Capítulo 11



Cavalgando pelos quilômetros de bosque, Ethiena teve uma ideia. Toda a propriedade da Dama Régia era um completo exagero, e administrá-la custava muito dinheiro. Usar as terras vazias para arrendamento poderia ajudar na manutenção da mansão sem que ela gastasse um vintém do dinheiro que o Burocrata havia provido.

Ela adorou a ideia. Desejou ardentemente para comentar com Sier Martim, mas notou os dois guardas que haviam sido destacados para vigiá-la atentamente, cavalgando com ela, um de cada lado, e suspirou. Os homens de Senhor Quintas não falavam muito, Príncipe Zaraym não podia cavalgar, então estava sozinha e entediada.

Decidiu voltar para mansão, forçando os cavalos a correr. Segurou-se com força nas rédeas, lembrando-se de sua vida passada. Por causa de um cliente velho e muito pervertido, precisou aprender andar a cavalo.

Lembrava-se com desdém de um fim de semana em uma fazenda no interior rural da Inglaterra. Conseguiu muita dor de cabeça, um velho querendo invadir seu quarto no meio da noite e um contrato fechado.

A vida parecia tão mais simples, pensou com amargura. Mas tanto em minha vida comum, quanto aqui, os homens continuam me subestimando.

Quase mordendo a língua, Ethiena lembrou-se de sua reunião junto ao concelho da cidade. Regente Quintino reagiu muito mal quando ela resolveu não usar a força, mas a persuasão. Ele riu sem constrição logo que a moça lhe disse seus desejos em ajudar a cidade. Além de rude, também era um maldito de um preconceituoso e sexista.

― O que sabe uma mulher ― olhou de cima a abaixo ― de cor tão deprimente sobre Walles? Veio de onde mijam ouro e agora pensa que, porque a tratarem como uma deusa, pode também me dizer o que tenho que fazer? Vá para o inferno, vagabunda, e limpe tua bunda com as brasas do demônio!

Ethiena lembrava de ter segurado a língua, para não ordenar Príncipe Zaraym degolar Quintino, ali, na frente de alguns conselheiros do governo. O Regente havia a recebido bem, levado a uma sala de reuniões no castelo do Concelho de Wallesburgo. Muitos nobres faziam parte da assembleia, e eram beneficiados em uma espécie de oligarquia que causava boa parte da pobreza da cidade.

― Bem. Fiz uma proposta de paz, Regente ― Ethiena respondeu. ― Se Vossa Mercê não deseja que atuemos juntos, então, não sentirei remorsos pelo que tenho que fazer.

Ela ouviu uma dúzia de gargalhadas, vindo de todos os nobres ao seu redor. Teve medo naquela ocasião, pois levara apenas Zaraym como sua proteção ― queria saber se os poderosos da cidade já sabiam sobre os soldados que abrigava nos campos de sua propriedade, e para sua própria feliz constatação não faziam juízo.

A pequena reunião encerrou logo depois de Ethiena se cansar de tentar persuadir aquelas pessoas. Se levantou irritada, saindo da sala e depois do prédio com muita vontade de tacar fogo em tudo, com todos os malditos preconceituosos lá dentro.

Se conteve, por não acreditar que assim conquistaria alguma coisa. Pelo menos a população a tomaria por despótica, tanto quanto seus desafetos caso cometesse assassinato ou tomasse o governo pela força.

Mordendo o lábio, Ethiena respirou fundo em sua cavalgada de volta para casa. O tempo estava horrível. A mistura de neve e chuva começou a cair pesadamente com a ameaça de uma tempestade. Ela e os guardas continuaram cavalgando por mais algum tempo, até que Nelson de Caxias fez seu cavalo parar, erguendo-se desajeitadamente nos estribos para olhar em volta.

― Alguma coisa errada, Sr. Nelson? ― perguntou a moça.

Puxando as rédeas de seu lindo puro-sangue lusicano, o animal deu uma volta inteira, inquieto, antes de Ethiena conseguir olhar por cima do ombro em direção ao soldado.

― Minha dama, sinto cheiro de pólvora... ― Nelson murmurou, os cavalos relinchando mais alto que sua voz.

