gravei sua performance.

Com um sorriso zombeteiro, eu balancei o celular a frente de seu rosto.

- Mentira? Deixa eu vê isso!

Ela arrancou o celular da minha mão e mexeu no aparelho até encontrar o vídeo. Deu play e começamos a ver a gravação que eu fiz.

- Caraio, eu danço muito mal isso.

- Tenho que concordar com você.

Eu ri cinicamente e ganhei um tapa leve no braço.

- Queria ter te visto dançando isso.

Deus me livrou disso! Ainda bem que ninguém veio me tirar para dançar. Nem quero imaginar o King Kong que eu pagaria ali.

- Ainda bem que não foi possível!

Ela foi quem riu agora.

- Mas sabe que apesar de bancar a ridícula dançando isso, eu gostei. Foi divertido!

- É, foi bem divertido ver você dançando desse jeito tosco! - confessei com um sorriso.

Nós duas permanecemos ali por alguns minutos até Juliette sentir os pés menos doídos. Quando isso aconteceu, ela recolocou as sandálias. Nós então tornamos a "explorar" mais alguns pontos de atração do The Venetian e acabamos por parar sobre uma ponte que cruzava o canal que passava por ali. Pela descrição que lemos em uma placa que havia ali O Grand Canal do Venetian tem quase 400 metros de extensão. Por ele, gôndolas fazem passeios com os hóspedes e visitantes do hotel, e os gondoleiros, segundo o que estava escrito ali, são todos italianos.

Enquanto estávamos ali vimos algumas gôndolas passarem por sob a ponte em que nos encontrávamos.

- Deve ser legal andar nessas coisas, não acha?

- Talvez!... Tá afim de experimentar? - olhei para ela e propus do nada.

Pude notar a surpresa e a euforia tomar conta do rosto de Juliette quando ela me encarou. Acho que ela não esperava por aquela minha proposta. Para falar a verdade, até eu me surpreendi um pouco com a naturalidade a qual a ideia daquilo surgir e a qual eu a pus em prática.

- Tá falando sério?

- Claro! Bora?

- Só se for agora!

- Então vamos! - convidei-a lhe estendendo a mão a qual Juliette segurou no mesmo instante. Logo em seguida, a gente já seguia para onde se pegava as gôndolas.

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