Capítulo 25


Quando os olhos de Sarah finalmente se acostumaram com a escuridão dos túneis o Duque a guiou por uma abertura redonda que revelava os jardins do Castelo. Naquela noite a luz da lua fazia parceria com as das tochas, tornando aquela costrução humana algo lindo de se ver. Por um breve momento August parou, como se procurasse algo, em seguida pegou a mão de Sarah novamente e eles caminharam em silêncio pelas pedras do jardim. 

— Ansiosa? — perguntou ele, parecendo energético. 

— Não. — Ela foi sincera, a caminhada até ali tinha acalmado seu coração e ela tinha certeza do que estava fazendo. — Para aonde estamos indo? 

— É logo à frente — indicou, apontando para uma região que os olhos de Sarah ainda não conseguia enxergar. 

Eles continuaram caminhando, presos em seus próprios pensamentos. Por fim, adentraram uma região mais afastada do jardim, onde as flores cresciam livrimentes e as mãos humanas não pareciam ter tanto controle, era o local favorito de Sarah desde que havia chegado aquele país, ela se sentiu emocionada por August ter se lembrado disso e ter escolhido exatamente aquele lugar para celebrar a união de ambos. 

Eles não eram os únicos que estavam ali e ao observar cada rosto naquele pequeno paraíso a jovem inglesa se sentiu aquecida. A Rainha Vitória e o Princípe Albert foram os primeiros a se aproximarem do casal, a monarca inglesa deu um sorriso presunçoso para amiga. Em seguida o Barão Meyer e em seguida Maya deram seus cumprimentos ao Duque e sua futura esposa. 

— Onde está Anne? — perguntou Sarah, procurando entre os rostos sua irmã, mas sem econtrar a caçula. 

— Sinto muito, querida — disse o Barão para a neta mais velha. 

Sarah assentiu querendo ignorar o aperto em sua guarganta ao entender que sua imã não poderia estar naquele momento, pois seria um risco. 

— Tudo bem — respondeu a jovem, dando um sorriso tímido ao mesmo tempo em que trincava os dentes. A divisão entre sua irmã e ela era algo que roubava sua paz, perguntou a si mesma se um dia as coisas voltariam a ser como antes e a única esperança que teve foi que Cristo era especialista em restaurar corações, bem como relacionamentos. 

Ela encarou os outros três convidados, um pouco mais afastado deles estava Jasper Hale e outros dois senhores mais velhos, a quem Sarah tinha quase certeza ter sido apresentado, em que pese sua mente não se lembrar.  

— O Primeiro-Ministro, Lord Zimmer, gentilmente concordou em celebrar a nossa ceriôminia juntamente com o Chefe da Igreja, o Sr. Bauer — explicou August ao notar o olhar da noiva. — Victória me ajudou a convencer ambos, gentilmente — acrescentou o Duque apenas para Sarah ouvir. 

— Gentilmente? — Sarah deu um risada baixa, conhecendo a Rainha. 

— Quase isso. 

August encarou a noica com uma mistura de emoçoes no rosto. Estava claramente animado com o casamento, mas também inquieto por precisar fazer daquela forma, escondia o quanto estava chateado com a mãe pelas atitudes contrárias ao seu casamento. 

Sarah respirou fundo e apertou a mão do noivo, numa tentativa de tranquilizar ao Duque. Então, em meio ao jardim florido de rosas, orquídeas, margaridas e tantas outras flores independentes que eram iluminadas pela luz natural da lua e pelas tochas humanas, bem como diante dos amigos e familiares mais queridos o casal se aproximou do Primeiro Ministro e do Líder da Igreja, dispostos a testemunharem perante os homens e mais importante, diante de Deus o compromisso para a vida toda. 

— Vossa Majestade e Lady Sarah — cumprimentaram os homens como em uma única voz. 

— Espere — disse Vitória antes que o Primeiro-Ministro pudesse continuar falando —, isso é necessário. — Então entregou a jovem noiva um conjunto de flores colhidas apressadamente. — Agora sim, perfeito. 

— Obrigada — sussurrou Sarah, voltando seu olhar para o impaciente Primeiro-Ministro. 

Ao lado de August e de frente ao Lord Zimmer e do Sr. Bauer a realidade tomou conta de Sarah, estava realmente se casando. 

— Ebenézer — disse August ao sentir o leve aperto da noiva em sua mão. 

— Até aqui o senhor nos ajudou — completou Sarah, com um sorriso tomado pelas lágrimas de felicidade. 

O Primeiro-Ministro explicou ao casal, muito mais para Sarah, como a cerimônia iria ocorrer e as consequências jurídicas daquilo que estavam fazendo. Ao final, Sarah deixaria de ser uma jovem inglesa para ser a senhora soberanda de Saxe-Coburgo-Gota, sua vida nunca mais seria a mesma. 

Ela se mexeu. Os olhos atentos a tudo o que o Primeiro-Ministro dizia, enquanto buscava manter sua expressão inalterada. Ela apertou a caneta que tinha lhe sido entregue e assinou ainda meio trêmula o papel que alterava o curso de sua vida e de certa forma da própria história do Ducado. 

