Capítulo 31
— Anne eu preciso saber — implorou Sarah com os olhos cheios de lágrimas, sua garganta ardia e ela sentiu que podia desmaiar a qualquer momento.
Sua mente criava mil teorias sobre seu nascimento, sentia um medo de que tudo o que sabia sobre o caráter da mãe era uma mentira. Nunca em um milhão de anos imaginou que sua doce mãe poderia ter ser relacionado com alguém antes do seu pai, por sua vez questionava que tipo de homem não assumia a própria filha?
— Tudo o que eu sei é o que o vovô contou — começou a loira, segurando as mãos da irmã mais velha como se desejasse retirar dela toda a dor daquele momento.
— Como ela pode fazer algo assim?
— Não é assim — expressou —, não é como o meu caso.
— Como assim?
— Seu pai verdadeiro realmente amava a mamãe — explicou Anne —, ao que parece ele e o papai se conheceram no exército, durante a guerra. Mas, a história de seus pais começa antes disso, tudo teve início quando o nosso avô materno foi contratado para uma expedição na África e como sempre a mamãe o seguiu, naquele tempo um dos donos da expedição era um jovem Lord Inglês.
— Qual era o nome dele?
Anne balançou a cabeça.
— Eu não sei — indicou a pequena caixa que havia deixado no sofá ao lado — , talvez ali contenha essa a resposta. Tudo o que eu sei é que naquela expedição a mamãe e ele acabaram se envolvendo.
Sarah chorou entendendo que o homem que tanta admirava e chamava de pai não era seu verdadeiro genitor, uma dor agonizante veio sobre sua alma, de repente todas as coisas ruins que a avó sempre lhe direcionava parecia fazer sentido. A morena desejou gritar com toda sua força, toda sua vida parecia apenas uma mentira.
Uma mentira que parecia destruir cada partícula de seu ser, como poderia lidar com aquilo? Um fio de pensamento surgiu em sua mente a ferida para ser curada precisa ser tratada, o que dói. Então, quais feridas ainda precisavam ser tratadas em sua alma para que Deus permitisse aquela dor, já não havia sido rejeitada o suficiente pela avó, mas agora iria descobrir que o pai biológico não a desejava.
— Como o papai.... — ela soluçou novamente, limpando o rosto como uma criança desolada — , como ele se envolveu nessa história?
Anne inclinou-se para a irmã e a puxou para um abraço.
— A mamãe e o seu... o Lord pretendiam se casar oficialmente ao retornar para Londres — continuou a loira.
— Oficialmente? Como assim?
— Alguns papéis precisavam ser reconhecidos — deu de ombros Anne, como se aquela parte não lhe parecesse importante —, acho que devido ao título dele não era tão simples. Acontece que houve um contratempo e logo a guerra começou. Enquanto, a mamãe permanecia na cidade ele foi enviado com uma tropa para a batalha e foi onde conheceu ao papai.
— Eu não consigo compreender. — Sarah se sentia confusa, seu rosto inchado pelo choro e os cabelos desregulados lhe deixavam como uma jovem abatida.
— A mamãe estava grávida e esperava o retorno dele, mas isso nunca aconteceu — completou Anne — , quem apareceu na casa dela ao final da guerra foi o papai. Ao que parece o Lord Inglês salvou a vida do papai e implorou que ele cuidasse da mamãe, como uma mulher e sem muitas opções ela aceitou a se casar com ele, mas não podiam permanecer em Londres então partiram para os Estados Unidos.
— Isso não pode ser vendade — negou Sarah angustiada — , eu me lembro que a mamãe amava ao papai... eles se amavam Anne — chorou a Duquesa — , isso não pode ser verdade.
— Eu sinto muito — disse a loira — , mas isso não muda a realidade de que es minha irmã amada e que o papai te amava Sarah.
A Duquesa a encarou cética.
— Isso muda tudo — chorou, enquanto se encolhia nos braços da irmã — , eu nem sei quem eu sou.
— O vovô me pediu para te entregar essa caixa — expressou a caçula — , caso ele não conseguisse sobreviver para lhe contar a verdade, ele não queria partir com essa mentira.
Sarah pegou o objeto, deslizando as mãos sobre a superfície envelhecida de madeira. O seu coração acelerou em seu peito e sua mente ficou entorpecida, enquanto se lembrava das memórias de sua doce infância, os beijos e abraços de seu pai que pareciam curar suas mais profundas dores, se não era filha dele então quem ela era? Toda sua vida e suas escolhas sempre foram refletidas no amor de seu pai e nos princípios ensinados por ele, sempre tinha se sentido como o complemento da mãe e do pai.
Quem era o homem que ela não conhecia, mas que de certa forma era responsável por quem ela era.
— Pode me deixar a sós? — pediu sem conseguir encarar a irmã.
— Eu estarei no andar de cima — respondeu Anne —, caso precise de mim não hesite em me chamar.
