Capítulo 19
— O quê? — Ethiena perguntou, após um longo momento em silêncio, observando o rosto do Príncipe Herdeiro.
Linden respirou fundo, como se revelar aquilo tivesse tirado um peso de seu coração. Por outro lado, Ethiena se sentiu tão nervosa, que a rocha nos ombros de Linden foram transferidas para cima dela.
— Assim explica como vosmecê também morreste — o Príncipe continuou, baixo.
Ethiena percebeu um tom de dor em sua voz, e ela também sentiu algo doer em seu coração. Lembrou-se do pânico dentro daquele veículo, da luta pelo ar, das mãos de Pedro tentando salvá-la.
— Como? — as lágrimas escorreram em seu rosto, enquanto não conseguia entender a dimensão daquela história.
— Quando Ethiena invadiu o castelo, tomei coragem e fui confrontar o meu pai. Assim que entrei no quarto, vislumbrei uma pessoa encapuzada que estava a usar magia da água para sufocar o Imperador, enquanto tomava banho em uma banheira que ele dispunha no centro de seu quarto gigante... — Linden continuou. — Não soube quem era, não possuí testemunho de teu rosto. Apenas soei o alarme. Meu pai era um maldito, mas nunca conjecturei matá-lo. O trono é meu direito, tudo o que necessitava fazer é esperar alguém realmente matá-lo e não seria eu, pois não sou um assassino. Mas quando vi aquilo, fiquei muito chocado e minha primeira reação foi perseguir quem matou meu pai.
Ele esfregou o queixo, em busca de palavras que pudessem fazê-lo prosseguir.
— Passei metade da noite procurando o assassino, estive a perseguir aquela pessoa que usava magia livremente. E fiquei confuso, pois me recordei que tão-só duas pessoas no mundo podem fazê-lo. Acreditei que fosse o Santo. O Santo não desce de seus montes em Italiana, deste modo, cheguei à conclusão que era vosmecê, Ethiena.
Linden ficou pálido novamente, olhando-a de cima a baixo. Seus olhos tinham súplicas, como se pedisse a Deus para que não visse o que viu na trajetória daquela história.
— O que aconteceu comigo? — Ethiena exigiu. — O que você fez a essa mulher?
— Eu? — Linden apontou para si. — Não eu, mas a guarda-real encontraste Ethiena, então, eles... a mataram após capturar.
— Duque Sá me disse que foram bandidos...
— Eles forjaram a mentira. A guarda real matar alguém, exclusivamente uma Dama, enquanto o Imperador continuou vivo, seria um escândalo para eles. E eu, simplesmente, não almejei manchar tua imagem, haveria de assumir a culpa — Linden deu um passo em sua direção, chegando mais perto. — No entanto, quando voltei assombrado para o palácio, sem ideia do que fazer, descobri que meu pai ainda estava vivo. Contudo, veio a falecer no dia seguinte.
— E ele voltou a vida, quando Duque Sá usou magia negra para me trazer de volta.
O Príncipe assentiu, escorando a mão no carro atrás de Ethiena. Ele sabia sobre tudo aquilo, mas não contou nada para ela.
— Rui era uma pessoa totalmente diferente assim que acordou — Linden respondeu baixo. — Não soube se devido à experiência de quase-morte, resolveu melhorar. Não entendi o que estava a acontecer, fiquei ainda mais perturbado quando a vi entrar no Salão do Trono. Linda. Confusa. Mal me reconhecendo. Não entendia nada. Acreditei que, quiçá, meu pai tivesse feito algum plano maluco para me afastar. Que tu tiveste aceitado Rui de bom grado, pois ele é o Imperador e, quem sabe, eu não o seja em um futuro próximo. Pensei que tu foste uma golpista, e se o fosse, eu a mataria por brincar com meus sentimentos.
Estava tão perto, que Ethiena sentiu o coração voltar a disparar em seu peito. Ela podia sentir seu cheiro de perfume doce e suor.
— Me disseste que és igual a mim — Linden sussurrou. — Mudou tudo ao que pretendia fazer contra ti, Thiena. Mudaste tudo... Quando não me reconheceste, doeu. Doeu tanto que pensei que fosse morrer de coração partido. Ainda, mesmo após aquele dia, tenho dificuldades em fazê-la confiar em mim.
