Capítulo 7 - Que Hay Detrás
POV Miguel
Eu aprendi inúmeras lições nos três últimos anos. Aprendi que vingança não é o melhor caminho a se escolher, aprendi a dar valor aquilo que realmente importa, aprendi que as pessoas que você mais odeia podem ser as únicas que lhe estenderão a mão quando você precisar. Entretanto, a lição que eu mais amei aprender, e que eu seguia aprendendo todos os dias, era a de que não deveríamos julgar as pessoas pela imagem que elas passam, pela primeira impressão que temos, porque afinal quem poderá saber o que há escondido atrás do sorriso que levamos no rosto? Essa lição quem me ensina todos os dias é Mia Colucci.
A primeira vez que a vi o único pensamento que me veio à mente foi "gostosa pra caralho", contudo toda a atração que eu poderia sentir foi logo mascarada pelo ódio que nasceu quando eu descobri de quem ela era filha. Irônico pensar nisso já que hoje considero Franco como meu segundo pai, sendo aquele que melhor desempenha esse papel na ausência do meu, me orientando da melhor forma que pode, sem fazer distinção nenhuma entre mim e suas filhas.
À medida que o tempo foi passando, desvendar a personalidade de Mia se tornou uma das minhas coisas favoritas, e quanto mais a gente se aproximava e desenvolvia uma relação, mais ela mostrava de si mesma e do seu interior, me deixando cada vez mais fascinado. No início ela parecia ser apenas uma patricinha metida, com uma autoconfiança gigante e completamente ciente da beleza e do poder de sedução que possuía. Posteriormente eu fui percebendo que isso era apenas a armadura que ela usava para esconder seus verdadeiros sentimentos e a insegurança que sentia em ser abandonada por aqueles que amava. Quando a confiança foi crescendo entre nós dois e ela foi percebendo que eu não iria a lugar nenhum, finalmente ela libertou a menina extremamente romântica e amorosa que existia dentro dela e assim eu pude perceber que ela seria capaz de fazer qualquer coisa por aqueles que amava.
E quando eu pensava que ela não poderia me surpreender mais e que eu já a conhecia o suficiente, a vida me mostrava o quão errado eu estava. Essa noite foi marcante por inúmeros motivos diferentes, mas o principal deles foi porquê marcou a primeira vez que a minha namorada ficou bêbada. Óbvio que ela já tinha bebido antes, ficado mais alegre e com menos papas na língua algumas vezes, mas essa com certeza foi a primeira vez que ela tomou um porre de verdade. O álcool tirou todas as barreiras que ela um dia construiu e eu ficava louco só de lembrar o nosso sexo no banheiro. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginaria que faríamos o que aconteceu ali. Isso tudo me fazia pensar em quantas versões ainda existiam dentro dela, escondidas por tantos padrões e regras impostas pela sociedade, me fazendo querer desvendar todas elas.
Por um momento eu pensei que Mia não estava tão bêbada, mas então o tempo foi passando e eu próprio fui melhorando dos efeitos do álcool, com a sobriedade, veio também a percepção de que eu nunca a tinha visto daquela forma. Agradeci pelo meu senso de responsabilidade ter falado mais alto ao menos dessa vez, me fazendo parar de beber, pois assim eu conseguiria cuidar para que chegássemos até o hotel com segurança.
Enquanto eu segurava os cabelos de Mia para que ela vomitasse pela décima vez na noite, minha mente estava atormentada pensando que talvez ela se arrependesse de tudo que fizemos aquela noite assim que recuperasse a sobriedade. Eu estava ciente de que se isso acontecesse, a culpa seria minha, afinal ela bebeu demais depois que brigamos e eu estava conversando com outra mulher ao invés de estar cuidando da minha namorada. Além disso, mesmo eu tendo bebido durante a noite, com toda a certeza estava melhor que Mia e deveria ter tido a responsabilidade de não transar com ela em um banheiro de boate sabendo que ela jamais faria isso se não estivesse com o seu organismo repleto de álcool. Meus pensamentos estavam dúbios: viajavam entre a completa felicidade por tudo que havia acontecido e um segundo depois o meu lado responsável gritava que eu havia agido da maneira mais inoportuna do mundo. Infelizmente, ou não, eu não teria muito tempo para refletir naquela noite.
