Capítulo 6 - O encontro de uma batalha nas ruínas

O planeta Yellaton tinha a sua estratosfera tomada por uma verdadeira batalha espacial, com inúmeras naves de combate usando suas artilharias lasers contra as frotas inimigas. Ursula identificou as naves republicanas e da Legião tentando rechaçar os inimigos - que eram numerosos e variados, com naves de todos os tipos, o que demonstrava realmente que todos os inimigos da Legião da Magia na galáxia se organizaram para atacar em conjunto naquele momento. As naves derrotadas caiam como moscas flamejantes em direção à superfície do planeta. A bagunça era enorme, algo com proporções muito maiores do que a Bruxa poderia prever.

O esquadrão de Ursula visualizou a batalha através da cabine de comando da nave da Bruxa. Eles estavam camuflados por uma magia conhecida por Involucrum Inviolabilis, que envolvia completamente a aeronave e a tornava totalmente indetectável. Apesar disso, a nave não era invulnerável, sendo assim, Ursula teve que mostrar todas as suas habilidades na pilotagem, realizando manobras a fim de desviar das aeronaves que se digladiavam e de ataques errantes. Alice e Elliot estavam apavorados, jamais imaginariam um cenário como aquele, nem nos piores pesadelos.

- Nós vamos adentrar o planeta, a bagunça aqui em cima não é nossa responsabilidade, então, aguentem firme! - Bradou Ursula para os seus companheiros, enquanto segurava firme o manche da aeronave.

- Olhem só todas essas explosões de lasers! - exclamou Granada, admirada.

- Hora errada para admirar! Tem vários dos nossos aliados sendo derrubados por essas explosões! - Ralhou Rufus.

A nave entrou na atmosfera do planeta, causando um aquecimento aerodinâmico na fuselagem externa, felizmente, o escudo térmico fez o seu trabalho para evitar que eles ficassem em pedaços antes de terem a oportunidade de pousar. Após a etapa mais dramática da aterrissagem, Alice e Elliot finalmente puderam ver a paisagem desértica daquele planeta pela primeira vez, o que foi um grande alívio para os irmãos.

- Vamos nos dirigir à sede central da Legião da Magia em Yellaton. - Informou Ursula aos demais tripulantes.

Eles sobrevoaram um deserto sem fim, com dunas colossais e aparentando ser totalmente estéril. Porém, não demorou muito até que fosse possível visualizar no horizonte alguns rochedos e uma construção humana em ruínas, algo que deixou o esquadrão de Ursula com expressões de horror estampados em suas faces. Ao se aproximarem, Alice percebeu que a construção foi outrora um enorme castelo, agora tendo as suas torres derrubadas com as marcas da guerra em todas as partes.

- Chegamos tarde demais! - Lamentou Altair, levando as mãos aos olhos.

- Não diga algo tão derrotista, ainda pode haver sobreviventes que precisam de nossa ajuda! - Retrucou Millena.

- Precisamos descer e averiguar! - disse Ursula, pousando a aeronave bem afastada da edificação, dentro de uma depressão bem espaçosa e escondida nos rochedos daquela região.

O esquadrão deixou a nave para realizar uma incursão em terra. Ursula, antes de fechar e trancar a aeronave, jogou uma rosa vermelha lá dentro, algo que Alice viu, mas não entendeu o motivo daquilo. O grupo se dirigiu a pé até o interior das ruínas do castelo, onde Ursula usou a sua habilidade da visão para conseguir enxergar tudo o que acontecera ali. Ela viu uma batalha sangrenta se desenrolar, pegando de surpresa a maioria dos legionários que trabalhavam na sede em um ataque contundente de um gigantesco exército inimigo. No entanto, a Bruxa não conseguiu compreender como uma invasão daquele tamanho passou despercebida até o momento mais crucial. Yellaton contava com vários sistemas de defesa mágicos, que provavelmente foram desativados de alguma forma ou os invasores encontraram outra maneira de chegarem ao planeta, sendo, portanto, aquela invasão espacial na estratosfera apenas uma distração.

Mas o maior foco de Ursula no momento era tentar descobrir se houve sobreviventes àquele ataque, alguém que estivesse precisando urgentemente de ajuda. Felizmente, com a sua visão do passado, ela conseguiu ver um pequeno grupo de sobreviventes escoltando duas garotas para uma saída alternativa do castelo. A Bruxa conseguiu acompanhá-los na fuga até que saíssem do raio de atuação de sua visão.

- Houve sobreviventes, eles fugiram para aquela direção! - comentou Ursula, apontando para o noroeste.

Millena utilizou sua habilidade de metamorfomagia para morfar seu nariz humano em um longo focinho lupino capaz de farejar qualquer rastro humano. A mulher seguiu cheirando a rota indicada por Ursula, com o restante do esquadrão a acompanhando de perto. Porém, ela interrompeu sua trajetória quando farejou outros odores, ao mesmo tempo que Elliot catucou Alice para informá-la a respeito de algo.

