Capítulo 39
Ethiena parou no meio de um corredor escuro, iluminado apenas pela lanterninha em forma de orbe, que Kiwe trouxera de seu país ultramoderno. Eles haviam entrado em corredores secretos, e fugido para o interior das paredes, em seguida para escadarias que levavam para baixo.
Se apoiou em seus joelhos, respirando com dificuldades.
O ar no que parecia os esgotos abaixo do Palácio de Cristal era um tanto de baixa densidade, conseguindo dificultar a respiração. E ela ainda se sentia febril.
— Continues a caminhar, Ethiena — pediu Linden, parando no mesmo segundo que ela. — Não estamos seguros.
— Eu sei — a garota ofegou, sentindo o suor escorrer pelo tecido da roupa em suas costas. — Só me dê um tempo.
Linden levou a mão até sua testa, e resmungou algo incompreensível.
— Ouvi o que estiveste a fazer — sua voz saiu irritada, mas não agressiva. — Esteve a manipular fluxo aether sem um conduíte? Por mais que tu possas manipular magia como uma Santa da Vida, aether há de ser tão nocivo para ti quanto para qualquer pessoa normal.
Ethiena ergueu o rosto em sua direção. Ela estreitou os olhos.
— Tanto faz — bufou. — Mas estou confusa sobre porque se fez de morto, e quase me enviou à tristeza uma segunda vez.
— Pensas que estive a fingir-me de morto?
Linden abriu a boca, completamente indignado.
— Não o fiz de propósito — respondeu, levando a mão até seus ombros. — Depois que viste-me entrar naquele trem, Qiteria veio a suar até nós, dizendo-nos que eufores das linhas de trem detectaram o fedor de pólvora. Como nos Concelhos em Walles.
Ethiena percebeu que o rosto bonito de Linden estava franzido, e seus olhos pouco iluminados pelas luzes dos orbes de luz, pareciam completamente frustrados.
— Tivemos apenas pouco tempo para fazer o trem parar na próxima estação pós Lisbona, para conseguir fugir — explicou, sua voz ecoando no fundo dos túneis. — E mesmo lá, fomos atacados por soldados da Facção Rebelde. Eles tomaram todas as estações, para que o trem não parasse até o ponto de explosão. Se Qiteria não estivesse lá, talvez estivesse mesmo morto. Como uma heroína, lidou com a crise com bravura e está a merecer uma medalha de honra por livrar-nos em tempo.
Ele afastou a mão do ombro de Ethiena, e apontou para Kiwe, que estava de costas para eles, observando uma bifurcação entre túneis a frente.
— Nós tivemos muitos problemas para cá conseguir chegar — bateu com a língua nos dentes. — E só conseguimos, pois o Rei de Nashanti gentilmente resolveu nos ajudar enquanto estivesse a fugir da Facção. O exército de Nashanti e Portuália juntaram-se em Cintra, e estão a tomar todas as cidades que a facção esteve a roubar. Enquanto tropas menores estão a retomar o país, duas legiões marchou a Lisbona para reaver o controle do país. Reconquistamos a cidade em questão de horas. Portuália ainda está sob meu comando. Mas após ouvir que Linin havia capturado a ti e todos nossos apoiadores, cercamos todo o Palácio de Cristal. Ninguém entra ou sai.
Ethiena ficou boquiaberta, tentando visualizar todos os problemas que Linden passou. Seu coração apertou-se.
— Como está aqui, se ninguém entra? — ela tentou ser um pouco pondera, lembrando-se dos treinamentos que fizera para se tornar uma líder de equipe.
— Sou o Imperador — Linden sorriu com pretensão. — Deves ter escutado outrora, que o jardim em volta do Palácio é mágico. Pois então, ela me reconhece como seu dono. De tal modo, posso passar por ela sem quaisquer problemas. Eu era o único que podia te salvar.
— Pois é, e prrecisei virr junto, caso contrrário, esse estúpido Imperador farria uma bobeira sozinho. Tanto meu pai como Comodorro Elias, pensam igualmente. Acrrreditam que o líderr do país deverriar deixarr o trrrabalho de rresgate parra os milatarres. — Kiwe falou, bufando com desgosto.
— Eu sou um militar — Linden fez uma careta. — Além disso, como poderia ficar quieto, quando estive a escutar que Linin pretendia executar a minha mulher?
Ethiena sentiu o rosto corar com a expressão apaixonada e aliviada em seu rosto.
