Capítulo 3
O quarto pequeno estava abafado e Sarah sentia sua testa pegajosa como se estivesse com uma gripe, com ajuda de Mambo e de Maya o desconhecido foi deitado na pequena cama de casal no meio do quarto, o lençol branco ficou cheio de sangue por todos os lados.
Em espírito a jovem morena continuava em oração, pois sabia que apenas um milagre poderia impedir a morte daquele homem.
Com agilidade Maya abriu a pequena janela para que o ar entrasse, mas não era o suficiente.
— Não demore muito Maya a taberna está cheia — ordenou Mambo olhando mais uma vez para o homem deitado na cama antes de deixar o quarto.
A estrangeira assentiu, em seguida se aproximou do homem ferido e sem qualquer pudor arrancou a blusa ensanguentada dele, do lado oposto ao quarto Sarah reagiu desviando o olhar envergonhada.
— Você precisa limpar ele. — Sua voz era rápida ao ponto que as palavras saiam apressadas, não parecia ter muita paciência. — É necessário estancar o sangue ou ele vai morrer — concluiu jogando um pano que carregava na cintura para Sarah.
— Eu nunca fiz algo do tipo — gaguejou a jovem um pouco tímida, havia uma enorme quantidade de sangue no abdome dele e ela se sentia estranha em se aproximar de um homem tão descoberto.
Impacientemente Maya revirou os olhos e tomou o pano de Sarah, limpando a área que tinha sido ferida, o sangue impregnado no ar fez com que a jovem morena sentisse vontade de vomitar, mas a estrangeira não parecia nem um pouco incomodada.
— Isso é serviço de uma faca — afirmou Maya —, se não limparmos direito ele não vai sobreviver. Vais ficar aí parada como uma estátua de Ganesh?
— Quem?
— Nada — resmungou Maya, em uma voz fria. — No fundo do corredor há um balde com água traga-o para cá.
Sarah imediatamente obedeceu, apesar da vertigem. Com uma respiração profunda andou até o corredor pegou o balde e voltou ao quarto, depois ficou observando Maya limpar a ferida com destreza.
— É necessário desinfetar. — Maya estava concentrada. — Vou buscar um pouco de álcool, enquanto isso vai limpando a ferida dessa forma está vendo? Mas tome cuidado para não apertar muito.
Sarah assentiu tomando o lugar de Maya ao lado do desconhecido, seu rosto vermelho por tocar um homem daquela forma, imaginou que sua avó teria uma sincope se a visse naquele estado.
— O que aconteceu com você?— sussurrou Sarah olhando para o rosto do homem sem nome, mas não houve resposta como era de se esperar. — Você deve ficar bem, sua família deve sentir a sua falta.
— Aqui está o álcool e outros panos. Você sabe fazer uma atadura? — questionou Maya entregando as coisas para Sarah. — Eu preciso descer antes que Mambo venha me buscar a força.
— Acho que sim — respondeu insegura, nunca havia lidando com uma ferida daquele tamanho, mas com uma irmã caçula ela havia aprendido alguns truques na velha Califórnia. — Maya eu logo terei que ir embora. Eu.... você poderia ficar de olho nele? Eu prometo que virei aqui logo que possível amanhã, por favor.
Maya fez uma careta e resmungou alguma coisa em sua língua materna, mas Sarah nada entendeu.
— Ele não é nada seu por qual motivo perderia seu tempo? Tenho certeza que uma garota como você deve ter outras coisas mais interessantes para fazer do que cuidar de um moribundo — declarou ela.
— Ele está ferido e sozinho e é minha obrigação como cristã prestar socorro e fazer o meu melhor — disse Sarah com calma voltando seu olhar para o desconhecido.
— Já vi muitos que se dizem cristão que deixaria esse homem morrer por muito menos — respondeu Maya olhando para Sarah como se visse alguém de outro mundo. — Você é estranha garota.
— Eu nunca poderia fazer isso — falou Sarah com firmeza, de fato nunca poderia abandonar alguém que precisava de sua ajuda seus pais tinha ensinando ela melhor do que isso.
—Bom isso não é da minha conta — expressou Maya levantando as sobrancelhas. — É bom você voltar amanhã, pois não vou ser babá de ninguém por tanto tempo já tenho muita coisa para fazer aqui.
— Obrigada, que o Senhor te abençoe grandemente — respondeu Sarah, mas a mulher não tinha escutado na pressa para descer para a Taberna.
