Capítulo 43

Sem ter certeza quando dormiu, Ethiena sentiu um empurrão em seu ombro que a retirou de um cochilo ruim e perturbado.

— Thiena! — a voz de Linden a arrancou do péssimo sono. — Acorde, querida! Pr-precisamos sair daqui...!

Abrindo os olhos, Ethiena notou o rosto pálido de Linden e Mariano. O menino estava com os olhos arregalados de medo.

Confusa, a moça procurou pelo motivo do pânico estampado em suas faces, e percebeu que as criaturas do lado de fora estavam chorando mais alto, porém, agora se forçando contra os espaços das barras de ferros. Era como tentar entortar a grade com centenas de raízes.

Ethiena sentiu os músculos em seu corpo ficarem petrificados com a visão, sentindo um terror paralisando quanto parou demasiada absorta com a situação para prestar atenção em outra coisa. Foi a pergunta de Linden que a fez sobressaltar do pasmo geral:

— Consegues levantar?

Sem muita certeza, Ethiena assentiu. Não tinha muitas dores no abdômen como antes, e sua perna estava melhor. Ainda assim, levantando-se, Ethiena se encolheu com um fraco "ai" ao levar a mão ao ferimento. Velozmente o esposo moveu-se para segurá-la.

— Escore-se em mim — pediu ele. — Ou posso carregá-la...

— Não, deve estar casado, correu o tempo todo fugindo. — Ethiena sacudiu a cabeça. — São apenas algumas pontadas, vou ficar bem.

Ainda assim, ela precisou usar o marido como apoio. Não conseguiu ficar ereta, doía onde havia levado um tiro. A cura da Flor Exótica não era rápida.

— Como vamos sair daqui? — a moça perguntou, sentindo sua voz sair com mais força. — Estão por toda a parte.

Linden fez um gesto em direção a Mariano.

— Temos um tiro no grimório — ele piscou para o menino. — O garoto disse que não há de nos atrapalhar, então, abrirá caminho para nós, quando abrir a porta da gaiola.

Ethiena não tinha certeza se um garoto de dez anos poderia brincar com um grimório. Então, sentiu um pouco de vergonha ao lembrar das broncas de Qiteria, dizendo que um menino de dez anos era muito melhor do que ela.

— Está tudo bem — sorriu, incentivando o menino. — Apenas tome cuidado.

Os olhos de Mariano brilharam como se ele fosse uma chama alimentada, ganhando coragem e confiança. Ele tinha mãos pequenas, e o tubo de grimório em sua mão pareceu grande demais. Ainda assim, puxou o último pedaço, pronto para rasgar.

Linden e Ethiena foram à frente, erguendo a mão para uma maçaneta ornamental no portão, que Ethiena não tivera visto antes.

— Vamos correr o mais rápido que a gente conseguir — Linden planejou. — Precisamos sair do jardim e encontrar o lado de fora ou o interior do palácio.

...Se não pegou fogo por inteiro, Ethiena pensou ter lido aquelas palavras em seu rosto, conforme não as pronunciou.

A Imperatriz parecia ter se esquecido completamente do incêndio, dado a circunstância de seu estado físico. Seu coração deu um solavanco, lembrando que poderia ter machucado mais pessoas sem querer, usando magia.

Seu cérebro estava abarrotado de preocupação, e além de tudo seu coração se apertava ao não saber se Lauro, Elmo e Kiwe estavam bem. E, naquele momento, começou a se preocupar com Darcy e os outros príncipes e princesas que ficaram no palácio.

Frustrada, Ethiena tentou lidar com um problema de cada vez.

Ergueu os olhos em direção à sua situação atrás das grades. Os jardins estavam muito escuros agora; mas encontrou luzes que pareciam vir das janelas distantes do palácio. Ver as luzes artificiais significava não estar muito longe de um lugar seguro.

— Faça como planejamos, Mari — Linden falou, retirando-a de suas reflexões ansiosas. — Hei de abrir o portão, então, quando sair da frente, use o fogo para abrir caminho. Então, corra. Entendido?

