Capítulo 16 - Quiero
Capítulo Especial AyA Day - 1° de agosto de 2021
"Porque tienes miedo de sentir, porque eres alérgico a soñar y perdimos color, porque eres alérgico el amor"
"Despiértate, absurda, no sigas a oscuras. Él nunca te quiso, él solo te hizo probar la locura"
"¿Quién de mí te habrá curado? Y embriagado de anestesia, como si tuvieras amnesia"
POV Miguel
Perdido em meio a pensamentos, imaginando tudo que eu queria jogar na cara da minha querida sogra, acariciei os cabelos de Mia novamente ao ouvi-la choramingar mais uma vez naquela noite. Suspirei fundo, frustrado por não conseguir dar a ela a noite de sono tranquilo que merecia após o dia conturbado. Embora ela não parasse de se remexer e resmungar, parecia se acalmar com meus carinhos e palavras sussurradas como se pudesse me ouvir mesmo adormecida, e por isso me mantive acordado na tentativa de puxá-la para longe toda vez que um novo pesadelo chegasse. Vislumbrei o relógio digital em cima da mesa de cabeceira, sendo o responsável pela única luminosidade presente no quarto, que marcava 4:15 da madrugada, meus olhos estavam pesados de sono, o peso do dia anterior também cobrando o seu preço sobre o meu corpo. Na tentativa de diminuir um pouco a tensão muscular que contraia os meus ombros, me acomodei melhor na cama, deitando no travesseiro e puxando o corpo adormecido de Mia para o meu peito, a abraçando forte e fechando os olhos por alguns segundos, ao menos assim foi o que pareceu.
Sem conseguir conter o cansaço que eu sentia, acabei adormecendo agarrado a minha namorada e sonhei com nossas férias em Cancún, na ilha do amor eterno. Mia sorria lindamente, gargalhava me jogando água na beira do mar e se esquivando quando eu tentava pegá-la. O sonho era tão real que eu podia sentir o sol quente aquecendo a minha pele e fazendo o suor brotar no meu corpo. De repente o calor começou a ficar muito forte, desconfortável, o sol não apenas aquecendo, mas queimando o local onde incidia. Estava tão quente que dava a impressão de eu estar perto dele, perto demais, grudado para ser mais exato. Acordei assustado, e para o meu espanto, a sensação de calor não cessou. Abri os olhos e entendi o porquê do sonho, eu literalmente estava grudado com a fonte que irradiava calor naquele quarto, mas não era o sol, e sim, minha namorada que queimava em febre nos meus braços.
Me sentei na cama preocupado e toquei a testa quente de Mia com os cabelos grudados de suor, constatando aquilo que mais temia, o banho de chuva já começava a cobrar suas consequências, como se todos os acontecimentos do dia anterior não tivessem sido o suficiente. "Obrigado universo!", exclamei irônico revirando os olhos e já levantando da cama em busca de termômetro e um antitérmico para controlar sua temperatura.
Liguei o abajur para me ajudar na busca, mas não obtive sucesso, revirei todo o meu quarto e banheiro sem achar a porra de um paracetamol que fosse. Sem mais alternativas, bati na porta do quarto da minha mãe.
-O que foi, meu filho? - Abriu a porta assustada, ainda fechando o roupão que jogou por cima do pijama e me olhou preocupada.
-Desculpa te acordar mãe, mas Mia tá ardendo em febre, não achei remédio nem termômetro... - Expliquei preocupado, passando a mão entre os meus cabelos pelo nervosismo.
-Não precisa pedir desculpa, sua caixa de medicamentos tá aqui, eu peguei semana passada porque Lolly estava com dor de cabeça e esqueci de colocar no lugar. - Disse entrando no quarto e retornando com um termômetro digital e uma cartela de dipirona em mãos. - Vai medindo a temperatura dela, enquanto eu busco água pra darmos o remédio. - Orientou.
Voltei ao meu quarto e observei minha namorada por alguns instantes, a cena era de dar dó, ela parecia tão fragilizada, tão pequena encolhidinha no meio da cama de casal, tapada até a cabeça e tremendo pelo frio causado pela febre. O hematoma roxo que começava a se formar em sua face só me fazia ter vontade de socar ainda mais a cara de Marina. Respirei fundo, porque agora a prioridade era cuidar de Mia.
