Capítulo 32
Sarah caminhou com cuidado pelo caminho entre a grama, o cheiro suave da manhã era como uma calmaria em meio ao dia difícil. Ao parar em frente ao túmulo não pode impedir suas lágrimas de correrem por seu rosto pálido, sua mente sabia que não havia nada ali além da matéria, nenhuma de suas palavras seriam ouvidas como ela desejava, mas ainda assim era humana.
E os seres humanos sempre buscam conforto, como cristã sabia que o verdadeiro refúgio estava em Cristo, o único abrigo possível era aos pés do cordeiro. Contudo, aquele pequeno gesto de colocar margaridas naquele tumúlo e dizer algums palavras era sua forma humana de se despedir, pois a fé não suprimia suas emoções, mas a ajudava a lidar com elas.
— Eu me sinto um pouco boba — disse com a voz rouca, na lápide as palavras apagadas pelo tempo anunciavam com certa dificuldade que ali estava Jonh Howard, o sexto Duque de Norfolk. —, nos últimos dias eu me peguei pensando como teria sido a minha vida se a morte não tivesse lhe levado, mas o fato é que eu nunca saberei a verdade. Todavia, com certeza eu não seria Sarah Parker e não teria passado por tantas circunstâncias que me levaram a ser quem eu sou hoje, talvez eu pudesse ser mais feliz ou não? Uma jovem mais leve? Uma mulher com menos dores? Não importa, não mais — ela pingarrou e se levantou ainda encarando o túmulo de seu pai biológico —, eu sou quem eu deveria ser, se mudar ainda que uma vírgula da minha vida alterasse os projetos de Deus para minha vida ou alteraria o rumo da vida daqueles que Deus me usou para abençoar, então eu não mudaria nada. Se todas as dores me trouxeram aos pés de Cristo, então bendito é o senhor pelos dias difíceis. Eu sei que teria sido muito amada, mas também fui muito amada nesse caminho que a vida trilhou, então no final as coisas são como deveriam ter sido e não há espaços para o se. De toda forma, obrigada por ter me dado a vida e mesmo sem saber me amar e sonhar comigo, eu espero ansiosamente pelo dia em que nos encontraremos na eternidade e se possível lá eu te agradecerei melhor pai, pois sei que a morte não é um adeus, mas apenas um até breve.
Ela limpou o rosto e soltou uma longo suspiro voltando pelo caminho que tinha trilhado, não muito longe do cemitério a enorme mansão do Duque de Norfolk permanecia inabalável, uma visão bonita de se ver.
— Lady Sarah — uma voz soou atrás de Sara a assustando por um momento, ao voltar seu olhar percebeu que um homem idoso a encarava com atenção, seus cabelos brancos estavam perfeitamente alinhados. — Desculpa, não era minha intenção assustar Vossa Majestade, apenas gostaria de cumprir com o meu dever.
— Eu.... — Sarah não desejava ser mal educada, todavia não tinha noção alguma de quem era aquele homem.
— Mil perdões — ele respondeu envergonhado —, sou Samuel Burrel — se apresentou com uma breve reverência —, sou o atual mordomo do 7ª Duque, mas um dia também fui o mordmo de Jonh Howard, seu pai.
—Como? — ela questionou ainda mais confusa, afinal a história de seu nascimento não era algo de conhecimento geral, todavia ali estava um homem que parecia conhecer toda a verdade.
— Uma longa história — disse o Sr. Burrel, então indicou a mansão atrás deles —, talvez uma história a ser contado junto ao chá? O 7º Duque esta viajando com toda a família, então não se preocupe em ter que explicar sua visita.
Sarah assentiu, já sabia que o Duque atual não estaria ali e esta tinha sido a única razão pela qual arriscara vir até ali. Enquanto, seguia ao Sr. Burrel analisou todo o ambiente a sua volta com atenção, a mansão antiga e imponente contava sua própria história.