— Bom, amigo, também estou prreocupado com Srta. Darrcy — Kiwe encolheu os ombros.
O sorriso do Imperador se ampliou.
— Temos cá um pouco de sorte, pelo menos — observou. — Podemos passar pelos jardins, pois ele entende-me como dono dessas terras. Não digo o mesmo para a doida da minha irmã.
Ele deixou um risinho malvado escorregar.
— Linin está cercada por todo o exército de Nashanti, de Portuália e os jardins se fecharam em um muro de espinhos. Nem um aerobarco há de tirá-la de cá.
Após um momento absorvendo aquelas informações, Ethiena se deu conta de que seu coração estava descontrolando no fundo de seu peito. Começou a sentir-se desperta e desesperada agora que a liberdade a beijava. Um medo se espalhou por dentro dela como veneno, fazendo-a lembrar-se dos sorrisos e do conforto de seus filhos. Não tinha ideia se Zaraym estava vivo, ou o que havia acontecido com Darcy e seus irmãos.
Mas sabia que todos ainda estavam lá.
— Nós temos que salvar os outros — Ethiena desencostou da parede que havia apoiado as costas para cessar as tonturas da febre. — Se eu fosse Linin, sabendo que estou cercada, usaria a mim, a Imperatriz, para abrir um caminho para fora daqui. Sem mim, certamente, usará alguém importante. Seus irmãos, Darcy... Talvez, meus filhos.
Um canto da boca de Linden estremeceu, ficando pálido ao notar o rosto angustiado de Ethiena.
— Estou preocupado com os garot... — ele rapidamente se corrigiu. — Estou preocupado com meus filhos tanto quanto vosmecê. Também com todos os meus irmãos. Soube que eles a apoiaram como Imperatriz, mas nada importa, pois estamos no meio de um golpe de estado, proposto por meu tio Amaro e Helena Teodoro aliados a Linin.
O rapaz levou a mão até a de Ethiena, segurando com cuidado como se apanhasse algo que fosse desmanchar.
— Sei que eles hão de tornar-se moeda de troca para Linin tentar safar-se — disse suavemente. — Mas não poderão sair do perímetro do palácio, pois não está em meu controle. O jardim mágico está a cercar tudo, o exército não pode entrar e nem ninguém há de sair. Mas, por mais que Elias tentou me dissuadir de tal plano, ainda podemos usar o jardim para um contragolpe.
Ele sorriu, e Ethiena estreitou os olhos outra vez.
— O que está planejando? — perguntou, desconfiada.
O Imperador mandou um olhar a Kiwe, que sacudiu a cabeça com confiança.
— Tu és uma Santa da Vida, Thiena — voltou os olhos em sua direção. — Tu podes tornar todo o jardim em nosso exército.
Ela ergueu o rosto em direção ao marido como se tivesse levado uma picada de agulha. Recordou-se da sensação terrível de segurar aether com mãos, sentindo um terror inexplicável.
— Definitivamente não — respondeu, seu estômago revirando. — Acredita, Linden, que posso fazer brotar soldados como "Barbárvores" ou assobiar para invocar a Caipora?
O rosto de Linden abriu-se por completo.
— Tu leste O Senhor dos Anéis? — questionou, animado, fora de tom.
Ethiena afastou suas mãos, revirando os olhos.
— Estou tentando te explicar, caramba, que como sou uma descrente nata, essa história de magia não me cai bem — a moça moveu-se em direção a Kiwe. — E não acho que ela também goste de mim.
— O fato de que a sente como um ser vivo, quer dizer que tu és mesmo uma Santa da Vida, e a única que podes conversar com ela — Linden caminhou em sua direção.
— Acredito, então, que estamos gritando uma com a outra — Ethiena ainda se tremia, principalmente quando visualizou na mente, a abóbada do salão do trono despencar nas pessoas. — Eu vim de um mundo, Linden, que magia fazia parte dos livros infantis. Pensa que é fácil acreditar que posso fazer brotar vida do nada? E toda vez que uso magia como artifício, algo muito ruim vem disso.
— Sei que estás relutante, querida — o rapaz se aproximou novamente, repousando a mão em seu ombro. — E também ouvi sobre o que aconteceu no Salão do Trono, e só pensei quão incrível deveria ter sido aquilo. Queria ter visto com meus próprios olhos.