O soldado olhava por todos os lados, ficando pálido. Massas claras de nuvens e neve caíam ao redor, trazendo uma lufada de chuva e gelo. Nelson respirou fundo, procurando com olhos de um combatente acostumado a emboscadas durante a Grande Guerra.

Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Ethiena que começou a desconfiar de algo errado pela inquietude de seu cavalo, sentiu alguma coisa atingir seu braço. O som retumbante e profundo saltou do fundo do bosque, junto uma revoada de pássaros e patos dispersando assustados em fuga. Algo que pareceu uma pedra atingindo seu ombro fez Ethiena cair do cavalo.

― Dama Ethiena! ― ela escutou a voz de Nelson ecoando pela mata.

Desabou com força contra um monte de matos que amorteceram a sua queda. Explosões de uma dor dilacerante e imediata pulsaram em seu braço.

Apavorada, ela apertou os olhos bem fechados, levando a mão em direção a dor. Não sabia como, nem de onde: Ethiena foi atingida por um tiro.

― Me soltem, seus grandes merdinhas! ― escutava a voz de Nelson, em algum lugar longe de seu alcance.

Queria gritar um palavrão, porém não teve tempo em reagir além de soltar o ar que prendeu na expectativa de evitar a dor.

Ethiena se encolheu para trás, assustada com a presença repentina de centenas de pessoas revelando-se dos recantos sombrios do bosque. Queria se levantar e correr, porém sentiu calafrios percorrem seu corpo e ambas as mãos e pernas tremiam. Acreditava que estava entrando em choque, por causa da dor e do ferimento que não parava de sangrar.

― Minha dama! Oh, minha dama... ― Nelson continuava distante. ― Perdoe-me, Regina...

A moça ergueu a cabeça para procurar o soldado, mas acabou apenas por se surpreender ao notar a presença sólida de uma pessoa se aproximando.

Com o mínimo de força que encontrou, Ethiena levou a mão para a pequena adaga presa na bainha debaixo de seu vestido. Antes que conseguisse, uma bota coturno chutou o seu punho, afastando e prendendo com a sola dura feito madeira no solo molhado.

― Oh, nem pense nisso, lindinha! ― disse a voz rouca e feminina.

Assustada, Ethiena ergueu a cabeça para ver a presença de uma mulher. Uma pessoa de expressão cruel, cabelo preto preso em um coque e tranças, olhos embevecidos de tons de escuro. Era robusta, vestindo um uniforme militar combinando com uma centena de fivelas, couro e dragonas.

― Ora, ora, ora ― seu sorriso manchou seu rosto maquiado por esfuziantes rosados e negros. ― Eu não pensei em pegar o passarinho preto fora do ninho tão cedo.

Ethiena percebeu seu tom lamentável de desprezo sobre sua cor. Tentou reagir em resposta, porém a mulher pisou em seu ombro ferido. Ela gritou com muita dor.

― Calma, minha querida, vamos parar um pouco e conversar ― continuou a outra, franzindo as sobrancelhas. ― Não vou te fazer mal, eu prometo... Oh, droga, parece que já te acertei.

Uma retumbante gargalhada preencheu o ar junto dos flocos de neves que jorravam constantes das nuvens cinzentas.

― Q-quem é... Quem é você? ― Ethiena juntou forças para perguntar.

― Poxa, esqueci das educações ― riu a mulher. ― Tanto tempo vivendo nas florestas, e você já se sente como um animal.

Fez um movimento gracioso com a mão, curvando-se em cima dos braços. Em momento algum, desfrouxou o pé do ombro de Ethiena.

― Chamo-me Linin ― disse a mulher. ― Linin dom Vladinova.

Mesmo que a dor tirasse suas capacidades de reagir ou fazer algo além de gemer, Ethiena percebeu Linin usar o "Dom". Um título usado depois do nome e atribuído ao Imperador. Pelo que lhe concernia, um crime usá-lo por menor que fosse o motivo.