-Shiiuu, tá tudo bem amor... - Falei enquanto segurava o seu cabelo e acariciava suas costas após Mia estremecer em outra arcada de vômito em frente ao vaso sanitário do nosso banheiro no hotel.
Quando percebi o estado em que Mia se encontrava avisei nossos amigos que não esperaríamos eles para retornar ao hotel, comprei uma água e a fiz beber no caminho de volta, contudo na metade do trajeto ela começou a se sentir nauseada e vomitou pela primeira vez ainda na rua. No restante do percurso eu a carreguei no colo, pois ela era incapaz de dar dois passos em linha reta, e assim que chegamos ao hotel entrei em baixo da ducha com ela para um banho frio. Ri, mesmo a situação não tendo humor algum, porque não era exatamente esse o banho que havia idealizado para a primeira vez que estivesse nu em baixo de um chuveiro com ela. Ficamos um bom tempo deixando que a água gelada caísse sobre nós, lavei cuidadosamente aqueles cabelos lindos fazendo o melhor que eu podia e só a tirei do banho quando percebi que ela demonstrava sinais de estar recobrando um pouco o controle. A sequei com todo o cuidado enquanto ela reclamava de frio e me pedia para abraçá-la, o que eu fiz sem nenhuma reclamação. A vesti com uma camisa minha limpa, porque ela dizia que minhas camisas eram muito mais confortáveis que seus pijamas e fiquei apenas de cueca enquanto tentava desembaraçar seus cabelos, a ouvindo protestar a cada vez que eu os puxava sem querer formando um bico com a boca que a deixava ainda mais fofa, me fazendo pedir desculpas e deixar um beijinho no topo da sua cabeça.
Bem que eu tentei a colocar na cama depois disso, mas foi nesse momento que a sessão vômitos começou, nos fazendo passar quase a noite toda em frente ao vaso sanitário. Eu fiz com que ela tomasse um remédio para o enjoo e tentava oferecer bastante água com medo que ela ficasse desidratada, mas absolutamente nada parava no seu estômago, me deixando completamente desesperado. Deus, eu só poderia estar pagando por todas as vezes que fiz minha mãe passar por isso e se preocupar comigo assim! Não me entendam mal, eu não me importo de cuidar de Mia, na verdade faço questão de fazer isso, afinal o amor é na saúde e na doença, não é? Contudo, a preocupação de vê-la tão frágil, sem conseguir se manter em pé, estava me matando por dentro. Quando eu já estava cogitando seriamente a possibilidade de levá-la a um pronto atendimento para realizar um remédio na veia já que ela não conseguia manter nada no estômago, ela finalmente pareceu melhorar um pouco e quando percebi ela ressonava baixinho com a cabeça enfiada entre o meu ombro e meu pescoço. Nesse momento, dormindo agarrada a mim como se a sua vida dependesse disso, ela parecia apenas uma menininha inocente em busca de proteção. Quem a visse assim, jamais imaginaria que ela seria capaz de realizar um por cento de todas as safadezas que tínhamos feito algumas horas atrás. Sorri com uma cara de bobo por eu ser o único a ter o privilégio de conhecer todas as suas versões e a carreguei com todo o cuidado do mundo para a nossa cama, não queria que ela acordasse agora que finalmente tinha conseguido melhorar. Me aconcheguei ao seu lado a puxando para o meu peito enquanto a observava dormir, no início fiquei com medo que ela voltasse a passar mal, mas com o passar do tempo o sono me venceu e eu me entreguei dormindo com Mia em meus braços.
POV Mia
A primeira coisa que eu tive consciência era a de que minha cabeça ia explodir. Ela latejava tanto que me impedia de pensar em qualquer outro assunto que não fosse a dor insuportável que eu sentia e, naquele momento, meu objetivo de vida era aliviar aquela dor. Abri os olhos devagar, tentando me situar e a imagem borrada de Miguel me encarando com um olhar preocupado foi a primeira coisa que apareceu no meu campo de visão. Uma pequena parte do meu cérebro tentou registrar o quanto ele estava lindo ao acordar, com os olhos inchados e aqueles cachos, que eu era completamente apaixonada, bagunçados. Contudo, noventa e nove por cento de mim só conseguia ligar para a dor e para a náusea que apareceu assim que abri os olhos e vi tudo ao meu entorno girar. Gemi baixinho levando a mão a testa e comprimindo o local como se de alguma forma eu fosse capaz de arrancar a dor daquela forma.
