Capitulo 45

***

Uma semana se passou desde que retornei a minha pequena fazenda, nesse tempo compramos alimentos que realmente eram importantes, ao invés de besteiras como bolos e tortas. Conseguimos dois porcos e um galo que mais parecia ser um sobrevivente de uma grande explosão química.
- Olha só que maravilha - disse Julian próximo ao chiqueiro.
- Hein? Cadê a maravilha? Perguntou Vanda fazendo cara de quem não estava entendendo nada.
- Tudo isso - ele apontou para os dois porcos.
- Dois cacetes de porcos magrelos e um galo gay? nossa que MARAVILHA - Ela zombou. Eu fiquei próximo a porta apenas rindo dos dois. Mas eu não fazia apenas isso, naquele mesmo momento pensava no próximo passo que daria naquele início de dia.
- Com você o número de porcos aumenta - Julian alfinetou Vanda.
- Claro, e Ethan - ela se virou para mim - Você não me disse que iríamos criar veados - ela olhou Julian de cima a baixo.
- Sua...
- Fiquem quietos vocês dois, preciso dizer algo.
- Perdeu sua revista pornô? - perguntou Julian me deixando vermelho.
- Continuando, eu estou indo até a cidade.
- Fazer o que? - quis saber Vanda.
- Estou indo falar com as irmas no bangalô. Quero respostas, preciso saber o motivo delas estarem vendendo a minha casa, sendo que esta não pertence a elas.

– Assim? Do nada? Vai chegar lá e dizer o que? — Julian veio até mim.
— Vou dizer o que acabei de dizer. Vou perguntar o porque estão vendendo a minha casa.
— Isso é burrice — Vanda discordou da minha ideia.
— Não é não — prossegui — vou chegar lá e ir direto ao ponto.
— Temos que repensar isso, Ethan — dessa vez quem falou foi Julian, reforçando a crítica de Vanda.
— Não tem o que pensar, tenho que ir direto ao ponto pra resolver logo isso. Ficar dando voltas em um assunto tão simples não vai me ajudar a nada. Eu chego, pergunto, elas respondem. É isso.
— Isso é suicidio – Vanda voltou a discordar.
– Bom, não estou pedindo pra vocês concordarem. Estou dizendo o que vou fazer.
– Além de burro é arrogante.
— Cuidem da casa enquanto eu estiver fora — dei as costas após terminar de dizer.
— Eu vou com você — disse Julian me seguindo.
— Não — me virei para ele — Eu preciso ir sozinho.
— Por quê?

— Eu tenho um plano b, caso algo saía de controle e para ele funcionar eu preciso estar sozinho.
— Eu posso ficar longe, assim ninguém me vê — ele insistiu.
— Melhor não — voltei a dar as costas — cuide da casa, vou voltar logo... eu acho.
— Teimoso do caralho, filho de uma égua — pude ouvir claramente os resmungos de Julian enquanto me aproximava da porta principal.
— Temos muita coisa para fazer aqui, pare de querer ficar perto da sua namoradinha e venha me ajudar lá em cima — disse Vanda a Julian. Enquanto eu saía para fora de casa, sendo golpeado instantaneamente por uma brisa gelada vinda de uma direção desconhecida. Talvez de dentro de mim mesmo, não sei.
Enquanto caminhava pela trilha de terra, pensava nas várias possibilidades de acontecimentos futuros envolvendo os próximos minutos. Muita coisa podia acontecer, as irmãs podiam simplesmente me atrair e me matar, as revelando a cabeça por trás de todo o plano inicial de sequestro a crianças e isso explicaria o motivo de estarem vendendo a minha casa. Ou não, milhares de outros fatores poderiam as envolver naquilo sem as colocarem como culpadas ou suspeitas em potenciais.

