Parte 2
08/04/2010
Quinta-Feira
00:20 AM
Acordo numa cama de hospital. Meu corpo continua pesado e, minha respiração não é das melhores, a falta de ar por toda a fumaça inalada ainda é presente. Ao olhar em volta, noto a presença de um dos meus melhores amigos em meu quarto. Se a situação fosse outra, eu lamentaria em acordá-lo, é de se imaginar o quão corrida é a vida de um policial, porém...
— Acorda princesa! — grito a tentar acorda-lo.
Ele desperta assustado, dando quase um pulo da poltrona. Seu semblante de espanto dá lugar a um de emoção. Vejo lágrimas descendo pelo seu rosto e um sorriso em seus lábios, nunca vi tamanha contrariedade.
— Seu filho da puta! Você me assustou! — fala me dando um abraço apertado, bem apertado por sinal, o que me faz gemer de dor pelas queimaduras em minha pele. — Desculpe, me esqueci. — Fala alisando sua nuca enquanto, trinca os dentes.
— É... tudo bem! — Dou um tapa em seu ombro. — Ah... nem foi pra tanto, você se assusta mais com os gritos de sua mulher! - brinco me referindo ao grito que lhe dei.
— Não estou falando pelo grito, Andrew... você quase morreu, cara!
Percebo que o mesmo voltaria a chorar quando diz isso com um fio de voz, procuro então, descontrair um pouco:
— Você acha mesmo que se livraria tão fácil de mim?!
— Vaso ruim não quebra, não é mesmo?!
— De jeito nenhum, meu amigo!
Ele rir ao mesmo tempo em que se segura para não me dar um tapa no ombro, ao ver a minha expressão de quem iria mata-lo se o mesmo fizesse.
— Os médicos já devem estar chegando para te entubar. — Muda de assunto.
— Entubar?! — cerro o cenho.
— Sim! Você inalou muita fumaça, sabemos que está tendo dificuldades para respirar, por isso precisará ser entubado.
— Eu não vou pôr essa porra, cara!
— Você precis...
— O que eu preciso, é saber quem fez isso comigo! — interrompo-o, enquanto vejo meu reflexo no espelho.
— Como assim quem fez isso com você?! Não foi só um acidente, Andrew?! — seus olhos me mostram uma mistura de confusão e surpresa.
— Então é isso que estão dizendo por aí? - dou risada com desdém. — Armaram para mim Ricardo!
— O quê?! Quem? Por quê?! — abre os braços esperando uma resposta.
— Como eu disse... preciso saber quem foi e por quê. Isso não foi à toa!
— Quem teria alguma coisa contra você para fazer algo tão grave?
— O pior... é que não consigo me lembrar do seu rosto! — massageio minha têmpora com os dedos, como se, buscasse pela resposta.
— Você chegou a ver a pessoa?
— Eu cheguei a derruba-la no chão, lembro-me que foi um homem, lembro-me do seu sorriso conturbador, mas do seu rosto... eu não consigo me lembrar!
— Cara, precisamos investigar isso. Vou agora mesmo falar com os meus parceiros e...
— Ricardo! - interrompo-o, chamando sua atenção. — Quem fez isso comigo, conhece minha rotina, sabe que eu estaria lá naquele momento. Não quero que isso venha à público! Vamos na surdina, cara.
Seu celular toca insistentemente, atrapalhando nossa conversa.
— É do trabalho. — Fala ao visualizar o visor, o que o faz atender na mesma hora.
— Não tinha mais ninguém no local? — aguarda enquanto a pessoa fala na outra linha e, então continua. — Foi só uma pergunta... Mas está bem, qualquer novidade não pense duas vezes em me ligar!
Vejo sua cara de incrédulo e, assim que desliga a chamada, pergunto o que houve.
— Assim que ocorreu o incêndio no restaurante, enquanto os bombeiros estavam tentando te resgatar, enviamos uma equipe a casa da sua mulher para avisa-la notificando-a do que aconteceu. Falamos que ainda estávamos investigando as causas do incêndio e, poucos minutos depois em que saímos de lá, ela nos liga ao falar que, se lembrara que as câmeras do restaurante, transmitiam para o seu notebook tudo o que acontecia lá, confiscamos ele para sabermos de todos os detalhes. Quem me ligou agora foi o encarregado de verificar as imagens da câmera de segurança.
— E ai?! — pergunto confiante.
Pelo seu semblante, parece que o mesmo, já não está tão confiante assim.
— Nada!
— Como assim, nada?! — o desânimo toma conta do meu corpo.
— A gravação está cortada! Só aparece o momento em que você já está em meio as chamas.
— Isso é pior do que eu imaginava! Alguém invadiu a minha casa e teve acesso ao meu notebook, sem ser visto...
— Ou é alguém próximo à família, que foi convidado para entrar, aproveitou a oportunidade e...
— E cortou a gravação. — Concluo. — Meu Deus! — coloca a mão sobre a cabeça. — Eu não posso voltar... — falo enquanto percebo que lágrimas rolam pelo meu rosto.
— Como assim, Andrew?! — cerra o cenho.
— Eu estou totalmente desorientado nesse momento, mas de uma coisa sei... não posso voltar para casa, é muito arriscado Ricardo, esse homem teve acesso a minha casa, chegou perto de minha família, ele podia ter feito algo com eles e se, ele descobrir que eu estou vivo?! O que fará?
— Nós te protegeremos!
— Foi mal amigo, mas você sabe muito bem que... é arriscado demais, eu não posso pôr em risco a minha família cara, a minha família! Se tem uma coisa que aprendi nos anos que venho morando no Brasil é que, eu não posso confiar na "proteção" que nos oferecem, nem todos os policiais são como você e, você não é um deus, não tem como se trabalhar sozinho, ainda mais quando não sabemos quem foi que armou isso tudo contra mim.
— E o que iremos fazer? Como ele há de pensar que você morreu?
— Só tem um jeito para isso...
— Que jeito, Andrew?! — ele fica um tempo em silêncio analisando toda a situação, quando começa a entender o que eu estou pensando. — Não, não venha me dizer que...
— Preciso forjar minha morte. — Ricardo tenta falar, mas o interrompo. — É, eu sei, é horrível... minha filha, minha mulher, chorando por uma morte que não aconteceu. É horrível imaginar elas velando um corpo que, não tem para ser velado, mas Ricardo... mesmo que essa decisão as doa, mas a outra, vai as pôr em risco e, isso eu não farei! — me encontro pela primeira vez em muito tempo, em desespero.
— Isso é contra a lei, cara... eu sou a lei, como que...
— Não precisa me ajudar, só... só precisa guardar esse segredo com você! — toco em seu ombro. — Posso confiar em você?
Ele suspira fundo e finalmente diz a retribuir o mesmo toque no meu ombro:
— Você sabe que pode, nada mais vale, do que ajudar um amigo que precisa de mim, não só guardarei o seu segredo... te ajudarei nessa!
— Não quero que se envolva nisso para se prejudicar depois!
— Tudo pela nossa amizade, hein?! — estende o braço me oferecendo um toque de mãos.
— Valeu, princesinha! — dou um leve soco em suas mãos.
— Princesinha?! Aí fica difícil de te ajudar, filho da puta! — rir de canto.
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