- Um grupo bem grande está nos espreitando, estamos cercados! - exclamou Millena.

Todo o esquadrão já estava em guarda, o que ajudou a frustrar a tentativa de ataque surpresa promovida pelo grupo inimigo que permaneceu na região e os observava de perto. As magias desferidas contra o esquadrão foram bloqueadas habilmente por escudos de magia, uma planta macabra criada por Rufus que literalmente engoliu o feitiço que o atingiria e explosões concentradas de Granada.

- Nós sabíamos que se ficássemos na região, encontraríamos novas presas! - disse um homem que surgiu por de trás de alguns escombros do castelo. - O plano era deixar que vocês nos levassem até onde os sobreviventes se esconderam, mas quando a mulher ali começou a farejar, sabia que seria só questão de tempo até que percebessem nossas presenças! - depois de dizer isso, inúmeros criminosos se revelaram por de trás dos escombros daquele local, em praticamente toda a parte. O esquadrão de Ursula estava cercado.

- Como não os escutou antes, maninho?! - Indagou Alice para o seu irmão, que apenas esboçou uma expressão de incredulidade.

- Nós somos especialistas em assassinatos, portanto, sabemos não fazer nenhum barulho! - explicou o homem inimigo que se anunciou primeiro, orgulhoso de sua alcunha de assassino. - Mas esconder o cheiro é algo bem mais complicado, então, já que nos descobriram, o que restou fazer é matar vocês! - ameaçou.

- Formação de batalha de sitiamento! - Ursula proferiu a ordem em alto e bom som para o seu esquadrão.

O esquadrão imediatamente se reagrupou, formando um círculo perfeito, com cada integrante cobrindo a retaguarda do outro. Alice e Elliot perceberam com isso que todo aquele planejamento de atuação que tiveram antes de viajar para Yellaton não foi algo tão irrelevante quanto pensaram inicialmente.

- Matem todos eles, Renegados! - Bradou o homem inimigo para seus aliados, confiantes por estarem em maior número.

Os inimigos deixaram os seus postos e avançaram de todos os lados e com velocidade, visando massacrar o esquadrão de Ursula. Entretanto, os amigos da Bruxa permaneceram firmes em suas posições, prontos para receberem os inimigos, talvez com a exceção de Alice e Elliot que estavam bastante apreensivos.

Um combate violento se iniciou, com cada um dos membros do esquadrão de Ursula abatendo os inimigos com suas técnicas. Alice realizou socos no ar, como se fosse uma pugilista, mas emitindo rajadas de fogo em cada movimento. Os ataques explodiam quando entravam em contato com os oponentes. Elliot também desferiu socos, mas estes sendo reais, golpeando fisicamente os inimigos com suas chaves de golpes pesados. Granada emitiu esferas de energia que explodiam os alvos em pedaços. Rufus criou duas lanças de vinhas emaranhadas e bem rígidas presas em seus braços que usou para estocar e cortar os inimigos que o atacavam. Altair utilizou um chicote maleável feito de água que cortava qualquer inimigo que se aproximava devido à pressão muito alta e concentrada que agia como se fosse uma lâmina. Millena transformou os próprios braços em espadas, as quais usava habilmente para fatiar os inimigos. Por fim, Ursula criou um longo chicote espinhento de rosa que movia com agilidade para conferir danos letais aos múltiplos adversários que vieram ao seu encontro.

O aparente líder daquele grupo de Renegados esboçou uma expressão de espanto ao ver a quantidade exorbitante de seus aliados mortos com os corpos espalhados pelo chão ao redor do esquadrão de Ursula, que se apresentava inabalável. A verdade é que eles subestimaram os Bruxos da Legião que já viveram várias batalhas.

- Estou vendo que o grupinho dos patetas não consegue fazer nada sem o elemento surpresa! - disse Granada, com claro desdém em sua voz, enquanto limpava um pouco o seu rosto respingado de sangue dos inimigos que ela explodiu.

- Eu mesmo cuidarei de todos vocês com o meu truque especial! - vociferou o homem líder no topo de um escombro. Seus aliados ao ouvirem isso imediatamente debandaram. Ele retirou a capa que trajava, revelando estar sem camisa e com variadas cicatrizes espalhadas por todo o seu corpo musculoso.

- Tomem cuidado, certamente ele é um inimigo que ataca em área! - Ursula alertou os seus amigos, constatando isso pela evacuação espontânea do grupo adversário.

Levando em consideração o aviso da Bruxa, o esquadrão se juntou ainda mais em sua formação, ao ponto de todos os membros ficarem com as costas coladas em algum companheiro.

- Levem para o inferno o nome do algoz de vocês, eu sou Bard Wile! - exclamou com orgulho. - Explosão de concertina! - Proclamou a magia.

O sujeito mudou completamente, saindo incontáveis fios de arame farpado de cada uma das cicatrizes presentes em seu corpo. Os fios se desdobraram violentamente e expandiram rapidamente, fragmentando e embaraçando o arame farpado por todo o campo de batalha. Em questão de poucos segundos o cenário fora tomado pelo emaranhado de uma rede bastante embolada de arame com muitos pontas afiadas.