Ethiena percebeu que era mais um plano desesperado do que lógico. Tentou pensar nos perigos que viriam, entretanto não tinha cabeça para uma análise fria.

Mariano sacudiu a cabeça, e sem esperar que alguém pronunciasse uma contagem regressiva, Linden levou a mão até a maçaneta do portão, puxando-a.

— Agora! — berrou, saindo da frente.

Assim que abriu o caminho, centenas das plantas que pareciam mandrágoras [AdM1] atarracadas, como raízes bebês que berravam feitos crianças desesperadas, pularam em direção a abertura.

Mariano se assustou, mas não se atrapalhou por causa do medo. Mesmo que se tremesse, seu rosto estava determinado, e ao rasgar o papel, jogou a bola de fogo ascendendo como uma chama olímpica em direção as plantas. As criaturas gritaram e saíram dispersas, agitando-se com seus pequenos raminhos em seus braços e pernas gordinhas ateadas em fogo.

— Corre! — Linden gritou para Mariano, que estava fascinado por conseguir fazer sua tarefa sem falhar.

Ele passou à frente dos pais, atravessando o portão em direção as luzes palacianas que surgiam como OVNIS acima do jardim muito escuro. Logo após ele, Linden puxou Ethiena, correndo os dois atrás do filho.

Ethiena olhou para os lados. As criaturas estavam correndo pelo campo em direção a eles, inclusive saindo do interior escuro da mata ou brotando do chão, todos procurando bloqueá-los...

— Continuem! — Linden incentivou, após Ethiena ter ofegado de medo.

Continuaram se arrastando para um lado e para outro, tentando encontrar uma brecha entre os monstros que se aproximavam com violência, muitas delas encurtando ao alcance com golpes que desferiam. Lembravam os movimentos frenéticos de bebês recém-nascidos.

O que diabos eram aquelas coisas?

Ah, mamãe, mamãe — murmurava freneticamente as criaturinhas, dançando em direção a eles — Por favor... — gritavam, seguindo-os.

Quem eles estavam chamando de "mamãe"? Ethiena?

Sentindo um arrepio descer frio por suas costas, ela não achava aquilo engraçado. Mas lhe passou algo pela cabeça, se fosse mesmo o que estivera pensando.

Chegando em uma parte mexida pelas mãos humanas do jardim, Mariano derrapou no piso de pedras cinzentas no meio do caminho. Linden quase tropeçou nele, parando no meio do caminho.

Um grupo de monstrinhos anões em forma de raízes bebês tomavam a grama verde-esmeralda perto de bancos e postes; um frio desceu pelas costas de Ethiena, que não tinha a certeza se poderia passar em segurança. Não tinha forças para correr para o outro lado, ainda mais porque não conseguiria quando estavam cercados por todos os lados. Já nem sequer conseguia parar de tremer. Afinal, não gostava de lembrar o que era morrer: e como não era fácil agoniar até perder o último fio de vida. Tinha medo que morreria ali, devorada por centenas de criaturinhas que não faziam muito sentido para ela. Arfou sacudindo a cabeça com medo.

Os monstrinhos poderiam chamar de "mãe", mas eles continuavam monstros. Um deles tentou morder Mariano, que o chutou para longe. O garoto estava mais confiante, ainda assim era um menino correndo para se esconder atrás dos pais.

Assustada com a ideia de que eles iam ser devorados vivos, Ethiena não aceitaria morrer uma segunda vez sem ideia onde fosse parar. Sua mente ficou em branco e teve apenas um segundo para gritar:

— Parem! — colocou o fluxo sentimental de uma mãe furiosa para fora.

Abruptamente, como se crianças arteiras fossem repreendidas por sua progenitora, as criaturas começaram a parar como se transformado em pedra, parando de se movimentar. Nem sequer uma folha virava ou sacudia em suas cabeças de raminhos.

Ah, droga... Ethiena pensou, sentindo-se mal com a ideia de que as coisas estavam chamando-a de "mamãe".

