Capítulo 24
Sarah encarou o teto de seu quarto cheia de questionamentos em sua mente, por um breve instante se perguntou se deveria compartilhar com alguém o que tanto a atormentava nas últimas semanas. Ou melhor se devia comentar com August, ela não queria preocupar o noivo com suas ansiedades, mas começava a se questionar se as coisas não estavam tomando um rumo sério demais, a Duquesa Mãe não parecia brincar com suas ameaças e ela nem era o real problema.
No começo tinha sido apenas alguns comentários acídos, tentativas de tornar a vida de Sarah mais complicadas, mas era algo que a jovem conseguia ignorar. Todavia, com a chegada do tio de August as coisas se tornaram ainda mais esquisitas.
O Rei da Bélgica não escondia nem mesmo do sobrinho o horror ao noivado, na verdade ele era ousado em seus comentários e a única coisa que impedia de ser totalmente descortês era o aviso de August de que não aceitaria qualquer despespeito a sua noiva. Contudo, quando o Duque não estava perto ele utilizava de todo o seus argumentos para fazer Sarah desistir do casamento, inclusive, uma tentativa falha de noivar Sarah com um jovem bélgico, nas palavras dele muito mais compatível com a garota.
E aquilo nem era o pior, nos últimos dias alguns acidentes, ou pelo menos era o que a morena gostaria de acreditar, estava tirando seu sono. Um alimento ao qual ela era terrívelmente alergicá tinha sido servido duas vezes em seu desjejum, sentia que estava sendo sempre observada pelos corredores do castelo e em um dia chuvoso pode jurar que alguém quase a empurrou das escadas, se Maya não tivesse sido rápida poderia realmente ter se machucado.
Estava sendo absurda ou suas preocupações eram reais? Antes que pudesse responder a si mesma, a porta do quarto abriu revelando uma Rainha Vitória preocupada, sem qualquer cerimônia a esposa de Albert se sentou ao lado do divã que estava a jovem Parker.
— Como está se sentindo? — questionou fazendo um sinal para que um das damas de Sarah a servisse um chã.
— Pela centésima vez, Vitória.... eu estou bem.
Os acidentes estavam se multiplicando, se Sarah acreditasse em sorte teria começado a pensar que era a mulher mais azarada do mundo. Contudo, não era questão de jogo ou de destino, mas das artiminhas para impedir a realização do casamento.
— Vai me contar o que está acontecendo?
Sarah suspirou e encarou as três mulheres que permanecima impassíveis no quarto, suas novas damas de companhia além de Maya. A primeira e mais velha das mulheres era Lady Mary, uma senhora astuta e nomeada pela Duquesa Mãe, não parecia aprovar Sarah tanto quanto a mãe de August e vigiava cada passo da futura Duquesa. Por sua vez, as outras duas Lady Sofia e Lady Rose pareciam inofensivas, tinham sido indicadas pelo noivo, eram irmãs e pareciam muito interessadas em servir a jovem, ao menos não fazia caretas cada vez que Sarah lhe pedia alguma coisa.
— Podem nos deixar sozinhas? — perguntou Vitória, mas era claro que só tinha uma resposta que a rainha da Inglaterra aceitaria.
— As ordens da Duquesa Luísa é de que estejamos sempre próximas da futura Duquesa — disse Lady Mary petulantemente —, caso nossos serviços sejam necessários.
— Não será — disse a Rainha —, caso seja eu pedirei a Lady Maya que as procure.
— Uma prostitu...
Maya que estava concentrada em não revirar os olhos para as outras damas estava pronta para se defender, mas não foi necessário.
— Eu não ousaria falar de Maya dessa maneira — disse Sarah pela primeira vez perdendo a paciência com a mulher mais velha —, Lord August a nomeou como minha dama e exigo que ela seja tratada com o devido respeito, coloque-se no seu lugar Lady Mary.
— Desculpa — disse a senhora a contragosto —, não era minha intenção ofender a noiva do Duque.
— Saiam as três — ordenou Sarah. — Eu as chamarei se for necessário.
Estava claro o descontentamento de Lady Mary, mas fez o que lhe era ordenado, sendo seguida pelas mulheres mais jovens.
— Eu vou ficar lá fora para ver se elas não estão escutando — disse Maya dando de ombros —, aquela velha asquerosa parece a ponto de devorar a gente a qualquer momento.
— Não é necessário — tranquilizou Sarah, mas a indiana não a escutou saindo do quarto o mais rápido possível.
Sarah respirou fundo e levou as mãos até o rosto deixando todo seu cansaço mental aparecer.
— Deveria conversar com August — sugeriu Vitória colocando a xicará de volta a mesa e encarando a amiga com atenção. — Luísa está passando dos limites e ela não é a única não é? O Rei da Bélgica não parece muito feliz com a proximidade de seu casamento.