― Nosso amigo em comum, Quintino rege Walles, comentou em uma carta sobre a nova Dama da Mansão ― revelou Linin, apertando com mais força a ponta do coturno. ― Vim oferecer meus pesares por seu casamento com o ilustríssimo Imperador. Afinal, tenho lá minhas boas maneiras.

Estudou o rosto de Ethiena, empalidecendo pela dor.

― Me diz, Dama Regina, tua noite de núpcias foi mais difícil do que esperava? ― Linin riu, debochando daquela ideia. ― Pelo que sei do maldito Rui dom Portuália, não tem o costume de seguir as tradições.

― Não...

― Não? Não o quê? Não foi bom?

― Não fiz nada com aquele...

Linin não estava dando tempo de Ethiena responder.

― Mesmo? Acho que já comecei a gostar de ti ― riu alto, e a moça pela primeira vez escutou as vozes de outras pessoas. Ela não sabia quantos, mas parecia que eram muitos. ― Devo dizer que fiquei um pouco desconcertada quando ouvi dizer por Quintino, que uma meretriz do Imperador estava em Walles para pagar o tão honrado cargo de concubina do Imperador. Achei que depois das guerras, abusos de soldados inimigos ou amigos, os filhos sendo arrancados dos braços das mães, as mulheres teriam um pouco mais de orgulho próprio. Droga, parece que há coisas que não mudam. Ainda há muito do que fazer, muita estupidez a ser quebrada.

― O que você quer? ― Ethiena cravou as unhas no couro da bota de Linin.

Ela fitou Ethiena em resposta como se seu ato de bravura fosse uma cobra de estimação abocanhando um rato. Parecia o tipo de pessoa que amava ver inocentes sofrendo.

― Quero trocar uma conversa agradável antes de começar os negócios, minha dama ― disse Linin com decepção. ― Oh, se insiste, podemos ir direto aos negócios...

Finalmente livrou o ombro da pressão da sola de sua bota, afastando-se alguns passos. Ethiena teria sacado sua adaga e tentado lutar, mas ao se escorar nos cotovelos notou a presença de centenas de homens e mulheres. Todos uniformizados, tomando espaços em cada canto ao redor dela, dos seus soldados rendidos que gritavam palavrão e vez ou outra chamavam por seu nome.

Uma gangue, ladrões... Não, pensou a moça, eram organizados demais para simples bandidos de fundo de florestas escuras.

― Esta é a Facção Rebelde, lindinha ― explicou-se Linin, rindo enquanto abriu os braços. ― Ou parte dela. Trouxe mais soldados do que devia, pensando que mostraria mais resistência do que isso. Foi meio que decepcionante.

Ethiena sentiu uma lâmina fria de medo, apertando diretamente sobre o seu coração. Levou a mão para o ombro sangrento, respirando rasamente sem ideia de como aquilo poderia terminar.

― Quintino enviou você? ― a moça teve forças para perguntar, embora a voz saiu trepidante como imaginou que sairia.

― Ele? ― Linin aprofundou as linhas de expressão em seu rosto cruel. ― Bem, apenas me fez saber sobre sua presença. Já ouviu um velho ditado dos portualeses? "O inimigo do meu inimigo é meu amigo". Tu és uma meretriz do Imperador, então, minha inimiga. E em uma guerra entre mim, tu e Quintino, faço daquele crápula meu aliado contra ti.

― Por quê? ― Ethiena se tremeu, ajeitando-se sentada. ― Deveria estar do meu lado, porque quero o bem do povo. Sei que tem em causa o bem-estar dos cidadãos do império.

Seguido de um silêncio rápido, Linin e seus comparsas explodiram em gargalhadas.

― Desde quando uma afrescalhada de Portuália Ocidental quer, senão, fazer-nos de escravos? ― um olhar frio cruzou o rosto de Linin, e Ethiena quase achou que seus olhos eram como uma navalha afiada. ― Tu és uma meretriz do Imperador, que está aqui para colher impostos e pagar sua noite de núpcias com aquele porco nojento!

― Isso é a conclusão que você chegou por si mesmo sem me consultar ― Ethiena tentou se levantar, mas o movimento trouxe uma leve tontura. Percebeu que estava perdendo muito sangue.