-Shhiu princesa, tá tudo bem... Toma esses remédios que logo, logo você melhora. Pinky promise! - Me prometeu me arrancando uma tentativa de sorriso enquanto me entregava dois comprimidos e um copo de suco de laranja que eu bebi sem questionar, voltando a fechar os olhos na esperança que aquela sensação terrível passasse.
Miguel acariciava os meus cabelos em um cafuné gostoso que me fazia relaxar e alguns minutos depois eu já sentia o desconforto começar a aliviar, me permitindo pensar em outras coisas que não fosse a sensação de morte iminente que senti ao acordar. Aos poucos alguns flashs da noite passada foram retornando a minha mente em uma confusão na qual eu não sabia o que havia sido sonho e o que era realidade. Cenas perdidas que não pareciam seguir nenhuma ordem cronológica ou fazer sentido algum surgiam enquanto eu franzia o cenho tentando entender.
-Tudo bem amor?
-Sim, tô melhorando da dor... mas tô meio confusa – admiti franzindo o cenho novamente com a confusão que o meu cérebro se encontrava.
-Eu ficaria surpreso se você não estivesse depois do tanto que bebeu... - comentou sorrindo e eu fiz uma careta ainda de olhos fechados por medo de abri-los e a náusea retornar.
-Isso é castigo divino por eu ter me fingido de bêbada aquela vez no meu aniversário - refleti lembrando o dia em que tudo que eu mais desejava na vida era beijar Miguel por mais uma única vez.
O começo do nosso relacionamento foi uma verdadeira confusão de mal entendidos, omissões e mentiras, o que fizeram com que nós nos afastássemos e sofrêssemos muito. Miguel escondia a verdade sobre o seu pai e a vingança que o motivou a entrar no Elite Way e eu escondia muito dos meus sentimentos em relação a ele, inicialmente em consideração à Celina e posteriormente por acreditar que não era correspondida. Dessa forma, encontramos no jogo de implicâncias uma maneira de mantermos pelo menos algum contato, mas por trás das palavras mal educadas, existiam dois corações destroçados pela paixão não correspondida.
Quando Lupita me falou que Miguel estava com a Julieta, eu nem ao menos cogitei conversar com ele ou esclarecer a história como se deveria fazer em um relacionamento maduro e saudável, pois para mim fazia total sentido ele ter me trocado por uma menina mais velha e que lhe daria aquilo que eu não estava disposta. Por mais que eu fizesse questão de demonstrar o quão segura me sentia e como a minha autoestima era elevada, a verdade é que por trás dessa postura existia uma menina insegura e que acreditava que sempre seria abandonada por aqueles que amasse. Dessa forma, não cogitei nem por um segundo que a história poderia ser uma mal entendido e a tomei como verdade partindo para o que eu sabia fazer de melhor: quebrar o coração daqueles que ousaram quebrar o meu.
Assim, passamos por um período conturbado e eu me sentia uma verdadeira confusão de sentimentos, com um amor não correspondido que não cabia no meu peito e me fazia ter vontade de chorar o dia todo e sem ninguém com quem eu pudesse desabafar, as coisas ficaram difíceis. Não demorou muito para que as pessoas em volta começassem a perceber que algo não ia bem, afinal eu já não era mais a menina animada de antes e tinha crises de choro quase todas as vezes que via Miguel ou cantava alguma música que me lembrasse dele, foi assim que minha aproximação com Roberta começou. Observadora como era, ela captou tudo que acontecia sem eu precisar falar uma palavra e logo se tornou minha parceira de crime tendo a maravilhosa ideia que eu me fingisse de bêbada para ficar com o Miguel. Eu obviamente aceitei, afinal o que um coração partido não é capaz de fazer por alguns instantes sem sentir dor?
-Viu só amor, você me enganou direitinho aquela vez, me fez ficar preocupado com você passando mal e me culpar o dia seguinte inteiro por ter me aproveitado de você bêbada, quando na verdade era você que estava se aproveitando de mim... Agora o carma está te fazendo pagar – respondeu rindo.