-Bebê... - Chamei carinhoso, tentando destapá-la para posicionar o termômetro em baixo de um dos seus braços. Mia gemeu e agarrou o edredom com força. - Shiuu meu amor, eu só vou medir sua temperatura e já te cubro de novo... - Expliquei baixinho acariciando seus cabelos molhados de suor. Mia suavizou o aperto entorno do edredom e com cuidado consegui posicionar o termômetro de forma correta, mas precisei ficar segurando seu braço na posição, pois ela cochilava voltando a relaxar e fazendo com que o objeto saísse do lugar.
-E aí? Quanto tá a febre? - Questionou minha mãe entrando no quarto com um copo grande de água em mãos.
-Ainda não sei, recém consegui fazer com que o termômetro ficasse na posição correta.
-Deus do céu, parece estar bem alta... - Suspirou minha mãe ao tocar sua testa e constatar o que eu havia observado alguns minutos antes. Ela estava queimando.
Nesse momento o termômetro digital apitou e eu o retirei observando a temperatura com um suspiro.
-Tá 39°C. - Ofeguei entregando-o para a minha mãe que após olhá-lo, também com um olhar preocupado, o dispensou em cima da minha mesa de estudos.
- Bebê... - Comecei chamando-a devagarinho e obtive um resmungo em resposta. Se eu não tivesse tão preocupado seria capaz de sorrir ao vê-la fazer manha. - Amor, acorda um pouquinho, você precisa tomar remédio... - Falei carinhoso acariciando seu rosto.
Ela abriu os olhos, piscando um pouco para se ajustar a luminosidade do ambiente e me observou com o olhar abatido e as maçãs do rosto vermelhinhas pela alta temperatura. Se arrastou na cama, tentando sentar com dificuldade e eu a puxei para cima, arrumando seu corpo para que ela se apoiasse nos travesseiros. Minha mãe estendeu o comprimido de dipirona e o copo de água, que ela tomou sem contestar. O copo balançando em sua mão trêmula devido ao frio causado pela febre alta.
-Quer mais um pouco de água? - Perguntei após retirar o copo vazio de suas mãos. Ela negou com a cabeça, voltando a deitar-se nos travesseiros.
-Eu tô com muito frio... - Reclamou baixinho, se encolhendo novamente e puxando o edredom até a cabeça.
-Eu sei amor, agora já vai passar, ok? - Esfreguei os seus braços tentando transmitir um pouco de calor e beijei sua cabeça. Mia assentiu quietinha, fechando os olhos mais uma vez. Olhei preocupado para minha mãe por vê-la tão abatida. Óbvio que eu já a havia visto doente outras vezes nesses últimos três anos e, tinha inclusive, cuidado dela nessas ocasiões. Contudo, nunca a senti tão vulnerável como hoje, acho que todo o conjunto de acontecimentos recentes contribuiu para deixá-la frágil como está.
-Miguel, acho que você deveria dar um banho nela pra ajudar a baixar a temperatura... - Sugeriu minha mãe, compartilhando o mesmo meu olhar preocupado e eu assenti em resposta.
Levantei da cama, onde estava sentado ao lado de Mia, e separei um novo moletom, calcinha e meias para vesti-la. Peguei também um novo jogo de lençóis, pois não havia possibilidade de deixar aquele que estava molhado de suor. Minha mãe se disponibilizou a arrumar a cama enquanto eu ajudava Mia, então, com tudo preparado vinha a parte mais difícil: convencê-la a ir pro banho.
-Princesa, vem cá, vamos tomar um banho... - Falei tentando puxá-la em minha direção.
-Não quero... - Resmungou mantendo os olhos fechados e apertando mais as cobertas ao seu entorno. Suspirei, eu sabia que ia ser difícil. Mia doente era pior que criança.
-Mas precisa, bebê... Sua temperatura tá muito alta, você tá molhada de suor, não pode ficar assim. - Expliquei paciencioso. Eu conhecia bem a paciente que tinha.
-Eu tô com muito frio... - Voltou a se queixar, choramingando dessa vez.
-Eu sei, bebê. Se você me deixar te dar banho logo logo vai melhorar, não é isso que você quer? - Questionei e não obtive resposta, me fazendo perceber que eu iria ter que apelar. - Por favor, amor... Eu tô preocupado, fiquei acordado a noite toda cuidando de você, faz isso por mim? - Implorei.