A mulher riu, percebendo como as forças da moça eram levadas. Ethiena se perguntou se estava se divertindo ou se deliciando com aquela situação.

― Ah, é? ― riu Linin. ― Não é o que vós, um bando de galinhas cacarejantes, vestidas daqueles babados que parecem penas, fazem? Não ficam todas ouriçadas, com a xoxota piscando para dar para o primeiro duque que apareça? Ainda lembro bem dos bailes de debutantes e as pompas das galinhas em buscas de maridos "ilustres".

Linin cuspiu no chão, com tanto desprezo que chegava a doer.

― Nada pior do que as loucas que fazem o impossível para dormir com aquele porco lunático do Imperador ― observou, com nojo ― Aquelas lunáticas abandonam até mesmo da própria dignidade, por um pau pequeno, que estupidez...

Muitos de seus soldados riram daquela conclusão, algumas mulheres estava cuspindo com nojo.

― Meu objetivo foi sempre fugir, não tenho nada a ver com nada disso ― Ethiena respondeu. ― Sou o que vocês chamam de Flor Exótica. A última pessoa de cor do mundo, e também um objeto de troca. Fui vendida pelo meu pai, em troca de um cargo no Congresso dos Nobres. Não sou meretriz coisa alguma, sou uma vítima!

Um sorriso cruel cruzou o rosto da mulher à frente.

― E daí? ― respondeu, sem misericórdia. ― Quer que eu sinta dó de ti? Por acaso não está aqui, fazendo guerra como uma maldita de uma Dama Régia? Pensaste vir a Walles, faria caridade, e tudo ia terminar com uma multidão de moribundos te aplaudindo?

Parecia que com aquela mulher não existiam argumentos. Ethiena observou que ela não ia acreditar, por mais que tentasse.

― Príncipe Linden...

― Ah, Príncipe coisa alguma! ― Linin ficou impaciente. ― Eu não dou a mínima para o Imperador, quem dirá em sua cria.

Ela começou a caminhar de um lado para outro, soltando respirações curtas, lufando com as narinas. Seu rosto começava a tomar cores avermelhadas, e veias saltavam nas têmporas de seu rosto. Ethiena nunca viu alguém ficar tão vermelha e irritada daquela forma.

― Esse imperialismo é a maldição de minha gente ― Linin enrugou os lábios, cada vez mais enfadada. ― Nos condenam a uma vida como um burro de carga. Este mundo só será livre, quando o Imperador for enforcado nas tripas de suas crias. E isso nós iremos fazer, princesinha. Podemos começar por ti, esperar uns dias, e enforcar o principezinho nas suas tripas quando ele voltar para terra natal dele. O que acha?

Ela puxou do cinto sua pistola, apontando para Ethiena.

― Vá em frente! ― disse a moça, apesar do medo. ― Mas duvido que veio aqui para me matar. Se apertar o gatilho, não vai ter o que veio buscar.

Linin ficou pasmada por um segundo pela ousadia da Dama da Mansão. Retirou a face tensa e cruel, voltando para um sorriso amistoso. Seu rosto, quando relaxado, era marcado pelas rugas de expressões. Pareceu a Ethiena que era mais velha do que aparentava.

― Uma coisa posso dizer: ― sorriu Linin. ― Tu não és burra. Como podes perceber algo, gemendo de dor e se arrastando no chão? A primeira vez que levei um balastro no rabo, chorei até desmaiar.

― Te darei o que quer, mas não vai conseguir de mim se me torturar ou me matar ― Ethiena gemeu, resistindo ela mesma a sonolência e choque. ― E a julgar como veio pessoalmente, tenho certeza que o que quer é o cheque do Burocrata Rui.

Um riso desprezível retumbou no peito plano de Linin. Hesitante, guardou a arma de volta no coldre em seu cinto. Ela se abaixou, fitando Ethiena nos olhos.

― Existem algumas situações em que não é possível mudar os cenários ― disse friamente ―, inclusive o fato de que depois de dar-me o teu dinheiro: vou estourar seus miolos. Gosto de política e fazer acordos, mas não consegue tu ver que não podes me transmitir nenhuma confiança?