-O carma não deveria me cobrar por eu querer desesperadamente um minuto de atenção do amor da minha vida... Mas se você quer saber, eu enfrentaria mil ressacas como essa só para viver aquele momento com você de novo. Aquele dia foi a primeira vez em semanas que eu senti meu coração batendo novamente.
Poderia parecer drama, mas a intensidade de amar e desejar alguém pela primeira vez me fazia enlouquecer e a sensação de, finalmente, poder sentir os lábios dele nos meus mais uma vez era indescritível.
-Eu também não mudaria nada, estava louco para beijar você a noite toda. Você estava linda demais naquele vestido e aquele seu olhar grudado no meu a noite inteira como se quisesse arrancar a minha roupa estava me tirando do sério. Eu amo muito você princesa, nunca duvide disso! - afirmou beijando os meus cabelos, continuando com o cafuné enquanto eu mantinha os olhos fechados tentando organizar as lembranças do dia anterior que não paravam de retornar a minha mente.
-Pelo amor de Deus, eu só posso estar alucinando, não me diz que eu vomitei em cima de você no meio da rua?! Isso não pode ser verdade... - exclamei assustada quando a lembrança desse momento retornava, assim como Miguel segurando os meus cabelos em frente ao vaso sanitários nas outras inúmeras vezes que meu estômago se revoltava com a quantidade de bebida ingerida.
-Se você quiser eu não falo... - disse rindo me fazendo ter um colapso ao imaginar o meu namorado me vendo nessa situação. Que nojo, que tipo de pessoa vomita em cima do namorado? Ele ia perder todo tesão em mim toda vez que lembrasse dessa cena.
-Ai, como é difícil ser eu! - choraminguei - Não sei onde ir buscar minha dignidade.
-Relaxa amor, na saúde e na doença, lembra? - respondeu todo fofo ainda me fazendo cafuné.
-Eu preferia que a doença não me incluísse vomitando em cima de você.... - Perdi a linha de raciocínio, interrompendo a minha fala no meio, no momento em que me lembrava da nossa transa no banheiro. Senti meu rosto corar imediatamente e se antes eu mantinha os olhos fechados por medo de vomitar, agora eu os mantinha assim por total e completo desespero. Eu não conseguia nem imaginar como encarar Miguel naquele momento com as lembranças que me vinham a mente.
-Amor, eu devo me preocupar com o fato de todo o sangue do seu corpo ter ido parar no seu rosto nesse momento? - questionou com um ar de riso na fala.
-Eu não sei... Nós realmente transamos no banheiro? - perguntei depois de alguns segundos em silêncio onde eu reuni toda a coragem que possuía e levei ambas as mãos ao rosto tentando escondê-lo.
-Sim... você está arrependida? - falou com um tom de voz que demonstrava preocupação, deixando todo o ar risonho para trás.
Eu estava? Ao lembrar cada vez mais dos detalhes uma confusão de sentimentos me dominava. Eu me sentia envergonhada e disso não havia dúvidas, mas eu também me sentia livre, como se aquela fosse a primeira vez em que eu realmente fiz e falei tudo que tinha vontade na hora do sexo, sem deixar que nada me impedisse. Não me lembro de ter dado tanta vazão aos desejos do meu corpo anteriormente, deixando que apenas eles me dominassem, sem pensar em todos os pudores que existem no nosso inconsciente e que foram implantados por uma cultura machista que ensina desde cedo que homens não só podem, como devem, ir em busca do seu prazer, enquanto mulheres devem ser respeitáveis, puras, ingênuas e "se darem o respeito" se quiserem ser tratadas como tal. Por mais feminista e empoderada que uma mulher seja, esses respingos da cultura em que estamos inseridas permanecem dentro da gente, por mais que tentemos esconder, e a desconstrução de tabus é constante para todas nós. Refletindo sobre isso, tenho certeza de que uma boa parte da insegurança que sentia e me fez ter tanto medo de perder a virgindade veio disso, dessa imposição cultural de que mulheres que se permitem fazer aquilo que as faz sentir prazer são denominadas como "fáceis", "putas" e "vadias", enquanto os homens que fazem o mesmo não estão fazendo nada além de exercer sua própria natureza.
