PRÓLOGO


Estava anoitecendo, aquele quarto vazio e sem vida tomava o aspecto de cor alaranjado. O clima estava seco e tudo muito cinzento. Dias estranhos assim eram dias de mau agouro. E realmente Safira estava desconsolada. Via-se trancada naquele quarto por meses e sua única companhia era a sua irmã mais nova.

Ela só tinha 17 anos, estava noiva de um homem rico com idade para ser o seu pai. Estava sendo obrigada a se casar com ele, para resolver negócios de família. Filha de uma portuguesa viúva, ela morava em um casarão antigo na pequena cidade de São Miguel.

Enquanto o seu futuro marido estava em uma viagem de mais ou menos um ano e meio, Safira apaixonou-se por outro rapaz, na qual gerou uma gravidez indesejada. Agora essa era a sua maior preocupação. A sua mãe a deixou trancafiada naquele quarto até a criança nascer, porém, ela sabia que de qualquer forma, aquilo não atrapalharia o seu casamento, ou seria pior — Aquele brutamonte de seu noivo ao descobrir que ela não era mais "pura", com certeza a maltrataria sem piedade —. O plano de sua mãe era desaparecer com a criança e fazer de tudo para que aquela união ocorresse tudo bem.

A jovem loura estava sentada em sua cama, escrevia em seu diário como de costume, desabafando seus segredos e sentimentos. Mas, o tempo que via pela janela de seu quarto no último andar a preocupava. Era uma estranha sensação, algo horrível estaria preste acontecer. Ela nunca foi sensitiva como o seu amado Marcos, mas, "dias estranhos assim eram dias de mau agouro.".

Aquele mau pressentimento a dominava, o silêncio profundo e o ar seco faziam sentir calafrios. Ela trajava um fino vestido branco com detalhes de renda, o seu cabelo louro caía sobre os ombros. Definitivamente ela era linda, porém, muito triste e carregava em seu ventre uma criança que poderia nascer a qualquer instante.

Escrevia em letras trêmulas:

São Miguel, 18 de Abril de 1995.

Hoje o dia amanheceu tão cinza e até agora ao anoitecer persiste este tempo feio. A minha mãe sempre diz que isso é sinal de longos dias sem chuva, é o que convém em um lugar de clima tão seco como aqui. Mas, esse tempo me deixa angustiada. Com tantas coisas horríveis me acontecendo... Estou sem escolhas, sem saída. Por que essa sensação de que algo ruim vai me acontecer?

Safira pousou a mão em sua barriga. Ficou pensativa por um instante, com os olhos vidrados para o nada.

— Deus me livre de que algo ruim aconteça a você. — Disse com ar de preocupação, como se seu filho pudesse escutar.

Ela olhou para o seu grande espelho ao lado da janela. Levantou-se e institivamente caminhou até ele. Ela olhava para o seu reflexo, hipnotizada. O seu copo havia mudado muito devido à gravidez e ela agora não parecia ser somente uma menina, agora era uma mulher. Suspirou e fechou os seus olhos por alguns minutos. Mantinha-se pensativa, sem ideia de um futuro e sem saber qual o destino a aguardaria.

Marcos. Onde ele estaria agora? Fazia muito tempo em que ela não lhe via. Com esse vai e vem, a essa altura ele já estaria casado com aquela outra moça. Claro, ele foi pressionado a isso.

Safira escutou a porta se abrindo vagarosamente. Manteve-se imóvel e com seus olhos fechados. Ela não estava à espera de ninguém, poderia ser apenas a sua irmã entrando no quarto sem bater como de costume.

— O que você quer Soraia? — Perguntou secamente.

Ninguém respondeu. Escutou a porta bater, se fechando com delicadeza. O silêncio predominava, mas ela sentia a presença e escutava uma respiração alta. Estava estranho demais para ser a sua irmã. Abriu os seus olhos. Aquela face monstruosa que viu atrás dela no reflexo fez o seu corpo tremer.

— Rick?! — Gritou ela abismada, virando-se para ele.

Rick, nada disse. Apenas a fitava da cabeça aos pés. Aquela face enrugada demostrava maldade. Aquele senhor era o futuro marido de Safira, voltara mais cedo de viagem para a surpresa dela.

Ele a fitou dos pés à cabeça, cerrou os punhos e mostrou ainda mais fúria. Safira sentia medo. Um breve silêncio...Um silêncio que durou cerca de um minuto, mas para Safira foi uma eternidade. Um silêncio que foi quebrado com um som de um disparo e um grito agonizante. Um grito que ecoou e espantou os pombos do telhado. Após isso, nenhum barulho a mais, com o silêncio predominando novamente.

Safira estava caída no chão. O seu fino vestido de branco agora estava manchado de sangue. O tiro atingido em seu coração matara de vez a sua esperança de ser feliz. Foi se embora em sua mente seus sonhos, surgindo em seu consciente como várias imagens e lembranças de seus momentos mais felizes, que do nada tudo se desfazia, se dissipando na escuridão, até restar apenas... As trevas.

A última imagem que ela viu. A face de seu querido Marcos.

...

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