Entrementes, o esquadrão de Ursula levantou um campo de força mágico na forma de uma cúpula bem a tempo de conter o avanço de toda aquela concertina na área em que estavam. Portanto, eles saíram ilesos do ataque. Mas se encontravam com outra problemática: como sair daquela área cercada de arames emaranhados?

- Eu jamais imaginei que o cara era um materializador! - exclamou Granada. - Mas eu aposto que posso explodir facilmente essa rede de arames!

- Não faça isso, Granada. - Advertiu Ursula. - O inimigo fez esse ataque já tendo em mente nossa principal forma de atacar. Suas explosões só irão fragmentar a rede em partes menores, mas ainda letais. Bruxos materializadores podem imbuir qualquer propriedade especial em seus objetos materializados, portanto, o ideal é não deixarmos nenhuma parte da rede nos tocar.

- Então deixa comigo! - Alice se voluntariou. - Sei que com as minhas chamas eu derreto toda essa rede de arames!

- Também não é uma boa ideia, Alice. - Retrucou Ursula. - Se fizer isso, ficaremos diante de um emaranhado fervente de metal derretido.

- O que sugere, Ursula? - Perguntou Altair.

- Peço que todos toquem em mim. - Solicitou Ursula, mostrando uma rosa vermelha em sua mão direita. O grupo acatou de imediato, sem perguntas. - Todos tocando em mim? - ela perguntou para se assegurar, os integrantes apenas confirmaram.

O esquadrão de Ursula foi teletransportado para fora da zona das concertinas. Eles reapareceram no interior da aeronave da Bruxa.

- Não peguei o seu truque desta vez. - Admitiu Millena.

- Como sabem, também sou uma materializadora, sendo assim, sei imbuir propriedades especiais às minhas rosas. Antes de sair da nave, deixei uma rosa com propriedade de teletransporte aqui. - Ela se abaixou e pegou a flor vermelha que estava largada no chão. - Com essa outra rosa especial em minha mão, pude me conectar com a que deixei aqui por precaução, foi assim que pudemos voltar instantaneamente para a nave.

- Genial! - exclamou Alice, finalmente entendendo o porquê de ela ter deixado aquela rosa ali desde o início.

- Mas o que faremos agora, deixaremos aqueles patetas fugirem? - Indagou Granada.

- Nossa missão primária é resgatar os sobreviventes. - Frisou Ursula. - No entanto, mesmo que aquele lugar devastado tenha virado uma bagunça por conta da batalha que realizamos, ao ponto de provavelmente misturar todos os odores, precisamos retomar a área para que eu possa tentar um último recurso que talvez ajude na investigação!

****

Desta vez o ataque do grupo de Ursula seria feito através de dispersão aérea, com a aeronave da Bruxa realizando rasantes enquanto usava sua artilharia pesada e bombas contra o emaranhado de concertinas que dominaram a região. Os ataques aéreos destruíram as redes de arames farpados, limpando a área rapidamente e revelando a posição do inimigo. Bard olhava extremamente revoltado para os ataques aéreos, mas seu corpo ainda não estava normal, pois permanecia rodeado por redes emaranhadas de arame farpado que brotaram de sua pele. Como Ursula suspeitou, aqueles arames não eram normais, tendo propriedades mágicas capazes de resistir à ataques poderosos. Apesar disso, a rede só era bem forte próxima ao corpo do homem, afinal, foi só o que resistiu ao bombardeio.

- Desgraçados, não sei como sobreviveram ao meu ataque, mas vão pagar caro por destruírem a minha obra de arte! - Vociferou Bard, olhando para a nave que sobrevoava a região, mas que havia parado de realizar rasantes.

Uma explosão pegou o homem de surpresa em seu flanco esquerdo, mas por sorte dele, sua rede de arames foi forte o suficiente para resistir e impedir que o ataque o atingisse em cheio.

- Mas que droga, eu deveria ter caprichado mais no ataque! - Reclamou Granada.

- Como?! - Indagou o homem, mas ele não teve tempo de pensar, porque era atacado de outras direções. O ataque de chamas de Alice foi barrado pela rede de concertinas próximas ao homem, mas o jato de água disparo por Altair atravessou sem problemas a rede e derrubou o homem no chão.

- Descarga elétrica! - Proferiu Ursula, apontando uma rosa negra na direção do inimigo atordoado pela queda.

A rosa da Bruxa emitiu uma poderosa descarga de energia que foi conduzida facilmente pelo metal da concertina protetora que estava molhada graças ao ataque anterior de Altair. A descarga eletrocutou o inimigo, que se tornara um ótimo condutor, neutralizando-o de imediato.

- Isso que eu chamo de ataque coordenado! Engole essa, pateta! - comemorou Granada, mostrando um dedo nada bonito para o oponente abatido.

- Vencemos uma batalha, mas a guerra está longe de acabar! - Concluiu Ursula, em voz alta.

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