-Ok...- Assentiu sem se movimentar. Suspirei aliviado por finalmente tê-la convencido.
-Vem cá. - A puxei colocando-a sentada no meu colo e prendendo seus cabelos atrás da orelha. - Obrigado, prometo que vai ser rapidinho. - Disse beijando sua testa e acariciando seu rosto.
Procurei por um rabicó por entre suas coisas, porque de maneira alguma eu iria lavar de novo o cabelo dela aquele horário da madrugada, Mia não me deixaria secar direito e ia ser muito pior ela dormir com ele molhado. Minha namorada reclamou da minha tentativa frustrada de prender o seu cabelo e ela mesma fez um coque no alto da cabeça, facilitando o meu trabalho. Ela estava sentada na tampa do vaso sanitário enquanto eu ajustava o chuveiro, os olhos se demorando fechados a cada vez que piscava, demonstrando o verdadeiro esforço que fazia para se manter acordada. Quando me dei por satisfeito, encontrando uma temperatura agradável que não era nem muito quente nem fria, a ajudei a retirar a roupa que usava e a entrar em baixo do chuveiro.
-Ahhh, tá gelada, amor! - Reclamou choramingando e se encolhendo em baixo da água.
-Não tá, bebê. Seu corpo que tá muito quente. - Expliquei, fazendo-a voltar para baixo do chuveiro que ela tentava se esquivar.
-Mas eu tô com frioooo... - Sapateou tentando se aquecer e eu sorri da sua atitude. - Não ri de mim! - Queixou-se emburrada e eu contive a vontade de rir novamente. Era bom vê-la menos abatida, sinal de que o remédio e o banho estavam começando a ajudar.
-Desculpa, amor. Fica só mais um pouquinho, já vai acabar, prometo!
Depois de alguns minutos, não consegui enrolar para que ela ficasse mais tempo, Mia saiu se cobrindo fortemente com uma toalha grande e eu a ajudei com a roupa para que voltasse a se aquecer. Quando retornamos ao quarto, minha mãe já havia trocado os lençóis e ela pulou para baixo do cobertor.
-Gatito, fica aqui comigo. - Pediu com voz de bebê, fazendo bico.
-Já vou amor, só tô terminando de arrumar as coisas aqui. - Respondi organizando o banheiro rapidamente para poder deitar com ela. - Onde você vai? - Questionei ao vê-la levantando da cama quando voltei ao quarto.
-Vou pegar água. - Respondeu com a voz arranhando, meio rouca, comprovando minha teoria de que a febre era em decorrência de uma possível infecção na garganta.
-Deixa que eu pego pra você. - Fui em direção a cozinha pegando água no filtro em temperatura ambiente para não piorar sua garganta. Mia bebeu o copo inteiro, sedenta.
-Nossa, estava com sede. - Voltou a se deitar, negando mais água após eu oferecer.
-Também, com o tanto que você soou. - Constatei, me deitando ao seu lado na cama e a puxando para o meu peito. Beijei sua testa demoradamente tentando sentir a temperatura do seu corpo e suspirei aliviado. - Acho que sua febre tá diminuindo. - Afirmei ao perceber que a temperatura não era mais tão quente.
-Também acho, tá me dando calor. - Respondeu se aconchegando melhor no meu peito e destapando os braços, deixando a coberta somente até a altura de sua cintura.
-Tua garganta tá doendo? - Acariciei seus cabelos levemente e ela se estreitou a mim.
-Não... Mas acho que logo vai começar a doer, tô sentindo que ela tá meio irritada. - Falou já com os olhos se fechando pelo sono.
-Dorme princesa, vou ficar aqui com você. - Prometi, e alguns minutos foi tudo que precisou para que ela caísse no sono. Depois de colocar o termômetro mais uma vez, mesmo com ela dormindo, e constatar que a febre havia cedido, me permiti dormir também.
Quando acordei pela manhã, Mia ainda dormia agarrada a mim e, para o meu alívio, não tinha febre. Levantei com cuidado para não a acordar e após fazer minha higiene fui preparar algo para que ela pudesse comer.
-Bom dia, mãe! - Beijei a testa da minha mãe que terminava de espremer algumas laranjas.
