XIV
Meus olhos pareciam mais pesados do que em qualquer manhã que eu viverá durante toda a minha vida. Esforcei-me para abrir dezenas de vezes, mas consegui apenas quando as lembranças do que tinha acontecido explodiram em minha mente. Assustada, despertei, erguendo levemente meu corpo, que foi empurrado por uma mão novamente até o lugar de origem.
— Acalme-se — Natanael ordenou em um tom descontraído.
— Ester! — a princesa aproximou-se com os olhos inchados, de quem parecer ter chorado muito, e a caixa não estava mais em sua posse. Puxei o ar com dificuldade. — Eu fiquei tão preocupada, minha amiga — passou às mãos pelo meu braço.
— A costureira...
— Não se preocupe, querida — sorriu meiga e eu entendi prontamente que ela guardara a caixa e o que estava dentro dela.
Senti meu coração bater mais calmo, mesmo que ainda existisse muito a entender.
— Senhorita Estrela, você nos deu um grande susto — Natanael comentou, em um tom debochado característico dele.
Eu sorri, simpática. O príncipe estava lá, mesmo quando não precisava. Ele havia me esperado acordar e agora demonstra estar preocupado comigo. Definitivamente ele era uma pessoa legal com a qual eu havia sido insuportável.
— Eu vou fazê-lo ver as estrelas de perto se continuar a chamá-la assim, Natanael — Leon ameaçou, com os olhos semi-serrados, levando o príncipe a dar uma longa risada.
— Cuidado, amigo, algumas pessoas considerariam isso traição a coroa — brincou descontraído. — Além do fato de que eu já estou perto o suficiente de uma Estrela — ele piscou para mim em brincadeira.
Levantei a cabeça para poder ver meu irmão.
— Leon — chamei antes que ele desse sua resposta ao príncipe. Essa era uma conversa que, pelo visto, eles poderiam levar durante horas —, onde eu estou? — indaguei o que estava em minha mente desde o princípio.
— A trouxemos para o cômodo mais próximo do jardim — olhou-me com um meio sorriso no rosto, o mais sincero que já vira desde que nos reencontramos. — Natanael não conseguiria carregá-la até o seu quarto. Príncipes não são acostumados a desafios — debochou.
Meu coração saltou no peito e minha alma foi emergida em pura vergonha. O príncipe havia me pego no colo. Era uma terrível notícia, definitivamente. Como eu poderia falar com ele novamente?! Além de me ver inconsciente, o que já era muito vergonhoso devido a sua alta posição, ele me pegara no colo! Por que não caí no chão? Seria definitivamente mais fácil de lidar do que um homem (o herdeiro do trono) me tocando, mesmo que por um motivo tão inocente.
— Eu sabia que ela ficaria encabulada quando soubesse — meu irmão pontuou.
Obrigada por anunciar, Leon.
O príncipe riu das minhas feições, mas, antes que pudesse dizer o que estava pensando a porta se abriu e um senhor adentrou.
— Altezas, Sir Lewis — fez uma mesura.
— Senhor Williams — a princesa foi a primeira a cumprimenta-lo com sua costumeira doçura —, agradeço por atender o nosso chamado.
Ele deu um sorriso educado antes de, com paciência, dizer: — Mas, suponho que está senhorita é o motivo de eu estar aqui? — indagou com gentileza olhando em minha direção.
— Minha irmã teve um mal súbito e caiu, desacordada — Leon explicou em seu habitual tom seco.
O homem aproximou-se cuidadoso e sentou-se ao meu lado. Suas mãos tocaram, respeitosamente, minha testa.
— Não está quente — atestou, parecendo interessado.
Ele fez mais alguns movimentos, calado. Meu irmão acompanhava atentamente aquilo que ele fazia, parecia pronto para matá-lo a qualquer erro, e essa postura me trouxe segurança. Por fim, ele olhou-me seriamente.
— A senhorita alimentou-se hoje? — indagou com seriedade.
Eu pensei por alguns segundos antes de responder: — Acho que não.
— Nós passamos boa parte do dia com tecelã, ajustando os vestidos para o baile — Constance explicou.
— Então, creio eu, que a senhorita passou boa parte desse tempo de pé? — indagou bondoso, em um tom condescendente.
Assenti cautelosamente. Leon bufou, irritado.
— Ela está apenas fraca — o senhor atestou, finalmente. — Alimentem-a e ficará bem. Talvez seja necessário um pouco de descanso também.
O príncipe agradeceu ao médico e Constance o acompanhou, educadamente, até a porta do recinto em que estávamos.
— Eu terei que obrigá-la a comer assim como quando éramos crianças, Ester? — meu irmão indagou, rabugento.
— Eu apenas esqueci, Leon. Estávamos muito ocupadas — pude ouvir a risada do príncipe.
— Com vestidos? — ele ergueu uma das sobrancelhas, irônico. Óbvio que eles consideravam uma tarefa fácil, nunca tiveram a obrigação de fazê-lo.
— Passei metade do dia em pé, Leon, sendo furada por objetos pontiagudos em locais que você nem ao menos pode imaginar. Realmente acha que pensaria em comer? — perguntei mau-humorada.
— Como assim furada em lugares onde nem podemos imaginar? — o príncipe indagou, achando graça.
Meu irmão o lançou um olhar assassino antes de continuar.
— Não importa o que está fazendo, Ester, pare e coma. Entendido? — assenti contra a minha vontade, mas, em respeito ao cargo que ele ocupava. Natanael era legal e amigo do meu irmão, mas ainda era o príncipe. Isso era imutável.
— Ótimo. Eu e Leon temos trabalho a fazer — se entreolharam. — A deixarei na ala das mulheres antes de irmos.
— Não é necessário, Leon, eu posso acompanha-lá — sorriu inocentemente.
O príncipe ergueu uma das sobrancelhas, desconfiado. Leon franziu o cenho, com os olhos expressando pensar o mesmo que Natanael.
— Eu entendo que vocês não confiem em mim... infelizmente — deixou a cabeça cair levemente para o lado. — Mas, a Ester? — indagou, com um perfeito olhar de tristeza.
Eles pareceram ponderar antes de Leon finalmente se pronunciar: — Realmente não acho que há problema, Natanael.
O príncipe assentiu, ainda desconfiado, mas, cedeu ao concelho do Leon. Meu irmão passou por mim, lançando-me um olhar de aviso, já Natanael me mandou uma piscadela e um sorriso de lado antes de passar pela porta e fechá-la atrás de si.
Respirei fundo e olhei para Constance com seriedade: — Acho que temos bastante o que conversar, não é?
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