Capítulo 18

Sarah brincava com seu pedaço de pão, enquanto meditava em todos os acontecimentos da noite anterior. Por algum tempo ficou concentrada em seus próprios pensamentos, até que o olhar cansado do avô lhe chamou a atenção. 

— O senhor está bem? — questionou depois de alguns minutos. 

— Estou ótimo — respondeu o Barão, mas a neta não acreditou nem um pouco nele. 

— Existe algum motivo para que seu avô não esteja bem? — perguntou a Baronesa fitando a jovem morena com frieza. 

— Ela está sendo educada — disse o senhor da família, numa voz baixa —, não atormente a pobre garota logo cedo. 

— Eu não disse nada — disse ela. — Desde quando se tornou o protetor dela? 

O Barão ignorou a esposa e deu um sorriso para Sarah indicando que ela devia voltar a se concentrar em seu próprio desjejum, a jovem sorriu timidamente.  

— Vovó —  começou Anne com uma voz doce que tornaria impossível que a Baronesa lhe negasse qualquer coisa — , preciso comprar algumas fitas e gostaria de saber se Sarah não poderia me acompanhar? Prometo não demorar, deixa por favor. 

— Sua irmã?—  questionou a Baronesa colocando meticulosamente a xícara sobre o pires. Anne deu um sorriso amarelo como se perguntasse qual outra irmã ela tinha, mas se a avó notou a atitude da caçula Parker não demonstrou.  

— Sim. 

— Excelente ideia — intrometeu o Barão ganhando da Baronesa um olhar mortal, mas sem efeitos. Talvez a doença tivesse lhe dado uma coragem surpreendente, pois nos últimos tempos o Barão não parecia se importar com o que a avó pensava. — Acompanhe sua irmã Sarah e aproveita para comprar algumas fitas também. 

— Eu não sei — respondeu a Baronesa em um tom de voz que normalmente ninguém ousava contrariar, mas o avó de Sarah mais uma vez deu de ombros. 

—  Podem comprar o que quiserem e peçam que me encaminhe a conta — autorizou o Barão voltando a tomar seu chá como se não tivesse ido contra a vontade da esposa, se um olhar tivesse o poder de matar o velho homem já estaria morto. 

— Lembre-se que o Visconde  Althorp virá almoçar em nossa companhia hoje — relatou a Baronesa com seu costumeiro olhar de esperança quando se tratava de casar a neta mais nova com um nobre — , não quero que se afaste muito de casa querida. 

— Voltaremos antes do almoço —  prometeu Anne com um olhar que Sarah apelidava de gatinho abandonado. — Prometo, não fique chateada por eu pedir a Sarah para ir comigo. 

— Tudo bem — disse a Baronesa com uma voz doce que reservava apenas para a caçula —, se insiste que ela é necessária, mas saiba que precisa estar aqui até duas horas antes do almoço para que se arrume. Tudo deve estar perfeito para a visita do Visconde, inclusive, minha linda neta.

— Como quiser — disse Anne com seu melhor sorriso, em seguida pediu licença da mesa e arrastou consigo a irmã mais velha. 

Sarah não queria comprar fitas, mas ninguém parecia querer ouvir sua opinião e sem querer contrariar a irmã apenas a seguiu, ouvindo com atenção tudo o que a mais nova lhe contava. Em geral era fácil falar com Anne, mas naquele dia um incômodo súbito crescia em Sarah ao se lembrar da cena da noite anterior, sabia que eventualmente teria que questionar a caçula e aparentemente aquele era o momento perfeito. 

Ao entrarem na loja foram guiadas até uma sala reservada para que pudessem esperar, longe de ouvidos curiosos Sarah se aproximou de Anne. 

— Anne sobre ontem a noite... 

— Essa cor vai ficar linda com aquele meu vestido azul — interrompeu a loira, analisando com toda sua atenção uma fita. 

— Anne — insistiu Sarah — , por qual motivo mentiu ontem no baile? 

—  Não sei o que estas a falar — respondeu a caçula fingindo confusão, o tem de voz baixo. 

— Eu a vi com um homem ontem — disse Sarah sem rodeios.

— Eu dancei com muitos cavalheiros — disse Anne dando de ombros como se a irmã estivesse a perturbando com toda aquela conversa. 

— Fora do salão  — falou Sarah apertando os dedos em um reação nervosa de seu corpo — , e quando eu a questionei disse que tinha ido ao toalete. 

