▫️4▫️
Bianca Araújo
Meu corpo só queria cama. Pintar o cabelo, rapidinha no tanque, maquiar várias mulheres e ainda me arrumar para sair. Estou um caco.
— Prometo te fazer uma massagem quando voltarmos pra casa.
Leandro aperta meu joelho exposto pelo short, depois de trocar uma marcha do carro enquanto dirigi para a lanchonete. O lugar não é longe e até iriamos andando, se eu não estivesse acabada, ainda assim, coloquei um de meus saltos preto e um cropped ciganinha vermelho que ficou um arraso com o short de alfaiate preto.
— Provavelmente, vou comer e dormi na lanchonete mesmo. — Murmuro encarando a vista da janela. O bairro a noite fica um caos, todos querem sair de suas casas e relaxar, de todos os lados se escuta as variadas músicas, desde sertanejo, funk e eletrônica.
— Podíamos ir na praia no outro domingo. Queria pegar um bronze.
Volto meu olhar ao meu homem, que me encara rapidamente de cima a baixo. Ele fica possesso quando faço marquinha, devido a isso, uso blusas mais decotadas para mostra-las. Detalhe que faz muitos homens me encarar sem receio e deixam Leandro puto de ciúmes.
Meu moreno está tão perfumado e seu cheiro é tão viciante, gosto de puxar o ar com força para meus pulmões, só para me deliciar com seu cheiro.
Quando ele estaciona o carro o mais próximo possível da lanchonete, me inclino no banco me aproximando dele e lhe roubo um beijinho. Antes que eu consiga me afastar, sua mão direita me segura pela nuca, com nossos lábios á pouco centímetros de distância. Só essa atitude foi o suficiente para meu coração pular loucamente, me derretendo em seus braços.
— Essa sua manha vai me fazer te foder aqui dentro, minha dama. — Sua voz sai rouca e suspiro afetada. Vidrada com seus olhos escuros gulosos em mim.
— Não vai não. — Me oponho. — Estou com fome!
Me desvencilho de sua mão e me apresso em sair do carro, olho a rua por precaução e ando de cabeça erguida com gingado como se estivesse em uma passarela. Se eu ficasse mais um segundo ali, a coisa esquentaria.
Quando entro no estabelecimento, meus olhos vasculham todo o local atrás do dono, o mesmo está de pé no balcão conversando com uma galera e quando me vê, abre um sorriso e vem até mim de braços aberto.
— Olha ela! — A felicidade dele me contagia.
— Felipinho!
Sou erguida em um abraço caloroso pelo rapaz e sorrio.
— Ei cara, já pegou demais.
A voz de Leandro soa brincalhona atrás de mim e me afasto de seu amigo para eles se cumprimentarem com um forte abraço e tapas nas costas.
— Finalmente, os coelhos saíram da toca!
Percebo uma alfinetada em sua voz e sorri ao ver Leandro lhe dar um soco de brincadeira.
— Muita saudade para matar.
Leandro me puxa pela cintura me grudando em seu corpo, deixando um beijinho em meus lábios. Felipinho sabe o quanto somos fogosos.
— Vamos, deixei um bom lugar reservado.
Seguimos o rapaz loiro para dentro do estabelecimento, eram bem reservados mesmo, eu diria que um canto próprio para namorados se curtirem escondidinhos. Nos sentamos e já fizemos nossos pedidos.
— Me contem as novidades.
Felipinho nos faz companhia. Em pensar que ele e Leandro se conhecem desde o colegial e até passaram um tempo juntos vendendo lanches na praia, onde conheci meu moreno. O lanche era tão bom que comi como uma louca depois de passar horas na água, o cara ficou vidrado, disse que comia como um urso e ainda me deu um lanche para levar embora.
— Segunda começo um bico.
Leandro dá de ombros quando se esparrama todo na cadeira, todo folgado como se estivéssemos em casa.
— Ah isso é bom cara, sabe que não te contrato por tua mina ia me levar a falência.
Isso e porque ele já atingiu o limite de funcionários, se contratasse mais um, seria obrigado a contratar menor aprendiz. E ele não quis.