— Se tivesse me contado tudo isso... — Ethiena o encarou.
Seus olhos, que não pareciam combinar com os corpos que habitavam, se prenderam como ímãs. Seguiam um ao outro. O coração de Ethiena estava tão balançado, que parecia que iria despencar. Que situação estava no meio agora? A disputa entre dois homens por ela? Mesmo em romances pela televisão, Ágata sempre odiou que mulheres fossem objetos de disputas. Odiava triângulos amorosos. E aquele era pior, pois era uma contenda entre pai e filho.
No entanto, observando o rosto de Linden, Ethiena começou a perceber como seu coração se comportava. Era diferente, de alguma forma, até mesmo ao descobrir que o Imperador estava habitado por Pedro.
— Tomei ciência sobre a corrente das sombras pouco tempo depois, quando revelaste vir de outro mundo — Linden assentiu. — Mesmo sobre acordo, pensei que pudeste estar a me enganar. Mas não está...
— Não... — Ethiena murmurou. — Não estou. Tudo o que queria era fugir. E ainda quero.
— Vosmecê — Linden abaixou, aproximando a boca da dela — diferes de minha Ethiena. Não sei dizer, mas me apaixonei por ti, mais do que pela mimada da Mansão Sá, após ouvir tuas bondades. Como libertou os escravos, como os protege, se duvidar, até com teu próprio corpo. Ouvi teus planos sobre alimentar o povo de Walles, e desfazer de todos os luxos da mansão. Ouvi tais coisas e notei, no mesmo instante, que me apaixonei pela pessoa que está dentro dessa mulher.
Ele levou seus lábios até o dela. Ethiena não resistiu. Dentro dela estava tudo um turbilhão. E cada vez que a boca do Príncipe tomava a sua, parecia desligar os seus sentidos. Seus joelhos estavam mesmo bambos.
Sua teoria que a alma herdava os impulsos carnais do corpo se comprovavam. E ela teve certeza, que a Ethiena que morreu naquele corpo, amava Linden de verdade.
Sentiu a mão de Linden segurá-la, quando suas forças esvaíram sobre todas aquelas informações. Ela segurou sua camisa de linho, deixando a língua do Príncipe invadir sua boca. E ela gostava daquele beijo, tanto que jogou os braços ao redor do dele, experimentando diversas sensações por todo seu corpo. Borboletas passeavam por seu estômago. Nem mesmo Pedro, em seu mundo comum, fez com que ela se sentisse tão... não sabia definir.
— Linden! — Ethiena o afastou, percebendo trair Pedro.
Ela se afastou, tremendo-se quando levou a mão até a boca. Os lábios do rapaz eram tão macios que pareciam ainda tocá-la, e ela desejou que não parecesse.
— Me desculpe — Linden se escorou no carro, sem olhar para ela. Abaixou a cabeça. — Vendo-a habitar Ethiena, cheguei à conclusão, que aquela mulher não passava de uma pirralha. Se a tornasse minha Imperatriz, causa-me comichões acreditar que seria pior que a atual. Era tão instável que o que fez, não fizera a pensar em ninguém mais além de si mesma. Encontraria uma solução. Mulheres que perdem sua virgindade, certamente, não poderiam casar-se com o Imperador. Existiam milhões de outras soluções. Era tão simples, mas Ethiena cruzou uma linha que jamais hei de passar.
— Sinto muito — Ágata naquele corpo, ofereceu. Sentia pesar pela perda de Linden. Porque ela não era Ethiena. Seu coração, porém, estava batendo cada vez mais rápido. Desejou confortar Linden, cujo corpo inteiro tremia-se.
Ele finalmente a olhou, espiando primeiramente por cima do ombro.
— Estou ardentemente apaixonado por ti — ele confessou, havia lágrimas em seus olhos. — Me dói a ideia de que combinas planos com meu pai. Dói-me que tu és a concubina oficial dele, e ainda não consegui fazer o que tenho que fazer. Que ainda não consegui fugir para longe contigo. Ainda não o fui, porque queria deixar Walles bem, antes de partir...
