Capítulo 11

Os dias passaram voando e logo o sábado chegou, e com ele a bendita noite da tal festa que eu acompanharia o Gilberto. Juro que não estava nada animada para isso. Não sou fã de festas, mas pela meu amigo até faço esse sacrifício de ir a uma. Minha mãe chegou a perguntar ao Gilberto ontem se a Juliette não podia ir com a gente, mas graças a Deus isso não era possível, porque Gil disse que ele só podia levar um acompanhante a festa. Respirei aliviada com isso!

Tudo bem, que a convivência entre a minha hóspede insuportável e eu tinha melhorado um tiquinho desde a boa ação dela da massagem, mas obviamente Juliette continuava a me importunar com suas "gracinhas" e por isso mesmo, eu não queria essa garota me acompanhando a essa festa. E que bom que ela não iria mesmo!

De frente para o espelho, eu vinha travando uma batalha árdua para fechar o bendito do zíper lateral do meu vestido midi verde esmeralda. A peça em tecido bengaline com um tal de decote princesa, que para mim era o mesmo que um ombro a ombro. Não possui bojo e ainda era justo, acentuando curvas que eu nem sabia que tinha, mas que no espelho refletiam muito bem.

- Porcaria! - reclamei quando o zíper não subia.

Uma mecha de cabelo veio parar na minha boca quando baixei um pouco a cabeça para tentar outra vez fazer aquela desgraça de zíper subir.

- Ai, caceta! - afastei os cabelos para o lado. Gil tinha "pedido" que eu fosse com os cabelos soltos e nada do liso escorrido de sempre. Então, eu estava com os cabelos lisos, porém com ondulações nas pontas dando volume. A maquiagem foi cortesia da Carlinha.

- Vamos, sobe, droga!

Eu já estava irritado com isso, quando vi a porta do meu quarto ser aberta sem cerimônia alguma por Juliette.

Ela simplesmente não sabia bater antes de entrar.

- Quando vai aprender a bater? Eu podia estar pelada. – me virei para olhá-la.

- Grande coisa! O mesmo que você tem no seu corpo, eu tenho no meu também.

- O que quer, hein? – indaguei já puta por não conseguir fechar aquele zíper e Juliette ainda aparece com suas gracinhas sem graça para piorar mais o meu humor.

- Nossa! Relax, Take it easy, baby!... A sua mãe pediu pra eu trazer a bolsa para você.

- Deixa aí na cama que assim que eu conseguir subir essa droga de zíper, eu pego a bolsa. – resmunguei voltando-me para o espelho. Já ia recomeçar a minha saga de fechar o zíper quando o celular tocou em cima da cama. Peguei o aparelho e atendi-o no segundo toque. - Oi, Gil! Já está vindo?... Ah, em quinze minutos? Tudo bem! Já estou quase pronta, só falta fechar o maldito do zíper dessa merda de vestido. Vou pedir a minha mãe pra me ajudar nisso. A gente se vê. Beijo. – joguei o celular de volta a cama.

- Se quiser eu te ajudo com o zíper.

Virei e encontrei Juliette parada perto do guarda-roupa.

O que ela ainda fazia ali?

Eu jurava que aquela garota nem estivesse mais no meu quarto.

- Eu prefiro que a minha mãe faça isso se não se importa. – respondi, passando por Juliette e seguindo em direção à porta do quarto.

- Só que a tia Abadia teve que dar uma rápida saída.

- Onde ela foi? – estanquei bem na porta e me virei para encarar Juliette.

Ultimamente, a minha mãe andava misteriosa demais. Eram umas saídas repentinas, telefonemas que ela atendia e logo se afastava para longe de mim, ou que quando atendia na minha frente a deixavam sem jeito, e se não bastasse isso, ela ainda andava de cochichos estranhos com Juliette. Ali tinha! Sempre que eu a indagava, ela me dizia que não era nada demais que falava com Juliette. Sei!

- Eu não perguntei ora!

Juliette não me pareceu nada convincente na resposta. Ela e minha mãe andavam muito mais amiguinhas e isso estava me deixando realmente intrigada além de enciumada.

- Algo me diz que você sabe e não quer me contar.

