Capítulo X
- Eles são sempre assim?- sussurrou Daniel a Ava.
- Nunca os vi juntos, contudo pelo que Jenny conta, acho que sim.- respondeu a ruiva.
A viagem estava longe de ser a ideal, no entanto o facto de a antiga colega ter aparecido com o marido mesmo no momento certo foi quase um milagre.
- Já te disse que devias ter saído na última.- reclamava Jenny.
- Tu acreditas mesmo que conheces o caminho para Edimburgo melhor do que eu? Eu nasci e fui criado lá.- respondeu o marido de Jenny, Ian.
- E era por lá que devias ter ficado.
- Desculpa?!
Se não fosse o intenso cheiro a tabaco Ava teria dado um longo suspiro. O trio tinha passado de um autocarro confortável para estar enfiado naquele carro como numa lata de sardinhas.
- Não fui eu que decidi dar boleia a três adolescentes quaisquer numa estação de camionetas.- continuava Ian.
- Já te disse que a miúda trabalha no restaurante comigo.
- Então o que estão ela e mais dois rapazes a fazer a caminho da Escócia em vez de estarem na escola? Podem muito bem estar a fugir da polícia.
- Claro que eles não estão a fugir da polícia.- replicou a mulher revirando os olhos.- Mas realmente é verdade, miúda. O que é que estás aqui a fazer?
- Bem, eu estou... Ahmn...
- Nós somos todos primos.- começou David.- A nossa avó vive na Escócia e está muito doente por isso vamos lá para tratar dela.- a ruiva sussurrou um obrigada para o amigo.
- Ohh, vês, Ian, como eles são tão bons miúdos.- o marido apenas bufou para mostrar a sua descrença.- Dizias tu que estavam a fugir da polícia, só tu e a tua cabeça para dizerem uma coisa dessas, homem. Eles estão a fazer isto tudo para ir ter com a família.
- E nós também não estamos? Ou será que te esqueceste que são os meus pais que vamos visitar?
E a discussão recomeçou, só que desta vez mais acesa.
A viagem ainda durou muito tempo mas lá conseguiram chegar a Edimburgo. Primeiro, vieram os prédios modernos de New Town e mais à frente começava Old Town, a parte histórica da cidade. Segundo tinham visto, era ali que se localizava algures a livraria.
- Adeus, as melhoras para a vossa avó.
- Obrigada! Adeus.
- E agora o que fazemos?- perguntou David.
- Vamos à livraria. Onde é que haveríamos de ir? Fazer um passeio turístico, queres ver.- respondeu Daniel.
- Hey, hey!- interrompeu Ava apercebendo-se de que iam começar a discutir.- Nós passámos este tempo todo amassados naquele carro a ouvi-los discutir, a partir de agora ninguém implica com ninguém, está bem?
Os irmãos concordaram. Logo, seguiram todos para a livraria. Não sabiam ao certo onde ficava, no entanto acabaram por conseguir encontrá-la. Na loja estavam alguns clientes e o trio dirigiu-se diretamente à caixa.
- Boa tarde, em que posso ser útil?- perguntou o empregado que devia ter os seus cinquenta anos. Na placa com o seu nome lia-se Tom.
- Boa tarde, viemos buscar uma encomenda em nome de Henry Wallace.
O homem pareceu empalidecer.
- Pelo que eu me lembro Mr. Wallace pediu que a encomenda fosse enviada para Brighton.
- Acontece que Mr. Wallace não tem possibilidade de a ir buscar e incubio-nos de vir até aqui.
- Quem é que são vocês, miúdos? O que é que aconteceu à pessoa que fez a encomenda?- a palidez de Tom continuava a aumentar.
Ava engoliu em seco e sussurrou:
- Faleceu.
- Saiam daqui imediatamente. Está na hora do fecho.
- Mas estamos a meio da tarde.- protestou Daniel.
O homem ignorou-o e pediu aos outros clientes que saíssem da loja. Pegou no casaco e no chapéu de chuva e apressou-se a sair para a rua.
- Espere!- gritou a ruiva.
Os jovens começaram a andar atrás dele.
- O senhor sabe algo, não sabe? E de certeza que também sabe que o nome dele não era Henry mas Isaac.- continuou ela.
- Shiuu, rapariga! Não interessa se ele morreu, ainda há uns de nós que estão por cá e querem continuar aqui.