Pensando em tudo isso eu tinha duas certezas: a primeira era de que não, eu não estava arrependida. A segunda era a de que mesmo que o meu consciente soubesse que eu não deveria me envergonhar, eu não conseguia controlar e vergonha era tudo o que eu sentia no momento, o que me impedia de encarar Miguel. Instintivamente, meu cérebro fez o que nós mulheres estamos programadas para fazer desde a infância: se culpar. A sociedade questiona e julga todas as condutas de mulheres, desde situações sérias como abusos e agressões, até coisas mais banais como a rotina do dia a dia. Não importa o que aconteça, o homem é imaturo, a mulher é a culpada. E eu me culpei: inicialmente por ter bebido demais, depois por ter feito o que meu corpo tinha vontade e ter sentido um prazer absurdo com isso, e quando eu finalmente compreendi que não me arrependia e que faria tudo novamente, me culpei por me sentir culpada.
Tentando manter a calma e racionalizar percebi que eu não deveria exigir demais de mim mesma, que eu deveria tentar compreender os meus medos e as minhas limitações. Ninguém deixava de ser uma mulher reprimida por uma cultura machista e se tornava empoderada de um dia pro outro. Tudo bem eu me sentir envergonhada, eu sabia que não tinha motivos para isso e com o tempo eu venceria mais essa barreira, assim como venci diversas outras anteriormente, assim como milhares de mulheres venciam todos os dias.
-Não, não estou arrependida... - admiti com convicção ouvindo Miguel suspirar em um alívio evidente. - Mas tô morrendo de vergonha amor, sei que não deveria, que não tem motivo pra isso...É só que eu simplesmente não consigo controlar... - confessei levando minhas mãos ao rosto novamente em uma tentativa de esconder o rubor que eu sentia se apossar novamente da minha face.
-Ei, princesa... olha pra mim... - ele retirou minhas mãos delicadamente no meu rosto, me fazendo um carinho na bochecha, enquanto eu abria os meus olhos encontrando os dele que me encaravam transbordando admiração - Eu amo absolutamente todos os teus aspectos e eu espero que ontem tenha sido tão bom pra você quanto foi pra mim. E você está certa, não tem porque você sentir vergonha, mas tudo bem também se sentir... Eu só não quero que você se prive de falar ou fazer algo que quer por se sentir envergonhada. Amor, nós estamos juntos há três anos, confiamos um no outro, vivemos as mais diversas situações juntos, conversamos sobre todos os assuntos possíveis, por que precisamos ter esse tabu todo para falar de sexo?
-Você tem razão... Na verdade tem melhorado bastante, cada vez que nós transamos ou conversamos sobre isso eu sinto que vou me sentindo mais à vontade...
-Sim, vamos conversar... Por que você não me diz os motivos pelos quais a senhorita está se sentindo envergonhada? Podemos tentar melhorar isso juntos, hunm? - falou com um sorriso de canto que me convenceria a falar sobre qualquer coisa no mundo. Senti meu rosto queimar novamente, mas o carinho que ele fazia no meu rosto e o seu olhar me passando confiança, me impediram de desistir.
-Bom, primeiro eu acho que o fato de ter transado no banheiro na boate me deixa envergonhada, na verdade não sei se com vergonha ou com medo de que alguém pudesse ver... Acho que sinto vergonha em imaginar que alguém pudesse nos ver... - falei rindo pela minha enrolação e Miguel sorriu me acompanhando – Mas o que me deixa mais envergonhada é lembrar das coisas que eu te falei... - confessei desviando o olhar novamente.
-Princesa... olha pra mim... - voltei a encará-lo e ele beijou a minha testa antes de questionar – vergonha especificamente de que coisas que você falou?
-Ai amor, você não pode me fazer repetir, eu já nem sei onde me enfiar. - Resmunguei fazendo bico, sentindo Miguel rir e selar os meus lábios com um selinho carinhoso.
-Amor, você me falou muitas coisas ontem, eu preciso saber do que você se envergonha para poder te convencer de que não existe motivos pra isso... - Bem, pensando por esse lado realmente fazia sentido.
-Sinto vergonha pelas coisas que eu pedi pra você fazer... Eu praticamente implorei pra que você me comesse, nesses termos! E ainda pedi pra você me bater, não consigo nem me lembrar! - falei com um tom de indignação na voz e Miguel sorriu da minha revolta.