-Bom dia, meu filho! Como Mia passou? - Perguntou me olhando preocupada.
-Depois daquela hora melhorou um pouco, não teve mais febre, mas acho que é infecção na garganta. - Gemi frustrado e minha mãe me olhou com pesar.
-Se for, boa sorte. Você vai ter que leva-la no médico. - Constatou.
-Eu sei, já tô me preparando pra batalha. - Respondi e nós rimos juntos. Mia fugia de médico igual diabo foge da cruz. Se ela estivesse apenas gripada seria mais fácil, pois não havia muito segredo sobre o que fazer. Repouso, antitérmicos e alimentação adequada era tudo que se poderia fazer enquanto se aguardava o corpo responder ao vírus. Entretanto, infecção na garganta não melhoraria de forma espontânea, ela precisaria fazer uso de antibióticos e, pelo histórico de múltiplas amigdalites seguidas que Mia teve, possuía resistência a muitos deles. Da última vez em que esteve doente precisou fazer medicação injetável e foi o maior drama, por isso eu já pressentia a dificuldade que seria convencê-la a ir ao médico dessa vez. Tudo devido a um medo desenfreado de agulhas, como eu falei antes, Mia era pior que criança.
Minha mãe me ajudou a preparar uma bandeja com as comidas favoritas de Mia e eu a levei para o quarto disposto a acordá-la se necessário. Afinal, faziam horas que ela não comia nada e sua última refeição nem deveria ser nomeada assim devido a quantidade irrisória que ela ingeriu. Assim que bati os olhos em Mia, percebi que a febre havia voltado, ela já estava toda encolhida novamente, agarrada ao edredom e com uma camada de suor despontando em sua testa. Suspirei em derrota e deixei a bandeja em cima da mesa de cabeceira, enquanto sentava ao seu lado na cama e tocava a sua testa, constatando aquilo que já sabia. Felizmente, não era uma febre tão alta como na noite anterior e eu fiquei aliviado ao ver o 38°C piscando no termômetro digital. Conferi o horário e já faziam mais de seis horas que eu a havia medicado, então peguei mais um comprimido da cartela de dipirona que se encontrava jogada sobre a mesa.
-Princesa... - Chamei acariciando seus cabelos e ela se remexeu na cama contrariada por ter seu sono interrompido, mas abriu os olhos lentamente me observando. As olheiras fortes evidenciando a noite mal dormida e o choro intenso do dia anterior fizeram meu coração contrair. - Você tá com febre de novo, vamos tomar mais um remédio? - Questionei baixinho e ela assentiu, esfregando os olhos pelo sono e se recostando aos travesseiros.
Mia tomou o comprimido e o copo de água que ofereci e quando iria voltar a dormir eu a impedi.
-Amor, antes tenta comer alguma coisa...
-Eu não tô com fome. - Respondeu fazendo careta.
-Eu sei, mas tem que comer ao menos um pouquinho... Eu preparei um monte de opções pra você, não vai mesmo experimentar as coisas que fiz com tanto carinho? - Apelei para o seu emocional, pois sabia que era a única forma de fazê-la comer algo naquele momento. Mia choramingou contrariada, mas pegou um prato que continha tapioca recheada com morango e doce de leite, uma de suas comidas favoritas que eu fiz especialmente para mimá-la. Ela comeu vagarosamente e no fim empurrou o prato que ainda continha metade da tapioca. A olhei com os olhos falando mais do que qualquer palavra, suplicando que comesse mais um pouco.
-Eu não consigo, não tô com fome e minha garganta tá doendo demais... Por favor! - Choramingou, implorando para que eu parasse de insistir e eu aquiesci em concordância, mais porquê fiquei com pena por ver que ela realmente estava se esforçando para me agradar, do que por concordar que ela havia comido o suficiente.
-Ok, toma um pouquinho de suco pelo menos. - Ofereci o copo de suco de laranja e ela aceitou tomando-o inteiro. Fiz uma nota mental ao perceber que ela estava aceitando melhor líquidos do que alimentos sólidos e pensei que da próxima vez deveria fazer uma vitamina com frutas e leite, ao menos seria mais nutritivo.
