Capítulo 2

Estava em meu quarto lendo um livro, quando escuto meu celular tocar em cima da mesinha de estudo. Levanto da cama e vou pegar o aparelho. Vejo no visor o nome do Gil, piscando insistentemente. Era engraçado, mas ele em vez de ficar ligando para o namorado para saber o que ele está fazendo e tudo mais, Gilberto liga para saber o que EU estou fazendo, como se eu fosse namorada dele. Vai entender!

- Fala, Gil!

- Credo! Quanta empolgação ao me atender.

- Pois é... Estou exultante em falar com você.

Escutei Gil gargalhar daquele seu jeito espalhafatoso de ser.

- O que está fazendo de bom, amiga?

- Eu estava lendo um livro muito interessante!

- Meu Deus! Você não deixa sua nerdice nem nas férias, né Sarah?

- Se vai ficar me zoando, vou desligar. Tchau!

- Não ouse desligar na minha cara, Sarah Andrade!

Foi a minha vez de gargalhar na linha. Não tinha mesmo intenção de desligar na cara dele, só disse para perturbá-lo.

Ficamos conversando por quase uma hora. Ele me contou sobre a festa que eu iria lhe acompanhar, e eu lhe contei sobre a hóspede que teria em casa durante essas férias toda. Gilberto logo me intimou a lhe apresentar a garota, pois queria se certificar de como era essa desconhecida que ficaria na minha casa.

Pode parecer loucura, mas sente certa pontada de ciúmes nessas palavras do meu amigo, porém não quis comentar a esse respeito e correr o risco de ter visto chifres em cabeça de cavalo. Depois falamos sobre outras coisas banais até minha mãe aparecer na porta do quarto pedindo minha ajuda para fazer o jantar.

***

Meu fim de semana foi bem cansativo, pois sábado e domingo tive que ajudar minha mãe a dar uma boa ajeitada no quarto de hóspedes que nós usávamos como depósito. O lugar estava uma bagunça e cheio de caixas com coisas velhas que nem eu e minha mãe imaginávamos que ainda existissem ali. Separamos algumas para serem guardadas e jogamos as que não tinham mais serventia. Depois lavamos o lugar e coube a mim a tarefa de pintar o quarto.

Foram dois dias cansativos, ainda mais se você é alguém sedentária como é o meu caso. No fim, eu estava morta, mas o quarto ficou arrumado e novo em folha. Amanhã de manhã, minha mãe ia comprar um colchão novo, porque o que estava na cama que havia no sótão, se encontrava sem condições para uso.

- Acho que ficou bom o quarto, não ficou querida?

- Sim, mãe.

Dei um último gole em meu suco de laranja e me levantei da cadeira, levando meu prato e copo para lavá-los.

Tudo o que eu queria era a minha cama macia e quentinha nesse momento.

- Adélia me disse que a sobrinha dela é uma ótima garota. Alegre, falante e sem frescura alguma. Porém tem algo importante que ela fez questão de deixar bem claro em relação à garota.

- O quê? – indaguei após lavar a minha louça do jantar.

- A sobrinha dela não come carne, Sarah. É vegetariana desde os treze anos!

Eu inevitavelmente sorri disso e também de um pensamento que me ocorreu logo em seguida ao que ouvi da minha mãe.

- Qual é a graça filha?

- Aposto que essa garota deve ser magra igual à Olivia palito, porque certamente só come folhas e grãos.

- Carolline! – Minha mãe me repreendeu, mas logo depois riu do que eu disse.

Ainda rindo, terminamos de arrumar a cozinha e depois cada uma foi para o seu quarto descansar. Quando foi no dia seguinte, eu quase não consigo me levantar da cama. Cada músculo do meu corpo doía, inclusive, doía até uns que eu nem sabia que existiam, mas enfim... Eu levantei às nove e ao chegar à cozinha encontrei um papel escrito pela minha mãe e que ela deixou em cima da mesa do café.