Ainda assim, ainda que parassem, começaram a chorar desesperadamente por todos os lados. Na verdade, não aguentava mais aquela barulheira de choros e "mamães".

— Calem a boca! — gritou Ethiena. — Não consigo sequer ouvir meus pensamentos!

Todos pararam de berrar em choros agoniantes e agudos. Aquilo era a coisa mais bizarra que ela tivera enfrentado em todas as suas duas vidas.

Com a cabeça pulsando, Ethiena pensou no terror que sentia quando era criança e sua mãe ameaçava em vão com gritos.

— Se não se comportarem, vou pegar o chinelo! — imitou o tom severo de sua mãe, ensandecida de raiva porque estava aprontando. — Vão para seu quarto!

Os monstros começaram a se encolher de medo, alguns deles mergulharam de volta na terra. Os mais ousados continuaram, soluçando um choro engolido e estrangulado.

A dor de cabeça de Ethiena só piorava. Ela precisava de férias daquilo tudo.

Então, virando o rosto em direção a uma saída daquele pesadelo, encontrou a expressão aturdida do marido olhando para ela. A moça queria se enterrar com as plantas.

Se ela tivesse de formular uma teoria, aquelas coisas foram criadas por seu fluxo sentimental, quando estava quase desmaiando, pedindo socorro para qualquer entidade que existisse naquele mundo. Uma entidade como... a Mãe-Terra?

Ela não entendia, mas, após seus estudos sobre magia, era o que lhe fazia sentido. Além disso, ouviu muito sobre o jardim ser mágico desde que chegara no castelo.

— Vou explicar depois — Ethiena falou para Linden, sentindo as bochechas afoguear. — Só vamos para um lugar seguro...

Olhando-a, ele assentiu. Em seguida, a puxou em direção as luzes do castelo.

Afastando-se um pouco, mancando ao lado de Linden, ainda assim, nada era como ela imaginara.

Eles andaram uns minutos, entre os ginseng monstro remanescente, quando Ethiena teve certeza de que eles iam atacá-la a qualquer momento. Engoliu em seco, com medo de fazer movimentos bruscos. Ou eram rebeldes sem respeito, ou estava enganada sobre a sua teoria.

Os três venceram a distância alcançado um corredor cheio de pétalas de flores no chão; havia um portão fechado no fim da trilha. Mas antes que pudessem alcançar um distanciamento seguro, uma das raízes deslizara para fora de um buraco com um aceno de sua cabeça de folhinhas. Ethiena puxou Linden para fora do caminho da coisa, agarrando em seguida a camisa de Mariano para mantê-lo por perto; avançaram, sob a mira de centenas os olhos faiscantes à luz artificial surgindo nos postes do jardim.

Seguiram o mais rápido que puderam, ofegantes e gratificados a cada segundo que o portão parecia mais perto; à frente, mais e mais raízes monstros entrava no campo de visão. Quanto mais andavam, parecia que o caminho não tinha fim. E Ethiena só conseguia pensar em seus outros dois meninos e Kiwe, também em Darcy e no palácio pegando fogo... Ela respirava em arquejos curtos e dolorosos, agarrada a abraço forte de seu esposo... E então o caminho começou a ficar esburacado e mais difícil, e Ethiena teve a sensação de que o jardim estava tentando mantê-los lá para sempre; com todo seu esforço, momentos depois de quase chorar, ela viu um espaço mal iluminado por meio de uma pequena abertura em uma das passarelas iluminadas por postes. Uma brisa gelada que parecia vir do coração do jardim, levantou os cabelos de Ethiena, e um segundo depois, ela ofegou de susto.

Uma figura feminina indistinta surgiu no meio da mata. Ela sentiu um fluxo sentimental tão sombrio, que por um momento acreditou que fosse vomitar. A influência tão pesada, que lembrou seus dias em Walles debaixo de uma opressão sentimental profunda de desesperança, desespero e terror.

— Linin? — murmurou Linden, também assustado.

