3. Fim
22 HORAS ANTES
- Eu prefiro o terceiro CD. Acho mais bem elaborado.
- O segundo é melhor! Que isso, Dudinha! O segundo é a cara deles. É a essência da banda!
Era alucinante ver sua animação enquanto conversávamos sobre os Backstreet Boys. Era a banda do momento e TODOS nós gostávamos. Uns mais que outros, mas todos gostávamos. As meninas, loucas PELOS bonitões sarados; os meninos, loucos para SEREM os bonitões sarados. Renato era a cara do Nick (no CD 3, claro). Aquele cabelo dourado caidinho, sua pele bronzeada e os músculos que começavam a se formar de maneira muito, mas muito atraente. Eu só pensava em como seria passar a mão pelo cabelo dele e descer pela nuca e ...
- Você parece com ele... - digo, cheia de coragem.
- Quem?
- O Nick. Você parece o Nick. Seu cabelo, seus... sua aparência em si.
Natália o chamava assim. Nick. Ela raramente falava Renato, ou Re, ou amor. Era Nick. Sempre achei que ela não o amava e sim, a figura máscula e apetitosa que a lembrava de seu Backstreet favorito. E até acho que ele mantinha o mesmo corte de cabelo para que isso sempre ficasse evidente. De fato (e pra minha tristeza), os dois formavam o casal perfeito.
- É... acho que um pouco... - disse sorrindo, com falsa modéstia. - Eles estão demorando... - olhou no relógio.
- É... Estão. Acho que não estou sendo uma boa companhia. Tá certo que não sou tão interessante quanto a Naty, mas posso ter um bom papo...
Eu até tentei fazer uma cara sensual como a DELA, mas não dá. Sério. É impossível. Não é natural pra mim. Eu não sei ser assim. Ainda estou pensando sobre meu fracasso na sensualidade do meu ser quando ele me interrompeu:
- Pois eu acho você muito interessante. Misteriosa. Você é misteriosa, Dudinha.
Isso mexeu demais com meu ego. Ele é tão pequeno e sensível que uma pequena atenção já me fez flutuar feito um balão.
Misteriosa...
Misteriosa...
Eu pensei nessa palavra durante muitos anos. Hoje, não mais.
Perdi o chão, como acabei de dizer. Só consegui pensar em água, ducha, piscina, oceano. Eu precisava de água.
Olhei o relógio. 20:32. Disfarcei meu nervosismo lhe dizendo que precisava tomar água, me virei e dei três passos até o bebedouro. Cinco segundos de longos goles de uma água morna e horrorosa tentando refrescar a insanidade daquele papo... daquele flerte sem fundamento, onde eu só iria me machucar mais e... foi nesse momento que tudo aconteceu. De uma só vez me virei e lá estava ele. De cara pra mim. Muito próximo (muito mesmo). Seus olhos foram até minha boca que estava entre aberta e molhada da água que acabara de beber. Me senti de frente pro gol, sem goleiro para defender. Não pensava em nada mais. Estamos em um lugar público? Seu irmão chegaria a qualquer momento? Algum conhecido passando por aqui? NADA disso me ocorreu. Absolutamente nada.
- Me dá um beijo?
Eu estava sonhando em ouvi-lo dizer aquelas palavras. Não existia a menor possibilidade de isso ser negado.
- Quem quer um beijo não pede, dá.
Essa foi a resposta que me ouvi dizer. Atrevida. Maliciosa. Cheia de segurança. Era meu alterego que tomava conta do meu corpo, pois nunca achei que pudesse ser tão ousada. E a recompenssa dessa ousadia foi ver o brilho em seus olhos verdes e um beijo que, mesmo depois de tantos anos, nunca serei capaz de esquecer.
Foi o beijo mais quente que troquei com um homem em toda a minha vida.
Parecia que toda essa situação durara anos. Contudo, quando olhei no relógio novamente, ainda era 20:33. Nos afastamos e o barulho e tumulto da estação me fez lembrar de onde estávamos. Renato ficou meio sem graça, já eu, estava possuída. Lhe dei mais um beijo úmido, passando minhas mãos por seus cabelos muito lisos e deixando com que ela sentisse a textura de sua nuca. Ele me apertou forte e pude sentir que estava excitado. Mais uma gloriosa vitória e satisfação infinita. Já conseguia imaginar Renato terminando com Natália e nós assumindo nosso namoro. Daqui a poucos anos, nos casaríamos e teríamos um casal de filhos com os mesmos cabelos sedosos que os dele. Natália não o esqueceria porquê... porquê ela nunca aceitaria o fato dele ter me escolhido.
Quando nos separamos novamente, seus olhos estavam arregalados e ele não disse nada. Antes de pegar o metro que estava prestes a sair, dei-lhe um beijo próximo a sua orelha.
- Foi muito melhor que nos meus sonhos.
Corri e entrei no metro. Quando a porta se fechou, vi Thales e Mari olhando para mim.
***
Cheguei em casa e corri pro banheiro. Estava segurando o vomito desde o momento em que fora flagrada. Depois do banho, liguei diversas vezes para Renato, mas só dava ocupado. Estava furiosa com a possibilidade da minha felicidade ir para o ralo abaixo. Eu havia conseguido! Finalmente! Aqueles dois bobocas não tirariam o Renato de mim! Estava tudo planejado! Somente a meia noite consegui que alguém me atendesse. Thales fora frio, como era de se esperar, mas a frieza de Renato me desmoronou. Ele nao podia agir daquela maneira! Fora perfeito demais para que ele tratasse como um erro imperdoável! Se ele achava que iria pedir perdão a Natália e eles voltariam a ser o casal perfeito novamente, ele estava terrivelmente enganado. Eu não deixaria que ele tratasse do momento mais especial da minha vida daquela forma.
No dia seguinte, cheguei mais cedo na igreja. Uma hora antes, pra ser mais exata. A Naty costumava chegar adiantada támbem e eu só precisava falar com ela antes dele.
***
23 HORAS DEPOIS
(OS EVENTOS QUE ACONTECERAM APÓS A MINHA CONFISSÃO, FORAM REVELADOS POR UMA PESSOA QUE SEMPRE LUTOU PELA PAZ MUNDIAL, NESTE CASO, NÃO SERIA DIFERENTE)
Embora Natália fizesse muitas perguntas, no fundo, ela não queria as respostas. É doloroso demais ser traída. E realmente, não importa o motivo. Traição é algo que causa dor só de se pronunciar a palavra. Não me lembro exatamente como acabou aquele dia para mim, mas jamais esquecerei de como acabou o dia para ela.
Natália pegou sua mochila e saiu pelo portão da igreja. Ela estava sem chorar e pensei no quanto ela estava se esforçando para não demonstrar. Ainda acompanhei ela se afastando do prédio até que virasse a esquina. O caminho para casa fora uma verdadeira tortura. Segurar as lágrimas no metrô, conter a ânsia e o ódio diante de tantas pessoas, fora quase surreal. Ao chegar em casa, o colo de sua mãe nunca fora tão usado até os dias de hoje.
Ela realmente amava aquele garoto. Amava o suficiente para fazer planos para o futuro. O casamento era planejado nos mínimos detalhes, os nomes de seus filhos já fora escolhidos e eu sempre fora avisada de que seria sua madrinha.
Minha ex-amiga chorou por quase toda a noite. Chorou prometendo que nunca mais confiaria em ninguém. Nunca mais entregaria seu coração e sua amizade à uma pessoa se quer.
Mal sabia ela que a vida ainda lhe reservava suas verdadeiras amizades e que em poucos meses reencontraria o grande amor de sua vida.
CONTINUA EM MAIO...
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