Com muito mais calma e elegância, na opinião de Sarah, o Duque assinou o documento que mudava seu estado civil. Em seguida, a rainha, o Princípe e o próprio Primeiro-Ministro assinaram dando fé ao documento e assim impedindo qualquer discussão acerca da legalidade daquele registro.

— Acredito que agora é a minha vez — disse o Chefe da Igreja, o Sr. Bauer parecia um pouco mais amigável com o que acontecia ali do que o Primeiro-Ministro, para o alívio de Sarah. — O casamento é uma instituição fascinante, ele é muito mais do que uma cerimônia, de fato o casamento é a união de um homem e uma mulher que deixam pai e mãe para se tornarem uma única só carne, é aquilo que acontece no dia a dia e é como dois que se tornam um enfrentam suas dificuldades, veem o pior um do outro e ainda assim continuam escolhendo o caminho do amor.

Ele deu uma pausa encarando o casal para ver se ambos entendiam o que estava sendo dito. 

— Eu gosto de fazer um paralelo entre o relacionamento entre a humanidade e Deus e o casamento, como Deus mesmo conhecendo o nosso pior continua nos amando — disse o Sr. Bauer —, assim o homem e a esposa devem se amar. O casamento faz com que o casal seja confrontado com sua própria humanidade, mas é também nessa instituição gerada por Deus que homens e mulheres são mais transformados, nela o casal pode se aproximar ou distanciar de Deus. A minha oração é que essa união gerem a ambos cada vez mais relacionamento com Deus, que sejam um processo de fé, coragem e amor, acima de tudo de amor. 

— Então o Senhor Deus declarou: Não é bom que o homem esteja só; farei para ele al­guém que o auxilie e lhe corresponda. — leu o Sr. Bauer o texto de Gênesis 2.18. — Lady Sarah Elizabeth Parker aceita Lord Ernst August Karl Jonhann Leopold Alexander Eduard como seu marido?

— Sim — respondeu Sarah em meio as lágrimas, tinha dificuldade em manter a concentração diante da emoção. 

— Marido, ame sua esposa, assim como Cristo amou a igreja e deu a vida por ela — citou o Chefe da Igreja ao texto de Efésios 5.25, enquanto encarava o Duque. — Lord Ernst August Karl Jonhann Leopold Alexander Eduard aceita Lady Sarah Elizabeth Parker como sua esposa? 

August encarou Sarah contendo suas próprias lágrimas. 

— Sim. 

— Então na autoridade de Cristo Jesus eu vos declaro marido e mulher — disse o Sr. Bauer —, e o que Deus uniu que o homem não separe. Pode beijar a noiva — aconselhou o ministro religioso com um sorriso. 

Sarah sentiu seu rosto em chamas. August segurou com cuidado o rosto da esposa, fitando ela em silêncio e depois deu um sorriso torto e encarou com os olhos azuis que a fizeram suspirar, então depositou um leve beijo nos lábios dela, enquanto o coração de Sarah corria sua própria maratona e ela sentiu que poderia desmaiar. 

Quando ele se afastou ela precisou de toda a sua força para conter seu suspiro e para não levar a mão ao rosto de vergonha. Por fim, todos os presentes se apressaram para cumprimentar aos recém-casados, dando tempo ao coração e corpo de Sarah para se acalmar. 

Ela estava finalmente no controle de seus próprios sentimentos quando Vitória e a Maya a puxaram a parte de todos. 

— Algum problema? — questionou a nova Duquesa. 

— Há algo necessário para que ninguém ouse questionar o casamento? 

Sarah se assustou e olhou para o marido, mas ele estava do outro lado conversando com o irmão mais novo e com o amigo, Sr. Hale. 

— Não é nada grave — assegurou a rainha, fazendo com que Sarah voltasse seu olhar para ela. 

— É sobre a sua noite de núpcias — disse Maya sem qualquer pudor. 

— Não precisamos falar sobre isso — respondeu Sarah rapidamente, sentindo que poderia abrir um buraco e se enterrar nele. 

— Não é nada demais — explicou Vitória —, nem precisa ficar nervosa. Todavia, é esencial que aconteça afim de evitarmos conversa acerca de uma possível anulação. E como sabemos que sua avó não deve ter explicado o que acontece entre um homem e uma mulher, e sinceramente achei que a gente iria ter mais tempo, todavia...

— Eu acho que não precisamos falar disso, por favor. 

— É necessário — explicou a Monarca Inglesa —, August é um cavalheiro e tenho certeza que vai querer esperar seu tempo. Todavia, não acho que haja essa possibilidade afinal Luiza não vai aceitar uma derrota tão facilmente. 

— Hoje? — perguntou Sarah de repente assustada, era claro que ela sabia que algo acontecia quando as pessoas se casavam, mas não tinha pensado tanto nisso. 

— Sim. 

 — Como eles saberiam que a gente... que algo aconteceu?

— Há maneiras... 

—Sangue...

— Estas assustando a coitada — repreendeu Vitória a Maya. 