― Então, vai se ferrar!

Linin olhou para o lado, mordeu o lábio pintado de batom vermelho, então se ergueu para agarrar os cabelos de Ethiena. Puxou sua cabeça para trás, enfiando sua mão em seus bolsos.

― Tu pareces que é uma pessoa inteligente, mas não acho que seja tanto quanto finge que o é ― Linin lutou contra as mãos escorregadias de sangue de Ethiena tentando acertá-la. ― Eu havia percebido que tuas roupas são diferentes das daminhas bordadas da Capital. E... Pare de se debater, caralho! Oh, droga...

Segurou os punhos dela, pressionando o joelho contra sua barriga. Linin era a mulher mais forte que Ethiena teve o desprazer de topar.

― Oto! ― a líder da Facção chamou.

Um homem surgiu no campo de visão de Ethiena, que foi imobilizada de barriga para cima. Lágrimas escorriam pelos cantos de seu rosto.

― Está no bolso interno das roupas estranhas dela. Enfie a mão aí, Oto, e pegue o maldito cheque! ― Ordenou Linin.

A mão grande de Oto entrou no casaco aveludado de Ethiena. Aproveitando-se de que estava tocando uma mulher, a mão do soldado sujo de cabelos cor de lama, agarrou em lugares indevidos. Suas unhas sujas arranharam o tecido da camisa interna dela, enchendo em concha em seu seio. Linin riu, gostando em ver a expressão de pânico que tomou o rosto de Ethiena.

― Aqui, Dom Vladinova ― falou Oto, lambendo os lábios enquanto fitava o desespero de Ethiena. Ele entregou o pedaço de papel que a moça carregava consigo, temendo que deixando em outro lugar pudessem roubar.

Chorou amargamente, pensando que se tivesse colocado em um cofre, nada daquilo teria acontecido. Morreria sem dizer onde estava o dinheiro, que pretendia usar para comprar comida para cidade.

Linin soltou Ethiena, afastando-se quando apanhou o pedaço de papel. Seus olhos brilhavam como se tivesse encontrado uma divindade.

― Ah, perfeito ― riu-se a mulher. ― O Império somos nós, Regina de Walles. Enquanto Rui dom Portuália e os oprimidos existirem, não poderemos viver em paz. No fim, um ou outro terá de ganhar. E agora que nos deu a força motriz para nossa revolução, suponho que é a nossa vez de tomar a nação para o povo.

Se afastou, tirando toda a atenção de Ethiena. Seu sorriso era tão grande que chegava a enojar.

― Sua ânsia de salvar o mundo, é apenas uma armadilha, que as pessoas vão pisar e sangrar até a morte quando notarem que foram pegos por mais um ditador ― disse Ethiena, sentindo a voz pesada atrás de sua garganta.

A mulher olhou com desprezo para Ethiena, rindo com um pigarro rápido.

― Oto, a doce florzinha preta do império é toda sua ― disse com a injúria transbordando de suas palavras. Ethiena a odiava. ― Já não tenho muito o que fazer aqui. Vamos todos embora.

Caminhou para o escuro dos bosques da propriedade da Dama, mas voltou-se em seus calcanhares.

― Oh, sim, mate os outros.

Mal havia dito aquilo, um de seus capangas atirou na cabeça de Nelson. Riu como um demônio, deliciando com a tortura e morte. Outro rebelde também acertou o segundo soldado de Ethiena, Delfim de Quintas.

Linin começou a se afastar ainda mais, sendo engolida pela neblina, neve e o escuro no profundo da floresta. Sorria, conversando com um de seus imediatos. Ethiena a olhava se apartar com lágrimas, assustada e com medo. Não podia acreditar que sua única moeda de troca havia acabado de ir embora. Não, não conseguia acreditar que Linden a deixou em um lugar pior que o inferno.

Queria gritar para seu azar como se ele fosse uma entidade cósmica que gostava de burlar de sua vida. E quando Oto lambeu os lábios para ela, percebeu que desejava invadir o Olimpo e matar todos os deuses. Se encolheu, sentindo uma sensação mortificante abaixo de sua cintura. Era como se o medo estivesse escorrendo como um balde virado no topo de sua cabeça.