-Deita aqui comigo. - Pediu com vozinha de bebê e eu me perguntei mais uma vez como alguém tinha a capacidade de machucá-la intencionalmente. Era tão doce, tão meiga, tão pura. Não existia explicação para o que havia acontecido.
-Claro, princesa. Vem cá. - Deitei me enfiando em baixo dos cobertores ao seu lado e a puxei para o meu peito abraçando-a. Ela fechou os olhos instantaneamente, enfiando a cabeça na curvatura do meu pescoço e eu fiquei ali acariciando seus cabelos.
Eu sabia que ela não tinha voltado a dormir devido sua expressão facial que não estava relaxada e sua respiração superficial, então apenas continuei a acariciá-la, demonstrando o quando ela era amada e tentando sanar um por cento que fosse da carência desencadeada pelo dia anterior. Primeiro fiz cafuné nos seus cabelos, depois deslizei lentamente os dedos pelo seu rosto, desenhando aqueles traços perfeitos que delineavam sua expressão angelical. Corri os dedos contornando as manchas escuras em baixo dos seus olhos, como se pudesse arrancar dali todo o cansaço que ela sentia e, com delicadeza, delineei a mancha lilás que despontava na maçã do seu rosto. Ela estremeceu, mesmo que o contato tivesse sido mínimo. Meu coração se contraiu e eu precisei de todo autocontrole do mundo para que minha voz saísse tranquila, a última coisa que eu queria no momento era assustá-la.
-Dói? - Perguntei baixinho após ver sua reação.
-Não muito... Tá dolorido. Ontem doeu mais. - Respondeu com a voz rouca pela garganta inflamada, permanecendo com os olhos fechados e encolhidinha no meu peito. Me inclinei e selei suavemente com um beijo o local machucado, eu só queria ser capaz de curá-la. - Agora vai melhorar. - Mia sorriu, ainda com os olhos fechados, pelo ato.
-É? - Questionei feliz por conseguir arrancar um sorriso seu, mesmo que mínimo.
-Sim, quanto mais beijos você der, mais rápido vai melhorar. - Brincou.
-Então vai melhorar bem rápido, porque não vou parar de dar beijos. - Respondi beijando o local delicadamente mais uma vez.
Ficamos assim por algum tempo até que a rotina da noite anterior se repetisse. A febre começou a ceder, o calor veio, assim como o suor e dessa vez tomamos banho juntos sem muita reclamação por parte dela.
-Viu só, amor? Você tem que ser mais bonzinho comigo, eu nem reclamei do banho hoje. Ontem você foi malvado e me colocou naquela água gelada enquanto eu ainda estava mal, não custava esperar como hoje. - Se queixou, fazendo o drama típico de Mia Colucci, assim que eu desliguei o secador que usava para secar seus cabelos, me arrancando um sorriso.
-Tua febre estava muito alta ontem, bebê. Não dava pra esperar. - Expliquei, deixando um beijo na sua cabeça e vendo um bico contrariado se formar nos seus lábios enquanto guardava o secador que havia usado. Suspirei fundo, me sentando ao lado dela e me preparando para a batalha que iniciaria. - Amor, não fica braba comigo, mas você sabe que precisa ir ao médico... - Falei suavemente observando sua expressão brincalhona mudar instantaneamente.
-Aii, não, gatito... - Choramingou fazendo bico.
-Não faz assim, bebê. Você sabe que precisa. - Assinalei do modo mais carinhoso que consegui.
-Eu sei, mas isso não é justo! - Exclamou, choramingando novamente e me olhando com uma carinha de dar dó. - Eu já tô com a sensação de que fui atropelada por um caminhão, o corpo todo dolorido, não é justo eu precisar levar uma injeção e ficar sem conseguir sentar por uma semana! - Meu coração contraiu mais uma vez no peito e eu a puxei para o meu colo.
-Você tem razão, não é justo. Mas se você não fizer, não vai melhorar... Te juro que se eu pudesse trocava de lugar com você. - A abracei forte tentando confortá-la e ela correspondeu de bom grado se agarrando a mim.
-Eu sei. - Beijou carinhosamente o meu pescoço onde seu rosto estava enfiado. - Meu cartão do plano de saúde tá na minha casa. - Comentou.
-Tudo bem, a gente passa lá pra pegar. Você nem precisa descer do carro se não quiser. - A tranquilizei beijando sua testa e acariciando sua coxa.