— Que audácia!
Jogo um sache de maionese no rapaz que ri depois de me zoar.
— Olha ele, Lê! —Faço biquinho.
— Tu contou pra ele da última vez que veio aqui?
Nego deixando meu sorriso sumir aos poucos. Olho de soslaio para meu marido que está com uma sobrancelha erguida curioso com o assunto.
— Estava frustrada e sabe que como muito quando estou nervosa. — Digo para ele que assente, ainda me olhando desconfiado.
Nem Felipinho que me conhece a anos, sabe porque vim afogar minhas mágoas na comida. Ah qual é, se não tinha sexo, tinha comida.
— Vou pedir para trazerem bebida.
Notando a leve tensão no ar, nosso amigo se levantou indo para longe. Leandro soltou um suspiro pesado batucando na mesa. Esse assunto ainda é delicado para ele, o clima sempre fica estranho e as vezes discutimos. É como se não acreditasse que fiquei seis anos esperando por ele, sempre me encara desconfiado quando esse assunto surge, como se esperasse alguma falha minha vim à tona.
É tão difícil de acreditar que atualmente, ainda há pessoas fieis?
— Tanta coisa aconteceu enquanto estive fora. — Murmura.
— Não pense nisso. Vamos focar no nosso futuro.
Digo com a voz calma e com carinho, querendo lhe dar conforto quando o toco nos braços, porém, ele se desvia nitidamente desgostoso se inclinando na mesa. Recuo indignada.
— Sério Leandro?
Não ganho resposta. Suspiro e fico encarando minhas unhas pintadas de azul escuro, até que noto a aproximação de alguém. A garçonete que, não são obrigadas a usarem uniforme aqui, se inclina exageradamente para colocar os copos e abrir a garrafa de cerveja. Vejo o olhar da sirigaita, flertando sem receio com meu marido e sim, ele usa uma bela aliança grossa no dedo que está a vista neste momento.
Isso não a impede de continuar e até sorri abertamente para ele. O pior é que o canalha nada faz para recusar tais atos e fica com os olhos cravados no bumbum dela quando sai rebolando igual uma capivara.
Engulo meu ciúme e qualquer comentário que faria em outras circunstancias, apenas pego a garrafa de cerveja me servindo, dando grandes goles até secar meu copo e tento ao máximo disfarçar minha cara de repulsa. Percebo ele me olhar de canto, no entanto, me mantenho com uma bela cara de paisagem olhando a decoração do lugar que estamos.
Se é esse o jogo que ele quer jogar, eu serei a ganhadora.
— Desde quando bebe?
Dou de ombros sem dar atenção ao seu tom rude e não abro a boca para responde-lo.
— Bianca, você nunca tomou uma gota de bebida alcóolica. Quando isso começou?
O garanhão resolveu se aproximar de mim, acabei me inclinando para trás para que não fique no meu espaço pessoal. Percebo a surpresa em seu olhar com isso.
Nós somos o tipo de casal que qualquer erguida de sobrancelha, sabe o que o outro quer dizer ou se está incomodado. Foi um tipo de conexão tão instantânea que rolou quando começamos a sair. Minha cara inexpressiva, é a melhor arma contra ele.
— Como você disse, coisas aconteceram enquanto estava fora. — O alfineto duramente. — E cerveja foi a única coisa que ela trouxe para beber.
Num rompante Leandro se levanta sumindo das minhas vistas, minutos depois volta com um guaraná, enche um copo para mim e outro copo com cerveja para ele.
Um suspiro escapa de seus lábios e se encosta na cadeira, deixando o braço esquerdo suspenso em minha cadeira e me observando.
— Foi mal ruiva. — Murmura com tom manso. Apenas assinto sem dar muita atenção. — Desmancha esse bico, Bianca.
Não consigo controlar meus olhos ficarem marejados, para piorar, seu dedão direito faz um breve carinho em minha boca desmanchando meu bico.
— Para Leandro.