Antes que conseguisse pensar, reagir ou ser rápida o suficiente para gritar, Ethiena viu Oto tombar como um saco de pedras no chão. Esticou a cabeça para averiguar o que aconteceu tão de repente, e deparou-se com seu rosto lavado de sangue.

Ele tinha os olhos arregalados. No meio de sua testa, existia um buraco enorme. Partes do interior de sua cabeça se espalhou pelo chão.

Sem entender o que aconteceu, a moça procurou pela causa. Não foi nenhum tiro proveniente dos antigos mosquetes que os saldados rebeldes carregavam. A maioria dos homens de Linin estavam com as armas nas mãos, se entreolhando, mas ninguém da parte deles foi o autor do disparo.

Então, Ethiena se encolheu quando uma porção de acontecimentos desenrolaram ao mesmo tempo.

Linin que parou para ver o que acontecia, gritou palavrões enquanto atirava em direção às costas da Dama Regina.

Cobrindo a cabeça, Ethiena olhou por entre a curva interna de seu cotovelo, encontrando os causadores da morte instantânea de Oto. Eram seus soldados.

Primeiro, viu uma luz forte como fogo cruzando o ar frio de neve, deixando rastros de neblina como serpentinas. Logo em seguida, escutou os gritos de Senhor Basílio.

― Avançar! ― gritava o capitão, rasgando pedaços de papéis de seu grimório.

Ethiena nunca viu uma batalha como aquela.

Sabia como os grimórios funcionavam, como os pequenos pergaminhos, ao serem rasgados, produziam a magia de papel. Sempre acreditou que não eram funcionais em uma guerra, mas se enganou completamente. Os soldados eram treinados para usá-las, e eram rápidos demais em dispersar os ataques.

Os seus soldados tinham maior perícia, tanto nas armas de fogo, quanto com a magia. Contudo, os homens de Linin também eram habilidosos. O ar que normalmente carregaria os sons da vida selvagem da natureza, agora estava pesado com os gritos dos lutadores moribundos e o cheiro de sangue, o suficiente para fazer até os mais corajosos tremer de medo. Todo o bosque se tornou uma profunda confusão de rastros de fumaças de mosquetes, bolas de fogos produzidas pela magia.

― Dama Ethiena! ― escutou ela, se encolhendo até os joelhos tocarem seu queixo. A mão pesada e áspera de Basílio tocou suas costas. ― Vossa Excelência está ferida?

Não teve tempo de responder, pois Basílio foi atingido por um balastro em cheio no braço. Ele gritou um palavrão, jogando-se de barriga para baixo nos montes de gramas para se proteger.

Puxou um pedaço de papel de seu grimório, rasgando até produzir uma bola de fogo. Ele o soprou em direção ao campo de batalha do jeito que alguém soprando pétalas de dentes de leão no ar. Foi como um dragão, lançando labaredas em direção a seus inimigos.

― Espere, minha dama, não se mova! ― Senhor Basílio bradou após o ataque. ― Vou tirá-la daqui em um minuto...

Os bosques da Mansão da Dama permaneceram repleto de lutas, gritos, sangue e lutadores feridos. Vermelho, cáqui e azul eram as novas cores do que antes era uma floresta tranquila e rica, que agora se tornou palco de uma terrível batalha.

Ethiena não viu como a luta se encerrou, apesar de ter começado a se arrastar de desespero procurando um lugar seguro. Havia perdido muito sangue, por isso não foi muito longe.

Parou no meio do caminho, diante um pé que pisou com força nos bolos de neve que começavam a acumular no chão. Ethiena se assustou, tentou fugir, mas quando percebeu o dono da bota, sentiu-se mais segura e a segurança começou a levar sua consciência.

― Príncipe...

Então, ela desmaiou.

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ATENÇÃO MOÇADA!

Eu vou entrar em uma breve pausa, para escrever a história até o fim. Pode demorar um pouco. Principalmente porque tenho outro livro em revisão, então para não misturar as história, tenho que acabar com um primeiro, para voltar para esse.


Grata.

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