A Duquesa assentiu, algum tempo depois já a sós na sala da mansão abriu a caixa de madeira. Na quietude daquele momento sentiu sua alma ainda mais pertubada, dentro cartas envelhecidas e alguns objetos chamaram sua atenção, retirou todos com cuidado. Um relógio de ouro antigo continha a inscrição de 1Corintíos 13: 4-7, bem como duas alianças de ouro e um anel de noivado de safira completava uma pequena e estranha coleção, havia também alguns desenhos assinados por Jonh, seu talento era algo de família.
— O que o Senhor deseja me ensnar com tudo isso? — orou a Duquesa, não se lembrava de ter visto tais objetos antes e mesmo que se sentisse curiosa acerca deles sabia que as respostas que precisava estava na pilha de cartas.
Sarah clamou por consolo de Deus, sua fé era suficiente forte para saber que ainda que sua alma gritasse que ela estava sozinha, seu criador permanecia no mesmo lugar, sempre acessível ao seu clamor. Nem mesmo na escuridão da angústia o Senhor abandonava aos seus, podia uma mãe se esquecer de seus filhos, mas Ele não.
Abriu com cuidado a primeira carta datada mais recente, suas lágrimas transbordaram ao reconhecer a letra da mãe.
Minha filha, Sarah
Enquanto escrevo essa carta escuto seu ressonar tranquilo ao meu lado, desejo que o tempo não seja tão rápido, mas ele parece não ouvir minhas súplicas. Se estas lendo essa carta, então signfica que eu não tive coragem ou tempo de lhe contar a verdade acerca de seu nascimento, não me culpe sou uma mulher covarde demais para relembrar o passado que ainda dói em meu peito, mas sei que mereces saber a verdade, então lhe escrevo.
Nessa vida Thomas é seu pai, ainda que seu sangue não corre em suas veias, o amor e o compromisso dele para contigo não deixa dúvidas, es filha dele tanto quanto a pequena Anne. Contudo, se a vida tivesse seguido ao rumo que eu desejava teria conhecido ao homem que sonhava contigo antes mesmo que fosse formada em meu ventre e ele te amaria tanto.
Crescer com um professor víuvo e viajando pelo mundo sempre me fez ver as coisas de uma pespectiva diferente. Então, aos 18 anos a última coisa que eu esperava era me apaixonar, mas o amor respeita a vontade da mente? Numa floresta escura da África encontrei alguém que compartilhava dos mesmos anseios que eu, Jonh era apaixonante demais para que meu coração permanecesse frio, foi por isso que durante uma noite no luar com a benção do meu pai e na presença de uma tribo e amigos queridos eu disse sim, nunca me arrependi de ter me casado com ele naquele dia, os poucos dias como sua esposa foram os mais felizes da minha vida. Contudo, ele era um Lord e eu a simples filha de um professor, nosso casamento não seria facilmente aceito e ele não viveu o suficiente para que eu fosse reconhecida como sua esposa, como um membro da nobreza ele tinha suas responsabilidades, inclusive, a de ir para uma guerra que lhe custaria a própria vida. Eu me apeguei a Deus e sobrevi por sua causa, minha doce e amada filha, eu vivi mesmo diante da dor e continuei prosseguindo nos dias em que levantar da cama parecia impossível e eu questionava a Deus as razões pelas quais ele tinha me tirado quem eu tanto amava. Eu odiei Jonh por me deixar e odiei ele por salvar a um jovem soldado que batia insistente na minha porta, ansiando por cumprir sua promessa de cuidar de mim. Eu não tinha ideia de qual caminho escolher, mas sabia que eu devia aquela criança em meu ventre uma melhor oportunidade, então aceitei a loucura de Thomas e me casei pela segunda vez. Logo eu, que nunca imaginei me casar, estava aos 20 anos casada pela segunda vez.
Thomas foi um instrumento de cura em minha vida, um amor leve e construído com o tempo, sem dúvidas fui e sou muitos feliz ao lado dele. Sarah, meu amor, quão bem aventurada eu sou por encontrar um homem como ele, que a ama como filha, mas sei que merece saber a verdade e é por isso que escrevo essa carta.
Jonh era um homem piedoso e alguém que teria lhe amado, nessa caixa vais encontrar cartas trocadas entre nós dois durante a guerra e vais entender o quão desejada foi. Nunca duvide do seu valor e do amor de seus pais, não importam o que digam es bem aventurada Sarah, pois ainda em meu ventre foi escolhida.
Que o senhor a guie minha amada filha.
Sarah enrolou a carta e a colocou de volta na caixa, sentiu uma estranha sensação de desamparo, o nó em sua garganta ardeu e ela engoliu a própria saliva, numa vã tentativa de aliviar o desconforto. Do lado de fora o dia parecia querer se despedir e na preliminar do crepúsculo sentiu uma enorme tristeza, um pesar pelo pai que tinha lhe criado e por aquele que nunca chegou a conhecer. Apesar dos sentimentos continuou a ler as cartas que revelava um passado que também lhe pertencia.