A mulher parecia muito perdida, afastando centenas de folhas presas em seus cabelos. Segurava a mão decepada pela arma de Kiwe contra o corpo, as roupas estavam rasgadas e muitos arranhões espalhavam por seu rosto e pele. Ao mesmo tempo, chutava as raízes bebês que a chamavam de "mamãe".

Ethiena soube na hora, observando o medo que aquelas coisas tinham, que quem as criou não foi ela, mas sim Linin com sua influência maligna e rebelde. Estivera tão mal algum tempo atrás, que não teria força para nada além de morrer.

Enquanto caminhava a passo lentos, tentou entender os motivos de Linin sentir tanta raiva do mundo, não apenas de seu pai. Pelo que sabia dela, tivera a oportunidade de deixar tudo para trás e viver com seu marido que não lembrava o nome e país. Entretanto, escolheu retroceder e perverter tudo com seu ódio.

Aquele ódio tinha raízes naquele jardim.

Não queria imaginar o porquê, mas se tornou um fluxo de magia tão forte, que se uniu à terra como a Flor Exótica. E ela andava sobre ele como se já tivesse chegada àquela conclusão muito antes deles.

Olhando de um lado para outro, Linin encontrou o portão, caminhando naquela direção antes de Ethiena mexer um músculo do corpo. Levou a mão até ele, abrindo com raiva.

Ainda que estivesse a salvo, era só ela. Não havia a centenas de soldados malucos atrás dela, rindo de sua violência e inconsequência. Talvez tivessem morrido ou se perdido no jardim, Ethiena torcia para que ambas coisas.

Então, sentindo o rosto ficar frio, Ethiena lamentou-se por não conseguir se mexer enquanto estavam no meio do caminho, cercados por centenas de criaturas. O pasmo tomou conta deles, assim como o medo de que um movimento brusco causasse um ataque repentino. E para piorar, Linin os viu assim que se virou para procurar um caminho para o palácio.

Estava um pouco longe, entretanto dava-se para jurar que seus olhos brilhavam de ódio e prazer. Linin riu alto, puxando a pistola do coldre em seu cinto.

Na escuridão injetada, a moça sentiu Mariano agarrar seu braço, e juntos eles deram um passinho para trás temorizados.

— Que gratificante! Parece-me que o jardim anseia que nos encontremos — falou alto, abrindo o portão para entrar de volta até onde eles estavam. — Coloca-nos a cruzar o caminho, não importa o quanto andemos ou fogem de mim.

A conclusão sarcástica ecoou nos ouvidos de Ethiena como se o jardim tivesse gritado uma gargalhada macabra. Ethiena não podia acreditar. Seguramente, alguém estava querendo mesmo que eles se encontrassem e matassem um ao outro.

— Enquanto estivera a tirar um cochilo nas celas do castelo, passarinho-preto, plantei ervas daninhas que tomaram vida com seu fluxo sentimental de Santa da Vida — explicou Linin, erguendo um riso no canto de sua boca. — Ou talvez, quando teu sangue tocou o chão. Tu regaste o solo do jardim, que envenenei para dar-nos saída do lugar.

Pensativa, Ethiena ainda sentia seu sangue empapar seu vestido, mas ainda não tinha ideia do quanto esteve a sangrar enquanto era carregada no colo por Kiwe, em seguida por Linden. Em algum momento, seu sangue deve ter escorrido para o chão.

Linden apertou o lábio durante o silêncio atarantado, franzindo a testa.

— Já fizeste tal heresia quando éramos mais jovens — ele lembrou, horrorizado. — Patres tiveram o trabalho de matar as ervas-daninhas, enquanto tu riste até doer a boca em um canto até o Imperador descobrir o que fizeste. Nosso pai, em seguida, a levou a Revia...

Houve um segundo de silêncio.

— Revia fez-te muito mal — Linden observou com muita dor no tom de sua voz.

Linin deu de ombros, em um argumento silenciosa de muitos significados.