-Bem, vamos por partes... Você está com vergonha de ter me pedido pra que eu te comesse, nesses termos, então na verdade o problema é o termo? Você não se envergonharia de pedir pra que eu fizesse amor com você?
-Acho que não...
-Você se sente ofendida quando eu digo que quero comer você?
-Não, eu gosto... - confessei desviando o olhar.
-Você acha que eu devo me sentir envergonhado por te falar isso?
-Não...
-Então amor... Não tem porque sentir vergonha, é só uma palavra que nós dois gostamos e que se eu não tenho motivo para me envergonhar de falar, você também não tem... Direitos iguais e foi você que me ensinou isso. - Afirmou sorrindo - Quanto a você pedir pra eu te bater, estou certo em afirmar que se você pediu foi porque gostou quando eu fiz primeiro, não é? - eu apenas assenti, pois me sentia impossibilitada de formular qualquer palavra nesse momento - Então bebê, você tem que me dizer do que você gosta e do que você não gosta... Sexo é isso, nós precisamos ter o retorno um do outro pra saber o que fazer e o que evitar, é conhecendo o corpo do outro, o que faz cada um sentir prazer que vai fazer ficar cada vez melhor.
-Você tem razão, é que eu meio que me assustei com a minha reação, eu não esperava sentir prazer com um tapa e na hora a descarga de adrenalina foi tão grande que eu simplesmente pedi de novo... - contei corando intensamente, afinal eu estava realmente surpresa em ter gostado disso. Das minhas amigas mais próximas, Vick era a que tinha mais experiência sexual e por isso uma das minhas únicas fontes sobre o assunto. Ela já tinha comentado sobre como ficava excitada quando os meninos eram mais autoritários na transa e que gostava até mesmo quando eles batiam. Lembro de ficar completamente chocada com essa confissão, achei um completo absurdo e só pensava que eu jamais iria deixar alguém fazer isso comigo. É aquele ditado: nunca diga nunca.
-Amor, tá tudo certo, se a gente se comunicar vamos descobrir aquilo que gostamos e não gostamos juntos. Além disso, você pode gostar de algo, mas em certo dia não estar muito afim de fazer aquilo, por isso comunicação é essencial.
Concordei me aconchegando melhor em seu peitoral, deixando um beijinho ali, o sentindo me abraçar forte e beijar os meus cabelos. Miguel suspirou e voltou a falar.
-Princesa, tem outra coisa que precisamos conversar sobre ontem... - ergui a cabeça do seu peito o olhando nos olhos ao notar o tom de voz comedido que usava - Nós não usamos camisinha...
A lembrança da noite passada veio novamente a minha mente e eu assenti, recordando que de fato não havíamos usado. Uma pequena parte do meu cérebro registrou que mais uma vez Vick estava certa, fazer sem camisinha era muito melhor.
-Ah verdade, bom eu iria falar sobre isso com você mesmo, mas acabamos brigando e eu esqueci... Eu consultei novamente, na semana passada, com o ginecologista que tinha ido aquela vez que o meu pai me encontrou – contei rindo ao lembrar do nervosismo em que fiquei quando me deparei com Alma e meu pai na saída da consulta. Eu morri de medo que meu pai fizesse algo para me separar do Miguel por saber que eu estava pretendendo dar aquele passo. Felizmente não foi isso que aconteceu e ele surpreendentemente falou que "não iria se meter na nossa intimidade", embora eu ache que ele tenha surtado e só após Alma o acalmar ele ter vindo conversar conosco de maneira mais madura.
-Nossa amor, tinha esquecido que você tinha consulta, como foi? Menos traumatizante que da primeira vez? - brincou rindo.
-Com certeza, não precisa de muito pra ser menos traumatizante do que encontrar seus pais na saída da consulta em que você foi escondida - concordei rindo junto com ele – Enfim, eu comecei a tomar pílula então acho que não tem problema não termos usado camisinha ontem, embora eu ainda não me sinta completamente segura pra abrir mão dela completamente...
-Claro princesa, faremos como você se sentir mais segura. Quero você bem relaxada pra aproveitar bastante – brincou me apertando em seus braços enquanto eu ria e ele beijava a minha bochecha – Embora eu não veja a hora de estar dentro de você sem nada de novo – confessou mordiscando o lóbulo da minha orelha me fazendo soltar um suspiro.
-Safado – ri da cara de anjo que ele fez – Entretanto não posso discordar de você...
