Capítulo 20
Sarah fingiu não perceber o olhar irritado da irmã caçula ao descer as escadas da mansão, estava decidida a ignorar o comportamento infantil de Anne e não deixar que nata atrapalhasse seu jantar oficial de noivado. Todavia, era impossível não deixar que seus pensamentos se voltassem para o dia em que havia contado aos avós sobre o envolvimento de Anne com Jake Byron, um homem casado.
Que sorte de Sarah em ser noiva de um Duque e amiga da rainha ou teria sido morta ou enviada em um naivo de volta para a américa. De fato, a jovem ainda tinha pesadelos com os gritos estridentes de avó e as unhas afiadas dela em sua pele, que provavelmente ainda estava marcada.
E essa era a razão pela qual usava luvas brancas naquela noite.
Por outro lado, o avô tinha sido mais compassivo e acreditado nas palavras de Sarah, mesmo diante das tentativas de Anne em tornar a irmã mais velha uma mentirosa. Desde então a mais nova Parker usava de toda oportunidade para ser cruel com a irmã ou lhe lançar olhares que lembrava muito os da Baronesa, e agora ela tinha muito tempo para tentar atormentar a irmã mais velha, pois tinha sido proibida de sair de casa sem o olhar atento de uma preletora contratada ou de um membro da família e o avô tinha garantido a todos que a loira iria se casar até o final da temporada, um jovem decente e escolhido pelo Barão, o que gerou protestos da Baronesa que ainda tinha esperança de casar a neta com alguém de muita influência.
Anne estava irreconhecível ou talvez Sarah nunca tivesse de fato a conhecido, o pecado apenas revelou o pior da irmã, jazia morta espiritualmente e parecia a ponto de rasgar todas as pontes que pudesse levar sua vida a um lugar melhor.
Meu Senhor, orou brevemente Sarah, como é possível alguém conhecer sua palavra e ainda assim desviar? Era realmente como dizia Isaías 44:18 '"Eles nada sabem nem entendem, porque os seus olhos são incapazes de ver e os seus corações não conseguem compreender."
Ela ardentemente desejava que sua irmã se arrependesse dos seus maus caminhos e buscassem ao Senhor de todo coração. Afinal, a palavra mesmo dizia: Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.
Ainda havia chance para sua irmãzinha, refletiu Sarah, era o que dizia a si mesma todas as vezes que olhava a caçula. Com um suspiro profundo a morena repreendeu o rumo de seus pensamentos e voltou seu olhar para o noivo, enquanto descia o último degrau. Por um momento toda a sensação que antes dominava o coração da Parker mais velha foi embora, com um sorriso discreto e o olhar sempre tão azul August segurou a mão da noiva e depositou um leve beijo, dando a jovem uma sensação nova e agradável.
Estar apaixonada causava nela muitas sensações e todas impossíveis de serem descritas de forma coerente, os poetas e escritores tinham tentado falar sobre o amor entre um homem e uma mulher, mas a realidade era muito mais brilhante, complicada e falível, o amor podia trazer alegria e algumas vezes tristeza, como Sarah tinha experimentado, o amor não tinha uma fórmula e era cheio de incertezas, era uma escolha, mas também um sentimento, era algo novo e Sarah não podia deixar de se sentir grata a Deus por poder experimentar aquilo.
— Se me permites dizer — cumprimentou August, com um leve sorriso nos lábios —, estas ainda mais encantadora essa noite, Lady Sarah.
— São seus gentis olhos, meu Lord — respondeu com uma leve reverência, seguindo o protocolo que avó tinha lhe feito decorar.
Sarah precisou de um minuto para se aprumar e se lembrar de que não estavam sozinhos, apertou insegura o braço do Duque, o que não passou despercebido por August que lhe enviou um sorriso, numa tentativa de acalma-lá.
Todos os convidados esperavam no salão de festa, e receberam os noivos com sorriso, não era uma multidão afinal Sarah não tinha muitos amigos e August não era da Inglaterra. Ademias, um noivado nunca era um evento para multidões, mesmo que se tratasse do noivado da realeza.
Infelizmente para August sua mãe não havia conseguido vir, o que segundo a Rainha Vitória era uma sorte para Sarah. A Duquesa Luísa tinha um temperamento que lhe dava certa reputação e fazia com que sua futura nora estremesse ao se lembrar, desejava que as histórias de Vitória fossem um pouco exageradas.
