Capítulo 9
— Para onde vai?— Anne estava tão assustada que sua voz não era mais do que um sussurro, seus olhos claros brilhavam pelas lágrimas e doía o coração de Sarah ver a irmã naquele estado.
Algumas horas já tinha se passado desde que a Baronesa dera a ordem para expulsar a neta mais velha de casa, nem as súplicas e as fracas tentativas do Barão e de Anne funcionaram em favor de Sarah.
— Ficarei na casa da cidade por um tempo — disse Sarah tentando sorrir para irmã —, vai ficar tudo bem.
— Aquele lugar é tão pequeno e quase não há funcionários — apontou Anne entre os soluços agudos —, como vais sobreviver ali?
— Sabes que não me importo com isso.
Maria adentrou a cozinha, local em que as meninas estavam escondidas, em passos rápidos e como uma mãe urso puxou Sarah para os seus braços, a jovem se permitiu chorar e ser consolada pela senhora.
Nunca desde a morte dos pais tinha desejado tanto pela presença deles quanto naquele momento, ansiava pelos abraços carinhosos de sua mãe e pelas palavras sábias do pai, enquanto sentia falta com todo o seu ser da vida que tinha na Califórnia.
— Vai ficar tudo bem — assegurou a governanta —, aqui está um dinheiro que seu avô pediu para lhe entregar.
Sarah pegou o dinheiro com um suspiro.
— O Barão ordenou que eu enviasse uma empregada para a casa da cidade — informou Maria —, ela te ajudará com tudo o que é necessário e assegurará o seu conforto, ele também disse que quando a senhora sua avó se acalmar poderá voltar.
— Tudo bem.
— Eu arrumarei suas coisas e mandarei alguém levar para a cidade, não se preocupe com nada.
— Obrigada Maria. — chorou Sarah abraçando a mulher mais velha, o cheiro doce de Maria afastava um pouco a tristeza.
A Parker mais velha abraçou mais uma vez a irmã caçula com todas as suas forças sem saber quando iriam se ver novamente, em seguida se despediu de Maria com carinho. No jardim uma carruagem tinha sido preparada a pedido do Barão e um dos funcionários aguardava Sarah, com um último olhar para a mansão a jovem senhorita entrou no veículo sem saber ao certo o que o futuro lhe reservava.
A casa da cidade não era simples como Anne gostava de dizer, estava bem cuidada e arrumada, mas estava vazia com exceção de uns poucos empregados que não entendiam a razão pela qual a neta mais velha do Barão estava ali.
Uma criada tímida levou Sarah aos seus novos aposentos, o quarto era amplo e bem decorado, mas cheirava a mofo demonstrando que há anos não era usado.
Aquele seria o novo lar de Sarah, pelo menos tinha um lugar para ir. Com um suspiro profundo a morena caminhou até a janela e encarou a movimentação da rua, todos seguiam sua vida normalmente alheios ao turbilhão do coração da jovem senhorita.
Sarah olhou para si mesma e deixou que os soluços presos se soltassem naturalmente, com as mãos no rosto permitiu que a dor a dominasse e se sentiu a pessoa mais injustiçada do mundo, por um breve momento esqueceu de se agarrar a esperança e de se lembrar que Deus lutava por ela.
Era muito mais fácil se render ao sofrimento, desejou gritar e como uma criança se debater nos braços do pai, ansiou que sua vida fosse mais fácil e questionou a Deus a razão de todas aquelas dores.
Deveria se forte e corajosa, mas não queria ser nada daquilo e por um momento acreditou que Deus pedia demais dela, mas então se lembrou que o Senhor tinha dado a vida do filho dele para que ela tivesse vida em abundância, não poderia ele requerer todas as coisas dela? E não deveria ela lhe entregar tudo? Suportar tudo?
Poderia se sucumbir diante daquela situação ou se agarrar ao único que poderia lhe oferecer socorro, ao Deus que nunca tinha lhe abandonado.
Sarah se voltou para o quarto e se sentou na calma, então se permitiu ser consolada pelo Espírito Santo. No meio da dor e da luta entre sua carne e o espírito se lembrou que deveria ser paciente e de um versículo que sua mãe sempre lia para ela: "O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!"
— Meu senhor ajude a prosseguir — sussurrou em meio as lágrimas, a oração mais difícil que já tinha feito —, dói e eu não consigo compreender, sinto que minhas forças estão indo embora e que a qualquer momento irei sucumbir. Ajuda-me ó Deus a crer e cura a minha alma aflita, ensina-me a escolher o amor ao invés da amargura, ensina-me a perdoa aqueles que me ofenderam. Realiza em mim os teus propósitos, seja feita a tua vontade.
Em meio as lágrimas e as orações Sarah acabou dormindo, optando por descansar e confiar no cuidado de Deus. Quando finalmente acordou sentiu seu corpo dolorido pela posição e por ainda usar o vestido azul, demorou para se lembrar dos acontecimentos que tinha a levado até aquele lugar e antes seus pensamentos fizessem sentido alguém bateu na porta do quarto.
— Entre — disse Sarah com a voz rouca.
— Lady Parker, bom dia. Eu preparei um banho para a senhorita — disse a jovem criada que tinha a guiado até o quarto, enquanto caminhava até a janela e abria para deixar o ar entrar —, a cozinheira também preparou o desjejum.
— Nossa eu dormi por tanto tempo — exclamou a neta do barão. — Desculpa, qual o seu nome?
— Meu nome é Iva — se apresentou a garota, não parecia ser muito mais velha do que Sarah, e sua aparência simples e pequena era fofa. — Estou a sua disposição Lady Sarah.
— Não precisa se curvar — implorou Sarah —, e eu não sou nenhuma Lady.