— Errado, querido, pois em Revia fui melhor tratada que no fundo de cá, este palácio de cobras e víboras — respondeu, cuspindo no chão. — Implorei a ti, Linden, que ficasse lá comigo. Mas escolheu o papai e esse trono de mentiras e coerções.

— Bem, pensei na ocasião, que Aleksei seu marido era um idiota, e que se ficasse em Revia morreria de algum acidente misterioso. E a ameaça clara e audível dele fez-me prezar por minha vida. — Linden estremeceu como se descesse um calafrio em suas costas.

Uma luz bruxuleante dos postes, iluminou o rosto pasmo de Linin.

— E não penses, Linin, que não tentei resgatar-te, mas toda vez que tentava, Aleksei ameaçava uma crise diplomática que nos poria em guerra. Uma guerra com o beberrão do nosso pai, colocaria o Império pior do que está após a Grande, que estivemos inevitavelmente a nos envolver — Linden revelou. — Da última vez, Elias e eu tentamos tirar-te de Revia, mas não podemos sequer atravessar as fronteiras. Seu querido Aleksei colocou suas tropas a nos caçar, e no dia seguinte A Grande esteve a estourar. Prometi a mim que a salvaria após isso, mas tu resolveste infiltrar-se em Walles aproveitando-se da guerra...

Ethiena olhou para o marido, percebendo que ele não contava muita coisa para ela. Havia muitos segredos que guardava da esposa, quando prometeram honestidade um ao outro. Ethiena também teve um pouco de compaixão, afinal, tivera que lidar com tantas coisas que causaria uma isquemia em uma normal. Ela sentiu dores de cabeça, somente de pensar em lidar com o pai roubando sua noiva, ou da irmã louca começando uma guerrilha.

Linden era o santo, na verdade; pois continuava (pelo menos aos seus olhos) uma boa pessoa que desejava o bem da nação. Ethiena, após Walles, só desejava dissimular e causar, embora em prol do povo.

— Não estás a perceber — sua voz saiu baixa e dolorosa — que Revia a usa como uma peça para desestabilizar o país, para nos dominar após tua guerra sangrenta de conquista e rebeldia?

A irmã pareceu refletir um segundo, mas riu em seguida. Ethiena notou como os irmãos compartilhavam mais lembranças do que gostavam de tocar no assunto. Era como se fingir que um ou outro não existia fosse um muro de proteção.

— Que o Império caia! — Linin cuspiu no chão outra vez. — Não hei de importar-me com uma folha que nasce nesta pocilga.

Linden sacudiu a cabeça, notando-a engatilhar sua pistola.

— Fizeste tua escolha, irmão — respirou fundo, como se aquele fato doesse em seu coração. — E ainda me decepciona com tua consorte... Se quisesses que o Império continuasse firme e forte, devias ter tirado Diana de Saxônia como esposa. Haveria de entender minha oferta como se tu fosses meu aliado, e nada disso poderia estar a acontecer.

Com aquilo, Ethiena percebeu que havia mais história por trás de seu casamento que Linden não havia contado a ela. Não tinha ideia sobre Diana de Saxônia, e se sentiu confusa do que eles estavam falando.

— Ah, tudo bem, irmão — Linin inclinou um sorriso no canto de sua boca. — Plantar ervas-daninhas resultou muito melhor do que estive a imaginar. E quando encontrar a Flor Exótica da família, farei do mundo uma grande e única Pátria Mãe, provando ao mundo que sou melhor que o papai ou tu.

Linden riu com desdém.

— A Flor Exótica está a fluir em minha esposa — disse ele. — Tu a encontraste, mas não haveria de querê-la, sua idiota preconceituosa.

Ethiena olhou ao marido, ainda mais confusa.

— O que diabos tu fizeste? — Linin ficou furiosa, espiando do rosto atarantado de Ethiena ao triunfante de Linden.

A expressão do Imperador não se alterou. Os olhos pareciam arder no fogo.