Pouco tempo depois já estávamos no carro em direção a sua casa, Mia mais parecia que estava indo para um abatedouro tamanho o nervosismo. Minha mão estava entrelaçada a dela em cima de sua coxa, em uma tentativa de tranquilizá-la, sem muito sucesso. Ela não reclamou, nem se queixou mais por estar precisando ir ao médico e a batalha que eu imaginava que aconteceria, na verdade, não ocorreu. Ao contrário de ficar aliviado, como eu imaginei que ficaria por convencê-la tão fácil da necessidade da consulta, fiquei ainda com mais pena por vê-la aceitando algo, que eu sabia que ela evitava a todo custo, com tanta facilidade. Isso só demonstrava o quanto, realmente, ela não estava bem.
-Quando você melhorar, vamos fazer qualquer coisa que quiser... Prometo que assisto todas as comédias românticas que estrearem no cinema sem reclamar e que preparo brigadeiro todo o dia. - Prometi. Apenas não sei se em uma tentativa de animar a ela ou a mim que estava destruído por vê-la tão tristinha.
-Olha que eu vou cobrar. - Respondeu com um pequeno sorriso que não chegou aos seus olhos e que logo se apagou.
Quando chegamos em frente à sua casa, desci para pegar o seu cartão do plano de saúde e, como o esperado, Mia preferiu ficar me esperando no carro. Era por volta de meio dia e logo que adentrei a sala, fui recebido com surpresa pela sua família que almoçava ao redor da mesa.
-Miguel? Está tudo bem, querido? - Questionou Alma preocupada assim que me viu em seu campo de visão e todos os olhares se dirigiram a mim.
-Oi, desculpa vir sem avisar, mas precisei vir buscar o cartão do plano de saúde de Mia que ficou aqui, ela passou a noite toda ardendo em febre. - Informei e vi os olhares preocupados me fitarem instantaneamente. Fiquei me sentindo culpado por assustar Alma daquele jeito, afinal não se passava de apenas mais uma amigdalite das milhares que Mia já teve na vida. Contudo, no momento a minha vontade era apenas a de descontar a minha raiva em alguém e, na ausência de Marina, o escolhido era Franco que compreendeu muito bem o olhar de acusação que eu o dirigi quando falei. Quase senti pena ao fitar seus olhos que marejaram pela culpa. Quase. Entretanto, o sentimento logo passou ao lembrar da fragilidade que Mia se encontrava no momento.
-Não fale bobagens Miguel, você pode aparecer a hora que quiser. - Alma me repreendeu e eu contive a vontade de realizar um comentário ácido dizendo que há alguns dias atrás, Franco não pensava do mesmo jeito. - O que você acha que Mia tem?
-Acho que é amigdalite de novo. - Falei resignado. - Ela teve febre alta a noite toda, tá com dor de garganta, não quer comer... Enfim, tudo como das outras vezes. O que me deixou mais preocupado é que ela nem brigou pra não ir no médico, até aceitou com bastante tranquilidade, o que me faz pensar que ela pode tá pior do que diz. - Expliquei, passando a mão entre os cabelos.
-Você vai levá-la quando?
-Agora, só vim buscar o cartão mesmo. Ela tá dentro do carro, não quis descer, mas acho que não vai se importar se você for ali falar com ela. - Informei e no mesmo instante Alma levantou se dirigindo ao meu carro.
-Certo, vou vê-la enquanto você pega o que precisa.
Eu assenti e me dirigi ao quarto de Mia sem nem saber por onde começar a procurar, estava tão preocupado com ela que me esqueci de perguntar onde o bendito cartão estava guardado. Comecei olhando nos lugares mais óbvios e após remexer na gaveta de sua mesa de estudos encontrei não apenas a carteira com seus documentos, como um objeto que me arrancou um sorriso pela lembrança que trazia. Peguei os dois colocando dentro de uma mochila cor de rosa que achei no closet, além de algumas outras peças de roupas mais quentes e confortáveis. Quando retornei ao carro, toda família de Mia estava ao seu redor, tive que conter o riso ao ver que ela ignorava o pai magistralmente. Guardei a mochila no banco de trás e logo seguimos em direção ao pronto atendimento.