Anne riu jogando a cabeça para trás com uma delicadeza e nobreza comum a ela, pela primeira vez na vida Sarah ficou irritada com aquela mania da irmã. 

— Sah —  a loira segurou as mãos da mais velha, utilizando um apelido de infância, numa tentativa de amolecer o coração da mais velha — , estas a me confundir com alguém, sabes bem que eu nunca mentiria para ti. 

Algo na expressão de Anne fez com que o estômago de Sarah revirasse. 

— Anne... 

— Olha por qual motivo eu me arriscaria em conversar com um senhor em lugar escuro da varanda do palácio da rainha? Sabe como isso arruinaria minha imagem e minha chance de um bom casamento? 

— Eu nunca disse que estava escuro e muito menos que era na varanda —  apontou Sarah com o coração acelerado — , diga-me a verdade Anne. 

— É melhor voltarmos para casa — resmungou a loira irritada — , parece que não será uma manhã tão agradável quanto eu imaginei. 

— Eu só quero saber a verdade. 

— E isso importa? 

— Claro que sim — respondeu Sarah ultrajada — , es minha irmã. Gostaria muito de compreender o que tanto conversava com o que me parecia ser Lord Byron? Um senhor casado. 

Era visível a Sarah a irritação de sua irmã e um arrepio correu pelas espinhas da morena ao notar o olhar odioso que a irmã tinha lhe direcionado ao ouvi-la falar do Lord Byron. Sem responder a loira jogou as fitas que olhava de volta ao balcão e saiu da sala reservada ignorando a pobre vendedora. 

Sarah pediu desculpas e seguiu a caçula que adentrou a carruagem em um frio silêncio. 

— Quero uma resposta Anne. 

— Então espero que goste do silêncio, pois é a única resposta que lhe darei — respondeu com petulância e um olhar desafiador. — Agora irei comprar minhas fitas e se quiser podes me acompanhar ou esperar na carruagem.

— Eu sei o que vi e  eu espero que sua ligação com Lord Byron tenha sido apenas uma breve conversa de uma noite, pois não quero ter que levar isso ao conhecimento de nossos avôs, mas o farei se isso significar proteger a sua reputação.  

— E achas que eles acreditarão em quem? — riu Anne nervosamente. 

— Eu te amo — disse Sarah —, apenas quero o seu melhor e me preocupo que um homem sem caráter possa te enganar. 

— Um homem lhe deu a mínima atenção e agora achas que sabe alguma coisa do mundo? — Anne riu —, faça me o favor. Eu sei muito bem me cuidar, esqueça o que viu ou achas que viu. 

— Prometa-me que não tens nada com o Barão — implorou Sarah, optando por ignorar a dureza das palavras da caçula.  

— Tudo bem — concordou Anne, dando de ombros —, não sou amante de Lord Byron se é isso que deseja saber. 

— Ótimo — disse Sarah suspirando aliviada, acreditando na irmã. 

— Eu sou a mulher da vida dele — continuou Sarah —, e eu o amo profundamente.  

Se Sarah estivesse se alimentando provavelmente teria engasgado com aquela revelação. De repente sua mente se tornou uma bagunça e a carruagem parecia apertada demais, sua respiração se tornou acelerada  e brevemente desejou agredir a irmã pela primeira vez na vida, o súbito desejo a pegou de surpresa. 

— Ele é um homem casado. 

— A esposa dele está muito doente — disse Anne tentando se justificar —, e eles nem vivem mais como marido e mulher. 

— Anne ouça o absurdo que estas dizendo — praticamente gritou Sarah, mas em seguida abaixou o tom para evitar que o cocheiro as escutassem. 

— Quando ela morrer — disse Anne em uma calma que fez com que o sangue de Sarah fervesse —, ele disse que se casará comigo. 

— Só por cima do meu cadáver. 

— Tenho certeza que a vovó pode resolver isso. 

— Achas que ela irá aprovar? 

— Ele é um duque — respondeu a loira —, ela me jogaria nele antes mesmo que o caixão da esposa fosse fechado. 

— Falas como uma insensata — apontou Sarah —, isso não tem qualquer chance de terminar bem. Eu a expressamente proíbo de se aproximar dele. 

— Eu o amo — explodiu Anne —, isso não lhe importa? Minha felicidade não é importante, nunca pensei que fosse egoísta. 

— O que achas que o Senhor diria sobre isso? Não sabes que Deus abomina o adultério? 