Linden, pensou Ethiena, era uma pessoa muito melhor do que demonstrava.
— Eu sei — ela respondeu, segurando o ar. — O problema, Linden, é que... Como devo dizer...? Seu pai morreu naquele dia. Realmente, morreu. E a pessoa que voltou no corpo dele, era aquela que estava ao meu lado quando morri em um acidente de carro. Rui está habitado por meu noivo, Pedro...
A surpresa tomou o rosto do rapaz, que ficou paralisado. Sua pele ganhou algumas tonalidades, até que finalmente teve outra reação.
Linden não conseguia olhar para Ethiena, que sentiu como se ele tivesse enfiado uma faca em seu coração.
— Noivo...? — o rapaz conseguiu sussurrar, escorando-se outra vez no carro. — Não me disseste que na outra vida, estava para casar...
— Príncipe... — ela tentou dizer. — Sabe que assim que foquei em fugir, esqueci até meu próprio nome. Pedro me recordou de que a este mundo não pertenço.
O homem, a sua frente, virou-se com o olhar ferino. As lágrimas ainda tomavam seu rosto.
— Cá, esta situação, é ferrada em todos os graus...! E o que agora? Tornar-se-á a leal concubina do Imperador? — ele questionou, o rosto ficando vermelho.
Ethiena não havia pensado naquela possibilidade. Não pensou em sua própria situação. Só, no fundo, de seu coração queria vencer alguma batalha contra Quintino. A mente não foi tão longe, não vislumbrou no futuro, casamentos, concubinato e nem a ideia de que Pedro agora era casado com uma Imperatriz e outras concubinas. Viu como foi completamente egoísta, herdando mais algum traço da verdadeira dona daquele seu corpo.
Quando ia dizendo algo, Ethiena sentiu o chão estremecer. Dez segundos depois, uma explosão aconteceu às suas costas.
Ela se virou com o coração aos saltos, percebendo uma nuvem de cogumelo subia no ar. Foi tão forte, que tudo estremeceu e Ethiena perdeu o equilíbrio. Depois dos estrondos, sacudindo tudo, veio os destroços. Voou por todos os lados, e Linden gritou algo atrás de Ethiena. Ele pulou a sua frente, sendo atingido em cheio por um pedaço de pedra no ombro.
— Príncipe! — Ethiena sentiu desespero, assim que percebeu o ferimento esfolado em sua pele.
— Proteja-te! — Linden, sem reclamar de dor, a puxou para trás do veículo.
Houve uma longa chuva de escombros por todos os lados. Pedaços de vidros, e pedregulhos voavam e atingiam o carro atrás de Ethiena, que se encolheu nos braços de Linden.
Quando parou, Ethiena respirou fundo para sentir o cheiro de pólvora vindo do interior da cidade.
Ela foi a primeira a se levantar ao constatar que a chuva de pedras parara. Como estava em um barranco alto, onde podia ver toda a Wallesburgo, enxergou uma serpente de fumaça mexendo-se languidamente em uma estranha cor branca e alaranjada. Ela podia escutar os gritos das pessoas ao redor, sem ideia do que estava acontecendo.
— A-Aquele... — Linden gaguejou. — A-Aquele é o Concelho da Cidade...
Ethiena olhou para ele. E teve apenas uma certeza em um segundo: Pedro estava naquele lugar, e o Concelho foi completamente explodido.
Seus olhos giraram na órbita, e não soube o que sentiu além de sua temperatura caindo dez graus. Ethiena desmaiou com a sensação de pânico e desolação tomando cada espaço de seu corpo.
Nota Autora
Tô acelerando a história... Estava muito devagar, e agora será só tiro, porrada e bombas, rsrsrs. Eu me reconectei com ela, então, tá voltando a vida o cadáver. A segunda fase está saindo da jaula!
Neste segundo ato, vou tentar trazer, apesar de que detesto abordar esses assuntos - por preguiça de pesquisar -, os preconceitos raciais (não só de negros) do povinho de Lisbona. Aguardem.
Em breve nóis vorta!
Audrey!
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