Ethiena estremeceu, escutando os gritos de terror das pessoas ao redor. Seu coração encolheu para o tamanho de um grão.
— Fui condenada a morte por machucar pessoas — ela respirou fundo, afastando a mão de Linden. — Não posso controlar essa palhaçada de magia, e não sei se faria algo bom usando a floresta...
— "Palha assada"? — Kiwe repetiu, confuso.
Ethiena revirou os olhos, levando suas preocupações em direção a seus filhos.
— Ao invés de ficarmos aqui parados, deveríamos ir primeiro resgatar meus filhos. Estou me remoendo por dentro, e não posso mais respirar com a ideia de que eles podem estar sendo levados para...
Engoliu suas palavras, contendo a imaginação fértil. Via o sorriso lindo de Lauro se apagando para sempre sobre a mira de um revólver.
Ethiena começou um desespero tão terrível, que quase errou um passo. Se escorou na parede úmida ao seu lado, olhando para além da escuridão.
— Thiena, precisamos primeiro atrair os soldados da Facção para o jardim — Linden correu logo atrás dela. — E se nos escondermos nos jardins, será mais seguro.
— Não sem meus filhos! — Ethiena gritou de volta para ele.
Linden se encolheu.
— Está bem, não há motivos para ficares nervosa — abaixou o tom de voz. — Estou a dizer, que o jardim e tu são tudo que temos para sair...
Sob sua tentativa de explicação, Ethiena lançou a ele um olhar que o fez recolher as palavras, tornando sua boca em uma linha dura. Pigarreou, sacudindo a cabeça:
— Bem, quiçá, podemos desviar um pouco dos planos.
Kiwe engoliu o riso, mas parou no meio do caminho.
— Parra onde irremos, Imperrador?
Suspirando, Linden apontou para a direita na bifurcação à frente.
— Para lá — respondeu, a voz completamente monótona, vencido. — Linin e eu usávamos muitos esses túneis quando era pequeno, para fugir da Imperatriz Helena. Conheço cá estes túneis de cima para baixo. Este é o caminho mais curto para a ala do Imperador.
Os três concordaram em um silêncio significativo, e desceram um desnível de pedras escorregadias, e entraram à direita, um túnel tão escuro que os orbes de luz de Kiwe mal conseguia guiar o caminho.
Ela sentiu o pé afundar em uma água escura, gelando suas terminações nervosas como uma onda de choque. Pelo menos, pensou, o frio ajudaria com sua febre. Sua temperatura começava a baixar um pouco. Não sabia se em face à angústia em pensar em seus pequenos filhos presos nas mãos de Linin, ou pelo ânimo de ver seu marido vivo e a perturbando por seus planos que funcionavam mais em sua cabeça do que na realidade.
Seguiram em silêncio na escuridão por alguns passos, até que Linden falou algo e apontou em direção uma pequena escadaria, que terminava em mais túneis e escuridão.
Ethiena percebeu que a caminhada seria longa. Aproveitou-se que não teria solução, suspirou, procurando a mão de Linden ao parar à frente dele. A segurou com medo de que ele se perdesse dela, no meio daquele escuro e não fosse achado nunca mais. Apertou seus dedos com força, para assegurar que ele não fosse para longe dela.
— Eu assisti ao filme — ela disse quando eles caminhavam lado a lado.
— O quê? — Linden não entendeu.
— O Senhor dos Anéis — Ethiena deixou um risinho ecoar no ar.
O marido, envolto em sombras, engoliu ar como se fosse mergulhar.
— Fizeram um filme d'O Senhor dos Anéis? — falou, como se não pudesse acreditar.
Ela apertou seus dedos, rindo, apesar da preocupação, uma parte dela estava feliz por poder escutar sua voz e sentir seu calor.
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Nota da Autora
Gente, como vão vocês?
Eu sinto muito por ter demorado a postar capítulos, mas aconteceu tantas coisas... Passei por um momento bastante ruim, mas já estou melhor.
No dia que prometi que ia sentar e finalizar A Flor Exótica, minha avó faleceu.
Foi difícil, mas com muita oração e misericórdia de Deus, já estou melhor.
E também, outra história voltou da revisão, e como ela já estava pronta e não precisava pensar muito, só revisar, deixei A Flor para um dia que a inspiração voltasse.
Perdoem-me. Mas vou finalizar para tentar entrar no Wattys, e porque sei que estão ansiosos pelo fim :).
Grata pela compreensão.
Audrey~~
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