— Esse era Jonh — apontou o mordomo, o retrato pintado estava depositado na galeria dos Duque, a aparência de seu pai chamou atenção de Sarah, que reconhecia alguns de seus próprios traços naquele homem. — A imagem não faz jus — continou o Sr. Burrel —, Jonh era cheio de vida e nada como os antigos Duque, talvez por ter sido criado por muitos anos na floresta. Oh o bom senhor sabe que a antiga Duquesa tentou incutir no jovem todo o rigor inglês, mas ele era um espírito livre, muito inteligente e que teria feito grandes coisas com todo o poder que tinha herdado, infelizmente não foi possível. Vossa Majestade se parece com ele — sussurou a última parte em silêncio, como se temesse que as paredes daquela antiga casa ouvissem o segredo que ele tinha guardado por tantos anos.
— Eu... — ela não sabia o que dizer.
— Tenho algo para a senhora — disse o mordomo, enquanto a guiava para dentro da mansão até a sala de estar.
— Algo?
— Um presente de seu pai — respondeu, sinalizando que ela deveria se sentar —, algumas semanas atrás o antigo Barão me procurou e informou que iria contar a Vossa Majestade sobre seu nascimento, eu me alegrei — entregou um caixa de madeira a Sarah, muito semelhante aquela dada pela mãe dela —, faz muitos anos que desejo conhecer a filha de Jonh.
— Eu não entendo como isso pode ser um presente dele?
— Antes da guerra Jonh me procurou e me informou sobre o casamento — explicou o Sr. Burrel, tomando a liberdade de se sentar próximo da Duquesa —, eu deveria tomar todas as medidas para legitimar a união, infelizmente os vis e cegos homens que invejavam os títulos e dinheiro do meu senhor tornaram minha tarefa impossível e sua mãe não quis reviver aquela dor e entrar naquela briga, optando por aceitar a proposta do Sr. Parker. Entretanto, Jonh sabia que havia uma pequena possibilidade de que sua jovem esposa estivesse grávida e optou por resguardar todas as possibilidades, eu tentei entregar essa caixa a ela depois do falecimento de Jonh, mas ela disse que isso não pertencia a ela e que se eu um dia tivesse oportunidade deveria entregar a filha do Duque.
— Obrigada — respondeu a Duquesa, sem forças para abrir aquela caixa naquele momento —, é melhor eu ir embora.
— Claro, tudo no seu tempo.
— Novamente obrigada por me entregar isso — indicou Sarah, com os olhos molhados pelas lágrimas que pareciam querer sair a todo instante.
— Teria sido uma honra sevir a filha de Jonh — disse Samuel ao lado de Sarah, enquanto caminhavam até a saída da mansão —, se houver algo que eu possa fazer agora ou no futuro não hesite em me procurar.
Sarah assentiu.
Ao chegar a mansão do Barão caminhou o mais rápido possível até seu antigo quarto orientando aos criados que não a incomodassem. Já deitada em sua cama abriu com cuidado o presente de seu pai biológico, a maior parte do conteúdo era de cartas e alguns papéis, também tinha algumas joias, que ela imediatamente percebeu como herançãs de família, os documentos antigos revelavam títulos de propriedade, os bens particulares de Jonh e que não faziam parte do espólio do Duque, ao que parecia o pai dela tinha pensando em tudo.
— Ele desenhava — falou Sarah sozinha, estava surpresa com a delicadeza do desenho em suas mãos, então seu talento decorria dele. Imediatamente, a Duquesa reconheceu como um retrato de sua mãe e seu coração doeu de saudade, desejou que sua amada mãe estivesse com ela. Apertou contra o seu peito o desenho e deixou todas as lágrimas correrem por seu rosto, não iria lutar mais contra aquele choro.
Um pouco mais calma abriu uma carta, a escrita era um pouco apressada, mas nada que a impedisse de ler.