Jonh Howard cresceu na África após um naufrágio que tirou a vida de seu pai, a mãe fez o possível para garantir sua educação, enquanto aguardavam o socorro inglês que chegou 13 anos depois. Como uma criança criada livre teve dificuldades em assumir seu papel como Duque de Norfolk, mas o fez por amor a mãe e pelo legado do pai. Todavia, seu coração nunca tinha esquecido o continente em que cresceu, se tornou um aventureiro e após a morte da mãe retornou acompanhando da expedição comandada pelo avô de Sarah, sua letra gentil contava muito mais do que suas palavras e lembrava a Duquesa sua própria letra, era um homem dedicado e que cumpria suas palavras, não deixava dúvidas de seu amor pela esposa. Agumas das cartas mencionava Thomas, um jovem soldado, a quem Jonh adotou como irmão e com quem compartilhava seus sonhos e sua preocupação com a esposa que lhe aguardava.
Pela segunda vez naquele dia Sarah chorou pelo luto, nunca poderia conhecer ao homem que escrevia para a mãe dela com planos de criar sua filha nos corredores do castelo de Norfolk, ele nunca tinha conseguido ensinar ela tudo o que desejava. Aquelas cartas explicava a razão pela qual a Baronesa não suportava a morena, graças ao casamento da mãe de Sarah o filho do Barão precisou deixar as terras inglesas para evitar rumores sobre como uma mulher estava gravida de um homem que tinha conhecido a tão pouco tempo, se ele não tivesse partido para os Estados Unidos talvez continuasse vivo.
Sarah abaixou os ombros, as lágrimas começavam a secar. Incapaz de resistir ao apelo de seu coração deixou as cartas de lado e caminhou até o andar de cima parando na frente da porta de madeira do quarto da Baronesa, estava silencioso. Ignorando o coração acelerado abriu a porta, a avó estava acordada e sentada no divã, parecia mais calma, não gritou com a entrada da Duquesa.
— Ele era meu único filho — soluçou, parecia lúcida —, eu nunca compreendi as razões pelas quais ele insistia em se casar com aquela mulher, por qual razão assumia uma responsabilidade que não era sua. Afinal se os Howard não reconheciam ao casamento o que se podia fazer? Ele não era culpado por aquela gravidez, mas Thomas nunca foi uma criança que me ouvia. Meu filho se sentia culpado pela morte do jovem Duque, que o salvou, então eu o amaldiçoei, disse que não o reconheceria como filho se continuasse com aquela bobagem, mas não adiantou. Não respondi nenhuma das cartas que ele me enviou dos Estados Unidos, então ele morreu e era muito mais fácil te culpar do que a mim mesma.
Sarah baixou os ombros.
— Ele a amava — disse tensa, encarando a avó com ousadia —, sempre me contava sobre a mulher incrível que tinha criado ele, contava sobre sua risada que alegrava toda a mansão e como sempre cozinhava para ele, mesmo que para isso precisasse ouvir o sermão da antiga Baronesa. Porque ele te amava eu te amei e suportei todas as duras palavras, eu ficava questionando minha culpa e me perguntando onde eu tinha errado, mas eu não sou a culpada e nem mesmo minha mãe, o que seu filho fez, foi nobre e gentil.
Os olhos castanhos da Baronesa fitaram Sarah, perdidos em si mesma.
— Ele morreu, eu perdi o meu filho.
— Eu e Anne perdemos ao único pai que conheciamos — respondeu a morena —, e também perdemos a nossa mãe. Fomos entregues aos avôs que nunca tinhamos visto, em um país estranho ao nosso e ainda assim continuamos e ainda escolhemos viver acima da dor, sofremos tanto quanto a senhora.
— Eu tentei ser boa — sussurou a velha senhora — , mas tudo o que havia em mim após a morte dele foi raiva. Depois suas manias e seu amor incondicional apenas me lembrava a Thomas e como eu o tinha perdido. Anne pode carregar o sangue dele e até mesmo sua aparência, mas ninguém pode negar o quanto es filha de Thomas. Eu não farei um pedido de desculpas, não espere algo assim.
— Eu não espero.
— Então o que faz aqui?
A Duquesa encarou a avó com um misto de compaixão.
— Eu não sou culpada — respondeu depois de um tempo — , fiz tudo o que podia para conseguir sua afeição e para agir como sabia que meu pai desejaria. Não importa se meu sangue não é o mesmo que o dele, continuarei sendo sua neta e se não pode aceitar meu carinho, a escolha é sua.
— Eu não preciso de nada seu.
Sarah deu de ombros, cansada demais para lutar com a velha avó.
— Os arrependimentos são seus — disse se afastando — , mas já carrega muitos deles, então, por favor, não os aumente.
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