Capítulo 1 - Casa nova

─ Eleanor, acorda. Já arrumei tudo para a mudança.
Eleanor continuou com os olhos fechados, fingindo não escutar o que sua mãe havia dito. Ela não estava bem com a situação, nunca esteve. Seus pais se separaram quando ela só tinha treze anos, eles viviam discutindo e isso a abalou muito, não só seu psicológico como também seu relacionamento com os pais. E como se não bastasse, sua mãe ainda estava saindo com um cara misterioso há três meses, o qual seria seu padrasto a partir daquele dia. Ela não entendia o motivo de tanto mistério, o que havia de mais em lhe apresentar o pobre homem?
- Se você não se levantar agora, terei que apelar. - Sua mãe disse ríspida.
Eleanor levantou-se da cama no mesmo instante, sua mãe era severa e ela não ia pagar para ver. As coisas poderiam piorar ainda mais.
- Anime-se! Você vai conhecer seu padrasto e a filha dele, vocês têm a mesma idade. Aposto que se darão bem!
- Eu não faço questão de conhecê-los. Nem você fazia questão de eu os ver, já que demorou dois meses para me contar que estava saindo com esse tal de John. ─ Eleanor pegou a única peça de roupa no guarda-roupa, o resto estavam em caixas, várias caixas de mudança. - Além do mais, uma semana atrás você simplesmente me disse que íamos nos mudar. Nada mais.
─ Eu já te disse, queria achar uma forma de não te magoar e evitar que você ficasse pensando nisso era a melhor opção.
─ Só adiou meu sofrimento, ia me magoar de qualquer forma, então não lhe culpo.
- Para de ser dramática, Eleanor. - Colette suspirou e Eleanor saiu do quarto para fazer sua higiene matinal e se trocar. Enquanto lavava o rosto pensava no que ia acontecer daquele dia em diante. Ela havia recebido a notícia de que iria se mudar para a casa do seu padrasto há apenas uma semana, por isso pensou que não fosse sério, no entanto se enganara, o dia havia chegado e estava muito receosa, dividiria casa com um cara e com sua "meio-irmã" que nunca conhecera a vida toda.
Depois de fazer sua higiene matinal, ela colocou a peça de roupa que tinha pegado no guarda-roupa, um short e uma camiseta da banda "Artic Monkeys", guardou seus cobertores na última caixa aberta e pegou sua mochila de itens essenciais.
─ O carro da mudança vai vim só mais tarde, está levando tudo de necessário na mochila? - Colette perguntou assim que sua filha chegou na sala de estar.
─ Estou. ─ Eleanor não conseguia processar tudo aquilo muito bem. Ela estava saindo definitivamente da casa em que morou desde que se entendia por gente, deixando ali todas as memórias e os momentos felizes que tinha vivido. Presentes de Natal sendo abertos no meio da sala, seus pais apaixonados preparando o jantar na cozinha, danças no quarto ao som de "Paramore"... tantas coisas que poderiam ser listadas, mas nunca vividas novamente.
─ Você vai superar isso. ─ Colette a abraçou e só então Eleanor se deu conta que estava chorando.
- Eu tenho que superar.
─ Vamos lá. ─ Colette pegou a mão de Eleanor e a guiou para fora de casa. ─ Sobraram algumas caixas de itens irrelevantes no sótão que o carro da mudança não vai levar, então você pode vir aqui comigo amanhã para se despedir melhor. Nós precisamos ir, acho que você já esperou por tempo demais. ─ Colette trancou a casa e foi para a garagem tirar o carro.
Eleanor olhou uma última vez para sua casa, bege e desbotada, com arbustos horríveis próximos a porta, os quais sua mãe sempre odiou. Mudar dali poderia ser um recomeço, seria uma oportunidade de criar memórias contínuas e boas em outro espaço, um espaço que não tivesse marcas do passado. Tudo novo.
─ No fundo você não está ansiosa? ─ Colette perguntou uma vez que Eleanor já estava no carro.
─ Pode ser, mas o que tem de legal nisso?
─ A casa, o John e a filha dele? - Colette mais questinou do que afirmou.
─ Por que eu ficaria empolgada em conhecer a filha dele? Fazer amizade não é o meu forte, quanto a John, tanto faz. - Eleanor disse e encarou o asfalto a sua frente. Sua mãe não respondeu, em vez disso aumentou o volume da rádio que tocava "Here Comes The Sun" dos Beatles.

***
Depois de quinze minutos de corrida e quatro músicas dos anos 70, elas chegaram ao destino final, a casa de John. Se é que podia se chamar aquilo de casa, já que estava mais para uma mansão. A fachada era moderna com vidros por toda parte, janelas escancaradas, e claro, uma porta de quase três metros de altura.
─ Toque a campainha. ─ Colette disse sorridente quando chegaram em frente a imensa porta. Eleanor olhou o elemento a sua frente e pensou "Bem-vinda a Pink Palace" como no filme "Coraline".
- É só uma campainha. - Eleanor tocou o botão branco, segundos depois ouviu passos do outro lado. Ela encarou sua mãe com o coração acelerado e quando a porta se abriu, a surpresa foi maior do que o esperado.
─ Rae? O que faz aqui? - A garota sorriu e abraçou fortemente sua amiga Rae. Rae era a típica garota padrão e popular de qualquer ensino médio, sua pele era bronzeada, seus cabelos escuros e ondulados e o rosto angelical e delicado.
─ Eu que lhe pergunto, essa não é a casa de algum John? - Eleanor disse após se soltarem do abraço apertado.
- Sim! E minha também!
Eleanor processou a informação, o famoso John era John o pai de Rae, como ela nunca pensou nessa hipótese? Que sua melhor amiga pudesse ser sua futura meio-irmã?
- Você vai morar comigo! Não posso acreditar! ─ Rae deu alguns pulinho de empolgação.
─ Você é a filha do meu padrasto. ─ Eleanor disse perplexa. ─ Por que você não me disse nada, mãe? ─ Ela virou para sua mãe que sorria com desdém como se esconder a identidade de duas pessoas fosse a coisa mais legal que uma mãe pudesse proporcionar a uma filha.
─ Queria que fosse uma surpresa, desde que comecei a sair com John ele me disse que Rae era filha dele.
- Eu só pensei que poderia ser coincidência ele também se chamar John.
- Nessa vida nem tudo é coincidência. - Colette piscou o olho e as três entraram na casa.
─ Bem-vindas ao lar! ─ Rae disse.
A casa era tão chique por dentro, quanto por fora. A sala de estar era enorme com sofás de couro branco e móveis de madeira, ao fundo podia-se ver uma imensa mesa de jantar feita de vidro e uma cozinha azulejada com eletrodomésticos de aço inox e uma bancada de granito.
─ Essa é a casa enorme que você disse que se mudou a pouco tempo. - Eleanor lembrou-se de quando Rae disse que havia se mudado para uma casa enorme, ela pensou que poderia ser exagero de sua amiga, mas olhando para tudo, viu que Rae tinha sido muito modesta ao descrevê-la.
─ Exato, meu pai disse que íamos mudar para cá e que em breve você e sua mãe viriam também, mas em momento nenhum mencionou o seu nome ou o de sua mãe. Na verdade, me disse que ela se chamava Clara.
─ Eles nos enganaram durante meses na cara dura. - Eleanor meneou com a cabeça.
- Mas sejam sinceras, não foi legal isso? Eu gostaria de ter uma supresa dessas. - Colette disse positiva.
- É, não foi tão ruim. Eu gostei. - Rae disse.
─ Eu também. ─ Eleanor mentiu.

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