— A orientação do Barão é que todos devemos tratá-la com respeito.
— Meu avó disse isso?
Iva assentiu, enquanto ajeitava as flores da penteadeira, ao que parecia não era alguém acostumada a ficar parada.
— Antes que eu me esqueça há uma mulher lá embaixo querendo falar com a senhorita, ela disse que se chama Maya.
— Maya está aqui? — Sarah pulou da cama disposta a ir encontrar a amiga.
— Lady Sarah acho que deveria se arrumar antes de encontrar sua convidada — disse Iva antes que Sarah deixasse o quarto.
— Tens razão — respondeu a morena com o rosto vermelho —, mas não tenho nenhuma roupa aqui.
— Suas coisas já foram enviada — comunicou a criada —, irei preparar tudo conforme suas orientações.
Sarah assentiu e ainda com sono pediu que a jovem escolhesse um vestido para ela, depois de um banho mais demorado que a jovem pretendia e devidamente vestida a neta do Barão desceu as escadas se questionando a razão pela qual a amiga indiana estava ali.
Na sala de espera a estrangeira parecia deslocada, sua roupa simples e sua aparência exótica e bela a deixava destoando da arquitetura inglesa.
— Maya — cumprimentou Sarah com um doce sorriso nos lábios, tentando afastar a tristeza de seu coração —, o que estas fazendo aqui?
— Sua irmã enviou uma empregada até a taberna com uma mensagem e pediu que eu viesse até aqui ver como a senhorita está.
— Como Anne sabe que somos amigas? — questionou Sarah curiosa, enquanto guiava Maya até a sala de jantar, onde o café da manhã tinha sido servido.
Ambas se sentiam deslocada naquele lugar.
— Ela disse que se me perguntasse isso era para responder que ela sempre sabe de tudo — disse Maya imitando Sarah e se sentando.
— Isso é a cara dela. — Sarah sorriu sentindo muita falta da irmã caçula e de suas gracinhas.
— Como está? Eu te disse que aquele homem só lhe traria problemas, homens são assim.
— Eduard não tem nada haver com isso.— defendeu Sarah.— Minha avó usaria de qualquer desculpa para me expulsar.
— Desculpa — pediu a indiana com os olhos mais carinhosos —, não sou a melhor pessoa para consolar alguém.
— Não se preocupe, sua amizade e companhia já são suficientes.
— Como foi sua noite? — questionou a estrangeira.
— Horrível no início, mas depois o Senhor trouxe a calma necessária.
— Pretende ficar aqui? Lembro que me disse que nasceu na américa, talvez não fosse melhor voltar para lá?
Sarah sabia que a amiga estava apenas tentando ajudar, mas não havia como a jovem senhorita voltar para a Califórnia sozinha.
— Isso não é uma opção.
— Talvez... — Maya falava quando Iva adentrou a sala e anunciou que o Reverendo Francis e uma homem desejavam falar com Sarah.
— O senhor já não a colocou em problemas demais?— brigou Maya, pronta para expulsar Eduard da casa.
— Está tudo bem Maya — interviu Sarah —,eu lhe disse que o Sr. Eduard não tem nada haver com essa situação. Por favor, sentem-se.
O Reverendo e Eduard cumprimentaram as mulheres e se sentaram na mesa.
— É melhor eu voltar para taberna — respondeu Maya, deixando de lado o chá que até então bebia.
— Não precisa ir — disse Sarah —, termine ao menos de comer.
— É melhor, voltarei outra hora para que possamos conversar melhor. — Maya enviou um olhar da morte para Eduard antes de deixar a sala.
O Reverendo apertou as mãos de Sarah com carinho.
— Estive orando pela senhorita.
— Eu sei que sim.
Eduard permaneceu distante, mas seu olhar demonstrava preocupação.
— Eu sinto muito Sarah, sinto que isso é minha responsabilidade — disse o loiro depois de um tempo.
— A culpa não é sua, era inevitável minha avó uma hora ou outra tomaria essa decisão.
— Acredito que eu poderia ter evitado isso.
— Não há nada que pudesse ser feito — expressou Sarah —, por acaso poderia ter falado com ela?
— Essa teria sido uma possibilidade.
Sarah riu divertida.
— Minha avó nunca o receberia.
— Nunca se sabe.
O silêncio reinou por um tempo e o Reverendo anunciou que iria até a cozinha, deixando o casal a sós. Sarah desejou protestar, não queria entrar em problemas, mas Iva estava no local ainda e isso deveria ser suficiente para lhe preservar a reputação, se é que ela ainda tinha uma.
Eduard parecia querer dizer algo, entretanto lhe faltava coragem. Ele coçava a sobrancelha um hábito que Sarah percebeu que ele tinha quando estava nervoso ou ansioso com algo.
— A algo que queira me dizer?
— Eu sinto muito.
— Acho que já me disse isso.
— O reverendo falou algo.— Novamente ele coçou a sobrancelha e Sarah não pode deixar de pensar que era fofo quando ele agia dessa maneira. — E eu acho que ele tem razão.
— O que ele disse?— perguntou Sarah de repente preocupada, imaginando as piores hipóteses.
— Que deveríamos nos casar — anunciou Eduard seriamente.
— Isso é alguma brincadeira?
O coração de Sarah bateu forte, ela não sabia ao certo o que tinha escutado, ela deveria ter confundido as palavras do loiro, casar eles dois? Isso era real? As perguntas assolavam a mente confusa dela.
— Eu não faria uma coisa dessa. — Eduard parecia um pouco ofendido —, estou sendo serio em minha proposta. Lady Sarah gostaria de se casar comigo?
Sarah esqueceu de respirar e antes que pudesse dizer qualquer coisa sentiu suas forças indo embora e sua visão se escurecer.
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