Sarah mordeu os lábios ao jogar álcool na ferida do misterioso, mas ele não deu sinal algum de que sentia a ardência do líquido e se não fosse pelo bater de seu coração Sarah firmemente acreditaria que ele estava morto.
A água no balde estava vermelha e com dificuldade Sarah fez a bandagem, por fim quando terminou limpou o resto de sangue que havia nele e as feridas menores e ajeitou o travesseiro para que ele ficasse confortável na medida do possível. Gostaria de ter dinheiro o suficiente para chamar um médico, mas suas economias não aguentariam aquilo, desse modo tudo o que poderia fazer era orar para que seus cuidados fossem o bastante para o estranho sobreviver.
— Seja forte — disse Sarah apertando a mão dele, com delicadeza, sua mão grande deixava as delicadas mãos de Sarah parecendo de uma criança. — Viva por favor, es muito jovem para morrer e tenho certeza que o Senhor Jesus ainda tem muitos planos para ti. Eu voltarei amanhã, prometo.
Sarah afastou seus olhos do homem encarando a paisagem pela pequena janela do quarto, seu coração estava apertado e ela temia pela vida do homem. Com dificuldade se colocou de pé e ajeitou sua própria aparência desleixada e depois saiu do quarto, com a mente pensativa.
Ao voltar para o bar da taberna precisou se desviar de alguns homens e novamente sentiu seu coração acelerado de medo e se apressou para alcançar Maya que lavava alguns copos, o serviço ali nunca acabava.
— Terminou? —perguntou Maya com seu sotaque forte sem olhar para Sarah. — Não precisa se preocupar ficarei de olho nele, somente essa noite.
— Eu agradeço muito, voltarei amanhã como combinado — sussurrou Sarah para que apenas a mulher a sua frente escutasse.
Maya assentiu.
A volta para casa demorou mais do que o habitual devido a ansiedade de Sarah para estar na segurança de seu quarto. O sol estava alto quando ela deixou a carroça perto dos estábulos para que algum criado cuidasse, ela entrou pelos fundos da mansão dos avós com medo de ser pega, sua roupa estava com manchas de sangue o que seria difícil de explicar, naquele instante agradeceu ao fato de ser praticamente invisível na casa.
Quando chegou ao quarto suspirou de alivio fechando a porta atrás de si, então arrancou com certa dificuldade o vestido que usava escondendo-o até que pudesse se livrar dele, sem sangue sem provas, pensou a morena colocando sua roupa de dormir.
A morena se jogou na cama enquanto esperava sua respiração voltar ao ritmo, seus pensamentos voltados ao loiro desmaiado no quarto da taberna e começou a orar para que ele pudesse se recuperar logo, desde criança Sarah nunca suportava ver alguém ferido, sua mãe achava graça, pois sempre havia algum passarinho ou pequeno animal sendo cuidado por ela, seu doce coração não podia ignorar alguém que precisava de ajuda.
— Lady Sarah. — A voz amorosa de Maria tirou a jovem de suas orações. — Posso entrar?
— Claro— respondeu Sarah se sentando na cama, enquanto a governanta entrava no quarto com uma bandeja nas mãos.
— Trouxe seu jantar. — Indicou a mulher mais velha, colocando a comida na mesa de estudos da senhorita. — Como foi o passeio?
— Ocorreu tudo bem — respondeu Sarah sem querer entrar em detalhes, ela caminhou até a mesa e encarou o prato a sua frente, sem sentir qualquer indício de fome.
—A senhorita não vai comer? — perguntou Maria se sentando aos pés da cama, uma liberdade que ela só tinha com Sarah.
— Estou um pouco sem fome — respondeu Sarah, optando por beber apenas um gole do chá.
— O que está te preocupando minha menina?
— Nada Maria — afirmou a jovem —, estou apenas cansada, de toda forma obrigada pelo jantar.
— Tudo bem — assentiu a mulher se colocando de pé e se aproximando da jovem —, se precisar de qualquer coisa sabe onde me encontrar, mandarei alguém buscar a bandeja mais tarde. — concluiu dando um beijo na cabeça da morena.
Sarah encarou a comida depois afastou a bandeja e abriu a gaveta da mesa pegando suas folhas de desenhos e um carvão, com a mente imersa em mil pensamentos começou a traçar diversas linhas até que essas formassem o rosto do desconhecido, quando terminou a comida estava fria e coração dela um pouco mais calmo.
—Você vai ficar bem — disse encarando o desenho, se perguntando quem era aquele homem e qual seria sua história. — Sei disso.
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