— Lembra-se do que o papai esteve a nos dizer ao contar o segredo da família? — ele riu, desviando o olhar em Ethiena com carinho e amor. — A Flor voltaria a ser tocada e daria todo seu poder a alguém digno, sem intenções malignas como a tua causa? Não foram as vibrações positivas e tampouco a reza que reviveu Ethiena, mas sim o sabor das pétalas da Flor Exótica que fluem agora em seu corpo. Eu barganhei e mostrei a Flor que ela poderia viver em outro receptáculo.

O rosto de Linin moveu-se com ódio escaldante e repentino. Alguma lembrança do passado deve tê-la feito perder todo o controle.

— O quê? — Ethiena, no entanto, piscou assustada para o marido.

Ela não sabia se estivera blefando, mas lembrou que ele não se preocupou em fechar as portas da gaiola onde residia o coração do jardim mágico. Se aquelas pequenas coisas que esperavam um comendo para atacar ao redor deles eram heras venenosas, não haveria dúvidas que eles atacariam a Flor Exótica e a mataria para sempre.

Assombrada com a ideia de ter se tornado algo além de uma Santa da Vida, Ethiena sentiu sua cabeça rodar. Ainda mais quando ouviu a risada fria e medonha de Linin piorar o fluxo sentimental sombrio ao redor. Ela sentiu um calafrio descer até seu estômago, sentindo-se ameaçada com uma intenção assassina.

— Muito bem, irmão — Linin falou, friamente. — Hei de prender essa mulher em uma gaiola, como um passarinho-preto. E farei dela muitas experiências. Não prometo, que hei de fazer disso algo menos doloroso, pois hei em causar tanta dor que haverá de escolher dar-me tudo o que desejo por espontaneidade. Sua preta irá sofrer, Linden, e nunca, jamais, hei de deixar com que morra, pois hei de levá-la a loucura depois de fazê-la servir-me como uma escrava.

Linden afastou Ethiena para trás de suas costas, protegendo-a ao abrir os braços.

— Tu deves tentar, Linin, mas nunca há de conseguir o que almejas — Linden finalmente falou, firme e incólume.

Ninguém falou nada por uns segundos. Pareciam tão irritados e magoados, quanto o coração de Ethiena batia descompassadamente como se estivesse tentando abrir caminho para fora de seu peito.

Lentamente, Linin ergueu a mão que segurava a pistola entre os seus longos dedos. Um sorrisinho odioso dobrou no canto de sua boca. E como sempre, ela não hesitava em atirar.

Um estrondo explodiu em um eco seco pelo jardim. Ethiena teve apenas um segundo, empurrando Linden da frente da linha do tiro. Ela viu algo veloz passar perto de seu corpo, quando o marido saiu da frente.

Mas o segundo tiro de Linin acertou em seu braço, ardendo. Gemeu de dor, levando a mão até o ferimento.

— Sua maldita preta! — gritou Linin, sacudindo a arma no alto, incapaz de atirar uma terceira vez.

Pelo menos, Ethiena soltou um risinho pretensioso, pois compreendeu que Linin não iria matá-la, agora que era muito valiosa.

Estava cansada de ouvir calada, tremendo-se de medo do fluxo sombrio daquela mulher. E agora que seu corpo estava menos dolorido, também se recordou que podia fazer alguma coisa.

— Eu sou a Flor Exótica e o coração desse jardim! — Ethiena falou o mais alto possível, com toda a força que conseguira juntar. — E eu não vou mais admitir que ameace a minha família.


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Notas da Autora

Pensa numa história que quanto mais falo "vou encerrar", aparece um capítulo do nada para sapatear na minha cara e não conseguir fechar tudo kkkkk. Devia ter feito dois livros (palm face).

Mas é serio agora, vou encerrar, falta pouco tempo até o fim do Wattys 2021! Estou deixando até outras histórias de lado, só para dar atenção a Flor Exótica.

Espero que gostem desde capítulo, embora abriu alguns furos, mas quando voltar e fazer a revisão, vou corrigir. Já anotei o que tem que ser corrigido.

Até mais, beijos,

Audrey.

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