Filha,

Fui à loja comprar o colchão e depois terei que ir à galeria. Surgiu um problema por lá e tenho que resolvê-lo. Volto antes do almoço.

E, ah... Adélia ligou antes de eu sair e avisou que a sobrinha dela deve chegar às dez da manhã e não mais às quatorze horas. Ela tentou me avisar ontem sobre a mudança no horário de chegada da sobrinha, mas não conseguiu. Receba a moça e a ajude a se instalar no quarto que arrumamos pra ela, Sarah.

Beijos, mamãe!

‘’Era só o que me faltava!’’, pensei.

Teria que receber a estranha... Sozinha? Mereço!

Tomei meu café nada satisfeita com esse fato. Desfiz a mesa e subi para tomar banho e esperar a tal garota chegar.

***

Era por volta das dez e vinte quando escutei a campainha tocar. Só podia ser a sobrinha da amiga da minha mãe!

Fui atender a porta e encontrei Adélia acompanhada de uma garota de cabelos compridos na cor castanhos escuro. Ela usava óculos escuros, uma camisa de banda de rock e ainda trazia enormes fones de ouvidos pendurados em torno do pescoço.

- Olá, Sarah!

- Oi, Adélia!

- Trouxe minha sobrinha Juliette.

Adélia me apontou a garota parada ao seu lado.

Olhei para a garota e apesar de não estar vendo seus olhos por conta dos ósculos escuros que ela usava, eu podia jurar que ela me analisava de cima a baixo.

- Ju essa é a Sarah, filha da minha amiga. Cumprimente-a, querida.

- E aí, quatro olhos?

Juro que quando ela me chamou desse jeito, eu já a odiei e previ sérios problemas de convivência com essa garota.

Esse seu cumprimento lhe rendeu uma bela repreensão da tia. A mulher mais velha mandou a sobrinha me cumprimentar direito, mas antes era para ela tirar aqueles óculos que usava.

A garota tirou os óculos e pude ver que seus olhos eram castanhos e usava delineador neles.

- Olá, Sarah!... Agora ficou melhor assim, titia?

A garota riu com ironia e a tia dela apenas balançou a cabeça em reprovação aquilo.

- Os anos passam e você não muda esse seu jeito debochado, não é querida?

- Ah, tia, como diz aquele velho ditado: ‘’Pau que nasce torto, morre torto!’’

Adélia riu das palavras da sobrinha enquanto que eu não vi graça alguma nisso e nem naquela garota que me chamou de quatro olhos.

- Não querem entrar? – propus educadamente, já que ainda estávamos paradas na porta de casa.

- Agradeço o convite, mas só vim mesmo trazer a Juliette. Tenho que ir para a galeria. Sua mãe está lá a minha espera. Problemas com a nova exposição que estamos organizando.

Assenti para ela.

- Juliette, querida. Vou deixá-la na companhia da Sarah. Comporte-se e seja uma boa garota.

- Falando desse jeito, ela... – a tal de Juliette apontou para mim com o indicador. - ... Vai pensar que sou uma criança, ou pior, uma idiota, tia. Além do mais não precisa fazer essas recomendações, porque antes de embarcar minha mãe já as fez e olha... Foi longo e chato pra caramba o sermão dela.

Eu revirei os olhos com aquele comportamento daquela garota. Ela era abusada e mal-criada.

Vi Adélia se despedir da sobrinha com um beijo na testa dela, que prontamente Juliette tratou de limpar, e depois, ela despediu-se de mim com um aperto de mão.

Juliette e eu, ficamos vendo a tia dela entrar no táxi e partir dali, deixando nós duas sozinhas.

- A gente vai ficar aqui feito uns postes até quando, quatro olhos?

A garota me olhou e aquele seu sorriso irônico estava de volta.

Meu mês ia ser terrível, já podia ver com tristeza!

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