-E depois eu que sou o safado? - Miguel questionou rindo intensamente e me fazendo cosquinha enquanto eu tentava me esquivar.
-Sim, você que me levou pro caminho da safadeza – respondi ainda rindo o abraçando e enfiando meu rosto na curvatura do seu pescoço e deixando um beijinho ali –Amor, me abraça mais forte, tô me sentindo meio carente hoje... - me queixei fazendo drama.
-Oh meu Deus, minha bebê tá carente? - perguntou estreitando os braços ao meu entorno e me atacando com beijinhos enquanto eu assentia – Vamos passar o restinho do dia nos curtindo assim, tá bom? Só nós dois, agarradinhos. Vou te dar tanto amor que você vai enjoar.
-Resto do dia? Que horas são? Tô bem perdida e não sei onde tá meu celular.
-Seu celular tá carregando em cima da mesa e sobreviveu milagrosamente a noite passada com apenas uma pequena rachadura na película -falou rindo - Já falei com o seu pai que me ligou preocupado porque você não tinha respondido as mensagens dele no whatsapp, inventei que você tinha saído com a Vick e tinha esquecido o celular no hotel, então mantenha a mentira e salve a pele do seu namorado, por favor. Agora deve ser umas 16h, o pessoal já deve estar voltando da praia, eu avisei ainda ontem à noite pra Roberta que provavelmente não iríamos hoje... Aliás, ela está preocupada com você, não para de mandar mensagem...
-Nossa, dormi demais. Obrigada por ser o melhor namorado do mundo e ter cuidado de todos os detalhes. Amo você - me inclinei selando os seus lábios ouvindo-o sussurrar no me ouvido que também me amava.
-Como você está se sentindo? Eu chamei almoço, você precisa comer amor, vomitou muito ontem à noite, não conseguia nem parar em pé, me deixou preocupado. - falou com uma carinha de preocupação de dar dó que apertou meu coração.
-Tô bem melhor amor, acho que consigo comer algo sem colocar pra fora, só quero tomar um banho antes. Você me espera pra comer?
-Claro princesa. Qualquer coisa que precisar me chama, por favor Mia, tenho medo que você fique tonta ou algo assim. Tá há horas sem nada no estômago.
-Pode deixar, qualquer coisa eu chamo. - Me inclinei selando os lábios com os dele e indo em direção ao banheiro.
Confesso que essa versão de Miguel cuidadoso e preocupado comigo me matava demais. Talvez o que mais me fez sofrer durante a minha infância e início de adolescência foi a falta de carinho quando eu ficava doente. Obviamente não me faltavam cuidados, eu era levada aos melhores médicos e tinha sempre uma empregada destinada apenas para me dar os medicamentos e cuidar de todas as minhas necessidades. Mas faltava algo, faltava carinho e amor, elas cuidavam de mim, me ajudavam no banho, me davam o que comer e até contavam histórias porque eram pagas para fazer. Não havia carinho ou preocupação no olhar, não havia afeto, e isso me deixava ainda mais carente de atenção. Talvez por isso eu tenha trauma de médicos e doenças até hoje, pois ficar doente já não é uma experiência agradável, combine isso ao sentimento de abandono e tudo ficará ainda pior. Sei que o meu pai fez o que pôde para suprir a ausência da minha mãe e deu o seu melhor para que o trabalho não o afastasse tanto, contudo, infelizmente não foi o suficiente. Eu entender tudo o que aconteceu não significa que eu esqueça, que não guarde mágoa, porque a dor de uma criança por não se sentir importante na vida de ninguém não é algo fácil de apagar.
Assim, me permiti aproveitar todos os carinhos e mimos do Miguel durante aquele dia, pois esse cuidado foi tudo que eu almejei um dia. Tomei um banho demorado, deixando a água quente cair sobre os meus músculos tensos, relaxando aos poucos, deixando os meus pensamentos vagarem aleatoriamente. Retornei ao quarto ainda enrolada em um roupão e fui direto para a mala de Miguel pegando mais uma de suas camisetas, a vestindo enquanto ele me olhava balançando a cabeça em negação e me dizendo que da próxima vez ele precisaria trazer o dobro de camisetas já que eu iria usar as roupas dele.
