Capítulo 34
— OK, vamos fazer do modo difícil — ela abriu a maleta revelando vários objetos reluzentes, entre eles havia algumas pequenas facas prateadas, bisturis e dezenas de outros objetos que eu não fazia a menos ideia do que fossem.
— Não me machuque — pedi com a voz tremula, o ódio havia dado lugar ao medo, o medo de uma criança indefesa.
— Onde ele está?
— Eu não sei, eu juro que não sei.
— Que feio, uma criança mentirosa é tudo o que não precisamos. Não me surpreende os seus pais terem te abandonado.
— Eles não me abandonaram... Vocês que me tiraram deles.
— Nós salvamos você, agora vamos ao que interessa.
Cassandra revirou os itens até encontrar um pequeno alicate.
— O que é isso? O que vai fazer? Eu já disse que não sei onde ele está — comecei a chorar antes mesmo de sentir qualquer coisa.
— Poupe sua voz, vai precisar dela para gritar.
Ela posicionou a boca do alicate em um dos dedos da minha mão direita e fez um único movimento brusco, o quebrando.
A dor infernal me fez dar vários gritos enquanto chorava e fitava meu próprio dedo distorcido. Era uma cena horrível para uma criança e o meu desespero não fez com que Cassandra desistisse de me torturar, do contrário, ela sorria me vendo agonizar.
Ela posicionou novamente o alicate em um outro dedo e fez a mesma coisa. A aquela altura eu tinha total certeza de que todos do orfanato estavam escutando meus gritos, a minha mente foi tomada pela aceitação de que eu não sairia vivo dali e novamente acabei desmaiando.
Fui despertado por fortes tapas no rosto dados por Cassandra.
— Desgraçado, não vai fazer corpo mole. Não agora, a brincadeira nem começou — ela me deu mais dois tapas, eu estava sem forças para gritar e ainda podia sentir a forte dor vinda dos dois dedos quebrados.
— Mae... Pai... — sussurrei enquanto encarava o chão, eu precisava ser salvo a qualquer custo. Talvez Julian chegasse naquele exato momento trazendo a polícia e tudo ficasse bem, ou até mesmo meus país vindo salvar o filho desaparecido. Mas nada disso aconteceu.
— Vamos consertar esses dedos, afinal não queremos que você os perca não é mesmo? — ela segurou os dedos quebrados e os fez voltar a posição inicial. Eu senti toda a dor, mas ao invés de gritar apenas deixei escapar longos gemidos e minha visão voltou a falhar. Mas dessa vez não desmaiei, me mantive firme.
***
— Veja só quem temos aqui — Ethan foi interrompido por uma voz masculina. Uma voz conhecida e irritante. Ele voltou seus olhos para a porta do quarto de Elizabeth e Nolan estava parado frente a ela.
— Você — Ethan levantou-se do chão e encarou Nolan — Eu estava mesmo precisando conversar com você...
– Não faço a menor ideia do que alguém como você teria para falar com alguém como eu – Nolan adentrou no quarto enquanto atacava com sua arrogância.
– Isso não é sobre mim ou sobre você...
– Não, espere um pouco. Primeiro, quem diabos é você? E por que estava sentado no chão do quarto da minha ex conversando sozinho?
– Meu nome é Ethan – Ethan precisou se controlar para não fazer ou dizer nenhuma besteira, a conversa nem tinha começado mas seus nervos estavam a flor da pele.
– E? - Nolan parou bem na sua frente.
– Eu trabalho aqui, como já deve ter percebido no nosso primeiro encontro.
– Continue, ainda não me disse o que quero e preciso saber.
– Bom, eu estava conversando com Elizabeth. Por isso me sentei no chão.
– Incrível - Nolan sorriu balançando a cabeça negativamente – você tem algum problema mental? Por que diabos estava conversando com a Elizabeth sabendo que ela está em coma?
– Isso não vem ao caso, vamos pular todo o papo furado e ir direto ao ponto.
– Que seria?
– Fiquei sabendo que você é uma dessas pessoas ricas que fazem o que bem entendem. Eu quero que você use seu dinheiro e influencia para cancelar o desligamento dos aparelhos da Elizabeth.
– Você quer? – Nolan riu – e quem você pensa que é para querer algo de mim?
– Faça por ela - Ethan apontou para Elizabeth – espera... Você sabe sobre os aparelhos?
– É claro que eu sei.
– E não quis fazer nada?
– Não.
– Típico de pessoas como você.
– Olha como fala comigo, não vai querer arrumar confusão.
– Outra coisa bem interessante nisso, você é rico mas nem se quer ajudou a pagar o tratamento e por isso eles decidiram desligar os aparelhos. Que droga de namorado você é ou foi?
–Meu relacionamento com ela não é e nunca será da conta de ninguém. As coisas são como deveriam ser e não devemos nos intrometer no destino, não é mesmo?
– Como pode falar isso vendo ela desse jeito, ligada a essas drogas de aparelhos – Ethan aumentou o tom de voz.
– É a vida.
– Eu quero matar você, aqui e agora.
– É mesmo?
– O único motivo de eu não fazer isso é porque preciso da sua ajuda.
– Então se ajoelhe – Nolan deu mais dois passos ficando apenas alguns centímetros de Ethan.
– O que?
– Você ouviu bem, se ajoelhe e peça com carinho e delicadeza.