-Desculpa se demorei... Esqueci de perguntar onde você guardava os documentos e demorei pra achar. Também peguei mais algumas roupas pra você. - Expliquei, levando nossas mãos entrelaçadas aos lábios, onde depositei um beijo carinhoso antes de voltar a repousá-las sobre a sua coxa.
-Sem problemas, eu não tô exatamente ansiosa pra levar uma agulhada na bunda e ficar com a sensação de que tô perdendo a perna. - Ironizou e eu contive o sorriso pelo seu drama. Eu havia aprendido da pior maneira possível de que em hipótese alguma deveria sequer insinuar que ela estava fazendo drama ou sendo medrosa. Mia e seu medo com agulhas era algo que não se deveria brincar e eu aprendi minha lição há algum tempo atrás, depois de ser ignorado por um mês completo.
Chegamos ao pronto atendimento e após fazer a ficha, ficamos aguardando na sala de espera, Mia permanecia grudada em mim como um macaquinho e eu correspondia o seu abraço da melhor maneira que conseguia. A consulta foi rápida e, sem nenhuma surpresa, foi diagnosticado mais um episódio de amigdalite, nada diferente do que eu já esperava. A parte difícil foi a aplicação da medicação, não apenas porque Mia quase quebrou a minha mão de tanto esmagar, mas principalmente porque eu tinha sérios problemas em vê-la com dor e saber que ela já estava extremamente fragilizada pelos últimos acontecimentos, não ajudou a me deixar mais tranquilo.
Voltamos lentamente ao estacionamento, meu braço envolvendo seus ombros e o dela entorno da minha cintura, a olhei rapidamente e vi que ela estava tentando se manter forte, mas que seus olhos estavam mareados. Beijei o topo de sua cabeça com um suspiro resignado.
-Já já estamos chegando em casa e vamos deitar bem abraçadinhos, ok? - Falei e ela assentiu se grudando mais a mim.
-Amor, eu realmente não vou conseguir ir sentada, sua casa é longe e tá doendo demais... - Queixou-se quando chegamos em frente ao carro no estacionamento.
-Deita no banco de trás, princesa. - Ofereci, beijando sua testa e ela aceitou. Coloquei a mochila com suas coisas no banco ao meu lado e fui observando-a pelo espelho retrovisor durante o trajeto. Deitadinha de olhos fechados, mas aparentemente bem dentro do possível.
-Você prometeu que iria deitar comigo. - Cobrou com voz de bebê, algum tempo depois, deitada de bruços na minha cama, devido a dor no local de aplicação da injeção.
-Já estou indo. Eu trouxe uma surpresa pra você. - Respondi, remexendo a mochila que havia pego em sua casa e tirando o objeto que tinha encontrado no fundo da gaveta com seus documentos.
-O que? - Questionou curiosa, erguendo os olhos em minha direção, sorrindo abertamente quando viu o que eu segurava em mãos. - Não acredito que você trouxe isso!
-Eu achei justo, quando eu fiquei doente você não apenas cuidou de mim, como me proporcional excepcional entretenimento com as melhores histórias de conto de fadas existentes. Vou fazer o mesmo com você. - Respondi feliz por vê-la sorrir. Me deitei ao seu lado com o livro de capa dura cor de rosa que ela havia usado para me contar histórias de princesas há anos atrás, quando fiquei doente em sua casa.
-Eu vou adorar. - Respondeu, ainda com um sorriso nos lábios e isso era o suficiente para que meu coração ficasse mais tranquilo. Eu faria qualquer coisa para vê-la feliz, inclusive ler dezenas de páginas sobre princesas em um livro cor de cosa ilustrado com glitter.
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Olá traumadinhxs, como estão nesse 1° de agosto? Queria muito postar algo pra vocês nesse dia tão especial e por isso esse capítulo tá um pouco menor que os outros, foi o que eu consegui escrever a tempo de postar ainda hoje. O que vocês estão achando do Miguel todo cuidadoso com a Mia? O que acharam do capítulo? Deixem muitas estrelinhas e comentem bastante pra eu ter bastante inspiração pra escrever os próximos. Aproveitem muito o restinho do nosso dia, espero que o capítulo tenha deixado o coração de vocês mais quentinho depois de tantas lágrimas vendo os edits do twitter kkkkk Beijinhoss 💙💙💙💙💙
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