Comemos sentados em uma mesa que ficava na varanda do hotel, de frente para aquele mar imenso e observando o sol que se preparava para se pôr no horizonte. Quando estava na metade do prato que Miguel havia me servido, meu estômago começou a protestar, mas meu namorado reclamou que eu tinha comido muito pouco e insistiu me dando o resto da comida na boca, não me deixando escolhas em negar uma fofura dessas. Respondi as inúmeras mensagens no meu celular, conversei com meu pai e tranquilizei minhas amigas e Alma, que não caiu na desculpa inventada por Miguel, e queria saber exatamente o que havia acontecido. Apenas falei que tinha bebido um pouco demais e meu estômago tinha ficado revoltado, salientando que já estava bem e que Miguel havia cuidado de mim. Mesmo assim, ela me ligou e me deu um sermão de vinte minutos sobre beber com moderação, tomar bastante água e não ficar de estômago vazio. Concordei com tudo que ela disse, me desculpando e falando que não iria mais se repetir, ouvindo no final da ligação uma ameaça de "na próxima vez eu vou contar pro seu pai" o que nos fez rir juntas porque nós duas sabíamos que ela não contaria.
-Alma não poupou você de um sermão heim – comentou Miguel assim que desliguei o celular.
-Não - respondi rindo e vi Miguel franzir o cenho com minha reação - O que foi?
-Nunca imaginei ver você sorrindo depois de brigarem com você. Normalmente você chora e fica toda carente, estava aqui me preparando pra te consolar depois dessa ligação e você está rindo.
-Eu simplesmente não consigo ficar triste quando Alma faz isso porque foi essa a preocupação que eu sempre quis que sentissem por mim. Você percebeu que meu pai acreditou direitinho na mentira que você contou, ou ao menos fingiu acreditar, enquanto Alma sabia que era mentira e não sossegou até eu falar a verdade? E acredite em mim, ela sabe quando eu minto. Enfim, eu choro quando qualquer pessoa briga comigo, exceto ela, com ela eu me sinto feliz porque eu nunca me senti tão amada em toda a minha vida.
Miguel concordou comigo me puxando para a cama junto com ele onde passamos o resto do dia abraçados e assistindo série. Concordamos em ficar no quarto o dia todo hoje para que eu conseguisse me recuperar totalmente e pudéssemos aproveitar os próximos dias. Ele me contou que tinha visto alguns pacotes de mergulho que poderíamos fazer amanhã e eu fui ficando cada vez mais empolgada. Ainda tinha na memória os dias maravilhosos que vivemos em Cancún e algo me dizia que esses seriam ainda mais perfeitos. Ao anoitecer, Miguel me fez tomar outro remédio e me empurrou mais um pouco de comida, antes que nos deitássemos abraçados com ele fazendo um carinho gostoso nas minhas costas por baixo da camiseta e eu fazendo cafuné naqueles cachos que eu amava. Peguei no sono dessa maneira, me sentindo tão segura e amada como nunca antes tinha me sentido na vida.
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Olá amores, como estão? Queria desejar as boas vindas para os leitores novos que chegaram por aqui e agradecer por todos os comentários que vocês deixaram no capítulo anterior 💙 Receber o feedback de vocês é essencial, porque além do meu coração ficar quentinho, faz com que eu saiba o que vocês gostam que eu escreva por aqui. Levo muito em consideração a opinião de vocês e dou o meu melhor para encaixar as expectativas de vocês com o que já tenho planejado pra história, então sigam comentando e me digam o que vocês gostaram do capítulo ou o que não gostaram para que eu possa melhorar. Vocês são incríveis demais e é o apoio de vocês que me faz continuar. Obrigada por lerem os meus devaneios, vocês tem todo o meu coração 💙
Hoje quero deixar um agradecimento especial para a anninhaleandro que não fez apenas uma, mas três capas maravilhosas pra eu escolher para a fanfic! Então sim, estamos com uma capa linda nova que eu jamais teria a capacidade de fazer! Muito obrigada pelo carinho e apoio de sempre 💙
Outro agradecimento especial vai para a Samira que me mandou uma mensagem linda demais me incentivando muito! Ela tem um fc ponny maravilhoso no insta chamado ponny_real, sigam ela lá 💙
Volto assim que puder, comentem o que acharam e deixem bastante estrelinhas 💙😘
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