— Eu disse que não era uma boa ideia eu participar dessa conversa. 

— A ideia é que a senhorita deveria acalmar a Sarah — resmungou Vitória, um pouco emburrada por seu plano não dar certo. — Não criar um trauma, é apenas um pouco de sangue querida. 

— Não há razões para ficar com medo — disse Maya, tentando medir suas palavras — é natural. 

— Existe sangue... — disse Sarah um pouco apavorada. 

— E pode doer — apontou Maya —, mas nem sempre existe dor, tem gente que não sente. Eu acho que o segredo é se manter calma. Pode ser desconfortável, mas apenas no começo... e....

— É bom — disse Vitória tentando remediar o que a indiana tinha falado —, é diferente e demanda muita proximidade, então não se assuste. 

— Sim — concordou Maya —, é natural para um casal casado. 

Em seguida ambas as mulheres tentaram aconselhar a jovem da melhor maneira possível. Contudo, Sarah nada escutou apavorada com a ideia do que iria acontecer depois. Sua mente questionava três coisas, como poderia ser bom, poderia doer e sangrar e qual a razão ela tinha que passar por isso? 

Sarah hesitou à entrada do quarto de August, como ele tinha explicado era importante que ela passasse aquela noite ali. Contudo, no dia seguinte ela poderia ir para o quarto da Duquesa conectado com a aquele. 

Ela entrou no quarto observando a decoração luxuosa, com o rosto inseguro. O Duque, agora seu esposo, segurou a mão dela gentilmente tentando tranquilizar, sem saber o que se passava na cabeça dela, alheio as milhares de instruções que Maya e Vitória tentaram passar a jovem Duquesa. 

— Estas calada — apontou August, fechando a entrada secreta —, está tudo bem? 

Ela assentiu, sem encontrar sua própria voz. 

— Sarah — August se aproximou da esposa —, qual o problema? 

Involuntariamente os olhos dela se voltaram para enorme cama no centro do quarto, arrumada perfeitamente pelos criados. 

— Ah — expressou o Duque compreendendo ou assim achando que tinha compreendido —, eu irei dormir no sofá essa noite. Não precisa se preocupar, temos o tempo todo e podemos ir com calma, sei que o casamento foi algo de repente, até hoje de manhã pensavamos que teríamos mais alguns dias. 

— Não — ela segurou a mão dela, tentando se agarrar a qualquer coragem —, esse não é o problema. Afinal, estamos casados... e... — ela sentiu as forças indo embora e seu rosto ficando vermelho. 

Ele ergueu as sobrancelhas tentando compreendeu a esposa. 

— Não precisamos fazer nada que não esteja confortável. 

— Eu sei — ela deu um sorriso, confiando nele. — Eu... eu só não sei o que fazer e as meninas... 

— O que Vitória falou? 

— Eu prefiro não comentar — disse Sarah sentindo que poderia fugir a qualquer momento. 

— Sarah não dê ouvidos a minha cunhada — alertou August —, ou a qualquer outra pessoa sobre isso. Eu a amo e nunca a machucaria de próposito ou a desrespeitaria de qualquer maneira, não precisa se preocupar com isso hoje, tivemos um longo dia e eu iriei respeitar seu tempo. 

Sarah encarou o marido ciente de que ele continuaria sendo um cavalheiro, ela não o temia, mas tinha medo do desconhecido e em que pese achar que Victória tinha sido muito mais detalhista do que deveria, sabia que a Rainha tinha razão e que eles precisavam consumar o casamento afim de evitar problemas, afinal o relacionamento deles era também algo político. 

O Duque interpretando a apreensão do rosto de Sarah de forma errada começou um longo discusso para tentar acalmar a esposa e ela ciente de que ele não se calaria tão cedo fez a única coisa que lhe pareceu uma boa ideia, beijou seus lábios como ele tinha feito na cerimônia. 

— O que é isso? — ele perguntou um pouco confuso. 

— Um beijo? — ele questionou em dúvida, se arrependendo um pouco pela precipitação, mas seu marido não parecia ofendido apenas um pouco surpreso. 

— Não — disse August em um tom suave, a puxando levemente para próximo dela. — Isso é um beijo. 

Involuntariamente ela passou a mão no pescoço dele, os lábios dele eram gentis nos dela e ele parecia saber muito bem o que fazer, as reações de seu corpo a surpreenderam, mas sua mente não parecia querer se ater aquilo, muito mais interessada em continuar o que estavam fazendo. 

De repente ela não perecia tão assustada com a ideia do que poderia acontecer naquela noite, um pouco dominada pelas sensações misteriosas. 

— Sarah, tem certeza disso? — August perguntou com uma voz gentil e rouca. 

— Sim — ela respondeu, encarando seu marido com uma emoção que ela não sabia nomear ou reconhecer. 

— Eu te amo — disse a puxando novamente para próximo de si. 

Ela tentou clarear sua mente, encontrar uma maneira de responder o que era um pouco difícil com os lábios dele nos dela. 

— Eu também te amo — falou, enquanto permitia ser guiada pelo marido e afastada de seus próprios receios. 



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