— Não é nada — sussurou a jovem, mas não conseguia passar sinceridade. De fato, duas semanas haviam passado desde que sua adorável sogra havia declarado uma guerra silenciosa contra o casamento do filho com Sarah, no início era pequenos acidentes, um vestido rasgado, uma plebeu contrário ao casamento, mas parecia que as coisas estavam tomando um rumo maior do que Sarah conseguia lidar.
— O o que aconteceu na caçada não foi um nada.
— Não diga isso — implorou Sarah —, foi um acidente.
— Sarah a verdade é que quase foi atinginda por uma flecha — apontou a raina preocupada —, não me diga que foi um simples acidente. Luísa fez questão que a senhorita participasse da cerimônia mesmo que não tivesse qualquer tipo de experiência com essa atividade, eu teria que ser um burra para não notar que minha sogra não vai permitir esse casamento com tanta facilidade. Conte-a ao August o que está acontecendo, ele é o único que pode lhe proteger aqui.
— É muito simples chegar ao meu noivo e dizer a ele que a mãe é uma completa maluca que me prefere morta do que como sua nora.
— Não é muito difícil de acreditar — deu de ombros Vitória —, ela sempre foi um pouco surtada. Apesar que sinceramente não acho que ela tenha haver com os acidentes mais graves, nunca foi do perfil dela sujar a mão dessa maneira, talvez apenas ser conivente.
— Mesmo que o que aconteceu não tenha sido realmente um acidente — apontou Sarah —, eu não acho que ela ou alguém tentará nada novamente. Quer dizer todos estão antentos ao que está acontecendo, ninguém seria tão estúpido.
— Nunca subsetime seus inimigos — alertou Vitória —, muitos perdem com esse matrimônio e quando envolve poder as pessoas não abrem mão tão facilmente. Seja sincera com August, ele poderá tomar medidas para protege-lá, mas precisa saber o que está acontecendo.
— Eu imploro não comente nada com ninguém — pediu Sarah —, eu creio que vai ficar tudo bem.
— Estas sendo estúpida — disse Vitória sem qualquer cerimônia —, eu realmente estou preocupada com o que pode acontecer. Luísa não é a única em seu caminho e nem o Rei da Bélgica.
— Como assim?
Vitória fez uma careta, se sentindo dividida entre contar ou não a amiga o que estava acontecendo na corte. Todavia, após as insistências de Sarah finalmente relatou que o parlamento não estava de acordo com a celebração do matrimônio e que os plebeus estavam começando a se agitar por todo o reino.
— O que isso signfica? Eles podem impedir nosso casamento?
— Não acho que August permitiria tanta interferência — disse Vitória rapidamente, antes que Sarah ficasse mais preocupada. — Compartilhe com seu noivo o que esta acontecendo, será mais fácil de lidar com tudo isso.
— Não quero preocupar August. Por favor, não comente nada.
— Por enquanto.
— Vitória — pediu Sarah, sem esconder seu próprio desespero.
— Es minha amiga e minha súdita se eu achar que estas em perigo não permanecerei calada.
Sarah assentiu, sabendo que não havia forma de convencer a rainha a aguardar suas observações para si.
— Não foi um jantar tão ruim — disse a jovem noiva de August para Maya ao retornarem ao quarto naquela noite, depois que dispensou as outras damas de companhia.
— Sério? Eu achei que a Rainha Vitória iria soprar fogo em cima da Duquesa — apontou Maya —, principalmente diante dos comentários sobre a senhorita. Aquele velha consegue ser mais ácida que sua avó, eu acho que até a Baronesa tem medo dela, viu como ela e sua irmã tem permanecido mais silenciosas.
— Pelo menos algum bom.
— Não sei — respondeu a indiana —, pelo menos sua família não lhe tenta te matar.
— Maya nunca mais ouse dizer algo assim — repreendeu Sarah —, tudo o que aconteceu desde a nossa chegada até aqui foi pequenos acidentes, não deixem que lhe ouçam falando sobre isso.
— Claro o acidente na caçada e a Duquesa oferecer frutos do mar, mesmo ciente de sua alérgia foram apenas coincidências.
— Eu me trocarei sozinha — disse Sarah —, não quero falar mais sobre isso.
— Não seja tão teimosa — respondeu Maya, com seu sotaque mais forte do que o acostume —, ou ao invês de usar um vestido de noiva vais acabar em um caixão.
Sarah ignrou a amiga e se assentou na cama fechando os olhos, alguns minutos depois sentiu quando a indiana deixou o quarto. A morena sabia que precisava contar ao noivo o que estava acotecendo, mas se sentia agoniada com a possibilidade de colocar mãe contra filho ou criar um incidente político com o tio de August.