– Olha, não precisamos de toda essa merda de dialogo, nem de brigas e discussões. Apenas ajuda a garota que te ama e que talvez algum dia você tenha amado.
– Eu estou começando a entender tudo aqui, a maneira como você me tratou no nosso primeiro encontro. E agora te encontrei aqui de novo - Nolan riu novamente – você está afim de uma pessoa em estado comatoso? Pelo amor de DEUS.
– Não diga o que não sabe – Ethan não podia negar seus sentimentos mas também não podia simplesmente os revelar. – eu vou te contar o porque estava aqui nessas duas vezes.
– Estou ouvindo.
– Eu tenho esquizofrenia e meu medico me disse para contar meus segredos a alguém. E eu escolhi Elizabeth pra isso.
– Puta que pariu, um doente afim de uma paciente em coma e ainda por cima trabalhando em um hospital – Nolan gargalhou enquanto afastava-se – isso não é mais um hospital, virou foi um grande circo de aberrações. Mas continue continue, que segredos são esses que você tanto conta a ela?
– Eu – Ethan sentia-se envergonhado diante daquela situação e daquelas palavras que acabará de ouvir – apenas coisas do meu passado, coisas ruins que vivenciei até chegar aqui.
– Eu imagino, serio. Uma pessoa como você realmente aparenta ter passado por maus bocados – Nolan falou em um tom de deboche e aquilo irritou Ethan.
– Diferente de você, eu tive que lutar para chegar até aqui. Não nasci na droga de um palácio sendo mimado pelos funcionários do papaizinho.
– Claro, o jovem rico com a vida perfeita – Nolan abriu os braços – é isso que a sociedade acha das pessoas beneficiadas. Mas a verdade, meu caro, é que nem tudo são rosas e isso não é algo que você vá entender. Agora saia do quarto, quero ficar a sós com Elizabeth.
– Não quer ajudar a salva-la e se acha no direito de vir aqui visita-la? A sua hipocrisia não tem fim?
– Se quiser manter seu emprego, saía.
– Você vai mesmo virar as costas para uma pessoa que te amou? Vai deixa-la morrer? É essa a sua decisão final?
– Minha decisão é deixar a vida seguir da maneira dela. Não se deve mexer na droga do destino, já lhe disse isso.
– E você acha que a droga do destino dela é morrer aqui nesse hospital?
– Eu não acho nada, eu só deixo acontecer.
– Desgraçado.
– Acredite, uma vida não vale tanto assim. Alias, uma vida não vale nada.
– Como alguém igual a você poderia saberia o valor de uma vida? Alguém arrogante e mimado.
– Mimado? – Nolan riu – você não sabe nada sobre mim, nem me conhece. Você fica com essa falação inútil de salvar uma vida, usou essa desculpa miserável de precisar contar seus segredos pra poder ficar socado aqui no quarto da minha ex. Certamente alimentando as falsas esperanças da sua cabeça doente, Elizabeth vai morrer em estado comatoso e não à nada que você possa fazer porque é isso que o destino reservou para ela.
– Nosso destino não cabe apenas à nos, ele também cabe as pessoas que estão a nossa volta pois são elas que fazem tudo valer a pena. Cada lágrima derramada, cada luta, cada guerra. E se você desistiu de Elizabeth saiba que a minha jornada para salva-la está apenas no começo, se o destino dela é morrer, então adivinha. O meu é impedir que ela morra.
– Que lindo, desculpe se eu não chorei com essas palavras. Isso se da ao fato de que eu vivo na vida real. E nela coisas ruins acontecem pois estão destinadas a acontecer.
– Assim como você foi destinado e se tornar um lixo de riquinho?
– Exatamente, eu sou o que fui destinado a ser. Desde pequeno aprendi isso, desde o dia em que fui abandonado como um simples cachorro. Eu aprendi e não sentir, eu aprendi a ser o pior de mim mesmo e adivinha, EU GOSTO.
– Espera... Abandonado? Como assim abandonado?
– Eu disse - Nolan empurrou Ethan para trás – você não sabe nada sobre mim, nenhum de vocês sabem. Acha que a minha vida foi linda só por que meus pais adotivos são milionários? É isso? Acha que minha arrogância é fruto disso. Pois vou te dizer, minha arrogância é resultado do meu ódio.
– Você é adotado?
– Eu sou à criança que os pais abandonaram na porta da mansão de família rica com apenas uma porra de bilhete pregado ao corpo e que por sorte foi aceito.
– Espera – Ethan levou a mão até a cabeça enquanto encarava o chão – quantos anos você tem?
– Isso não é da sua conta, agora saía daqui – Nolan voltou a empurrar Ethan.
– O que estava escrito no bilhete? Fale agora.
– Ou o que?
– Eu preciso saber. Era uma mansão? Onde você cresceu era a droga de uma mansão com arbustos em forma de sabonetes?
– Como você pode saber disso?
– A droga do bilhete, o que estava escrito? – Ethan voltou a encarar Nolan. Que parecia tão surpreso quanto ele.
– "Se lembre do calor da sua familia... – Nolan foi interrompido por Ethan que deu prosseguimento a frase.
– "E seja feliz com a nova, seu nome é Nolan Calisto, não se esqueça. Com amor, E.J."
– Como você pode saber disso? – Nolan alterou o tom de voz, estava irritado.
– E.J. Ethan e Julian...
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