- Não sei! Agora deixa logo eu te ajudar com esse zíper. O seu amigo vai chegar daqui a pouco.

Juliette veio até mim e pedindo para eu prender um pouco a respiração conseguiu em poucos segundos subir o zíper do vestido com uma tremenda facilidade.

- Já?

- Sim!

- Você fez parecer tão fácil. Eu estava me matando para subir esse troço.

- Prática, quatro olhos. Todo domingo eu uso vestidos assim para ir às missas de domingo com meus pais. 

- Você é surpreendente. Nunca imaginei que fosse a missa nos domingos.

- Pra você vê que não sou uma garota má!... E só pra te lembrar, essa é a segunda vez que faço algo legal pra você. Acho que está na hora de começar a retribuir isso. – ela socou meu braço e fiz uma careta de dor por isso.

- Você é daquelas que faz e joga na cara? - passei por ela e apanhei a bolsa onde guardei o celular, um batom para retocar os lábios e uns trocados da minha mesada. 

- Não! Eu apenas estou te lembrando disso. Ah! A propósito falei com a minha prima mais cedo e o lance do cassino não vai rolar.

- Que ótimo!

Agradeci aos céus por aquela diversão ilegal não acontecer mais. Estava apavorada e já me sentia com remorso por antecipação por ter que enganar a minha mãe, dizendo que ia a um lugar quando estaria em outro. Nunca fui de mentir para ela!

- Poxa, podia fingir um pouco de tristeza com a notícia.

- Não mesmo! Estou mais do que aliviada por isso não ter dado certo.

- Avisa ao seu amigo que não iremos mais.

- Aviso com todo o prazer do mundo!

- E como já tinha dito a sua mãe que iríamos ao boliche na quarta e minhas primas tinham dito o mesmo a mãe delas, então iremos ao boliche mesmo e você vai comigo.

- Por que não liga para a Pocah e pede pra ela te acompanhar?

Desconfio que ela e minha amiga estejam "ficando", pois elas vivem se falando pelo celular e até saíram há dois dias para tomar sorvete. Então, por isso da minha sugestão dela acompanhá-la nisso ao invés de ser eu.

- Porque eu não quero. Você vai comigo e pronto! Tá me devendo isso pela massagem e agora pelo vestido.

- Ok, Juliette! Você venceu, eu vou. Mas depois dessa estamos quites.

- Talvez.

- E então, como estou?

Devidamente pronta, com meu vestido, sandálias alta na cor nude, a bolsa de mão na mesma cor dos sapatos. Brincos compridos em strass e com as lentes, sem os óculos, eu dei uma voltinha para ela me ver.

- Por favor, tente não ser tão grosseira ao dar sua opinião sincera!

Vi Juliette me olhar da cabeça aos pés, quando eu parei de frente para ela. Depois, ela sorriu de um jeito diferente, como eu nunca tinha visto antes.

- E então? – insisti, já que ela não dizia nada.

- Se eu te visse assim numa festa até me atreveria a te dar trela.

Como é??

Por essa eu não esperava! Juro que não.

- Isso quer dizer que acha que estou bonita? – arqueei uma das sobrancelhas, um tanto surpreendida com sua resposta.

Notei que Juliette ficou meio desconcertada quando eu perguntei aquilo. Mas logo ela se recompôs e soltou uma de suas pérolas sarcásticas.

- Bem que você queria né? Mas desce da nuvem, quatro olhos, porque não é isso. – ela sorriu e esse sim, era o seu costumeiro sorriso debochado.

- Então é o quê? - indaguei confusa.

Para mim entendi que ela estava querendo dizer do jeito torto dela, que me achou bonita arrumada daquele modo. Só que depois dessa resposta já conclui que me enganei totalmente.

- Vamos dizer que ‘’eu te daria trela’’, porque você nem de longe está parecendo a garota nerd e esquisita que eu conheço, a qual usa uns óculos do tempo da minha avó.

Estreitei meus olhos nela e balancei a cabeça odiando a ‘’opinião’’ daquela garota. Quem manda também, eu perguntar, né?