Minha querida criança,
Não sou alguém de poucas palavras, mas nesse instante não sei como começar essa carta. Com o coração temeroso entendo que se essa carta chegou em suas mãos, então meu maior medo se tornou realidade, não estou ao seu lado e nem ao lado de sua mãe. A vida tem dessas surpresas indesejáveis e que foge de nosso controle, principalmente a morte que na maioria das vezes é uma certeza tão distante. Minha querida criança se eu pudesse escolher quero que saiba que escolheria estar ao seu lado todos os dias, ver o seu crescimento e te ensinar nos princípios do Senhor, mas se essa não é a vontade de Deus, então como jó digo: " o Senhor deu e o Senhor tirou, louvado seja o nome do Senhor".
Ainda que os homens não o reconheçam como meu, saiba meu sangue corre em suas veias e a minha paternidade não pode ser negada, sempre serei seu pai e sempre te amarei. Nesta caixa há algumas joias que pertenciam a minha falecidade mãe, alguns títulos de propriedade que resguardaram o seu futuro, mas minha maior herança são as minhas orações. Oro para que o bom Deus te guarde e te proteja, seja Ele o bom pastor da sua vida. Eu posso não estar por perto, mas não tenho dúvida de que Deus se encontra ao seu lado, ainda que nos dias dificéis não consiga sentir ou ouvir a voz do Senhor, não tenha dúvidas de que ele continua acessível aqueles que o buscam de todo o coração.
O amor dele é real e não pode ser mudado, guarde isso em seu coração e então poderá suportar todas as aflições do mundo.
Com todo o meu amor, seu pai.
Sarah soluçou e abraçou seu próprio corpo com medo que a dor pudesse separar cada parte de si, sentiu em todas aquelas palavras o amor de seu pai, mas também o amor de Deus por ela e o amor do Senhor fechava as feridas de sua alma de uma maneira que não parecia possível, transformava a dor em força e fraqueza em motivo de vitória.
— Sarah — a voz de Anne soou por todo o quarto, acordando a Duquesa de seu sono cansado.
— Pode entrar — disse Sarah com a voz embargada pelo sono, tinha dormido em meio as lágrimas.
— Como esta se sentindo?
— Já tive dias melhores — respondeu, enquanto guardava o presente de seu pai biológico —, deite aqui comigo.
— Como nos velhos tempos?
— Como nos velhos tempos — assentiu a Duquesa —, parece que foi a séculos, certo?
Anne aceitou o abraço da irmã mais velha.
— Eu sinto que estamos ficando velhas — resmungou a nova Baronesa —, a vida não devia correr mais devagar? Como foi lá?
Sarah contou a irmã todos os detalhes e novamente se viu chorando, dessa vez no colo da caçula que a consolava com sabedoria.
— Eu sei que as coisas estão complicadas, mas há algo que eu preciso falar — disse Anne depois de um tempo —, sobre a vovó.
— Aconteceu alguma coisa?
— O médico dela disse que a doença dela esta se agravando — informou a loira —, ela não pode morar sozinha e a Inglaterra não é o local adequado para manter ela — continou Anne —, Jasper e eu estamos preocupados e sugerimos levar ela para os Estados Unidos, nossa casa é grande o suficiente e há muita ajuda para cuidar dela, mas...
— Mas?
— Ele acha que levar ela para o local onde o papai faleceu possa piorar seu estado mental — explicou a jovem Baronesa —, indicou alguns hospitais que podem cuidar dela...
— Um lar de doente mentais? — perguntou Sarah um pouco assustada, já tinha ouvido falar daquelas instituições e não gostou do que tinha ouvido, os tratamentos eram bastantes cruéis.
— Eu sei — disse Anne —, também não gosto dessa hipótese. O que podemos fazer?
— Não sei Anne — respondeu a Duquesa sinceramente —, mas vamos pensar em algo. Devemos dar a ela um final de vida decente, não importa o que aconteceu antes ou o que venha acontecer, o papai não gostaria que fossemos negligente nessa decisão. Então, vamos orar e procurar uma opção que seja boa para ela.
— Que o Senhor nos ajude.
— Ele sempre ajuda — respondeu Sarah, abraçando a irmã novamente.
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