Atordada com seus próprios pensamentos Sarah não notou que alguém havia entrado no seu quarto até que passos se aproximasse da sua cama, ao abrir seus olhos sentiu toda sua cor e ir embora e somente se acalmou ao notar que a figura alta a sua frente, era ninguém menos do que seu noivo e ele não tinha usado a porta para entrar.
— O que? Como?
— Desculpe — soltou entre os dentes, parecia nervoso e preocupado —, não era minha intenção assustar a senhorita.
Ele franziu os lábios, examinando a expressão de Sarah com cuidado.
— Quando ia me contar tudo o que estava acontecendo?
— Não.
— Não?
Ele assentiu, mas seus olhos ardiam de uma fúria contida.
— Eu sinto muito que não tenha notado antes — disse August ainda um pouco distante —, estava tão centrado em acalmar o parlamento que não percebi que havia um inimigo dentro de minha própria casa.
— Não se preocupe com isso.
— Sarah — ele começou parecendo um pouco perdido —, minha mãe pode ser muitas coisas, mas não uma assassina. Eu realmente não acho que ela tenha tentado contra sua vida.
Sarah assentiu, reconhecendo a razão pela qual havia se recusado a comentar com o noivo sobre os últimos acontecimentos.
— Não me entenda errado — implorou o Duque —, eu acho que ela está apenas sendo usada pelo meu tio para impedir nosso casamento. Eu deveria ter imaginado que ele não iria se manter parado ao me ver ir contra os planos que ele elaborou para a minha vida.
— E então o que vamos fazer? — perguntou Sarah encarando o noivo com seriedade —, podemos lutar contra a resistência deles? Me pergunto se não é melhor que eu volte para a Inglaterra.
— Queres desistir?
— Não — respondeu a jovem imediatamente —, mas não quero lhe colocar em confusão.
— Eu apenas preciso que esteja ao meu lado — disse August, os olhos azuis encarando com aquela intensidade que sempre a deixava nervosa, de um modo bom.
— E eu estarei — confirmou Sarah, tentando não deixar que suas lágrimas inundassem seus olhos.
August inlicnou a cabeça de lado, escutando. Meio segundo depois, uma batida fraca e tímida soou na porta. Ele sorriu, mas Sarah se assustou diante da ideia de ser pega em seu quarto no meio da noite com seu noivo.
— Ela está pronta? — a voz de Vitória saiu abafada pela enorme porta de madeira, mas era facilmente reconhecível.
— O que está acontecendo? — questionou Sarah se colocando em pé.
— Dê-mê um segundo — pediu o Duque, caminahando até a porta. Mesmo distante Sarah ouviu a voz baixa e aveluda dela acalmar a impaciência da rainha e orientar que ela o esperasse. Ao entrar novamente no quarto, carregava uma pequena caixa de madeira nas mãos.
— Confia em mim?
— Sim? — perguntou a jovem um pouco confusa com o que estava acontecendo.
— Eu imaginei que algo assim poderia acontecer.
— As tentativas deassassinato?
Ele ergueu a sobrancelha um pouco incrédulo.
— Não — negou o Duque — , que teríamos que mudar um pouco nossos planos.
— E o que isso signfica?
— Que vamos nos casar — ele entregou a caixa nas mãos de Sarah, os dedos demorando um pouca mais do que o comum sobre a pele dela. — Isso é um presente de Vitória, ela disse que ao menos isso uma noiva deveria ter em seu dia.
— Espere — disse Sarah, sem esconder seu choque — , vamos nos casar hoje?
— É o plano — respondeu August, um pouco envergonhado. — Se for o que deseja.
— É claro que eu quero me casar — murmurrou a jovem, ao mesmo tempo que abria a caixa que a rainha havia entregue. Era uma linda coroa azul. — Isso não vai lhe colocar em maus lençois?
— Deixe-me ajudar-lá — disse August, colocando a joia sobre o cabelo de Sarah. — Linda, como sempre. Não se preocupe com os detalhes, depois que estivermos casados ninguém poderá fazer nada, e eu pessoalmente irei acalmar aos súditos e ao parlamento.
— August.
— Confia em mim?
Sarah assentiu.
Ele a puxou gentilmente pela mão e fez com que ela o seguisse em silêncio, pela primeira vez Sarah notou por onde o noivo tinha entrado no quarto, era um caminho secreto que ficava atrás de um enorme quadro, estava um pouco escuro e úmido o caminho e não parecia ser usado há muitos anos.
— Se alguém me dissesse que eu ia me casar as escondidas no meio de uma noite fria — disse Sarah em um sussuro, enquanto permitia que August a cobrisse com uma manta — , eu nunca iria acreditar.
— Pelo menos teremos uma história para contar aos nossos netos.
Ela riu, ignorando todos os seus medos.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top