E outra, onde estava com a cabeça para cogitar por um segundo que aquela garota tivesse me achado bonita? Se duvidar, Juliette acha uma pedra mil vezes mais bonita do que eu!

A campainha da casa tocou e eu agradeci, porque já estava pronta para responder a Juliette com uma grosseria pelo que ela me disse, só que a campainha me fez desistir disso. Aquela garota infernal foi salva pela campainha.

- Aposto que é o Gilberto. Vou indo!... Adeus, insuportável!

O sorriso de Juliette sumiu no mesmo instante em que a chamei pelo ‘’apelido carinhoso’’ que lhe coloquei. Senti-me vingada. Dei-lhe as costas e rumei para a porta. Parei antes mesmo de cruzar a mesma, ao ouvir Juliette me dizer:

- Vê se arranja uma garota nessa festa. Você está precisando.... Ops! Mas, você pelo menos sabe chegar numa garota, quatro olhos?

Como em uma cena em slow motion, eu me virei para Juliette e com os olhos faiscando de raiva a encarei. Ela ria como se não tivesse dito nada de mais.

Como ela conseguia ser assim?

Por que ela gostava de implicar comigo hein?

- Vai se danar, Juliette!

Foi a minha resposta antes de sair do quarto muito ‘’mordida de raiva’’, enquanto ouvia ao fundo a risada alta de Juliette ficar para trás.

***

- As duas em ponto estarei aqui pra buscar vocês, Gil!

- Perfeito, mãe!

Gilberto se despediu da mãe dele e descemos do carro. Meu amigo estava elegante em um terno slim azul, gravata rosa e camisa branca.

- Divirtam-se crianças. E Sarah vê se você arranja uma paquera. Lindona desse jeito não será difícil conquistar alguém aí dentro.

Sorri sem graça pelas palavras de tia Jacira. Era a segunda pessoa que me dava aquele "conselho", sendo que essa usou um tom mais amistoso de me falar isso. O que não foi o caso de Juliette quando me disse quase o mesmo antes de eu sair de casa.

- Até mais, tia Jacira!

- Até, crianças!

- Minha mãe está certa, amiga! – Gil resmungou enquanto nós caminhávamos em direção a entrada da recepção onde acontecia a festa.

- Gilberto não começa, por favor!

Meu amigo apenas riu. 

Entramos na casa de recepção e lá dentro já havia um número grande de pessoas presente, a grande maioria eram de jovens. Gilberto cumprimentou efusivamente a aniversariante e logo depois me apresentou a mesma.

- Naty esse é minha amiga Sarah que eu te falei.

- Ah, oi, Sarah!

A garota simpática me estendeu a mão em cumprimento. Ela era muito bonita. Uma ruiva de lindos olhos verdes, que trajava uma vestido vermelho para combinar com seus cabelos. Ao seu lado estava o namorado feito um cão de guarda, cuidando da garota dele. No seu lugar faria o mesmo também.

- Olá! Meus parabéns!

- Obrigada!... Gil, vocês podem ficar numa mesa junto com o nosso grupo de amigos e as minhas duas primas, tudo bem?

- Claro, amiga. Em quê mesa eles estão?

- Lá na do fundão. Eu te acompanharia até lá, mas tenho que ficar recepcionando os convidados.

- Tudo bem, amiga. A gente vai sozinho mesmo pra lá.

Gil se despediu da amiga e nós dois seguimos para a mesa que ficaríamos.

- O negócio aqui é chique mesmo.

A decoração do lugar estava impecável. Garçons andavam pelo salão com bandejas de bebidas que iam sendo servidas aos convidados acomodados em mesas dispostas pelo espaço.

- Falei que era, amiga.

Seguimos até Gil enxergar os amigos da tal Naty que eram também conhecidos dele. Tive uma grata surpresa quando chegamos na mesa. Entre a turma de seis pessoas que se encontravam à mesa estava nada mais, nada menos que a minha vizinha Kerline. Ela assim que me viu, abriu um sorriso e eu obviamente retribuí o sorriso. Agora me animei e achei a vinda à essa festa uma ótima.

‘’Valeu por ter me convidado, Gil!’’, agradeci internamente ao meu melhor amigo por isso.

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