***

— Então apenas continuei andando — Ethan suspirou, evitando olhar diretamente para o rosto de Elizabeth —passo após passo, brisa após brisa e momento após momento. Certa vez meu pai havia me dito que o futuro, passado e presente são como o respirar e o expirar de uma pessoa. Na época eu não entendi o que ele quis dizer mas agora tudo fazia sentido.
Quando você respira, o ato está  no presente, quando o ar percorre suas narinas indo ao encontro dos seus pulmões, o ato de respirar ficou no passado e ao expirar, os dois atos anteriores já se tornaram passado e ambos coexistem em um futuro/passado.
Um ato depende do outro para justificar o seu momento atual de existência, mas no fim é como se os dois atos anteriores não fossem importantes em nossas vidas, apesar de definir elas. O passado só existe em nossas mentes. O presente não existe, levando em consideração que ele logo se transforma em passado e o futuro é moldado de acordo com nossas ações nesse curto período de existência. O fato de me lembrar do que meu pai havia me dito se dava aos próximos acontecimentos em minha vida, pois com eles eu iria definitivamente entender o enigma envolvendo todos os acontecimentos, passados e futuros. Não entenda como uma aula, pois talvez eu esteja errado. Entende como um aprendizado, Elizabeth.

Ethan levou a mão direita até a cabeça.

— Ah, eu estou falando besteiras demais — sorriu — o que eu quero mesmo dizer é que o passado, presente e futuro são definidos por atos estranhos que acabam se interligando de uma maneira bem enigmática. Quero te dizer isso agora pois em breve terei que te revelar algo sobre mim. Bom... sobre nós — Ethan parou frente à janela do hospital — Eu nem devia estar tocando nesse assunto agora, mas não sei se vou poder te contar toda a verdade. A minha doença parece estar avançando muito rápido então é bem provável que eu faça alguma besteira e acabe sendo demitido. Mas enfim, de qualquer forma quero que saiba de uma coisa... nosso primeiro encontro não foi nesse hospital e pôr isso estou dizendo essas coisas loucas envolvendo o passado, presente e futuro. Eu disse, está tudo interligado em uma enorme comédia divina, eu me pergunto: O destino se diverte criando essas teias de aranha?

***

Cruzei boa parte da pequena cidade fitando o chão, chutando latas e litros, papeis e embalagens de doces. As pessoas pareciam ter ficado mais porcas, não, elas definitivamente ficaram mais porcas. Cheguei a essa conclusão após ver um homem de roupas esfarrapadas derrubando uma lata de lixo, em seguida ele começou a revira-la a procura de algo, certamente comida velha. Não consegui ver seu rosto pois o sujeito se agaichou de costas para mim enquanto outras pessoas paravam para assistir a cena lastimável.

Eu tenho dinheiro, posso ajudá-lo.

Não, isso não é problema meu.

Ele precisa de comida.

Eu também preciso.

Preciso ajudá-lo.

Preciso seguir em frente.

A minha mente criou sua própria divisão de caráter enquanto eu passava por aquele homem, tomei a decisão de não ajudá-lo e de muito menos o olhar para ver quem era, apesar de estar curioso. Ali começava a minha real mudança, a passagem de um garoto de bom coração para um garota egoísta que começaria a pensar só em si mesmo.
Após andar por mais alguns minutos, cheguei até uma rua inclinada de pedras calcárias e no topo dela ficava o bangalô das irmãs Grumes. Então havia chegado o momento de as confrontar, era eu: uma criança. Contra elas: duas mulheres altas e mais experientes. O que poderia dar errado?
Subi rápido a rua e antes de bater na porta (que ficava a três degraus de distância) respirei fundo e retomei o fôlego que havia perdido naquela subida. Então o fiz, dei três batidas que soaram como três chutes. Devia ter batido mais fraco, aquilo soou ameaçador demais. Mas agora era tarde, o nervosismo já tomara conta de toda a minha mente. O que aconteceria quando a porta se abrisse? O que eu diria? O que elas diriam? Devia me preparar para o pior ou para um possível melhor?
A porta arredondada de madeira começou a se abrir, não havia mais tempo para planejamento. Era tudo ou nada. Uma figura alta se revelou a mim, usando um vestido vermelho e bem curto, quase me possibilitando ver sua roupa íntima, devido a minha pouca altura. Era uma das irmãs e pôr azar era a qual eu nunca mantera contato antes. Ela olhou para ambas as direções e pôr fim voltou a me encarar, como se não entendesse nada.

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