— O Senhor não me ama? Eu sei que Deus quer minha felicidade. — explicou Anne — E eu serei feliz apenas com Jake. Ademais, eu sei que se não fosse o querer de Deus esse sentimento não teria nascido em nossos corações. 

Sarah colocou a cabeça entre as pernas e respirou fundo em uma tentativa de não ter uma crise nervosa. 

— Deus não quer a sua felicidade as custas da infelicidade de outro — falou Sarah se voltando para a irmã —, o que estas a dizer é qualquer coisa menos o querer de Deus para ti. Jeremias 17:9 diz que: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Como podes pensar que Deus seria conveniente com o adultério? Não sabes que apenas olhar para outro com luxúria já é pecado? E que o pecado é detestável ao Senhor? O amor de Deus por nós e sua graça não justifica o nosso agir contra a palavra DEle. 

— Isso é tão ultrapassado — resmungou Anne —, eu amo Jake e isso é tudo o que importa, não ouse atrapalhar minha vida. 

— Não — sussurrou Sarah —, o amor não é isto. O amor é paciente, bondoso, Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. Se Lord Byron a amasse de verdade ele não colocaria em risco sua salvação e não condenaria a ele e a ti ao salário do pecado, isto é a morte. E o mesmo vale sobre ti, se o amasse mesmo não o levaria para o caminho da perdição. 

—  Estas a ser religiosa — argumentou Anne — , eu sei o que eu faço e sei da sinceridade dos sentimentos meus e de Jake. 

— Prometa-me que irá se afastar de Lord Byron — implorou Sarah com a garganta doendo e os olhos cheios de lágrimas. —  O que achas que a mamãe pensaria sobre isso? E o papai? 

—  Eles estão mortos — disse Anne com uma frieza que doeu os ossos da irmã mais velha. 

— Anne — exclamou Sarah — , como podes? 

— Poupe-me do seu sentimentalismo barato —  resmungou — , foi por isso que não te contei nada sobre Jake, pois sabia que iria criticar. Eu a apoiei em seu relacionamento com Lord August, mas pelo visto não terás por mim  a mesma consideração. 

— Augus não é casado —  apontou Sarah irritada com a comparação da irmã — , e meu amor por ele nunca será maior do que meu amor e dedicação por Deus. Não arriscaria perder a presença do Senhor por algo sem futuro como estas a fazer. 

— Essa é minha escolha — argumentou a caçula —, não se meta nas minhas decisões. 

— Eu contarei ao vovô. 

— Faça isso — disse Anne — , e veremos quem é que vai perder com tudo isso. O resultado é que irá destruir a minha vida e a sua no processo ou realmente achas que o Duque Soberano aceitará se casar contigo em meio a um escândalo desses? 

A carruagem entrou na propriedade dos avós de Sarah e sem dizer mais nada ambas as meninas desceram. A mente da mais velha Parker estava uma bagunça e o coração quebrado ao ver sua amada irmã tão transformada e convicta de que o amor que dizia ter por um homem casado justificar suas ações. 

— Lady Sarah — cumprimentou o mordmo quando ambas entraram em casa — , essa carta chegou quando estavas fora. 

Sarah aceitou o envelope que lhe era oferecido e imediatamente reconheceu o brasão da família real. 

— Do que se trata? —  questionou a Baronesa ao entrar na sala. 

— É um convite da rainha — respondeu Sarah — , para que eu tome um chá com ela essa tarde. 

— Que notícia maravilhosa —  comemorou a Baronesa — , é necessário que estejas radiante Anne. 

— O convite se estende apenas a mim —  respondeu Sarah impulsionada pela raiva que ainda sentia das ações da irmã mais nova. — Eu irei me arrumar para o almoço e Anne conversaremos mais tarde sobre, bem sabes sobre o quê. 

E sem se importar com o rosto vermelho e irritado da avó saiu caminhando em direção ao seu quarto. 

Senhor, orou Sarah, dê discernimento a minha irmãzinha e não permitas que ela aja impulsionada pelos desejos da mocidade, pois nenhum momento de prazer vale uma eternidade longe de tua presença. Espírito Santo dê a ela entendimento e a faça lembrar das palavras do Senhor e me ajude a tomar a decisão certa em relação a tudo isso. Devo ou não contar aos meus avós o que está acontecendo com Anne e Lord Byron? 

Ajude-me o Pai. 















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