Os noivos cumprimentaram os seus convidados, permanecendo um pouco mais de tempo ao lado da Rainha e do Princípe, os únicos além do avô de Sarah que genuinamente estavam contentes por aquela união.
— Santo Deus! — exclamou o Barão, alegremente. — Minha neta está deslumbrante. Seu pai ficaria encantado ao vê-lá essa noite minha querida.
— Obrigada vovô — agradeceu, com um sorriso.
O barão aceitou o agradecimento e em seguida se lançou em um conversa com o Duque e o Príncipe Albert sobre Saxe-Coburgo-Gota, afinal em menos de duas semanas todos viajariam para o Ducado, onde seria realizado a cerimônia de casamento. Enquanto, Sarah e Victória comentavam sobre os preparativos para a viagem.
A noite estava leve e agradável e Sarah se setia muito feliz.
— É chegada a hora, querida — anunciou a Baronesa depois de um tempo, fingindo uma simpatia para a neta mais velha. Vitória e August reviraram os olhos ao mesmo tempo e Albert precisou moder os lábios para não rir. — Devem realizar a troca dos presentes, não vamos deixar nossos convidados impacientes.
— Claro — concordou Sarah, sentindo o nervosismo voltar.
— Prometo que vou gostar do presente — sussurou o Duque para que apenas a noiva escutasse e então falou mais alto — Vamos.
Sarah assentiu e deixou que fosse guiada para as duas poltronas estrategicamente colocadas para que os noivos se sentassem, sob o olhar atento dos convidados. A morena varreu com os olhos a sala e sentiu um nova confiança ao notar o olhar amoroso que seu noivo lhe dirigia, sem dúvidas aquele era um momento importante para ambos e nem mesmo a frieza de Anne ou a irritação da Baronesa podiam atrapalhar.
— Lady Sarah, — começou August, um pouco tímido. — Espero que aceite esse anel como sinal do meu compromisso.
Ela deu um sorriso encorajador.
Por sua vez, o Príncipe Albert riu da falta de jeito do irmão, ao que parecia a timidez não era uma característica comum de August. Enquanto, a Rainha Victória parecia segurar o riso e repreendeu o marido com um olhar.
O Duque optou por ignorar sua família e retirou o anel de diamantes da caixinha, com delicadeza removeu a luva da mão esquerda de Sarah e colocou a joia no dedo em que logo estaria a aliança de casamento, sua mão se demorou no pequeno arranhão no pulso dela, mas não falou nada.
— É lindo — agradeceu Sarah, um pouco sem jeito. — Eu tenho algo para o senhor.
O presente que ela entregaria ao seu noivo não havia sido sua escolha, afinal a Baronesa não permitiria. Seguindo as instruções que avó havia continuamente repetido durante a tarde, Sarah entregou o medalhão de ouro com uma foto sua. De fato, a avó desejava que a neta entregasse junto com o medalhão alguns cachos de seu cabelo, mas Sarah prontamente recusou a seguir o padrão da sociedade londrina, afinal o que seu noivo faria com o cabelo dela?
A avó tinha ficado irritada, contudo Sarah não voltará atrás em sua decisão de que não haveria cabelos de presente!
— Obrigado.— respondeu o Duque ao fechar o medalhão — Essa sempre será uma lembrança sua nos momentos em que não estivermos juntos. Contudo, espero que sejam poucos esses momentos.
— Podemos jantar? — perguntou Anne como uma criança mimada. — Estou com fome.
A Rainha lançou um olhar irritado para a caçula e apenas amenizou seu olhar ao perceber o desconforto de Sarah.
— Devemos prosseguir? — perguntou a Baronesa, um pouco envergonhada pelo comportamento da neta caçula.
Foi um alívio para Sarah quando após o jantar o Barão permitiu que os noivos caminhassem pelo jardim, desde que sob o olhar atento da Sra. Ian, a preletora contratada para Anne.
De toda forma, o casal não se importou de serem seguidos pela senhora mais velha, pois qualquer momento a sós era um presente para ambos. A Sra. Ian se afastou para não ouvir o que os noivos conversavam, como um sorriso gentil nos lábios e uma piscadela que deixou Sarah envergonhada.
— Eu tenho um presente — comentou Sarah ao se sentar ao lado de August em um dos bancos de ferro.
— Outro? — questionou August.
— Esse é o verdadeiro presente — ela respondeu, com um sorriso de orgulho — , eu mesma fiz. Na verdade, o medalhão foi a escolha da minha avó.