Peço em um sussurro afastando sua mão de mim e me endireito na cadeira. Para meu alivio, Felipinho voltou com nossos pedidos e foquei nele, no meu pão recheado com tudo que tenho de direito, enquanto eles conversavam sobre jogos, preço das cervejas e da carne, além de outras coisas.
Estava tão faminta, que nem esse pequeno desentendimento me fez perde a fome. Aliás, é raro eu perder a fome. Quando terminei, soltei um longo suspiro satisfeita e bebi de uma vez o guaraná do meu copo. Ainda me segurei para não arrotar como um ogro.
— Satisfeita?!
Meu marido questiona, e sem que eu consiga racionar para impedir, deixou um rápido beijo em meu cabelo, me encarando com seus belos olhos de jabuticabas brilhantes.
— Uhum, uma delícia Felipinho!
Sorrio com carinho ao rapaz loiro que retribui, minha atenção se volta a Leandro, quando pega alguns guardanapos e limpa meus dedos sujos enquanto terminava de mastigar seu lanche que comeu o ultimo pedaço.
Toda vez é assim, me lambuzo e ele me limpa. Ganho mais um beijinho dele e não consigo mais manter minha pose de durona, sem contar que o sono começava a me atingir e me aproveitando disso, me encostei em seu corpo soltando um longo suspiro.
— Ficou a tarde toda no salão da dona Íris — explica ao Felipinho que assente —, já vamos meu bem. — Murmura deixando mais um beijinho em meu cabelo.
O canalha apronta, depois da uma de cachorro manso.
— Os moleques da quebrada ficam loucos quando as gurias andam como a barbie — rimos —, apareçam lá em casa, Vivi vai adorar receber vocês.
— Obrigada Felipinho, é que o dia hoje foi puxado.
Murmurando enquanto me levanto para me despedir dele com um rápido abraço.
Quando começamos a sair, a sirigaita da garçonete se aproximava com outra garrafa de cerveja, porém, seu sorriso sumiu quando percebeu que estávamos de saída.
— Pra quem tá levando isso? — Felipinho questiona.
— Pensei que precisariam de outra.
Sorri forçadamente, seu olhar passeia rapidamente por Leandro e em seu braço esquerdo que mantinha em minhas costas. De pirraça, me coloquei na frente dele colocando suas mãos em minha cintura e a encarando, com o melhor olhar raivoso que consigo.
Sério que ela vai levar isso a diante?
Recebo uma mordidinha na orelha direita e involuntariamente me arrepio, porém, minha raiva não dissipa. Se ele tivesse cortado ela antes, eu não estaria passando por isso. Cretino.
Felipinho logo a dispensa e me olha de canto entendo o que estava rolando. Me solto de Leandro e vou indo na frente. Meu Deus, que dia exaustivo e eu achando que seria um jantar descontraído.
No caminho de volta para casa, Leandro não disse um pio até estarmos dentro do nosso lar e nem eu, até esse momento. Respiro fundo e o encaro.
— Olha Leandro, você ficar curioso sobre tudo o que eu fiz durante seis anos, até deixo passar, apesar de estar cansada de toda essa desconfiança. Agora, deixar uma sirigaita se gabar para você e der corda, fique ciente que corto teu pau fora antes de assinar o divórcio.
Digo colocando toda minha raiva para fora, tentando ainda não descer para a baixaria. Posso até estar exagerando um pouquinho, mas estou cansada e passar por mais essa cena ridícula foi o auge do meu dia.
— Só queria te provocar.
Tenta se aproximar de mim com calma, apesar disso me afasto.
— Meu dia foi um cão chupando manga e tu ainda apronta essa, tá avisado.
Ralho pela última vez dando as costas e indo para o banheiro. Ele me chama e começa a me seguir, apresso meus passos e me tranco no banheiro.
— E me deixa em paz que quero cagar!
Grito do outro lado enquanto ele tentava a todo custo abrir a porta. Grito mais uma vez e ele para.
Abro as gavetas da pia em busca de um remédio para minha dor de cabeça. Ele que lute agora, vou tomar dois comprimidos e dormir como um bebê.
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