- De quem é que tem medo? Não está aqui ninguém, não há ninguém a seguir-nos.- constatou Daniel.
- Se realmente estão metidos nisto não podem ser tão ingénuos. Eu mudei-me para aqui a pensar que me poderia afastar e começar de novo, todavia eles estão por todo o lado. Também não percebi ao início contudo eles nunca me largaram.
- Quem é que nunca o largou? Se também estamos em perigo ajude-nos a ser mais cuidadosos.
- Querem estar seguros? Voltem para casa, esqueçam isto tudo e vivam as vossas vidas.
- Isso não vai acontecer.- vociferou Ava.- Nem pense que eu fiz este caminho todo até aqui para receber um não como resposta.
O senhor parou por uns segundos e olhou para a rapariga com os seus intensos olhos cor de caramelo como se tivesse acabado de resolver uma equação complicada.
- Venham por aqui. Sigam-me, depressa antes que eles nos vejam.
O trio seguiu-o até um café não muito longe da loja. Nele sentaram-se numa mesa um pouco escondida num canto e fizeram os respetivos pedidos.
- Digam-me porque é aqui estão e de onde vêm.- pediu Tom.
Assim, Ava relatou tudo o que acontecera desde a morte de Isaac, passando pela descoberta da encomenda feita pelo mesmo até ao momento presente.
- A verdade é que pouco ou nada sabem, contudo são jovens inteligentes mais tarde ou mais cedo vão acabar por descobrir uma boa parte disto tudo.- os jovens aproximaram-se do homem com os olhos a brilhar à espera do que ele diria.- Não posso dizer que eu e Isaac fôssemos amigos ou sequer chegados, simplesmente as nossas vidas cruzaram-se devido a uma série de eventos. Os homens que o mataram e que foram atrás de vocês fazem parte de uma seita ou organização oculta e bastante poderosa que tem influência na política, economia, tecnologia entre outros. Claro que esta organização é bastante exclusiva e os seus membros fazem parte das mais altas camadas da sociedade. A identidade dos seus membros é totalmente secreta, todavia com os anos passei a conseguir detetá-los a quilómetros.
- Se essa tal seita ou organização é tão secreta como que é a conhem? E o que é que fizeram para eles quererem vir atrás de vocês?- interrogou David.
O livreiro fez uma expressão que mostrava que aquela era uma pergunta difícil e demorou algum a tempo a bebericar o café até responder:
- Como devem perceber eu não vos posso contar tudo, este pouco que vos disse já me põe a mim e a vocês em grande perigo. Aquilo que é fundamental que retenham é que eles são bastante poderosos e perigosos. Farão de tudo para tirar do caminho quem quer lhes tente fazer frente. Podem reparar no meu exemplo e de Isaac, ambos tivemos de desistir dad nossas vidas. Eu pelo menos consegui abrir um negócio em Edimburgo no entanto o vosso conhecido teve de começar a viver na rua e mesmo assim mandaram alguns dos seus para tratar dele.
- Está a dizer que Isaac se tornou sem-abrigo para fugir deles? E como tem tanta certeza que não foi apenas uma pessoa apenas que o assassinou?- questionou a ruiva.
- Ao tornar-se sem-abrigo ele não tinha quaisquer contas ou contratos que deixassem um rasto ou uma pista sobre onde se encontrava. Quanto à segunda pergunta, nunca vi nenhum deles sozinho, no mínimo andam aos pares.
- Na noite anterior a Isaac morrer atendi um cliente estranho que estava a usar este anel.- disse Ava pondo o anel na mesa.- No dia seguinte David encontrou-o em minha casa.
- Guarda isso e não deixes que ninguém o veja, Ava. Tomem muito cuidado e não me voltem a contactar.- Tom começou logo a levantar-se para ir embora.
- Espere! Como é que sabe o meu nome se eu não lho disso?
O livreiro olhou para ela com ternura e alguma nostalgia e disse:
- Lembras-me alguém que conheci numa vida anterior. Apreciem o vosso lanche.- o senhor pagou a conta e desapareceu.
- Ava, Ava!- Daniel chamou-a.
Os rapazes já tinham quase acabado de comer mas a fatia de tarte da amiga continuava intacta. A rapariga tinha o cotovelo na mesa e a cabeça apoiada na mão com um ar pensativo.
- Como é que ele conhece a minha mãe?- pensava ela.
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