— Ainda assim foi um bom presente.
— Ela queria que eu lhe desse alguns cachos do meu cabelo — riu Sarah — , mas eu recusei imediatamente.
— Cachos? Um costume inglês? — perguntou o Duque, claramente confuso.
— Sim.
— Os ingleses tem costumes estranhos — comentou August, seu sotaque um pouco mais acentuado que o normal. — O que eu faria com um cacho de seu cabelo?
— Não sei — riu Sarah, sendo acompanhada pelo noivo. — Agora, voltando ao presente. — Ela abriu sua bolsa e pegou o papel amassado que carinhosamente havia guardado. — Espero que goste.
— Não há dúvidas de que eu irei amar.
Ele pegou o retratado pintado por Sarah e ao abrir sua expressão se tornou surpresa e visivelmente alegre.
— É o mesmo desenho que começou a pintar naquela noite do circo?
— Sim — ela respondeu, com os olhos brilhando. — Maya me entregou antes que eu viesse para Londres. O senhor gostou?
— Sim. — disse August.
— Sabe o motivo por ter escolhido esse desenho?
O Duque negou voltando seu olhar para a noiva.
— Por que naquela noite — sussurrou — , ainda que brevemente eu vislumbrei uma felicidade que nunca sonhei que podia ter.
Ele sorriu de um modo que balançou o coração de Sarah.
— Naquela noite eu também vi algo.
— E o que foi?
— Que eu ainda poderia amar. — Os dedos de August tocaram levemente as mãos dela, um toque suave e impactante. — Obrigado por aceitar ser minha esposa, eu não poderia sonhar que ainda havia tamanha felicidade reservada a mim.
— Obrigada por me escolher.
— Todos os dias.
— Espero que diga isso quando eu estiver de mal humor — brincou Sarah se sentindo leve ao lado do Duque, ele sorriu e então voltou o olhar para a mão da noiva, mas não era o anel que lhe chamava a atenção.
— Aquele machucado em seu pulso — questionou August — o que aconteceu?
— Não vai deixar isso passar?
— Não — afirmou o Duque —, quem te machucou?
— Sinceramente — deu de ombros —, não foi nada.
— Sarah..
— Minha avó não reagiu muito bem — explicou —, mas não se preocupe com isso, já passou.
Sarah fez a melhor cara de tranquilidade que pode.
— Que mulher ... — ele parecia querer expressar seus pensamentos acerca da Baronesa, mas se calou em respeito a noiva. — Desejas permanecer no castelo até o final da temporada? Eu poderia arranjar isso.
— Ela não vai ousar me tocar mais — assegurou a morena —, eu vou ficar bem.
— Se isso acontecer novamente eu não pouparei meus esforços para mostrar a Baronesa o que acontece com aqueles que afondem a um membro da casa de saxe coburgo gota. —O Duque parecia bem sério sobre o que falava, então depositou um leve beijo no local do machucado, suave e gentil.
— De agora em diante eu sempre te protegerei — prometeu voltando seu olhar para o dela —, quero que saiba que eu sei quais são as minhas prioridades e que meu coração não está no local errado, eu viverei a minha vida amando a Deus acima de todas as coisas e a senhorita será sempre minha primeira prioridade, abaixo do meu Senhor. Nem ouro e nem outras posses, nem poder ou influência humana virá antes da minha esposa.
A pulsação de Sarah martelava em seus ouvidos, não precisava colocar sua mão em cima do coração para saber que ele batia rápido demais.
— Acha que um dia vou superar isso ? — perguntou, principalmente para ela mesma.
— O quê?
— Que um dia meu coração vai bater em um ritmo normal, que não ficarei tão desconectada sob o seu olhar? Sinceramente as vezes eu penso que perco metade da minha inteligência quando o senhor me encara com esses olhos tão azuis, se perguntar o meu nome provavelmente não saberei.
— Sarah.
— Sim?
— Estas a balbuciar — ele riu —, eu lhe faço uma declaração e isso que recebo?
— Desculpa — ela deu um sorriso nervoso —, estou nervosa.
— Es uma fofa — ele beijou a mão dela novamente, ignorando a tosse da preletora —, sinceramente espero que essas sensações que a senhorita me descreveu nunca passe.
— Queres me matar do coração?
— Só do jeito bom — ele riu, sendo acompanhada pela noiva.
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