O Destino nunca foi tão bom comigo
Para início de conversa... A culpa não é minha! Eu estava de férias e talvez, só talvez, eu tenha suspirado ao ver a garota sozinha e desiludida. Não é minha culpa se o meu sopro/suspiro a atingiu daquela distância em que eu estava (o quê? Quem usa flechas hoje em dia? Por favor! Me respeita!)
E agora de quem é a culpa? Porque OBVIAMENTE não é minha. A culpa nem sempre é do Cupido. As vezes a pessoa atingida só tem um coração mole demais e, como veremos a seguir (talvez eu tenha ficado obcecado com eles dois... Tão lindos), o rapaz, apesar de não ter sido atingido por mim, também tenha se apaixonado a primeira vista.
"Era quinta de manhã, assustadoramente acordei mais cedo que o normal, eu vão, devo dizer. Após ficar praticamente uma hora esperando uma carona chegar, visto que meu carro não foi ao meu encontro, ele apareceu.
Não sei o que senti quando aquele carro simples parou na minha frente. Um calafrio percorreu meu corpo e eu podia jurar que tinha sido pega pelo maldito, aquele bebê de fraldas e flechas.
(EI. ME RESPEITA!)
Ele apareceu com aquele jeito todo dele. Sorriso de lado, um pouco tímido, visto que eu sou toda falatórios, olhos que penetravam até mesmo minha alma de tão intensos que eram, cabelos grisalhos que me fizeram perder um pouco - ou quase todo - meu foco no momento em que o vi.
Ele apareceu e me fez perder o foco sim, me vi perdida em pensamentos, imaginando como ele ficava ao acordar, se os seus olhos tinham sempre aquele brilho ou se ele só ficava assim quando estava feliz, se os grisalhos eram naturais ou ele fazia porque sabia que ficava mais bonito ainda, se ele ficou tão perdido quanto eu quando o vi. Perdida. Completamente perdida. Maldito Cupido. Amor a primeira vista não é um conto, afinal.
Ele apareceu, abriu os lábios para dizer algo, mas se eu disser que me lembro, é mentira. Quando ele olhou pra mim, tudo que passava pela minha cabeça era como eu queria ver todos os dias aquele rosto, poder tocar aquela pele branca, afagar aqueles cabelos grisalhos, ficar cada vez mais perto daquela boca até não ter mais espaço algum. Aquela boca com certeza não deve só falar!
Ele apareceu, eu apareci, nós nos encontramos. Eu entrei naquele carro, não só com o trabalho da minha vida nas mãos, mas meu coração também. O espaço que nos dividia era deveras pequeno, mas por tantos anos foi uma longa distância, que ao ficar tão perto, pensei ser miragem. O Destino nunca foi tão bom comigo, quanto foi ao me fazer pegar aquela carona, com AQUELE homem.
Ele apareceu trazendo-me sensações estranhas, estranhamente boas. Falamos um bocado, nos olhamos muito mais. Olhares cruzados em um caminho sem volta. Quem disse que queríamos voltar? Ao menos eu não queria, os sentimentos dele eram uma incógnita pra mim.
Ele apareceu como um anjo, e foi isso que eu disse a ele, com toda a falta de vergonha que eu já tive alguma vez. O caminho que percorremos até onde eu ia ficar, nunca foi tão curto em toda minha vida. Coisas boas tendem a durar pouquíssimo nas minhas mãos.
Ele apareceu, eu entrei no seu carro, ele me levou até a cidade, eu desci no lugar, querendo na verdade nunca ter saído de dentro daquele automóvel, querendo na verdade seguir viagem com ele pra onde quer que ele fosse. Ele partiu sozinho. E foi assim que o marido dos meus sonhos, o homem que eu escolhi pra casar - coisa que eu nunca quis antes -, o pai dos meus filhos - que eu nunca quis ter antes de vê-lo -, partiu, me deixando de coração partido para trás.
A viagem mais curta da minha vida.O homem que deveria ser o MEU.A carona que nunca vou esquecer e eu nem sequer sei o seu nome direito!
- Cupido, eu te culpo por toda a eternidade!
- Ele vai voltar!
Eu teria respondido um sonoro não, mas eu não encontrei quem me disse aquilo. Parecia ter sido minha imaginação novamente brincando comigo."
Ok. Ok. Eu sei que não devo falar com humanos, mas minha vida anda muito parada. As pessoas não amam mais como antigamente, onde morriasse mais de amor do que de doenças.
Não. Eu não menti pra ela. Digamos que eu não prevejo o futuro, mas sou muito observador e sei quando alguém se apaixona, tocado ou não por mim.
Voltemos a história. Ela sabe contar melhor do que eu.
"Se eu fiquei, sei lá, dois meses e três dias pensando nele sem parar? É claro que s... Não, oras!
Era quinta de novo e a droga do carro me esqueceu, de novo. Minha entrevista seria em poucas horas e eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.
Me virei para fazer uma ligação e senti quando um carro parou atrás de mim. Meu pai atendeu.
- Alô. Aconteceu algo?
- Só pra avisar que já estou a caminho. Meu carro chegou.
Digamos que eu não precisava olhar pra sentir e saber que era ele.
Ao me virar eu tive a certeza.
- Você quer uma carona?
Eu entrei no carro e pela primeira vez em muitos anos, não sabia o que dizer. Eu estava sem fala.
- Acho que precisamos nos apresentar. Me chamo Rodrigo. Lembra de mim?
É claro que me lembrava, mas eu só disse:
- Vênus.
- Como a deusa?
Eu não respondi.
- Bom, devo confessar que é uma surpresa ter te encontrado de novo. Passei os últimos meses vindo aqui neste mesmo horário todas as quintas-feiras, mas nunca mais a vi e como não sabia nada sobre você... Eu sou paciente e resolvi esperar você aparecer e...
- Você me procurou esse tempo todo?
- Não sei explicar, mas senti algo quando te vi aquele dia... Foi como um flecha...
- Não diga Cupido. Por favor!
- Mas foi assim que me senti. Flechado pelo Cupido.
Ficamos mais um tempo falando sobre nossa vida, ao que parece ele veio para morar, trocamos telefones dessa vez e então quando chegou no meu ponto, eu desci do carro depois de lhe dar um beijo na bochecha.
A entrevista de emprego foi uma grande surpresa, porque fui contratada, mas surpresa maior foi ver o carro que me esperava.
- Parece que está sempre esperando por mim.
- Para onde você quer ir agora? - disse ele.
- Para onde quiser me levar."
Agora me digam se eu tenho culpa do amor existir?
Eu, o Cupido, propago amor por aí, mas não sou totalmente responsável por todo o amor do mundo.
Se a mocinha Vênus foi atingida por mim? SIM. CULPADO.
Se eu mexi os pauzinhos ou as flechinhas para o lado de Roberto? Fica aí o questionamento.
Até a próxima história de amor do Cupido. Beijinhos do bebê mais fofo do mundo. Se cuidem e se apaixonem!
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