Capítulo único
A escuridão já tomava o céu me causando certa euforia. Apesar de não ser o cenário mais favorável, já que me encontro em um hospital na noite de véspera de natal, e sei que meu namorado não está se recuperando em nada.
Mas é nessa época do ano precisamos continuar. É quase como um recomeço e sinceramente, eu espero que ele também possa recomeçar.
Eu sempre amei o natal e não muito diferente da menininha ao meu lado, sempre ficamos animados na época mais calorosa e brilhante do ano.
A face regada de curiosidade e expectativa apreciava as muitas decorações e luzes brilhantes do lado de fora da janela. Eles sempre decoram a parte de fora do hospital da forma mais bonita possível. Acho que leva alguma esperança aos pacientes e acompanhantes que já não festejam a tempos.
- Terminei, o que acha?
A garotinha virou-se para a árvore vermelha repleta de enfeites sorrindo e acenando com a cabeça.
- Parece perfeita. - Seus grandes olhos caem sobre mim se atentando as minhas expressões - Você me parece ansiosa.
- Essa data sempre me anima, - dou de ombros pondo mais um enfeite na árvore vermelha - você sabe disso.
- Não tem nada a mais?
- Por que todas essas perguntas agora? - estreito os meus olhos desconfiado para a garota que apenas dá de ombros.
- Ah, curiosidade…
Um sorriso amarelo se abre em seu rosto o que me faz balançar a cabeça negativamente dando um meio sorriso.
- Para de perguntar por agora e vêm me ajudar a pendurar esses enfeites na janela.
Ela bufa e revira os olhos, pegando alguns enfeites e os pendurando na janela. Depois de um tempo arrumando os outros enfeites no quarto, a menina que estava com o olhar perdido se pronuncia.
- Acha que ele está bem?
Demorou um pouco para eu entender do que ela falava, mas logo que entendi a alegria foi se esvaindo aos poucos deixando que meus olhos caíssem e um sorriso amargo se formasse em meu rosto.
- Acho que você me conhece bem até demais, não acha?
A pequena garota dá de ombros e se vira devagar me fitando.
- É meio óbvio. Você está sempre esperando ele acordar.
- Por que ele vai voltar… Ele vai voltar para mim. Como ele sempre fez.
Um suspiro veio da mais nova. Eu sei que ela sente pena, mas eu também sei que ela o espera tanto quanto eu.
- Agora é diferente, ele não pode voltar…
- Ele vai voltar, ele precisa.
Meu peito já apertava e eu tinha certeza que meu rosto começava a ficar vermelho. Eu não quero chorar, não agora.
- Ele não precisa voltar, você que precisa dele.
- Fica quieta.
Ela tinha razão. Eu preciso dele aqui. Preciso dele de volta, mas isso não é possível no momento.
- Já fazem 9 anos e todos os anos você o espera como se tivessem apenas brincando de esconde-esconde novamente. Acha mesmo que ele voltará?
Meu silêncio foi o bastante para ela se aproximar e tocar o meu ombro pedindo para que eu a olhasse.
- Não estou dizendo para desistir. Apenas saiba que não é necessário se martirizar tanto. Viver faz bem, sabia?
Um sorriso aparece em seus lábios e seus braços rodearam o meu corpo, o abraçando com força.
- Vem, vamos comer alguma coisa.
Um leve sorriso aparece em meu rosto e a sigo dentre os corredores do hospital. Algumas palavras dela ainda roubam espaço na minha mente, será que ele voltará? E se ele nunca voltasse? Eu estaria perdendo o meu tempo? Eu não sei, mas acho que o melhor, pelo menos por agora, é esquecer. Como sempre…
Enquanto ela falava algo que eu realmente não parei para prestar atenção, saímos do hospital.
- O que quer comer? - Ela pergunta me tirando dos meus pensamentos.
- Hum… sei lá. - Dou de ombros nem um pouco interessado.
Seu rosto parece meio apreensivo, talvez ela sinta o mesmo que eu. Talvez ela entenda o motivo de eu estar pensaem fazer uma súbita loucura que invadiu meus pensamentos agora.
Eu estou me esforçando para não pensar, para esquecer. Mas como se esquece tudo o que você tem? Como se esquece a sua esperança?
Talvez seja a hora de acabar com isso de uma vez. Eu preciso encontrar a paz.
- Ei! - A chamo tomando a sua atenção - Eu… Você me perdoará?
- Pelo o que exatamente?
Preciso pensar no que fazer, rápido. O que fazer? O que faz…? Uma calçada antes das lojas de conveniência, um carro vem passando em alta velocidade. Esse barulho de acelerador me deu uma ideia terrível, mas necessária.
Aproveitando a confusão da garota que me olha de forma estranha, empurro ela em direção ao carro, vendo seu corpo ser atirado para o outro lado.
- Por isso.
Me aproximo do pequeno corpo jogado ao chão.
- Me perdoe, por favor, mas eu não aguento mais isso. - falo com lágrimas nos olhos.
Ela me olhava com compreensão e eu sabia que ela nunca ficaria com raiva. Ela não pode ter outra emoção, se não a da esperança.
- Quero que volte a ser feliz. Viva um pouco, por mim. - Solta um sorriso pequeno, mas sincero.
- Eu te verei novamente?
Um soluço involuntário escapou. Era tão doloroso. Eu só queria que acabasse logo.
- A esperança é a última que morre, não?
Uma brisa forte passa levando o brilho do sorriso da garota que some aos poucos, não deixando nada para trás, apenas um vazio onde deveria ficar a minha esperança.
Está acabado.
3 anos depois.
Você já viu o pôr do sol em uma praia? É a coisa mais linda desse mundo.
Já andou descalça na areia? Correu atrás de uma gaivota? Ou tomou sorvete no carrinho que fica passando?
Parece que tudo é a primeira vez depois de passar tanto tempo presa naquele hospital.
Tudo está melhor agora, aprendi a me conformar que nem tudo é como eu gostaria. O passado ficou para trás. E a minha esperança também.
Às vezes eu acho que uma menininha pequena me observa do outro lado da rua, mas quando olho novamente apenas um brilho estranho está no lugar.
Acho que no fundo a esperança não acabou de verdade, mas, pelo menos, posso dormir em paz e sair sem medo.
Prometi que viveria e agora é para valer.
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